sexta-feira, 6 de agosto de 2010

MAIS DIABRURAS

Lembrei de uma dessas diabruras malucas. Foi na 4ª série, eu estudava no Cleóbulo, em Santos, um ano em que diziam que o Dino Bueno fecharia e fomos todos transferidos automáticamente para essa escola. Dentre tantas outras que, como minha mãe diz, aprontei, talvez essa tenha sido a maior de todas, ao menos a maior se levarmos em consideração a onda do politicamente correto (que veio para ficar).


Eu e um amigo, o Ricardo, não lembro o sobrenome, para variar, que já havia estudado comigo na 3ª e agora repetia a dupla bagunceira na 4ª série, sempre observávamos no recreio um gatinho, muito bem tratado por todos. Aquilo, não sei porque, nos afrontava e incomodava a tal ponto de começarmos a maquinarmos uma sacanagem com aquele gato. Durante dias, talvez semanas, bolamos um plano, de ao sair da aula, ao invés de irmos para fora, voltarmos para o pátio e pegarmos aquele gato de jeito.

O que será que passava pela cabeça daquelas duas dóceis crianças? Bah, jamais saberei, a não ser que em algum dia o destino nos coloque novamente frente a frente, porque desde a 4ª série nunca mais encontrei o Ricardo e nem ao menos sei o que foi feito dele. Deve ser um advogado em Santos, sei lá. Mas então, nesse fatídico dia, plano passado e repassado, o crime perfeito (o que duas crianças de 10 anos poderiam planejar sem deixar pistas?).

Lá fomos nós, colocarmos em prática. Nunca gostei de tocar em animais, talvez fruto de algumas experiências traumáticas da primeira infância ainda em Porto Algre, quando um filho da puta de um gato me mordeu, e em outra ocasião um cachorro, claro que o encapetado que vos escreve deve ter perturbado os animaizinhos de estimação até estes perderem a paciência. Então a culpa será deles? Fomos então para o pátio e chamamos com todo carinho o gatinho, sem muito esforço ganhamos a confiança do pequeno animal, já que estava acostumado a todos lhe agradarem. Como falei, tinha receio de ficar pegando o gato, então eu dei cobertura para o Ricardo fazer o trabalho sujo. Quando o gato se aproximou, ele simplesmente o pegou pelo rabo e começou a girar em si mesmo, com o gato pela rabo, que por sua vez gritava desesperado.

A cena foi cômica e permanece cômica na minha memória. Lá estavam os dois, vítima e algoz, este girando em si, em uma velocidade que não o impedia de parecer um robô; o pobre gatinho gritando ensandecidamente, sem entender o que acontecia. E eu, olhando para ver se ninguém chegava, com a mochila do Ricardo em mãos (na verdade era uma pasta, tipo essas que hoje se utiliza para levar notebook).

Mas em uma distração minha, lá veio a inspetora de alunos, gritando conosco, e pegando o Ricardo pelas mãos e levando para a diretoria. Fui até a porta da sala, deixei a mala dele no chão e dei no pé. Essa foi a maior vergonha da minha vida. Era para nós dois nos ferrarmos juntos, porque estávamos juntos, éramos uma equipe. Porém, eu , na minha covardia infantil dei no pé. Resultado: suspensão para ele (acho que 3 dias) e um remorso remoído por anos da minha parte.

Anos mais tarde, já no colegial, quando íamos embora juntos para casa (eu, Carlinhos e Ricardo Karatê Kid - outro Ricardo), como sempre fazíamos, e o Carlinhos sendo seguido por um bando de carinhas que queriam bater nele, fiquei para apanhar junto e o Ricardo, que como disse não era o mesmo, simplesmente nos deixou covardemente. Não apanhamos, porque consegui persuadir a turma a não bater no Carlinhos, pois seria covardia. Se fosse hoje, talvez fôssemos parar no hospital. Mas ao menos aprendi a nunca mais deixar meus amigos em apuros, se for para morrer, que morramos abraçados.

Eu e o Ricardo da 4ª série permanecemos amigos até quando sai da escola, pouco depois, quando passei uma temporada em São Paulo e estudei no André Dreyfus, mantendo a pareceria das bagunças, embora logo após o episódio tenha esfriado nossa amizade. O gatinho nunca mais chegamos perto e passamos a ocupar nosso recreio com outra diversão. Deste também nada se sabe, mas deve ter vivido o resto de seus dias em paz.

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