quarta-feira, 1 de agosto de 2012

LAST NIGHT I DREAMT THAT SOMEBODY LOVED ME


A noite passada eu sonhei que alguém me amava... bem, não foi realmente a noite passada e sim algumas noites atras. E também não sonhei que alguém me amava. É que lembrei dessa canção para começar esse post, pois quando acordei do sonho, pensei em escrever algo começando por "a noite passada eu sonhei..." e logo me veio à lembrança a canção do Smiths Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me, uma canção que me acompanhou alguns anos, aqueles primeiros de faculdade, ainda em Assis, quando eu viajava para Santos, de volta para casa em algum feriado prolongado ou férias e ficava a madrugada acordado dentro do ônibus escutando o disco derradeiro da banda, Strangeways, Here We Come, de 1987, no walkman, uma fita que havia ganho anos antes do meu primo Pico. Até escrevi no mural da Unesp a frase que dá nome à canção, para a Juliana, no começo do nosso namoro.

Longo preâmbulo... enfim, ao acordar lembrei desse sonho, que ficou martelando, martelando... nele eu estava em Santos, na Washington Luiz com a Goiás, escritório da Gonçalves de Oliveira, meu primeiro emprego registrado, com a dona da empresa, a sra. Elza Gonçalves de Oliveira, ou simplesmente dona Elza, como a chamávamos. Mas no sonho ela estava velinha, andando com auxílio de bengala. 

A Gonçalves de Oliveira era uma administradora de condomínios. Um desmembramento da Consorte, quando os sócios brigaram e os clientes foram separados de acordo com suas identificações. Era um pequeno escritório, com 5 pessoas trabalhando, além d'eu, meu irmão Fábio, um secretária, que mudava com frequência, a Tereza e a própria dona Elza. Trabalhando lá, em uma manhã ensolarada de uma terça feira do verão santista de 1991 que, ao comprar o jornal O Estado de São Paulo, que vi meu nome entre os aprovados no vestibular da Unesp daquele ano e fiquei em êxtase. 

É engraçado eu ter sonhado com isso, porque desde que sai de lá, em fevereiro de 1991, antes de ir para Assis estudar, depois de quase 3 anos trabalhando como office boy, nunca mais voltei e jamais tive qualquer contato com a dona Elza. Entretanto, em algumas férias posteriores, aquele lugar cruzou os meus caminhos. Mas ver de de fora a casa branca sobre um boteco, com as janelas azuis e abertas, foi o mais perto que cheguei.

O meu primeiro dia de trabalho foi 2 de maio de 1988 e lá se vão longos 24 anos. Quem me arrumou esse emprego foi meu irmão Fábio, que trabalhava lá. Era estranho, porque nós não tínhamos um bom relacionamento e mal nos falávamos. Mas acabamos trabalhando juntos, ele era uma espécie de meu chefe, porque era mais velho na empresa do que eu. Então ele separava o trabalho e claro, pegava a parte mais legal para ele. 

Pensar que eu comecei a trabalhar praticamente no dia do trabalhador. E esse foi o meu primeiro ou mais importante conflito do final da minnha adolescência e início da vida adulta, ou pelo menos da minha vida profissional e das minhas responsabilidades: ao mesmo tempo que começava a ter a liberdade que o dinheiro pode comprar, me escravizava do trabalho, dos horários e das obrigações. Esse conflito me perseguiu por anos... para falar a verdade, até hoje ele me aflige. Penso em quando será que vou receber a alforria...

Sou um cara nostálgico. Certa vez, aos 14, 15 anos escrevi uma canção que se chamava Nostalgia. Era um cara que ficava por horas, madrugadas a fio, lendo o dicionário, quando não tinha nenhum livro para ler. E assim conhecia algumas palavras que me encantavam. Nostalgia foi uma delas. E nessa época eu era nacionalista, escutava Virus 27, uma banda de carecas, os skinheads, que pregavam o nacionalismo. E ficava encantado com a letra do hino nacional, toda a pomposidade dos versos do Joaquim Osório Duque Estrada. Versos de amor ao país, que fizeram muito sentido para eu naquela época e que hoje não me dizem nada. Fases da vida, vem e vão, algumas nem voltam.   

Pouco dormia na adolescência, sempre achei dormir um desperdício de tempo. Fazia cálculos malucos de que eu passaria 1/3 da vida dormindo e tinha amigos meus que passariam metade da vida hibernando. E nas minhas noites de insônia devorava o que caía nas minhas mãos, revistas, jornais, livros e dicionário; quando não, assistia a algum programa de tv, a algum filme. Percebo que a programação da madrugada dos anos 80 era bem melhor que a de hoje.

Foi um sonho gostoso que perdurou por alguns dias em minha mente e até me fez sentar em frente ao pc e escrever sobre ele. A próxima vez que for à Santos, vou entrar na casa branca de janelas azuis, sobre o boteco, no canal 3, tocar o interfone, subir as escadas e bater um papo com a dona Elza. Lembrar de algumas passagens e saber como se passaram esses 24 anos para ela e para a Gonçalves de Oliveira. Espero encontrá-la lá.