domingo, 27 de maio de 2012

ROMANCE IDEAL

"Menino e menina
se conheceram quase sem querer
não foi por obra do acaso, 
tinha mesmo que acontecer..."

Não se conheceram mesmo quase sem querer. Ele era amigo do irmão dela. Jogavam bola juntos, moravam na mesma rua; estudavam juntos os dois amigos. Ele era 'veterano' na escola, fez a acolhida do irmão dela que se transferiu para a mesma escola. Apresentou para a galera, ajudou na adaptação. Tinham 11, 12 anos, estavam na 5ª ou 6ª série. Mas já eram amigos da rua, antes de serem colegas na escola.

Certo dia o amigo comentou com ele:

- Minha irmã tá afim de ti - isso na frente dela. Ela, claro, 1 ano mais nova, enrubeceu timidamente. Ele se achou o máximo, sentiu o ego inflar e gostou demais da idéia. Senil e doce sentimento humano, pensou com seus botões.  

Já a havia notado na rua, nas brincadeiras, se mostrava com uma beleza angelical e claro, infantil, assim como ele próprio. Desde então, se apaixonou por ela. Enlouquecidamente, mas sem impulsividade, sem cometer loucuras e se expor ou expor aquele amor silencioso. 

Passou a fazer as tarefas da escola na casa do amigo e consequentemente dela; ficava quase sempre para o almoço, sentado sempre em frente à mesma, trocando alguns olhares, palavras tolas que somente a eles significava algo. Tímidos, aquele era um amor sem palavras, sem toques... não falavam sobre o assunto, amavam-se em silêncio; eram cúmplices de um amor não concretizado. 

Certa vez, em uma brincadeira de rua, tocaram as mãos um do outro. Ele sentiu uma tremedeira pelo corpo todo; ela se arrepiou da cabeça aos pés, numa transmissão química dos seus corpos tão forte e significante. Sonharam a noite um com o outro, mas sem um saber do outro ou o outro saber do um. O amor em comum não lhes permitia que trocassem qualquer palavra entre si; sabiam e sentiam que era algo recíproco... e só. Sem explicações, parecia que a concretização do amor poderia estragar sua pureza e beleza.

Os anos se passaram. Tornaram-se amigos, mas o amor dos dois não era assunto entre ambos. Nas festinhas adolescentes não ficavam. Eram de turmas diferentes; ele radical, roqueiro, tinha uma banda; marginalizado pelos demais, tinha fama de mal, mesmo sem ser, mas por preconceito dos outros; ela era um anjo, meiga, sensível, frágil, bela, cativante, princesinha; jamais andaria com um punk rocker. Não combinavam, ele largadão, rasgado, sujo... ela uma bonequinha, patricinha... mas continuavam se amando em silêncio; e continuavam amigos.

Ele mudou de rua anos depois; ela continuou morando no mesmo local. A vida os afastou; cada um seguia o seu rumo, seu destino.


"... se encontraram então no parque da cidade..."

Se encontravam raramente. Já adultos eram 2 desconhecidos e pouco se falavam, além da troca de olhares e um pequeno aceno de cumprimento. Mas sentiam quando se olhavam que aquele amor permanecia. Era nítido, no brilho dos olhos de ambos. Qualquer um que observasse de longe quando trocavam esses olhares, conseguiria perceber. Sorte de ambos que ninguém jamais desconfiara. Ou seria azar?

Não comentaram com ninguém, ela com sua melhor amiga escondeu de forma selecionada esse segredo, ele jamais abriu a boca para qualquer amigo. 

Nos seus encontros já adultos perceberam que não havia clima para um romance. Conseguiam perceber isso nos raros olhares que trocavam quando se encontravam. Não havia clima, coragem, vontade; só desejo, mas não o bastante para enfrentarem a situação, para concretizarem aquele amor infantil.

Se encontravam geralmente nas filas de cinema, nos teatros, nas baladas, nos shows... por todos os lugares que frequentassem. Sempre acompanhados, ora com os amigos e amigas, ora com namorada e namorado. 


"... o tempo passou, o sol se foi
as chuvas pararam de cair
Você partiu pra longe daqui
e me deixou assim, sozinho, pensando no meu jardim
eu tenho momentos tristes, eu tenho momentos de prazer
lembrando momentos agradáveis, quando estava junto de você..."

Ela então casou-se e o convidou para o casamento. Mesmo distantes, ela lembrou dele nesse momento tão importante. Para ambos. Ali selavam o final de tudo o que nunca aconteceu, tudo o que não viveram. Seu noivo era um amigo de infância de ambos. Teve 2 filhos; lindos como a mãe. 

Ele não casou. Partiu para aventuras da vida de solteiro, conheceu lugares, mulheres, pessoas; procurou viver um grande amor, mas sem muito sucesso. Fugiu da rotina e a vida os separou definitivamente; nunca mais se encontraram.

Anos depois a encontrou em uma rede social. Já trintões. Percebeu que quanto mais os anos passaram, mais bela a guria da sua infância havia ficado. Os anos e a vida de casado, os filhos, fizeram bem a ela. Pelas fotos conheceu sua família. Viu o amigo de infância. Percebeu como a família festejava as datas importantes, sempre juntos, viagens, natais, aniversários das crianças. Sentiu saudades do que não viveu.

Finalmente se reencontraram, desta feita virtualmente. Conversaram sobre tudo, a família, a vida profissional, as dificuldades, lembraram dos momentos juntos, dos amigos de infância, os caminhos que cada um seguiu, conversaram sobre tudo, sobre a vida em geral. Se conheceram novamente; eram outras pessoas, diferentes das que se conheceram na infância. A vida e as experiências os transformaram em pessoas diferentes. Porém, no fundo restava ainda alguma coisa que os tornavam cúmplices: aquele amor mútuo.

Mas o tempo os afastaram mais uma vez. A superficialidade de um relacionamento virtual, de duas pessoas que viviam quilômetros de distância e que mantinham relacionamentos completamente diferentes impediam qualquer tipo de aproximação maior. Essa amizade virtual nada promissora enfim enfraqueceu e esfriou. Dessa vez, para sempre.

Então ele sonhou com ela; sonhou com o amor que não viveu; sonhou a vida que não tiveram juntos, fantasiou coisas que não aconteceram; a noite inteira sonhou com seus beijos, que nunca existiram, sonhou com abraços, amor, sonhou com dias que não viveram, que não tiveram. Sonhou com os filhos que não tiveram, que poderiam ter, sonhou com os aniversários, festas, baladas, cinemas juntos, dia dos namorados e tantas outras datas importantes. Sonhou com uma vida de sonhos, aquela que não puderam viver, que não souberam viver, que a vida não permitiu que vivessem.

E quando acordou não queria mais a vida real. Por dias ficou sobre o efeito do sonho. Nada mais parecia valer à pena. Queria gritar ao mundo aquele amor que não foi possível dizer no momento oportuno. Mas o tempo passou e não permitiu novamente vivenciá-lo. A vida era outra. 

E pensava nela, na vida que teriam levado juntos. Casariam em uma pequena igreja de algum povoado distante, tendo como testemunha o padre, alguns poucos curiosos do lugarejo e Deus. Viajariam de lua de mel para um lugar qualquer, paradisíaco, celebrando o amor! Finalmente o amor!

Teriam filhos. Um só não, teriam 2, um casal. Uma guria linda como a mãe e um guri esperto e inteligente como o pai. Viveriam intensamente cada momento dos filhos, as alegrias, as agruras, tristezas; os primeiros passos, os primeiros dentes, as primeiras amizades; dariam boas risadas e chorariam com eles. Brigariam muito entre si e com os filhos; mas estariam sempre juntos, um dando força para o outro nos momentos mais difíceis.

Quis voltar a sonhar, viver aquele sonho, novamente, mais outra vez, novamente, eternamente. 




"... se eu queria enlouquecer, essa é a minha chance
é tudo o que eu quis
se eu queria enlouquecer, 
esse é o romance ideal."


sábado, 26 de maio de 2012

OS MENINOS DA RUA SÃO PAULO

 
Algumas coisas parecem acontecer quase sem querer; eu digo quase, porque eu não acredito em acaso e sei que tudo acontece por que tem que acontecer, não adianta fugir do destino. As pessoas me acham fatalista, me julgam por isso, sei lá, mas isso é mais do que religioso em mim, acho até que é o que há de mais religioso na minha pessoa. Do destino, da sina, não adianta fugir deles. Quando nascemos estamos programados a passar por tudo o que passamos e ponto final. E tenho dito!

Mas, dizia eu, esses dias um grande amigo retornou à minha vida. Quase sem querer. O cara 'tava sumido nesse mundão de Deus, perdido em um dos quatro cantos do mundo, sem termos notícias de onde e como estava, até mesmo se estava vivo ou sei lá o quê. Ele era o batera da Mayday, minha ex-banda dos anos 80. E como ele é negro e sempre fazíamos uma analogia ao Renato Rocha da Legião, comecei a achar que o destino dele teria sido o mesmo do ex-baixista da Legião Urbana. Ledo e doce engano. 

Alguns meses atrás, talvez 2, talvez mais, meu irmão Beto estava em algum cantão da maior cidade da América Latina, cantada de todas as formas, nos diversos estilos, em diversas canções, em versos e prosas, São Paulo, que amanhece trabalhando (cresci escutando isso, morava em Santos e meu tio Luiz morava em Sampa, cuja cidade visitei com muita frequência, principalmente quando comecei a namorar a Ana, que morava em São Paulo, no Morumbi) e foi cutucado por uma carinha negro que começou a tirar sarro dele, falar mal do GRÊMIO; vendo que a brincadeira descambaria para uma reação violenta do capitão caverna, do bicho do mato Beto, Ronaldo se apresentou:

- sou eu, o Ronaldo, não lembra de mim?

Somente então meu irmão mostrou um semblante mais tranquilo. Essa deve ser uma reação comum em São Paulo, pela desconfiança daqueles que os cercam na selva de pedra. Por aqui no interior, no norte do Paraná, as pessoas são mais amenas, talvez mais amigas ou mesmo menos desconfiadas, extressadas. Mas enfim, partiram para uma conversa tranquila e trocaram telefones e contatos.

O número do celular do Ronaldo veio parar dias depois do encontro relatado acima em minhas mãos por intermédio do Renato, outro dos meus 4 irmãos por parte de pai e mãe. O Renato há décadas joga futebol na praia do Gonzaga em Santos no mesmo local, com a mesma galera. Essa galera deve ter mais de 3 gerações nesse bate bola. Eu mesmo joguei com eles em meados dos anos 80, mas parei quando sai de Santos. Acho que nem sei mais jogar futebol de praia. Bem, o Ronaldo, que mora em Sampa, ligou para o Renato e combinou de passar no bate bola. O Renato chamou o Zé Renato, que era um dos guitarristas da Mayday e grande amigo de longa data, e mesmo tendo combinado acabou furando. O Renato me passou o telefone do Ronaldo, que foi ao encontro combinado e eu liguei para o fdp. 

Na primeira conversa, passamos horas a fio ao telefone. O papo fluiu com facilidade, muito e muito assunto para pôr em dia e não é que o fdp me instigou a escrever sobre a nossa adolescência lá na rua São Paulo, em Santos? Pois é, aquela galera maluca dos anos 80, que sentava em cima do muro da rua São Paulo esquina com a Joaquim Távora e ficava na 'nóia' por horas e horas e horas e finalmente mais algumas horas, ao longo dos dias da semana e dos sábados e domingos. Por anos...

Resolvi encarar o desafio. Na verdade só precisava de um assunto para voltar a escrever algo que prestasse... quer dizer, tentar... e o Ronaldo me deu o assunto. Acontece que coloquei minha cabeça e memória para funcionar e comecei a lembrar de algumas passagens muito engraçadas daquela época. O primeiro capitulo está em efervescência. Ja escrevi alguns bons pares de páginas. Comecei há alguns dias e vou enxertando informações. No final, o capitulo 1, que está por vir o seu fim, deve ficar extenso. Mais uma ou duas semanas, dezenas de mudanças, cortes, reflexões, releituras, acréscimos a cada passada a limpo e acho que termino.

E eu escrevi todo esse preâmbulo para dizer que o que aconteceu quase sem querer foi a MTV estar passando um especial da Legião Urbana, banda que todos amávamos naquela época. Eu deitei no quarto para tirar um cochilo e fui apagando ao som de Legião e acordei aos poucos ainda escutando Legião. E me senti em pleno anos 80, vivendo na memória aquelas histórias hilárias dos meninos da rua São Paulo. Devo ter retornado no tempo durante meu sono. Por algum tempo revivi adormecido a década de 80 do século passado. Bons sonhos, dos quais não lembro nenhum, mas acordei revigorado.

domingo, 13 de maio de 2012

JOHN LENNON - MOTHER

A triste e (por isso) profunda canção de Lennon para sua mãe.


Mãe, você me teve, mas eu nunca a tive
Eu te quis, você não me quis
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus,
Pai, você me deixou, mas eu nunca o deixei
Eu precisei de você, você não precisou de mim
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus

Crianças, não façam o que eu fiz
Eu não pude caminhar e eu tentei correr
Então eu, eu apenas tenho que lhes falar
Adeus, adeus,

Mamãe não vá
Papai vem para casa

PINK FLOYD - MOTHER

Todos os dias das mães me vem duas canções à cabeça. Uma é I Know It's Over, do Smiths. A outra é a que posto abaixo, linda canção do Pink Floyd. Tem uma terceira, do John Lennon, que é lindíssima.


Mãe

Mãe, você acha que eles jogarão a bomba?
Mãe, você acha que eles gostarão dessa música?
Mãe, você acha que eles tentarão me castrar?
Mãe, eu devo construir o Muro?

Mãe, eu devo concorrer para Presidente?
Mãe, eu devo confiar no Governo?
Mãe, eles me colocarão na linha de fogo?
Mãe, Isso é só uma perda de tempo?

Filho, fique quietinho agora, não chore
Mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem verdade
Mamãe ira colocar todos os medos dela em você
Mamãe vai manter você bem debaixo da asa dela

Ela não lhe deixa voar, mas talvez lhe deixará cantar
Mamãe lhe deixará aconchegado e aquecido

(3x)
Ooooh bebê

Claro que mamãe irá lhe ajudar a construir o Muro

Mãe você acha que ela é boa o bastante
para mim?
Mãe você acha que ela é perigosa
para mim?
Mãe, ela vai rasgar seu Menininho em partes?
Mãe, ela irá quebrar meu coração?

Filho, fique quietinho agora, não chore
A mamãe vai checar todas as suas namoradas pra você
Mamãe não irá deixar ninguém sujo se aproximar
Mamãe vai esperar, até que você entre
Mamãe vai sempre descobrir por onde você esteve
Mamãe vai sempre manter o bebê saudavel e limpo

(3x)
Ooooh bebê

Você sempre irá ser uma criança para mim

Mãe, precisava ser tão alto?



DIA DAS MÃES

Hoje é  o dia das mães. Preciso ligar para a minha e dar os parabéns, falar sobre coisas sem sentido, dar umas boas risadas, lembrar de quando ela me protegia das coisas que vinham de fora, do trabalho que eu dei para ela quando era criança e depois na adolescência, pedir desculpas pelas vezes que a deixei esperando eu chegar de madrugada, preocupada com o que eu estaria fazendo e com quem eu andaria, nas situações perigosas que eu poderia estar me metendo. Saber dela como andam as coisas, dar um abraço mental nela, já que ela está há uns 600 km de mim. Pedir para ela ser mais assídua nas ligações e prometer eu ser mais assíduo ao telefone, ser um filho melhor, menos desnaturado, como ela mesma diz, dar mais notícias dos netos, de como a vida insiste em nos fazer sofrer e que só ela, com a imensa sabedoria de mãe pode e continua me protegendo.

Tenho algumas lembranças que gostaria de compartilhar com todos: no 1º dia de aula na 1ª série, quando chorei e não queria ficar na escola, me agarrei na sua saia e pedi para me levar de volta para casa. O Manuel, um português com quem estudei até à 4ª série sempre que me encontrava, mesmo depois de adulto, me lembrava desse caso; daí a professora (acho que era Débora, ou seria Elizabeth?) disse que contaria uma história e se eu não quisesse ficar tudo bem, só não ficaria sabendo da história; eu, curioso, decidi largar a saia da mãe e fiquei; cortei de vez naquela manhã ensolarada de Santos em 1979 o cordão umbilical. Dali para frente eu estaria só... na verdade não só, a mãe sempre esteve comigo; mesmo quando briguei com ela e fiquei alguns dias sem falar com ela, já na adolescência. 

Lembro do medo que tinha dela nos abandonar e nos deixar. Meu pai já não vivia conosco, então de repente me veio essa paranóia. Devia ter uns 7, 8 anos; foi cômico, um dia que fui atrás dela, toquei a campainha nas vizinhas e ela não estava na casa de ninguém; eu vivia atrás dela, com medo dela nos deixar; mas quando não a encotrei, cheguei em casa chorando e no meio do meu choro dizia: - A mãe fugiu de nós! Meus irmãos deram tanta risada que fui alvo de sarro por anos devido a esse episódio. Na verdade uma das amigas tinha mentido.

Por vezes tinha muita raiva, porque ela me fazia passar vergonha na frente dos meus amigos, dando broncas em mim na frente deles, quando não dava bronca nos meus amigos; quando me obrigava a devolver algum brinquedo que um amigo tinha me presenteado, sem o seu consentimento. Também deve ter ficado com raiva de muitas coisas que fiz...

Durante anos eu estudava de manhã e meus irmãos à tarde, então eu podia ter minha mãe exclusiva para eu, mesmo tendo mais 4 irmãos; isso gerava ciúme dos outros irmãos, diziam que eu era o preferido, que eu isso, que eu aquilo e que eu era mimado; essa cisma carrego até hoje. Às vezes ela me pedia para comprar doces na doceria Praiano, que ficava em frente ao 123 da Espírito Santo, prédio que eu morava. Me dava uma grana e lá ía eu, comprar doces para saborearmos juntos. Eu me sentia no céu. 

Certa vez, já morando no 144 da Júlio Conceição, chorei com ela com o incêndio no apartamento do Willian, um amigo dessa época, que tinha deixado uma vela acesa embaixo da cama; e tantas emoções que passei com a dona Sirley que não cabem aqui. Aliás, sentimento é impossível de expressar, a saudade que sinto dela me buscar na escola, dela chegar em casa do trabalho sempre com alguma coisa para comer, dela cuidar de mim com todo aquele amor que ela conseguiu dividir igualitariamente entre os cinco filhos que criou sozinha. 

Essa dona Sirley, vista como uma heroína por todos os filhos e pelos nossos amigos, que fez de seus filhos vitoriosos na vida, que fez com que todos a vissem como uma vitoriosa pela vitória dos filhos que criou sozinha, tendo abdicado da própria vida para a criar cinco filhos com sangue, suor e lágrimas, muito esforço, nos enchendo de orgulho.

Mãe, essa uma pequena homenagem, para uma mulher que é o meu maior exemplo de luta e força, de doação, de dedicação aos seus. Errou muito e acertou um tantão, mas que principalmente é uma fonte de inspiração para eu nos meus momentos mais difíceis. Por isso mãe, te amo, pela educação que tive de ti, pelos ensinamentos, pelo carater, enfim, por tudo.

E também extender essa homenagem à mãe dos meus guris, a Juliana, que me deu esses dois tesouros da minha vida, lindos, perfeitos, bagunceiros, chatos, encrenqueiros, amáveis!

Para finalizar, à todas as mães parabéns pela paciência de cada dia. 

FELIZ DIA DAS MÃES À TODAS AS MAMÃES!

terça-feira, 1 de maio de 2012

QUARENTENÁRIO II


Ao completar 40 anos os momentos de reflexão são ainda maiores do que ao longo da vida. Penso que as certezas que eu tinha quando completei os 30 anos ou mesmo durante a década dos 30, ao chegar aos 40 não são as mesmas. Bah, dirá o menos avisado, como é que o cara muda de opinião só porque completou 40 anos? Sei lá, parece que as coisas mudam, a ótica da vida é outra, de um dia para outro, o que dirá quando se entra em uma década nova. Mesmo que isso ocorra em um intervalo de um anoitecer para um amanhecer. 

Completar 40 anos me fez passar um filme na cabeça, mas não como nas histórias de 'contos de fada' e sim a vida real, das coisas que fiz e que deixei de fazer. E aquela certeza de que tinha feito tudo da melhor forma e de que fiz a coisa certa e que faria tudo de novo, se esvai...

Sempre pensei que faria tudo de novo. Sim, porque acredito piamente que sou quem sou, que cheguei onde cheguei porque passei pelo que passei, porque fiz aquelas escolhas no passado, porque virei à direita e não à esquerda, que escolhi o cruzamento da esquerda e assim sucessivamente. 

"... você disse que detestava minhas roupas e meus discos
mas mesmo assim, eu estou quase certo
que eu faria tudo de novo..."

(sempre gostei muito desses versos da canção Linhas Cruzadas do Capital Inicial)

Mas nesse momento, é engraçado, porque acho que eu não faria tudo de novo... talvez, fizesse tudo diferente só para saber onde isso daria, só pelo prazer de tentar chegar a um lugar diferente.  Não que não esteja contente com o que me tornei; muito pelo contrário. Amo minha família, meus filhos são tudo na vida, morro e mato por eles, se for necessário... mas queria saber no que daria se em 1989, quando terminei de fazer o colegial eu tivesse me interessado em estudar Engenharia. Ou mesmo antes, se eu ao invés de estudar no Primo Ferreira, tivesse estudado no Escolástica Rosa ou mesmo no Senai e tivesse feito um curso técnico, como em algum momento da vida eu desejei. O que teria sido da minha vida? Estaria nesse momento escrevendo um post, vivendo em Londrina e trabalhando no Hospital do Câncer de Londrina? E os meus amigos, seriam os mesmos?

Tenho a crença de que as coisas não acontecem por acaso; gosto de brincar de tentar inventar um novo destino para minha vida. Se tivessemos insistido na idéia de montarmos uma banda e seguíssemos com a loucura, eu seria um velho rock star, hoje interessado em jazz e cansando do mainstream, escrevendo canções incompreensíveis para todos; se tivesse feito engenharia talvez fosse um cara rico e soberbo, mas com o rock nas veias; se tivesse escolhido outra carreira e ido morar em Sampa, como sempre desejei, talvez tivesse ido ao show do Morrissey, ido em algum show dos Ramones, numa das vindas ao Brasil, e até do retorno dos Pistols... 

No final das contas eu estaria aqui, em Londrina, escrevendo um post sobre os meus 40 anos, refletindo sobre o que seria da minha vida se eu tivesse escolhido Psicologia, com a Juliana na cozinha fazendo o almoço e me pedindo para ver uma receita de bolo, com os guris dormindo em seus quartos. E pensando se todos os caminhos levam para o mesmo lugar.

MATER LINGUA


Sempre fui fascinado por línguas. Acho a espanhola uma das mais bonitas de se falar; a língua italiana também é muito bonita, sendo essas duas as que gostaria de aprender a falar; inglês também é legal, também gostaria de estudar. Aliás, sempre estudei um pouquinho de inglês, mas nunca dei andamento, sempre colocando em segundo plano. Pretendo em breve estudar com afinco o inglês. Gostaria de ler alguns clássicos da literatura inglesa no original, sem a intromissão de tradutores. 

Entrentando, sou fissurado mesmo em latim. Talvez por influência da minha (bis) avó, que era italiana e nos levava na missa, em uma igreja que ficava no final da Clemente Pinto, acho que a rua mudava de nome, mas era o prolongamento desta. Minha (bis) avó sempre teve muita influência na minha vida, mesmo depois de sua morte em 1976, devo muito do que sou a ela, podem culpá-la por tudo. Meus primeiros anos de vida foram tão importantes em sua companhia que me influenciaram para sempre.

Falando da véia Linda como chamavam a (bis) avó (escrevo o bis porque a minha avó materna na realidade era minha bisavó, uma longa história, quem sabe um dia conto, apesar de precisar confirmar alguns fatos) muito provavelmente foi a base para o meu complexo de Édipo, aquele troço esquisito que os psicólogos dizem que existe na relação filho/ mãe, do amor do filho pela mãe que o influencia nas escolhas amorosas; não me recordo da véia Linda, nem fisicamente e nem o seu comportamento. Possivelmente era uma italiana com a pele alva, geniosa e de de personalidade forte, como a Juliana.  

Quando conheci a Juliana, em 1991, lá em Assis, na Unesp, eu fazia o primeiro ano de Psico e ela o primeiro de Letras. Sua opção de língua estrangeira era o Espanhol. Gostava do jeito como aquela italianinha pronunciava as palavras em espanhol. Aquilo era como escutar Sex Pistols para os meus ouvidos, claro que mais leve, mais suave, obviamente. Deve ser por isso que me apaixonei perdidamente. Gostava de ouví-la cantando Mocedades quando fazia laboratório. Eres Tu era a sua predileta. Cantava docemente, com um sorriso que encantava e uma voz suave e afinada; era como veludo. O rosto clarinho, quase róseo e os olhos azuis que saltavam. Achava a música brega demais, mas acabei curtindo pela insistência da italianinha que falava espanhol.


Gostava de assistir as aulas de latim. Nas provas eu ia melhor que ela. Me didicava muito ao latim. Ela odiava, prática como o pai, o Caetano, não entendia como aquilo serviria no futuro. Então dava de ombros. Mas eu seguia estudando latim. Pena que logo ela largou o curso e foi estudar Serviço Social em Londrina. Não fossem os percalços da vida e eu seria talvez um exímio estudante da língua latina. Não à toa gosto de espanhol e italiano. Também o português me interessa, todas línguas oriundas do latim. Mater lingua.

Por que escrevi isso? Sei lá, o texto veio à minha cabeça meio que sem fazer esforço e quando vi estava pronto. Então só tive o trabalho de digitar. E ponto final! Com exclamação, claro!

ANEMIA DE FANCONI E A BATALHA DE UM AMIGO

Cá estou eu, sentado em frente ao meu PC, na sala enquanto todos dormem aqui em casa, na ensolarada e fria manhã desse feriado de  1º de maio. Lá fora, como aqui em casa, impera o silêncio de uma manhã de feriado nacional. Geralmente tenho a tendência a gostar mais dos feriados nacionais do que dos feriados municipais. Não gosto da idéia de que estou de folga e outras pessoas em tantos cantos desse país continente estão trabalhando. Gosto de saber que a maioria das pessoas, como eu, estão ou deitadas debaixo de quentes cobertas, se aquecendo das baixas temperaturas, ou levantaram e colocaram aquele pijama quentinho e tomam algo quente, como estou fazendo nesse momento, embora não goste de bebidas quentes.

Nesse movimento de acordar, abrir e ligar o note, ler as notícias do dia, abrir o blog, escrever no twitter, enfim, me logar na vida virtual (e porque não na real também) me deparei com o blog do meu amigo Jeferson Sabran, o Trágica Mente Falando e seus Conceitos de Segunda, que sigo com frequência, sempre interessado no que ele tem a dizer. O Jé, como é carinhosamente chamado pela galera do futebol de domingo e pelos amigos, é um desses amigos que vêm na bagagem de outro. Ele é irmão do Emerson, um carinha que apareceu na minha vida como meu estagiário lá no hospital, que trabalhou alguns meses comigo, mas que cativou tanto que ficamos amigos, na verdade quase irmãos, desses que a vida nos resguarda a cada virada de esquina. E o Jé, com seu coração puro, inteligência e carisma, se tornou também meu amigo, além do mais simpatizei com ele mesmo antes de conhecê-lo, principalmente quando o Emerson comentou que também torcia para o Imortal Tricolor. Em suma, são dois caras que eu amo, como amo meus irmãos e meus amigos de infância/ adolescência que os caminhos separaram.

 na foto eu e o Fábio em pé, o Tety e o Jé agachados

Pois bem, quando abri meu blog vi que tinha um novo "Conceito de Segunda" no Trágica Mente Falando e fui ler. Fiquei triste com o que li e não consegui entender o porquê de estar passando por isso. Seu filho tem uma doença muito rara chamada Anemia de Fanconi, que como eu, muitos de vocês leitores pouco ou nunca tinham ouvido falar. Não sei as características e nem os efeitos na criança com essa doença, mas sei que o transplante é recomendado. E os esforços do Jé estão nessa possibilidade, para que o Luiz Miguel possa viver sem problemas. 

Lendo o post do Jé fiquei sabendo que a primeira consulta do pequeno Luiz Miguel em Curitiba não foi das mais alegres, embora a Ligia, em seu blog tenha escrito que ver crianças transplantadas em recuperação tenha sido um alento; isso porque os exames na pequenina Clara, que tem pouco mais de 1 ano, denotaram que a mesma também sofre da mesma doença. Segundo estatísticas que o Jé colocou no blog dele, a chance de nascerem crianças com esse tipo de anemia é de 1 para 4 em casais que têm fator genético que possam desencadear a doença, como é o caso do Jé e da Ligia. No geral, a chance de uma criança ter Anemia de Fanconi é de 1 em 300 mil. 

Ele, obviamente está bem chateado, mas no domingo, no bate bola, não comentou nada e demonstra uma força que talvez eu não tivesse. Aliás, força e garra é uma característica desse meu amigo. E isso faz com que nossos problemas do cotidiano pareçam tão idiotas... o Jé é um cara forte, sim, um exemplo que tenho para eu. Acho que é uma característica dos Sabran, porque o Emerson é assim também, tem uma visão positiva para tudo na vida.

O que eu queria dizer com esse post é que o guri dele precisa do transplante. Não sei como colaborar, provavelmente no momento oportuno ele dirá o que deve e como deve ser feito. É só o começo do tratamento. Muitas notícias esperançosas virão; algumas notícias difíceis de dirimir também chegarão. Mas é importante que ele saiba que estamos todos com ele nessa luta que está iniciando. 

Jé, estamos todos torcendo por ti e à disposição para o que precisar. Conte comigo, amigo! Sempre! Lembro que nos anos 80, quando comprava um disco da Legião Urbana, via escrito no final do encarte uma expressão que utilizo agora para fechar o meu post e deixo para o Jé: FORÇA SEMPRE! E a fé, que sei que tens muito mais que eu, vence tudo. Fidei in Dei omnia vincit!