domingo, 29 de junho de 2014

AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - THE STROKES - CHANCES



Essa é a canção ideal para o cara que chega em casa em um sábado à noite, depois de ter passado uma noite maravilhosa com a guria que ama, que está apaixonado. E então ele vai para casa, apaixonado, sonhando acordado com a sua guria, já com saudades e louco para pegar o telefone e ligar para ela, mas não quer atrapalhar o sono dela; mesmo sabendo que provavelmente a guria está pensando a mesma coisa que ele, pois a sintonia do amor de ambos faz com que tenham os mesmos desejos, que se completam um ao outro.

Parece bobo, eu sei... é bobo, idiota, cafona, ridículo! Mas é o amor. E é isso que cada um procura encontrar ao sair uma noite de sábado sozinho, desesperadoramente só, pensando em encontrar a pessoa ideal e que vai completar o seu sonho de par perfeito.

Passei por isso. Faz tempo. Não tive que procurar muito, apareceu do nada, de repente, na minha frente, naquele início dos anos 1990, em Assis. Passei por aquela guria risonha, de olhos claros e sorriso fácil e que cruzou meu olhar sem desgrudar dos meus. Foi amor à primeira vista.

Não tive trabalho, não precisei me esforçar muito e quando menos esperava, ali estava ela, na minha frente, sorrindo, me olhando insistentemente, até passar por mim nos corredores da Unesp e virar a cabeça, mantendo os olhares fixos e passando por nossas cabeças milhões de histórias que havíamos sonhados a dois, mesmo sem termos nos conhecido anteriormente. Sabíamos que um dia nos encontraríamos e que viveríamos a realidade daqueles sonhos de outrora, da vida toda.

Foi tão fácil te encontrar, meu tipo ideal, loira, olhos azuis, pele alva. Me apaixonei a primeira vez que te vi. E em questão de segundos, enquanto trocávamos aquele olhar significativamente apaixonante, pensei em como seria nossa vida daquele momento em diante.

Eu tinha dezoito anos e tu dezessete. Duas crianças pensando no futuro. Contra tudo e contra todos. Diversas noites eu me despedia de ti e queria ficar o resto da minha vida contigo

“Esperando pela noite
Partindo noite por noite
Você pode me ver viajar
Nós poderíamos estar em apuros todas as noites
Nós estamos em uma nova vida”

Ainda te encontrei por dias, cruzando olhares e nos beijando em sonhos, pelos corredores, ora no prédio de Letras, quando saía no meio da aula torcendo para te encontrar e te olhar nos olhos, trocar sorrisos e nada mais, nem uma palavra, bastava te ver e só; ora no prédio da Psico, quando tu ias ao meu encontro, no meio da tua aula e passava pela minha sala, esperando que eu notasse que tinhas passado por lá. E sempre dava certo, talvez por sentir o teu perfume de longe, talvez pelo instinto, talvez pelo nosso amor que estava nascendo, sempre dava certo e eu saía na hora certa ou tu saías da tua sala na hora certa. E nem precisava mais nada, apenas te ver alguns minutos para sonhar pelo resto do dia contigo.

E depois que te conheci nada me satisfazia, festas, shows, amigos, qualquer tipo de programa tinha graça alguma; só me interessava estar contigo. E tu me completavas por inteiro, tudo que a vida inteira me faltou eu encontrei em ti. Tinha ido para Assis estudar Psicologia com a intenção de preencher aquele vazio que a adolescência tinha exacerbado na minha vida e em 3, 4 meses encontrei alguém que realmente me fazia sentir o que era felicidade por completo.

Quantos sábados, quantas noites passei em claro pensando em ti, com o coração palpitando de paixão, sonhando acordado com o dia que te teria pela eternidade dos nossos dias. E, pode soar piegas, mas quando não estava contigo o dia, a noite, as tardes, tudo era tão triste e angustiante, sofrido; aqueles corredores da Unesp vazios, gélidos, cinzentos, mesmo que estivesse cheio de gente correndo para cima e para baixo, mesmo que estivéssemos no calor do verão assisense, mesmo que as paredes da universidade fossem coloridos;  mas o contrário, quando estávamos juntos tudo era perfeito, o vazio desaparecia, a temperatura era perfeita, a beleza e o colorido das flores sobressaíam; me sentia forte e poderoso, corajoso, podia enfrentar o mundo, meus medos, meus receios, pois tu simplesmente estavas comigo, ali ao meu lado, me dando o teu carinho e o teu amor.

E quando eu dormia, eram poucas horas, vivia do teu amor, em função do teu amor, me alimentando do nosso amor. E a vida, bem a vida sem tu não parecia jamais fazer qualquer sentido. Pensar em viver sem ti era desesperador e sufocante. Era exatamente como dizia a canção dos Smiths, se viver contigo era maravilhoso, morrer ao teu lado era um prazer celestial. Vida e morte, nada tinha sentido sem te ter comigo; e fazia todo sentido quando estava contigo.

Tudo isso sem te conhecer e apenas vivendo de fantasia. Mas quando finalmente te conheci e trocamos palavras, seguidas de beijos, então finalmente percebi que estava no paraíso e o quão a vida podia ser maravilhosa, linda, perfeita. Naquela noite de 23 de abril de 1991, quando finalmente criei coragem para ir conversar contigo. E eu já te amava profundamente, antes mesmo de te tocar, de pegar tuas mãos e encaixar nas minhas e de andarmos a esmo, embriagados de paixão, seguindo o caminho que nossos corações indicava.

E quando viajei nessa mesma noite, sem ti, foi a viagem mais triste de toda a minha vida, melancólica, só pensava em te encontrar na volta, queria chegar logo de volta e te ligar, te ver, te tocar, te beijar, estar contigo.

Depois daquele dia 23 tudo mudou. Minha vida, minha alma, todo meu ser inteiramente. Posso te dizer com toda certeza e quem me conheceu naquela época sabe perfeitamente, que foste um divisor de águas na minha vida. Eu era um antes de te conhecer e passei a ser outra pessoa depois de nosso primeiro encontro.

As pessoas que conviviam comigo não entendiam tamanho amor, não acreditavam que poderia existir tal sentimento. Que tal dependência poderia existir. Nem eu acreditava. Mas eles viveram o antes e depois de ti entrares em minha vida, o quanto eu mudei e me tornei fraco longe de ti e forte quando tu estavas por perto; o quão cabisbaixo eu ficava quando não estavas comigo e o quão alucinado de alegria eu ficava quando tu compartilhavas a tua companhia comigo.

Me viram chorar, me viram deprimidos, me viram extremamente triste quando nos separamos momentaneamente por força maior. Viram no meu rosto o maior sorriso que poderia ter de felicidade quando pude finalmente te ver novamente. Choraram e sorriram comigo; sofreram comigo a tua ausência na minha vida.

E eu sabia, eu sentia, eu vivia a reciprocidade desse sentimento que me hipnotizava e me conduzia à felicidade.

Escutar essa canção me fez lembrar das noites no Campus da Unesp de Assis, as manhãs de domingo, as aulas que matávamos para ficarmos mais tempo juntos. As aulas de laboratório que fazias e que eu ficava ao teu lado, as aulas de latim, as vezes em que eu subia nas árvores para pegar umas amoras para comermos juntos. 

Essa seria a canção que embalaria a minha história de amor, se existisse naquela época. Ela sintetiza todo o sentimento que vivi naqueles anos. Ela sintetiza todos os sentimentos que vivo desde então.

E naquela época, éramos nós dois e mais ninguém... nós dois e mais ninguém. Era o que bastava!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

COPA 2014 - BALANÇO

O Fantasma de 50 está vivíssimo

Escrevo ainda sob o efeito da maravilhosa vitória do Uruguai contra a Inglaterra. Extasiado, empolgado, enlevado e tudo o que for sinônimo de maravilhado. Raça! A isso se resume o Uruguai, que se não é forte na técnica, supera tudo com determinação e vontade. E o fantasma de 50 está mais vivo que nunca!

Depois de uma semana de copa do mundo, aqui no Brasil, já dá para tirar algumas conclusões: a maior decepção foi a Espanha, que em duas partidas tomou 7 gols, fez apenas 1. Como a França em 2002, que era a campeã do mundo, vencida em uma goleada de 3 a 0 sobre o Brasil, de Ronaldo, aquele famoso jogo do piripaque que para os adeptos da teoria da conspiração, teria sido vendida pelo título de 2002 e o direito de organizar a copa de 2014, a Espanha foi eliminada ainda na fase de grupos, sendo que o último jogo será apenas para cumprir tabela, contra uma forte Austrália, que fez a Holanda suar para vencer. Isso me leva a crer que ambas as seleções, ambos os títulos, foram apenas um acaso, como a Inglaterra em 1966 e que nunca mais conseguiu vencer outra e não assusta mais a ninguém.

A Holanda, que depois de golear a Espanha por 5 a 1, na maior surpresa dessa copa, e passou a ser vista como o bicho papão, suou muito para ganhar da Austrália, que por pouco não venceu o jogo. Coisas do futebol. A Holanda talvez não seja tudo isso, apenas pegou uma Espanha fraca, decadente, possivelmente menosprezando os adversários e pensando na final, esquecendo que chegar lá é um processo longo e duro. Ilusão do futebol.

O Uruguai foi uma grande decepção na primeira rodada. Perder para a Costa Rica, de virada, por 3 a 1, não era esperado nem para o mais otimista dos costariquenhos. Mas depois da enorme vitória sobre os inventores do futebol esta tarde, um Maracanazo se aproxima cada vez mais. E o tri fica mais perto a cada partida. Que venham os italianos. Ganharemos deles e conquistaremos o primeiro lugar do grupo! Se não jogou bem na estréia, empolgou a torcida esta tarde. Um salto alto na primeira partida, que não combina com o Uruguai.  Mais ou menos o que ocorreu com a Espanha, no mesmo Maracanã de 1950. Já se fala em Maracanazo 2014, caso da Espanha que caiu diante do Chile. Mas o verdadeiro está por vir.

A chamada Copa das Copas trará muita coisa pela frente. Surpresas, sim, mas se o Brasil conseguir chegar (acredito que pegará a Holanda na segunda fase, porque vence a fraca seleção camaronesa) em primeiro no grupo, pegará a Holanda, que perderá do Chile. Jogando em casa é muito difícil superar, Então o jogo que decide o primeiro lugar desse grupo será um jogão, com certeza. Todos querendo fugir de pegar o Brasil já nas oitavas. Mas se a arbitragem não ajudar o Brasil, como aconteceu com o México, a seleção canarinho também deve temer qualquer dos dois adversários. A Holanda que já eliminou o Brasil e o Chile que vem crescendo e que não tem nada a perder.

Portugal jamais passou de pura mídia em cima do CR7. Caiu de 4 para a Alemanha, sempre uma forte candidata ao título. Frios e calculistas, os alemães que mais chegaram a finais de copas, no total de 6: em 1954 venceu pela primeira vez, vencendo a Hungria; em 1966 perdeu para a Inglaterra no famoso gol que não foi e foi validado para o time da casa. Em 1974, em casa, chegou ao bicampeonato vencendo o famoso carrossel holandês de Johan Cruyff. Em 1986 perdeu para a Argentina de Maradona, dando o troco em 1990 e vencendo o tri campeonato. Finalmente em 2002, quando perdeu para o Brasil de Felipão, Ronaldo e Cia. Até aqui, a mais forte candidata ao título, na minha opinião.

A Itália é sempre aquela coisa, uma incógnita. Chega sem estardalhaço e sem muito favoritismo, mas sempre é um perigo. Vence a Costa Rica, mas cai diante da Celeste Olímpica, que entra em campo precisando da vitória para chegar à segunda fase.

A Colômbia mostrou hoje contra a Nigéria, que vai longe também. Sem a grande estrela Falcão Garcia, mas com Cuadrado, James e Quintero, fez uma grande partida. Ninguém segura a Colômbia no grupo.

A Argentina de Messi, Aguero, Di Maria, Higuain, não foi bem na primeira partida. Me pareceu preguiçosa e nervosa. Mas o craque dos craques desequilibrou. A estréia pesou, deve melhorar ao longo dos jogos. Mesmo sem muita inspiração, Messi fez o suficiente para a primeira vitória portenha.

A França, como a Espanha e a Inglaterra, não vai longe. Mas passa para a próxima fase, não dando o vexame das outras campeãs mundiais.

Finalmente o Brasil. Venceu a Croácia graças a um penalty mandraque, não jogou muito contra um México dedicado, que fará o melhor joga da Copa contra a Croácia. Vai ganhar da fraca Camarões, chega em primeiro no grupo e vai crescer a partir daí.

Essa me parece ser a Copa das Américas. Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Chile chegam longe. Acredito em semifinal de Copa América, apesar da forte Alemanha. Talvez a única intrusa. Holanda arrasou a Espanha, mas esta veio a passeio mesmo. Não vai longe.

Lindo seria uma final entre Argentina e Uruguai. Como em 1930. E, claro, vitória da Celeste Olímpica! Será possível pelos cruzamentos? Não sei. Mas seria perfeito... 

sábado, 14 de junho de 2014

QUARENTENÁRIO – ALQUIMIA


Quando a Mayday terminou? Quando fui embora estudar na Universidade? Quando nos alistamos no exército ou nas forças armadas? Não, porque ninguém de nós serviu às forças armadas. Vivíamos um período de crise econômica profunda e as forças armadas estavam sem grana para manter um enorme contingente apenas para satisfazer seu desejo sádico de massacrar e humilhar. Não tinha o porquê de manter aqueles que não desejavam ser esculhambados, apenas os masoquistas que queriam passar por essa experiência ‘única’ é que foram ‘escolhidos’ para servir à Pátria.

Para falar a verdade eu não sei quando a Mayday acabou. Acabou sem começar. O sonho acabou. Não tivemos uma Yoko, não teve briga, não deixamos de ser amigos, grandes amigos. Apenas nos afastamos naturalmente. A vida nos separou, nossas escolhas individuais nos separaram. E cada um foi seguir o seu rumo. Fui para a Universidade, o Zé Renato se aprofundou nas suas idéias revolucionárias e virou o maior punk de todos nós, montando uma banda punk que chegou a se apresentar na concha acústica do canal 3, o Branco foi sei lá o que fazer, fazer das suas. E o Ronaldo entrou numas de drogas, afogar as angústias e frustrações, se enrolou em um romance moderno para aqueles loucos dias de final dos anos 1980, curto e sofrido, como todas as paixões avassaladoras. Até que encontrou a (sua) salvação no Hare Krishna. Mas o lance com o Hare Krishna demorou mais uns anos para rolar. Antes disso montamos uma banda.

Também não sei porque a banda acabou. Não me recordo exatamente o momento e o motivo. Não sei se isso foi definido ou simplesmente deixamos o sonho de lado. Vou perguntar para o Zé Renato ou para o Ronaldo, que o Renato, meu irmão ficou de me passar o contato. Quem sabe eles lembram.

Passado algum tempo do final da Mayday, já nos anos 1990, eu, Ronaldo, Nair e um guri da rua São Paulo, montamos uma banda e começamos a ensaiar em um estúdio. Já tinha trancado a Psico em Assis e estava em mais uma fase em Santos. Aquela cidade parecia me puxar como um imã e me prender em suas ‘fronteira’ com a serra do mar e com o Oceano Atlântico.

Com essa formação, a banda iniciou os ensaios e pouco tempo depois o Ronaldo queria se apresentar em um festival que teria em Humaitá, um bairro novo bem longe, muito longe do que se conhecia à época como a cidade de Santos. Era o que começamos a chamar de periferia de Santos. Humaitá era para onde Santos empurrava a população mais carente, a população mais pobre. Era em Humaitá que o Ronaldo morava. Na realidade, se apresentar em Humaitá para o Ronaldo seria a glória; uma forma de mostrar que ele não era só um neguinho maconheiro que andava sem rumo, mas um futuro astro de rock.

“Tudo isso aconteceu há mais de 20 anos e vieram hippies e tanques...”

Isso ocorreu na minha fase mais star, tanto que os caras me chamavam de Márcio Star, porque eu estava chato pra caralho, pedante, nojento, me achando o cara mais fudido de todos, um pop star de porra nenhuma. Então não aceitava nada que não tivesse sido criado por mim. Por isso que a banda não deu certo. Vários ensaios e não tínhamos nome. O Ronaldo querendo nos inscrever no festival e nós sem nome. Como eu estava nojento e irredutível, os caras começaram a não submeter as idéias à minha aprovação, porque eu não aceitava nada que não fosse criado por mim.

O Ronaldo era o batera, o Nair ficou com o baixo, eu com a guitarra e o violão e o carinha da rua São Paulo era o vocal, se arriscando no violão também. Eu fazia as letras e as músicas, claro; e aceitava pouca interferência dos outros, que dirá trazerem uma letra ou uma música. Porém, a principal canção foi feita no ensaio mesmo, uma linha de baixo aqui, um riff de guitarra e canta qualquer porra aí. Assim surgiu nosso principal hit, que era tão bom que eu não lembro da letra e nem da música.

O Nair, apelido do André, era um punk que andava com o China (também André, que havia estudado com meu irmão Fábio no Dino), também punk. Aliás, os caras que andavam com eles, Branquinho e outros, eram os punks que nos antecederam em Santos. Como em São Paulo, haviam tribos diferentes de punks. Nós andávamos com a periferia, os caras de Cubatão, enquanto o China e o Nair com os punks ‘ricos’.

A diferença de idade também contava, porque eles eram 3, 4 anos mais velhos que nós. Mais tarde, quando montamos a banda, essa diferença já não pesava mais.

Os caras estavam numas de ler Paulo Coelho, fãs de Raulzito; eu detestava Paulo Coelho, escutava pouco Raul Seixas, preferia o rock inglês. Daí os caras jogaram na roda o nome da banda: Alquimia. Eu não aceitava esse nome, claro, na minha teimosia, mas também não tinha nada melhor para sugerir. Aquilo me soava meio pagode, nunca gostei desse nome e até hoje não daria o nome para a banda. Mas foi ficando, mesmo contra a minha vontade, um semi deus prepotente e idiota.

Depois de vários ensaios, eles se encontravam, andavam juntos o tempo todo e eu ficava na minha, seguia minha vida normal sem a banda. A Juliana estava grávida do Victor, eu tinha um outro ritmo de vida, bem diferente deles, que estava mais para drogas e rock and roll. E eu constituindo família. Eu não fazia parte da banda, era apenas o guitarrista e compositor da banda, nada mais... não era um deles. Não tinha unidade, não tinha banda. Não para mim, no meu isolamento de estrela.

Depois de vários ensaios, certa feita cheguei no estúdio que alugávamos para ensaiar, sozinho e eles já estavam lá, chegavam juntos e iríamos começar a tocar a música que fizemos, mas daí os caras tinham mudado tudo e eu chiei pra caramba. Onde já se viu fazerem isso sem me consultar. Depois de nenhuma discussão, mas de imposição minha e muita paciência da galera, começamos o ensaio. Os caras preferiam não contrariar.

Então, contra minha vontade e sem eu saber os caras nos inscreveram para esse tal festival. Com o nome de Alquimia. Quando vi o cartaz do show, fiquei muito, mas muito fudido. Aquela minha vaidade idiota falando mais alto, me tornei um ignorante-arrogante, na minha teimosia cega.

Mas nesse aspecto eu tinha argumento. E não era apenas minha teimosia que queria falar mais alto. Não estávamos preparados para nos apresentar, tínhamos ensaiado apenas duas ou três canções. Mas não estávamos em sintonia, nem dentro e muito menos fora de ‘campo’. Lembrei o Ronaldo, o único que me escutava, que aceitava a minha teimosia com uma paciência de Jó, das apresentações das bandas no extinto programa Som Pop da TV Cultura, nos anos 1980, cada uma pior que a outra; disse para ele que se nos apresentássemos naquele momento, esse seria o nosso destino. E vaias, muitas vaias.

Meu poder de argumentação foi o suficiente para o Ronaldo e os demais desistirem da empreitada. Eles meio que queriam tocar na marra, mesmo sem estarmos preparados. Perceberam, a tempo, que seria impulsividade.

Não lembro quem montou a banda. Não lembro como a banda terminou. Mas sei que não tinha mesmo como dar certo. Meu ego inflado não deixaria nada que eu não comandasse dar certo. Por isso, depois de algum tempo, diversos ensaios e nenhuma apresentação, a banda terminou. Também éramos escassos de talento.

Olhando para trás, acho que nem eu me agüentaria. Não sei como os caras me agüentaram. Nunca mais encontrei o Nair; o vocalista, com pouco talento para cantar, mas com presença de palco e estilo, cujo nome nem tive a condição de guardar e que era mais novo que nós, acho que nem 18 tinha na época, só tive contato nessa época, depois nunca mais o vi. Deve ter guardado uma péssima imagem minha; só restou minha amizade com o Ronaldo, que volta e meia aparece depois de sumir por anos a fio.

Em 1994 saí de Santos de uma vez por todas. Fevereiro de 1994. Nunca mais voltei a morar lá. Voltar para lá, só de férias. Segui minha vida, o rumo que Deus guardou para mim e fui terminar a Psicologia que havia trancado para ter meu primeiro filho, assumir uma responsabilidade enorme de ser pai de família aos 21 anos, achando que sabia tudo da vida. Abortei a idéia de ter uma banda, aposentei o violão, a guitarra e guardei o sonho para uma próxima encarnação. Parei de escrever canções, ainda arrisquei alguns versos por alguns anos, mas sem o ímpeto e a prolixidade de outrora.

Amadureci com a dureza da vida. Aquele sonho juvenil e adolescente de ter uma banda para impressionar as menininhas já não cabia na minha vida. A partir dali, na minha vida, me pareceu que “...eu não precisava provar nada pra ninguém”. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

AS MÚSICAS DA MINHA VIDA - THE SMITHS - RUBBER RING

Falar sobre as músicas da minha vida ou um discografia da minha vida, é como falar da discografia dos Smiths. The Boy With The Torn In His Side, Ask,There is a Light That Never Goes Out, Cemetery Gates, Shoplifters of The Word, I Want The One I Cant Have, This Charming Man, Still Ill, I Know Its Over, Please Please Please Let Get What I Want, Bigmouth Strikes Again, Meat Is Murder, Heaven Knows I'm Miserable Now, só para citar as canções mais maravilhosas do mundo, já daria uma vida de discografia. E só estou falando dos hits mais hits de todos os tempos da banda da minha vida. Sem contar que cada um dos acordes das canções citadas contam uma partezinha da minha vida. 

Indo para o trabalho todos os dias de bicicleta às seis e trinta da manhã, na escuridão do começo do dia londrinense, acompanhado de Deus e dos meus pensamentos, ao som dos Smiths é que percebo que Deus existe. Para alguém escrever canções tão perfeitas, somente por meio Dele. 

Estou lendo em doses homeopáticas e saboreando cada detalhe da biografia da banda, lembrando de coisas que eu sabia e descobrindo muitas, muitas coisas que eu não tinha conhecimento, tenho escutado alucinadoramente, compulsivamente, loucamente, diariamente, toda a discografia da banda, que se limita a apenas 4 discos de estúdio e mais quase uma centena de compactos, que eles lançaram em sua curta vida como banda, também compulsivamente, uma fábrica de canções maravilhosas e nessa audição assustadoramente insana, acabei relembrando canções que não chegaram a fazer muito sucesso.

Algumas canções que não são tão conhecidas como a própria Rubber Ring que posto aqui, Stretch Out And Wait, Jeane, Sweet and Tender Hooligan, Back To The Old House, What's The World, têm feito minha cabeça nesses dias smithianos. 

Poderia ter escolhido qualquer uma delas, mas escolhi Rubber Ring por versos como 

"Um triste fato amplamente conhecido
A música mais apaixonante
Para uma alma solitária
E tão facilmente esquecida

Mas não se esqueça das músicas 
que fizeram você sorrir
e das músicas que fizeram chorar..."

E além de relembrar essa canção divina, aproveito para homenagear todos os casais pelo dia dos namorados. 

Ah e se por acaso não tenhas escutado nenhuma das canções que citei nesse post, com certeza não conheces The Smiths. E se não conheces a banda mais importante dos anos 1980,então meu caro, não viveste a vida adequadamente. E o que estás esperando para começar a escutar?