sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A CARTOMANTE


Vem de longe a estória da traição e do melhor amigo bondoso traído e que enlouquece. Traído duas vezes, pela mulher e amigo amados. A humanidade dificilmente superará esse ato, por mais que evolua. Mas mais do traição, A Cartomante, de Machado de Assis tem em sua temática a crença e o que ela pode fazer para cada um de nós. Quando perdemos nosso chão e buscamos algo para nos levantar, nos equilibrar para seguirmos nosso destino. E o quão essa ilusão da luz no fim do túnel nos faz erguer a cabeça e pode nos derrubar de uma vez, porque nos sentimos tão poderosos que nos desarmamos para o que vem pela frente. É assim que conseguimos manter nossa sanidade, muitas vezes sem nos preparar, confiando piamente naquilo que nos ilude. É a velha batalha entre acreditar ou não em um deus que nos guia e nos protege.

Além disso podemos analisar o conto por outro ângulo: a de que em determinados momentos, movidos não sei porque cargas d'água, nos deparamos com algum imprevisto que nos suscita o medo, e superestimamos a situação, achando exageradamente que aquilo é o fim do mundo e o resultado nem chega a ser tão horrível, ou ao contrário, subestimamos o caso e aí sim o mundo cai.

Isso me faz lembrar de minha infância/ pré adolescência. Eu era um cara encapetado, sempre fui a ovelha negra da família, o pior filho, aquele que só dava trabalho; uma vez levei um tapa na cara da vizinha, porque xinguei a filha dela; não lembro com detalhes esse caso, mas foi na frente de toda a galera; devo ter falado algo muito grave para tirar a vizinha do sério. Para se ter uma idéia o seu nome era Silvana e o apelido, Silvana Baiana (adivinha quem alcunhou?). Em Santos, ser baiano é a pior coisa do mundo. E não reflete o estado que a pessoa nasceu, basta ser nordestino que é baiano ou fazer coisas consideradas erradas para fazer baianada.

Em outra passagem, fiquei de castigo, quando passava férias na casa do meu tio Luiz, em São Paulo (tinha meus 10, 11 anos) e uma guria, prima de uma de nossas amigas (da Mena) e surgiu algum comentário do tipo que era de ficar com os carinhas. Não era bem esse termo, mas algo parecido e utilizado na época, e então a chamei de galinha e minha tia Noemi escutou. Bastou isso para eu me ferrar.
Outra das minhas diabruras me vêm à tona agora, essa junto com meu primo pico, meu companheiro de traquinagens nessa época de final de infância, quando colocamos fogo na árvore que ficava no quintal da casa do tio Luiz. Era para matar as formigas. Quando vimos que a coisa estava quase fora de controle, resolvemos limpar tudo e tentamos esconder aquilo que nos incriminava. Só que quando minha tia chegou, logo percebeu que havíamos aprontado uma das nossas. Mais uma vez castigo. Fora apanhar, claro. Quando nos pegaram fumando cigarros escondidos, tínhamos até menos idade, foi mais uma sova.

Porém, nenhum desses episódios eu queria citar. De qualquer forma serviu para ilustrar minhas peripécias infanto juvenis. Embora fosse encapetado, sempre tive juízo e era um guri estudioso, sabia das minhas responsabilidades. Minha mãe ía nas reuniões de pais, mas a reclamação da minha pessoa sempre era em relação ao meu comportamento, que era terrível, por exemplo na 6ª série no segundo dia de aula lá estava eu, virado para a parede, em frente à diretoria, depois de ter levado aquele sermão. Ou de quando, na 8ª série, hormônios em polvorosa, ao puxar um caderno, eu sentado em frente à professora (de Língua Portuguesa, infelizmente o tempo fez minha memória em frangalhos - se alguém aí lembrar, por favor, faça um comentário, uma vez que esqueci o seu nome) cair uma revista pornográfica, aos pés da professora, revista essa que já havia rodado pela sala. Lá fomos, eu e o Zé Renato para a diretoria, e mais uma vez aquele sermão. Puta que o pariu, não consigo lembrar o nome da diretora. Ajuda aí pessoal!

Mas o que eu queria dizer, depois desse longo parênteses, é que já na pré adolescência, eu e o meu irmão Renato, depois de termos feito alguma das nossas travessuras (eu levava ele para o mal caminho) e ficarmos a tarde de sábado até o começo da noite escondidos na rua, para não apanharmos da mãe e ao voltarmos para casa, aflitos com o castigo, este não passou de uma bronca. Mas quando menos esperávamos que fosse algo corriqueiro e que merecia apenas uma bronca, lá vinha a surra. Como na música do Inocentes: "eu apanhava todo dia". Nem por isso me tornei uma má pessoa (dependendo do ponto de vista, claro!). É possível analisar A Cartomante também sob esse ângulo, dos castigos que esperamos que não se confirmam, sejam brandos ou não.

Para reler ou ler o conto, acesse aqui.

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