domingo, 24 de fevereiro de 2013

OSCAR 2013 - RESUMÃO


Hoje é a noite do Oscar 2013. Desde que mudou a indicação passou de 5 para 10 filmes, não tinha conseguido assistir a todos os indicados. O problema é que em Londrina não passam todos os filmes. Outra característica dos cinemas de Londrina é que um dos filmes indicados (e um dos que mais gostei) As Aventuras de PI, passou nas salas de cinema somente dublado, uma vergonha, ir ao cinema e ter que assistir a um filme, candidato ao Oscar, dublado. Por isso não fui assistir. Acabei assistindo no computador, como os demais que não entraram em cartaz por essas plagas, como é o caso de "Amor", que assisti nesta tarde.

Amor, o último que assisti, é um filme francês, que conta a história de um casal de idosos e levam uma vida ativa, quando de repente Anne sofre um AVC e tem toda a parte direita do corpo paralisada. George, seu marido, passa a cuidar da esposa com todo cuidado, mas Anne sofre um segundo AVC que agrava a sua situação. O filme começa pelo final, passo a passo demonstrando como chegou a isso. E daí, do final é que se entende melhor o nome do filme.

No sábado passado assisti, também pelo computador, Indomável Sonhadora, que estreou nas salas de Londrina esse final de semana. Conta a estória da pequena Hushpuppy, que vive em uma comunidade miserável, criada pelo pai doente. Hushpuppy é criada como se fora um menino, para ser forte diante de um futuro duro e difícil, como é de se esperar por toda a comunidade. Um filme muito interessante, uma vez que dificilmente vemos a pobreza e a miséria que alguns norte americanos vivem.

Os Miseráveis, baseado na obra de Victor Hugo é um musical e conta a estória do sofrimento de Jean Valjean, que é preso por roubar um pão para comer e sofre exageramente em uma prisão, perseguido por um autoritário inspetor Javert. A estória, um clássico do escritor francês, cujo nome do meu filho mais velho foi uma homenagem e pela admiração ao escritor por este que escreve, se passa durante a Revolução Francesa e é uma crítica social da França do século XIX. O filme é uma adaptação de uma peça da Broadway e também é um musical. Isso estraga o filme, mas vale à pena pela obra de Victor Hugo, pois a estória é muito boa. Quem não gosta de musical e não conhece a obra, com certeza odiará.

Django Livre foi o primeiro que assisti. Quentin Tarantino dispensa apresentações; é um Western dos bons, com muito sangue jorrando pela tela. Uma excelente estória tendo como pano de fundo a escravidão. Assim como Lincoln, que trata da escravidão, indiretamente, pois conta a estória do presidente dos EUA Abrahan Lincoln e sua luta pela abolição da escravatura. É uma história ufanista, demonstrando o presidente como um herói. Ufanismo também é o pano de fundo de Argo, que conta a verídica história de diplomatas americanos que se esconderam na Embaixada do Canadá quando todos os americanos foram presos no Irã, em 1979. A revolta contra os americanos por parte dos iranianos se dá por conta do asilo político dado ao xá que antecedeu ao Aiatolá Khomeini. A Cia então, através de um de seus agentes (Tony Mendez) tem a idéia de fingir que iriam filmar um filme de ficção no Irã. Uma vela história, verídica, que só foi desvendada pelo filme, até então um segredo de Estado e do serviço de inteligência americana. Destaco, como curiosidade, a incrível semelhança entre os personagens do filme e os da vida real. Se o Oscar for para esse filme, pois é um dos favoritos, estará em boas mãos.

O lado bom da vida não é nem um filme de amor e também não é uma comédia, como foi difundido, embora contenha elementos desses dois tipos de enredo; na verdade é um filme sobre a perda, de quão difícil é para algumas pessoas elaborarem e superarem o luto porque passamos ao longo de nossa vida. Sendo assim, o filme é um drama psicológico, muito bem desenvolvido, dirigido e encenado por atores do porte de Robert De Niro. Um dos indicados que mais gostei. Assim como As Aventuras de PI, uma inusitada estória sobre um rapaz indiano que passou por um naufrágio e sobreviveu por semanas ou meses, com um tigre chamado Richard Parker. Mais inusitado o nome de PI, que na verdade é Piscina Patel, nome batizado por um tio bem próximo do seu pai, que gosta muito de nadar e tem como preferência uma piscina pública de Paris e resolve homenagear a mesma dando o nome ao filho do amigo. O filme é uma mistura de Naufrago com Forest Gump. Uma curiosidade do filme é que o livro, escrito pelo canadense Yann Martel no qual é baseado foi inspirado no livro do escritor gaúcho Moacyr Scliar chamado Max e os Felinos, que contra a estória de um refugiado judeu fugido da Alemanha cruzando o oceano em um bote com um jaguar. Scliar, que faleceu em 2011. O canadense, por um tempo, foi acusado de plágio. É o meu filme predileto, mas dificilmente vencerá.

A hora mais escura, que conta a estória do assassinato de Bin Laden, uma ficção, uma vez que não acredito que os americanos tenham matado o chefe da Al-Qaeda, é outro filme ufanista e patriótico norte americano. 

Façam suas apostas. A sorte está lacrada desde a última 5ª feira. 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

THE STROKES - I'LL TRY ANYTHING ONCE (YOU ONLY LIVE ONCE DEMO)

No disco de B Sides do The Strokes tem diversas canções especiais, como Life's a Gas do Ramones, Mercy, Mercy Me de Marvin Gaye com Eddie Vedder do Pearl Jam e Josh Homme (Queens of the Stone Age), uma versão ao vivo de Juicebox ao vivo no Rio de Janeiro, dentre outras. E conta com a demo de You Only Live Once, que abre o 3º disco da banda de Nova York, First Impression of Earth, de 2006. Uma versão bem mais leve do que a que foi gravada no disco citado.




EU VOU TENTAR QUALQUER COISA OUTRA VEZ

Dez decisões moldam sua vida
Você estará consciente sobre cinco delas
Sete maneiras de ir para o colégio
Mesmo que seja notado ou deixado de fora
Sete maneiras de ir em frente
Sete razões para visitar sem avisar

E eu digo, eu posso me ver em seus olhos
Você diz, eu posso te ver em minha cama
Não é só amizade, é também romance
Você gosta de música, nós também podemos dançar

Me sente
Me cale
Eu vou me acalmar
E eu começarei junto com você

Existe um momento que todos nós falhamos
Algumas pessoas levam isso muito bem
Outras descontam tudo isso nelas própias
Outras, descontam simplesmente nos amigos
Oh, todo mundo joga o jogo
E se você não joga, você é chamado de louco

Não... Não é mais seguro
Eu tenho que lhe ver mais uma vez
Você nasceu em 1984

Me sente
Me cale
Eu vou me acalmar
E eu começarei junto com você

Todo mundo estava bem vestido
Todo mundo estava uma bagunça
Seis coisas que eu sinto que você tem que fazer
Para que sua mulher ame só você
Oh todas as garotas fazem jogos psicológicos
E todos os garotos estavam vestidos iguais

Por que não experimentar de tudo?
Se você só lembrará de tudo uma vez
uhhhhhhhhhhhhhhhh uhhhhhhhhhhhhh uh uh uh uh

Me sente
Me cale
Eu vou me acalmar
E eu começarei junto com você

PUER EDUCATIONEQUE


Sempre acreditei que os filhos fossem criados de forma igual, filhos dos mesmos pais e no mesmo ambiente, e que por isso seriam iguais, não teriam como e nem poderiam ser diferentes. Como, se são filhos dos mesmos pais e são criados no mesmo ambiente? Tudo isso sem muita reflexão ou qualquer profundidade teórica. Essa idéia também nos é passada ao longo de nossa vida, por nossos pais e avôs. 

Ledo engano. Obviamente, sempre estive enganado com esse pensamento baseado no senso comum e fortemente enraizado por nossos ancestrais. Primeiro porque cada um absorve a experiência de forma diferente. Algo que pode ser bom para um, não necessariamente é bom para o outro. Isso serve para os pais também, que acham que porque algo foi bom em outros tempos, pode ser bom para todas as gerações, principalmente a de seus filhos. Ilusão e autoritarismo. Então as experiência são vivenciadas de forma diferente, a interpretação de cada um será diferente, porque cada um absorverá à luz da sua verdade.

Filosoficamente pensando, cada nova experiência nos transforma em outra pessoa; é claro que não precisamos ir tão a fundo e dizer que a cada dia que passa somos diferentes pelo que vivenciamos ao longo das 24 horas, mesmo nas horas de sono estamos vivendo novas experiências em nosso inconsciente que estão nos transformando. Não é exagero, é apenas analisar nosso micro dos micros, sendo minucioso. Mas nossa vida e a forma como estamos organizados como sociedade atualmente, não nos permite esse luxo. Não conseguimos nos desligar da matéria a ponto de chegarmos a esse nível de reflexão.

Como Freud, que observava os seus filhos e tudo ao seu redor, para desenvolver suas idéias, observando o Victor e o Gui, como são diferentes (e ao mesmo tempo tão iguais) e confabulando com a Juliana, percebi que eles não estavam no mesmo ambiente, que não foram criados pelos mesmos pais. Quando o Victor nasceu eu tinha 21 e a Juliana tinha 20 anos. Ambos ainda estudávamos. Passamos uma temporada em Santos, onde ele nasceu e passou os primeiros 3 meses de vida, quando então mudamos para Londrina. Mudamos algumas vezes de casa e tínhamos uma vida bem diferente de quando o Gui nasceu. Isso, por si só, já seria motivo suficiente para concluir o porquê de serem tão diferentes.

Mas tem mais. 

O primeiro filho sempre é uma cobaia humana. Além da imaturidade da vida, também tinha a imaturidade como pais. Aprendemos a ser pais com o Victor, apanhando dia após dia (às vezes acho que nunca aprendi a ser pai). E à luz dessa reflexão, percebo que ele foi criado de forma diferente. Tinha maior liberdade, teve que crescer mais rápido, antes do tempo, porque o Gui nasceu quando ele tinha 4 anos, teve que assumir responsabilidades que este não precisou, em idade talvez inapropriada.

O Gui, quando nasceu, eu já tinha 26 anos. Já tinha passado pela faculdade e com uma vivência maior não só da teoria, mas também da prática da vida. E isso fez eu ter outras escolhas com ele, diferentes das que tive com o Victor. O Victor eu brinquei mais, acredito que era mais guri mesmo, jogava bola, brincava de carrinho e tantas outras coisas que ele me 'obrigava' a fazer. O Gui, por exemplo, não tive tanta paciência para brincar. Tinha outro ritmo de vida que não me possibilitou essa vivência. 

Quando o Victor nasceu eu tinha uma ilusão diferente da vida, talvez ideologias mais enraizadas, ou era mais cabeça dura mesmo. Meus ideais eram mais sonhadores, as escolhas que fiz naquela época, talvez não tivesse feito quando o Gui nasceu. Embora eu saiba que o que me tornou quem sou, foram as escolhas (certas ou erradas) que fiz no meu passado. Os anos que se passaram até o Gui nascer me fizeram mudar ou ver com outra ótica a vida e minhas escolhas, valores, ideologias. 



Assim sendo, o Gui não nasceu diferente ou igual ao Victor, ou vice versa, mas tiveram experiências diferentes, com pais diferentes, embora fossem os mesmos, mas com valores e ideais diferentes. Isso nos tornou outras pessoas. Aos 30 somos bem diferente do que aos 20. Graças à Deus! Evoluímos (em algumas situações diria que involuimos). 

Escrevo isso sob o efeito do programa De Frente Com Gabi, com o pastor Silas Malaquias, cujo programa um dos temas mais falados foi o homossexualismo. Há hoje uma forte discussão entre a idéia de que a pessoa nasce homossexual ou desenvolve o homossexualismo ao longo da vida e a partir das suas experiências, vivências. Não acredito na primeira hipótese, de que a pessoa nasça homossexual. Acredito que a vida a leve a isso. Vivências e experiências é que definem a sexualidade do indivíduo. Acredito que o bebê humano nasça sem orientação sexual propriamente dita, mesmo porque nosso primeiro objeto de desejo é a mãe.


Sobre esse tema, sempre acreditei que a partir das experiências vividas durante a fase de desenvolvimento psíquico denominada por Freud de Fase Fálica, quando a criança percebe que tem (ou não) um órgão sexual  externo; como ela vivencia essa fase seria determinante para a sua sexualidade adulta, assim com o Complexo de Édipo é outro fator que determina o objeto de desejo do adulto e suas escolhas (sexuais no caso). 

Sobre a discussão ética profissional da psicologia e do psicólogo, de não tratar o homossexualismo como doença, vejo com ressalvas. Tudo depende de como o paciente apresentar o problema. Se ele estiver em busca da 'cura' é isso que deve ser trabalhado; se estiver em busca de se assumir, esse deverá ser o direcionamento das sessões; se, por fim, ele não quiser assumir uma possível homossexualidade, as sessões deverão tomar esse rumo. 

Antes que qualquer radical me xingue interpretando erroneamente que eu tenha um pensamento idiota de que o homossexualismo seja doença, pode tirar o cavalinho da chuva. E por outro lado, conservadores compulsivos se manifestem a favor de uma coisa que não disse, estão completamente enganados. Não acredito que o homossexualismo seja uma questão só de opção, embora também seja; e vejo a questão homossexual com normalidade, cada um sabe o que pode lhe trazer maior prazer e é isso o que importa, sempre respeitando o outro.

Sem aprofundamento teórico, sempre acreditei nisso. E também sempre acreditei que se nós todos nos preocupássemos mais conosco mesmo e deixasse a vida do outro de lado, talvez fôssemos mais felizes. O que o outro fez ou deixou de fazer, desde que não afete minha vida, é problema particular dele. Cada um faz da sua vida aquilo que achar melhor. E ninguém tem nada com isso. Intrometa-se menos com a vida do outro e viva a sua própria. Talvez o mundo se torne um lugar melhor para se viver.  

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

THE SMITHS - PANIC

Panic, dos Smiths, que abre a coletânea The World Won't Listen, de 1986, o primeiro disco da banda que caiu nas minhas mãos e que fez apaixonar-me profundamente e para sempre por aquele som tocado pelos rapazes de Manchester, é uma canção atualíssima, nem de longe datada.

Isso porque o que Morrissey escreveu décadas atrás fala sobre as músicas que os dj's tocam, que não falam nada sobre a sua vida e que por isso devem ser enforcados. Se seguíssemos a risca o que os Smiths pedem nessa canção, 10 em cada 10 programadores das rádios FM do Brasil, teriam suas vidas ceifadas da mesma forma que Ian Curtis deu cabo a sua.

Embora não escute rádio, sei que a programação é cada vez pior, recheada de músicas bate estacas que são a febre das festas dançantes, sertanejos insossos, para não usar um adjetivo pejorativo e funks que dispensam qualquer palavra. Ou seja, programação medíocre e idiota, salvo raríssimas excessões. Não que devam ser enforcados, mas deveriam ser processados por mal gosto e falta de bom senso. E claro, bom lembrar que é apenas uma metáfora; não saíam por aí enforcando os dj's.


PÂNICO

Pânico nas ruas de Londres
Pânico nas ruas de Birmingham
Eu me pergunto
Poderia a vida ser sã novamente
Nas ruas de Leeds nas quais você passa
Eu me pergunto
Esperanças podem surgir em Grasmere
Mas, querida, você não está a salvo aqui
Então você corre
Para a segurança da cidade
Mas há pânico nas ruas de Carlisle
Dublin, Dundee, Humberside
Eu me pergunto

Incendeiem a discoteca
Enforquem o bendito DJ
Porque a música que eles tocam constantemente
Não me diz nada sobre a minha vida
Enforquem o bendito DJ
Porque a música que eles tocam constantemente

Nas ruas de Leeds nas quais você passa
Nas cidades provincianas em que você passeia
Enforquem o DJ, enforquem o DJ, enforquem o DJ
Enforquem o DJ, enforquem o DJ, enforquem o DJ

TODOS OS NOSSOS CARNAVAIS


Lendo sobre o acidente que ocorreu no desfile das escolas de samba em Santos, no litoral paulista, lembrei de algumas coisas e preciso confessar algo: sim, já fui folião de carnaval, eu admito! E, ao contrário do que possam pensar, eu gosto de carnaval, ou melhor, eu gosto do carnaval. Parece heresia para um roqueiro convicto e conservador? Nem tanto, meus caros, nem tanto. 

Não é pelo samba enredo ou pela beleza que os desfiles de escola de samba proporcionam. A beleza da mesmice, pois para um ignorante do assunto, não consigo distinguir a Vila Isabel da Caprichosos de Pilares ou de qualquer outra escola de samba (escrevi os primeiros nomes de escola que me vieram à cabeça). 

Gosto do carnaval porque tem o feriado mais longo do ano, o que nos faz descansar um pouco antes de o ano realmente começar. Dá para ir muito ao cinema, ler alguma coisa interessante, escutar muito rock, coçar o saco, refletir sobre qualquer porra ou sobre nada, enfim, exercer o que Domenico De Masi chamou de Ócio Criativo. Não que se deva esperar passar o carnaval passar para começar a viver o ano novo; mas há um clima no ar, uma espera psicológica de festa, uma sensação gostosa de que algo bom ainda está por vir, não só árduos dias de trabalho até as próximas férias. Todo brasileiro espera o carnaval com essa ansiedade gostosa.

Em segundo lugar, o carnaval é uma importante fonte de renda do turismo nacional, divulga o Brasil lá fora e nos traz muitos dólares. E sem a poluição das fabricas, ao menos teoricamente. Portanto traz dinheiro e emprego para muitas pessoas.

Mas como confessei, já fui folião. Percorri alguns clubes de Santos na pré adolescência; havia um motivo básico para esse comportamento inadequado: ir atrás das menininhas. Ía nas matinês do Atlético no canal 3, um dos mais concorridos e tradicionais, o do Portuários, mas também frequentei o Drops e outros menos tradicionais; também ia na avenida da praia (tentar) assistir ao desfile. 

Os dos clubes da Ana Costa (não lembro o nome do maior deles) e da AABB ou os da ponta da praia, nunca fui, era reservado à burguesia.

Num desses anos, com a galera da rua São Paulo (Ronaldo, que é chefe de cozinha no Vegetarian Tali em São Paulo, João, Teixeira, Tingido, Baiano, Kawosh), eu e o Ronaldo nos separamos do pessoal e estávamos indo embora, alta madrugada e já de saco cheio de tanto samba, fomos abordados por dois transeuntes suspeitos que ao mesmo tempo, no meio da multidão, nos ameaçavam e sorriam ao mesmo, apertando nossas mãos, como disfarce, armados com facas escondidas, que nos mostravam a toda hora. Quem passava e olhava a cena, acharia que éramos todos amigos. Levaram alguns míseros trocados que tinha nos bolsos e só.

Depois desse episódio, devia contar com 14, 15 anos, jamais voltei a participar de algum carnaval. Mesmo que o pessoal da Rua São Paulo queria criar um bloco para participar do carnaval da Portuguesa Santista, os 'Lobos da Vila'. Percebi que a estratégia do carnaval não dava certo para pegar alguma guria (nunca tive sucesso em qualquer baile de carnaval) e que só o rock salva. Esse sim me trouxe 'dividendos', se é que vocês me entendem. No primeiro show que fui, no saudoso Caiçara Music Hall, de uma banda em início de carreira, Engenheiros do Hawai, eu com 15 anos, fiquei com uma guria que era fã do Carlos Maltz. Poisé como o primeiro disco do Bidê ou Balde: Se Sexo É o Que Importa, Só o Rock É Sobre Amor.

É isso! Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

THE CURE - THE HANGING GARDEN

The Cure é uma boa pedida para esse carnaval. Consegui baixar um disco de 1984 ao vivo (Concert), que é um petardo. Quem me emprestou esse disco pela primeira vez foi o Zé Renato, que era super fã do Cure. Fiz uma cópia do disco em fita k7, como sempre fazíamos naquela época e gastava a mesma rolando sem parar no meu walkman amarelinho. Como ainda não tinha aquela tecnologia de mudar de lado automaticamente (comprei um desses em 1995 no Paraguai, que tenho até hoje, uma relíquia), tinha que fazer isso manualmente. 

Dias atrás consegui baixar o disco, depois de ter uma canseira da internet. Tinha a discografia completa do Cure, 17 cd's e notei que não tinha esse disco, que é uma compilação de alguns shows da banda e contem The Hanging Garden que é uma grande canção da banda, das mais famosas. 



O Jardim Suspenso

Criaturas se beijando na chuva
Sem forma na escuridão novamente
No jardim suspenso, por favor não fale
No jardim suspenso ninguém dorme

Vendo o contorno da lua
Ofereço minhas mãos à alguns anjos
No calor da noite como um animal em gritos
No calor da noite, andando dentro do sonho...

Cair, cair, cair, cair dentro das paredes
Pular, pular na hora
Cair, cair, cair, cair fora do céu
Cobrindo meu rosto como os animais choram
No jardim suspenso

Criaturas se beijando na chuva
Sem forma na escuridão novamente
No jardim suspenso, mude o passado
No jardim suspenso, usando peles e máscaras

Cair, cair, cair, cair dentro das paredes
Pular, pular na hora
Cair, cair, cair fora do céu
Cobrindo meu rosto como os animais morrem
No jardim suspenso

No jardim suspenso

QUARENTENÁRIO I - 2013


Em 1986, portanto anos 80 do século passado (que estranho escrever isso, cheiro de naftalina no ar, pura nostalgia) a Legião Urbana lançou o álbum Dois, que os alavancaram para o sucesso definitivo e como a melhor banda daquela década, cultuada por todos, quase uma unanimidade, apesar dos arroubos de insanidade de seu líder, o vocalista, letrista e para muitos, poeta, Renato Russo. 

Pois bem, lembro de no inverno de 1986, férias de julho da escola (talvez 1987), dias chuvosos e frios, estávamos quase que mofando em vida. Em uma dessas tardes chega o Wagner e começamos a jogar xadrez, botão (o que hoje se convencionou chamar de futebol de botão), carteado e sei lá mais o quê tínhamos a nosso alcance para nos divertirmos trancado em casa, fugir do tédio que a chuva torrencial nos proporcionava. Essas as diversões de uma época que não havia popularizado o video game (no caso o Atary) e sem internet. Meu irmão Renato também estava conosco. Vez por outra aparecia alguém para passar algumas horas conosco, naquela fuga incessante da monotonia e a busca de diversão. O 'Neguinho', da feira também aparecia logo após a feira. Não lembro do seu nome, mas começamos a chamá-lo de 'Bisquinho', como ele chamava o bispo, uma das peças do xadrez, em seu vocabulário cheio de erros gramaticais e de pronúncia.

Ficamos por três, quatro, talvez cinco dias nesse marasmo, trancados esperando a chuva passar, como se Noé fôssemos e presos à Arca estivéssemos. E durante esse período pouco dormimos, pouco comemos, apenas conversávamos, ríamos muito, filosofávamos sobre qualquer assunto impertinente para nossas idades e escutávamos o disco Dois, da Legião, citado acima, seguidas vezes, virando o disco na vitrola a todo momento, numa compulsão quase doentia, insana.

Até que o sol saiu, coroando aquela nossa felicidade juvenil, inocente e finalmente pudemos sentir o frescor daquele inverno chuvoso e rigoroso, o odor das folhas das árvores molhadas. Esse carnaval fez-me lembrar dessa passagem da minha vida. Só faltou o frio, porque a chuva e a boa música permaneceram nesse feriadão carnavalesco.

THE SMITHS - THE HAND THAT ROCKS THE CRADLE

No meu carnaval Smithiano uma das mais belas canções da parceria Morrissey/ Marr (todas as canções dos Smiths eu escrevo isso, porque todas são obras primas). Um dedilhado maravilhoso combinando a voz suave, gemida, chorada de Morrissey. Perfeito!


The Hand That Rocks The Cradle

Por favor, não chore
Pois o fantasma e a tempestade lá fora
Não invadirão este templo sagrado
Não se infiltrarão na sua mente
Minha vida hei de arriscar
Se o bicho-papão tentar
Pregar peças na sua mente santa
Te encher, atormentar e provocar
Sombras vacilantes se aproximam
Um piano toca em um quarto vazio
Haverá sangue no facão esta noite
E quando a escuridão se for
E o quarto estiver claro
Eu ainda estarei do seu lado
Pois você é tudo que importa
E vou te amar até o dia em que eu morrer
Nunca mais haverá lamento em seus olhos
Contando que a mão que balança o berço seja a minha

Sombras no teto se agitam
E quando o guarda-roupa chegar
Feito uma fera predadora
Haverá tristeza nos seus olhos lindos
Oh seus olhos puros, intocados, fantásticos
Minha vida hei de arriscar
Caso as almas penadas tentem
Pregar peças na sua mente santa
Uma vez eu tive um filho e ele salvou a minha vida
E eu nunca sequer perguntei seu nome
Apenas olhei em seus olhos fantásticos
E disse: "nunca, nunca, nunca outra vez"
E bem rápido eu realmente retornava
Tal qual uma mariposa à chama
Então jogue meus ossos sobre as pedras
Eu sou apenas um mendigo sem ninguém
Veja como as palavras são velhas como o pecado
Me servem com uma luva
Estou aqui e aqui ficarei
Juntos deitamos, juntos rezamos
Nunca mais haverá lamento nos seus olhos
Contando que a mão que balança o berço seja a minha
Contando que a mão que balança o berço seja a minha
Minha

Balance sobre meus joelhos, meu filhinho
Embora você tenha só três anos, meu filhinho
Você - você é meu
E sua mãe, ela nunca soube
Oh, sua mãe...
Enquanto... enquanto... enquanto...
Eu fiz o melhor por ela
Eu fiz o melhor por ela

sábado, 9 de fevereiro de 2013

THE SMITHS - I WON'T SHARE YOU

A canção que fecha o último disco de estúdio dos Smiths é um momento de possessão do Morrissey e uma bela inspiração de Johnny Marr. Uma canção que rasga a alma dos apaixonados.

Mais um capítulo da fase smithiana carnavalesca 2013. 


EU NÃO DIVIDO VOCÊ

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e a ambição
A determinação que eu sinto
Esta é a minha vez
O bilhete que escrevi enquanto ela lia, ela disse:
"Será que a Perrier subiu direto para a minha cabeça
Ou será que ao invés disso, a vida é doentia e cruel?"
"Sim!"
Não, não, não, não, não, não não, não

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e com os sonhos interiores
Esta é a minha vez
A vida tende a ir e vir
Tudo bem desde que você saiba
A vida tende a ir e vir
Desde que que você saiba
Saiba, saiba, saiba, saiba

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e os sonhos interiores
Esta é a minha vez
Eu quero a liberdade e eu quero a esperteza
Eu quero a liberdade e a esperteza
Ah, a vida tende a ir e vir
Desde que você saiba
Saiba, saiba, saiba, saiba
Oh, Eu não divido você
Eu não divido você
Eu te verei em algum lugar
Eu te verei em algum momento...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

EN PASSANT


Meu treino para a Maratona de Londrina tem tiros de 5 km e 20 km leve aos sábados. No sábado passado fiz o percurso da meia maratona; confesso que o Gradisson forçou a barra dessa vez. O treino está pesado demais... mas eu aguento! Os 20 km foram em 2hr14min. Os últimos 5 km praticamente me arrastei. Mas tudo bem, amanhã tem mais. Correr uma distância dessas sem estrutura de água e no final sem massagem e alongamento adequado, é uma loucura. Já corri distâncias maiores, mas em corrida é diferente, tem tudo isso e mais fruta no final, bebida isotônica, água e etc.

Mas o que queria dizer é que caminhando até chegar o lugar que escolhi para iniciar a corrida, no Ginásio do Moringão, passei pela rua Gomes Carneiro e observando as casas após a rua da Lapa, notei que tem diversas casas de madeira, bem antigas, arquitetura talvez dos anos 50, vai saber... pena que os construtores dessa época não tinham o hábito de colocar a data da construção no alto. Já vi isso em algumas cidades, como Santos, por exemplo.

Aquelas casas, que estão em sua maioria em mal estado, deveriam ser tornadas patrimônio cultural. Suas madeiras e sua arquitetura tem história. Fiquei pensando que logo chega uma construtora milionária e compra todas aquelas casas e lá se vai nossa história. É muito triste ver isso acontecer com o patrimônio histórico, como aconteceu com a casa dos gnomos, como ficou conhecia a construção que foi destruída há alguns anos e deu lugar a um banco hoje, ali na Tupi com a Higienópolis.

Infelizmente o brasileiro não tem o hábito de valorizar essas coisas. E quem defende essa idéia é tachado de pedante e anti-progresso...

domingo, 3 de fevereiro de 2013

POR QUE A PRESSA?


Sábado cedo estava na academia e enquanto puxava uns ferros, no intervalo de uma série e outra comecei a ler uma crônica do dramaturgo Walcyr Carrasco, na revista Época, sobre a nossa pressa do dia a dia. Escreveu ele que no dia a dia estamos sempre apressados, deu exemplos de quando está na ponte aérea e quando o voo é chamado todos levantam correndo para embarcar, muitas vezes sem se preocupar com mulheres, idosos ou crianças. Realmente, quem não esperou um tempo enorme o embarque e na primeira chamada não levantou apressado para ser o primeiro a embarcar? Confesso que já fiz isso e que não é algo corriqueiro; e na hora de sair a pressa é a mesma... e no trânsito, quem nunca reclamou quando encontra pela frente alguém que anda em uma velocidade menor do que a nossa? Que atire a primeira pedra! Se o sinal abriu e deu alguns segundos de bobeira, já ouviu o carro de trás buzinar ensandecidamente? E por que? Sabe Deus o motivo da pressa nossa de cada dia.

Certa vez, assistindo a um programa de televisão sobre acidentes de moto (não me recordo o tema exatamente), um dos entrevistados, mutilado após o envolvimento em um acidente, comentou com voz amarga, que as pessoas correm como loucas no trânsito (e consequentemente na vida) para chegar em casa e não fazer nada. Criou-se o hábito de correr e não nos questionamos do porquê.

Façamos um exercício matemático simples: se no caminho de casa ou de qualquer outro destino parássemos em todos os sinais, perderíamos quanto tempo? Supomos que em cada sinal fiquemos em torno de 1 minuto, em média (uns mais, outros menos); se o destino que nos separa tem 10 semáforos pelo caminho, perderíamos 10 minutos. Isso se parássemos em todos. Será que 10 minutos mudam a nossa vida?

Semana passada um amigo do Gui, de 14 anos, foi internado na UTI de um hospital aqui em Londrina, após sofrer um acidente na madrugada de sábado para domingo, quando sua mãe o carregava na garupa de uma moto, e segundo consta, avançou o sinal e outra moto bateu em cheio nela; a mãe morreu, o garoto foi hospitalizado em coma. O que será que esperava essa mãe que não podia perder tempo e acabou perdendo a vida?

Já algum tempo venho pensando sobre essa nossa pressa. Vivemos um momento em que as coisas devem acontecer imediatas, como se estivéssemos online, na velocidade de uma “enter” ou de um clic do mouse; se o computador demora alguns segundos a mais para abrir uma página na internet, é lerdo ou não presta (às vezes a conexão da internet); já assistiu a algum vídeo clipe? A velocidade das imagens é tão grande que não permite que nossa atenção seja desviada, às vezes dá até mal estar...

A velocidade da vida online é transportada para o nosso dia a dia; a mesma velocidade que recebemos as informações devem ser repassada. E assim seguimos a vida: sem paciência, ansiosos, estressados.

Em setembro de 2011 estive na belíssima cidade de Gramado, na serra gaúcha; uma das cidades mais belas que conheço (Florianópolis e Nova Petrópolis – uma cidadezinha também na serra gaúcha, uns 70 km de Gramado, estão no meu top 5 de cidades mais bonitas que conheço). Gramado tem pouco mais de 33 mil habitantes e um ritmo de vida tranquilo. Seus moradores parecem não ter pressa. Me senti em outro mundo. Todas as vezes que queria atravessar alguma rua os motoristas paravam para eu passar. Trouxe isso como lição para minha rotina. Quando me pego ansioso e apressado, me questiono e procuro me policiar, evitar passar no sinal amarelo e ter um pouco mais de paciência e aproveitar a paisagem ao meu redor. Isso tem me feito bem.

De qualquer forma, dizer que temos mais pressa hoje porque seguimos o ritmo da vida online é simplório demais. É necessário levantar hipóteses e confirma-las (ou não) através de uma pesquisa adequadamente realizada. Enquanto isso, que tal aproveitarmos mais o mundo que nos cerca e perceber o quão belo e poético são nossas ruas e construções e a natureza que (ainda) nos cerca (ou que cercamos)?

P.S.: ontem à noite, depois de rascunhar esse post, tive a notícia de que o guri hospitalizado havia morrido. Triste final de sábado.