domingo, 12 de janeiro de 2014

A PRESSA NOSSA DE CADA DIA


Meses atrás estava na academia e enquanto puxava uns ferros, no intervalo de uma série e outra comecei a ler  uma crônica do novelista Walcyr Carrasco, na revista Época, sobre a nossa pressa do dia a dia. Escreveu ele que no dia a dia estamos sempre apressados, deu exemplos de quando está na ponte aérea e quando o voo é chamado todos levantam correndo para embarcar, muitas vezes sem se preocupar com mulheres, idosos ou crianças. Realmente, quem não esperou um tempo enorme o embarque e na primeira chamada não levantou apressado para ser o primeiro a embarcar? Confesso que já fiz isso e que não é algo corriqueiro. E no trânsito, quem nunca reclamou quando encontra pela frente alguém que anda em uma velocidade menor do que a nossa? Que atire a primeira pedra! Se a sinaleira abriu e deu alguns segundos de bobeira, já ouviu o carro de trás buzinar ensandecidamente? E por que? Sabe Deus o motivo da pressa nossa de cada dia.

Certa vez, assistindo a um programa de televisão sobre acidentes de moto e as sequelas, um dos entrevistados, que foi mutilado quando envolvido em um acidente, disse ao repórter que as pessoas correm como loucas no trânsito e na própria vida apenas para chegar em casa e não fazer nada.
Se no caminho de casa ou de qualquer outro destino parássemos em todos os sinais, perderíamos quanto tempo. Supomos que em cada sinal ficamos em torno de 1 minuto. Se o destino que nos separa tem 10 semáforos pelo caminho, perderíamos 10 minutos. Isso se parássemos em todos. Será que 10 minutos mudam a nossa vida?

Ano passado um amigo do Gui, de 14 anos, foi internado na UTI de um hospital aqui em Londrina, após sofrer um acidente na madrugada deum sábado para domingo, quando sua mãe o carregava na garupa de uma moto, avançou a sinaleira e outra moto bateu em cheio nela; a mãe morreu, o guri foi hospitalizado em coma. O que será que esperava essa mãe que não podia perder tempo e acabou perdendo a vida? Uma ou duas semanas depois o guri também faleceu (que Deus o tenha! Ele não deveria levar as crianças embora, é muito cruel!).

Já há algum tempo venho pensando sobre essa nossa pressa. Vivemos um momento em que as coisas devem acontecer imediatas, como se estivéssemos online, na velocidade de uma “enter” ou de um clic do mouse; se o computador demora alguns segundos a mais para abrir uma página na internet, é lerdo ou não presta (às vezes a conexão da internet); já assistiu a algum vídeo clipe? A velocidade das imagens é tão grande que não permite que nossa atenção seja desviada.

A velocidade da vida online é transportada para o nosso dia a dia; a mesma velocidade que recebemos as informações deve ser repassada. E assim seguimos a vida. Sem paciência, ansiosos, estressados.

Em setembro de 2011 estive na belíssima cidade de Gramado, na serra gaúcha; uma das cidades mais belas que conheço (Florianópolis e Nova Petrópolis – uma cidadezinha também na serra gaúcha, uns 70 km de Gramado, estão no meu top 5 de cidades mais bonitas que conheço). Gramado tem pouco mais de 33 mil habitantes e um ritmo de vida tranquilo. Seus moradores parecem não ter pressa. Me senti em outro mundo. Todas as vezes que queria atravessar alguma rua os motoristas paravam para eu passar. Trouxe de lá  isso como lição para minha rotina. Quando me pego ansioso e apressado, me questiono e procuro me policiar, evitar passar no sinal amarelo e ter um pouco mais de paciência e aproveitar a paisagem ao meu redor. Isso tem me feito bem.


De qualquer forma, dizer que temos mais pressa hoje porque seguimos o ritmo da vida online é simplório demais. É necessário levantar hipóteses e confirma-las (ou não) através de uma pesquisa adequadamente realizada, ir mais a fundo nessa questão. Enquanto isso, que tal aproveitarmos mais o mundo que nos cerca e perceber o quão belo e poético são nossas ruas e construções? A poesia em concreto e asfalto.