sábado, 27 de dezembro de 2014

CANÇÕES DE VERÃO - BANDA DO MAR - VAMO EMBORA

Uma das coisas que sempre acontecem nos verões, além das tão merecidas férias, viagem para a praia (somos do tipo que não vivem sem praia, ao menos uma vez por ano) é uma canção que represente o verão. A maioria delas caem no esquecimento, não sei explicar por qual motivo, mas provavelmente pelo mesmo mecanismo que "vira" a canção do verão, ou seja, inconscientemente e sem querer, não é escolhida, mas nos escolhe. Por isso, não lembro qual foi a do verão passado e do retrasado ou do re-retrasado. Lembro que anos atrás, era uma canção do Gabriel o Pensador que ficou marcada, já foi da Los Hermanos, Último Romance, aliás a minha predileta, que está no terceiro disco da banda, também o meu predileto, dentre os quatro oficialmente lançados.

Esse ano não foi diferente. Escutei muito nos últimos meses a Banda do Mar, que tem entre os seus integrantes o casal formado pelo ex-integrante da Los Hermanos Marcelo Camelo e Malu Magalhães (ela mesma, aquela pirralha que se inspirou na Vanguart para começar a compor e cantar e que fez um sucesso estrondoso entre os adolescentes anos atrás). É um belo disco e só comecei a escutá-lo depois de ter assistido ao belo filme do cinema nacional, aliás um dos melhores que assisti esse ano que se vai, que leva o singelo (e muito criativo) nome de "Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu to Fazendo com a Minha Vida". Nesse filme está a belíssima canção do segundo disco solo do Marcelo Camelo chamada Vermelho. Tudo bem, para um GREMISTA é inusitado gostar de uma canção que leve esse nome. Mas tudo bem, a canção é maravilhosa e vale à pena essa heresia. 

Posto aqui a canção que colou no meu cérebro e que virou o símbolo dessas férias de verão. A canção chamada Vamo Embora fecha - com chave de ouro, diga-se de passagem - o primeiro disco da Banda do Mar. 

Mais um ano se finda e, como todos os demais, fecham um ciclo, para no dia seguinte outro se abrir. E desejo que o próximo seja melhor do que o que passou, em todos os sentidos, mas que o que passou não seja apenas uma lembrança do passado, mas uma aprendizado para quê consigamos fazer o novo ano melhor.

Esse é o último post do ano e gostaria de deixar a mensagem que a canção passa: vamo embora, bola prá frente e sigamos nossos destinos, transformando os dias sempre iguais em dias melhores do que os que passaram.

Feliz ano novo para todos e

divirtam-se! 

HASTA LA VISTA!


Vamo Embora

Vamo embora, morena, dança
Que a cidade não se cansa de te ver dormir
Não demora não
Que eu tenho o meu encontro
Feito com um mar de pérola

Vamo embora, morena, tarda
Mas eu não me canso de te ver dormir
Não demora não
Que eu tenho o meu encontro
Feito com um mar de pérola

Vai ver, é teu mar
E as coisas da civilização
Você gruda nesse corpo
Desculpa se eu ficar mudo, mas
O tempo que eu tenho é pra voar

sábado, 20 de dezembro de 2014

AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - IRA! - TOLICES

Nos idos de 1986, meu irmão Rogério chega de viagem, uns dias de descanso da Marinha, para passar uns dias em casa. Na mala, na verdade era um saco azul que os marinheiros carregavam, que não lembro como chamavam, um punhado de roupas e principalmente discos e livros. Uma caralhada de discos! De todos os gostos, mas todos eram rock and roll, of course. Um deles era o The World Wont Listen, dos Smiths; outro era Quadro Vivo, do Kiko Zambianchi, com aquela capa inspiradora; e entre tantos, um deles que me chamou muito a atenção: Mudança de Comportamento, do Ira! 

Já conhecia a banda pelo Vivendo e Não Aprendendo, que era maravilhoso. Naquela época estava começando a ser contaminado pelo vírus do Punk Rock, mas ainda não estava completamente cego pelo vírus. Então me permitia escutar outras coisas que não a ditadura ideológica do punk. Foi assim que me apaixonei por Smiths. Foi assim que me apaixonei pelo Ira!

Nesse disco tem a canção mais famosa da banda, Núcleo Base, um hino ao jovem que não queria servir às forças armadas, esse o pavor de 10 entre 10 adolescentes dos anos da ditadura militar; além de Núcleo Base, mais algumas canções que fizeram (e fazem) a cabeça de muita gente. Uma fábrica de canções boas, que me fizeram por muito tempo eleger esse como o melhor disco de rock nacional. E quando falo em rock nacional estou apenas falando do mainstream, não estou falando da amplidão que significa esse rótulo, do que não tocava nas rádios e que pouco aparecia na mídia. E também é necessário entender que estávamos nos anos 1980, não tinha a facilidade de encontrar tudo na internet, estávamos em uma província que era Santos e não chegava tudo às nossas mãos, como as bandas undergrounds de São Paulo, de Porto Alegre e de todo o Brasil. Eram dias limitados... limitadíssimos eu diria.

Hoje eu classifico esse disco como um dos melhores discos de todos os tempos do rock nacional, talvez no top 10; em se tratando do rock dos anos 1980, o melhor.

Nesse disco tem uma bela canção, que pelo lembro, ficou esquecida pelas rádios (ao menos as comerciais), apesar do apelo pop da mesma e que a própria banda ignorava em seus shows, talvez por ser uma daquelas baladas arrasadoras, esquecida pela mídia em geral. mas que não passou desapercebida por um adolescente romântico, cheio de espinhas e sonhos.

A letra parecia resumir tudo o que eu vivia/ sentia. As tolices que eu pensava na vida, as tolices que eu sonhava com alguém que nem conhecia. Andava pelas ruas sonhando acordado com alguma guria que me tiraria daquela solidão que parecia sem fim, Ela simplesmente sintetizava a minha existência:

"... um olá talvez, mas pra mim de nada vale,
isso estragaria o meu faz de conta..."

Sim, essa canção é Tolices. Se a memória não me trai (e como tem me traído ao longo da vida) é a primeira canção que posto nesse quadro sobre as canções da minha vida. Fiquei em dúvida entre Tolices e Núcleo Base, esta uma canção bem mais conhecida e obrigatória em qualquer show do Ira!, do Nazi ou do Scandurra. Mas pelo que representa para a minha vida, fiquei com a primeira. 

Curtam! E como dizia os discos que comprava naqueles anos, Ouça no volume máximo. É uma boa maneira de sentir a essência da canção, de sentir a alma.


Tolices - Ira!

São tolices
Que penso sobre você
Você não pensa em mim
Por que andamos na mesma rua?
Vivo sonhando
Imaginando você
Imagino pegadas
E as vou seguindo

É tolice eu sei
Você não sente os meus passos
Mas eu imagino
Mas eu imagino

São tolices
O que penso sobre você
Você não pensa em mim
Por que andamos na mesma rua?
Vivo sonhando
Imaginando você
Imagino pegadas
E as vou seguindo

Um olá talvez
Mas para mim de nada vale
Isso estragaria
O meu "faz de conta"

É tolice eu sei
Você não sente os meus passos
Mas eu imagino
Mas eu imagino

domingo, 14 de dezembro de 2014

QUARENTENÁRIO - 20 ANOS NOS 80 ANOS DE LONDRINA


Cheguei em Londrina em fevereiro de 1994, aos 21 anos. Éramos eu, a Juliana com 20 anos e o Victor com seus 3 meses. Carregava na bagagem algumas parcas mudas de roupa e muitas bugigangas, como meus discos, pôsters e recorte de fotos, revistas, letras traduzidas de canções, das bandas que fizeram parte da minha vida, principalmente Smiths, que eu amava e amo até hoje. Um monte de porcaria que o tempo (e a Juliana) fez se perder; menos os discos que ainda tenho hoje. Ou seja, chegamos com pouca bagagem e carregado de sonhos de se estabelecer na terra vermelha. Como os pioneiros na terra vermelha do norte do Paraná. Transferi o curso de Psicologia da Unesp, campus de Assis, para a Uel e a Juliana, que fazia Letras na Unesp, onde nos conhecemos, fez o vestibular (e passou) em Serviço Social.

No começo foi muito difícil, com um bebê de colo e nós dois estudando. Algumas economias que dava para segurar a barra por alguns meses só estudando. Ficamos umas duas semanas na Casa do Estudante e não ficamos de vez por lá porque não era permitido estudante com filhos. Alugamos uma casa na Canudos, no número 141. Nossa primeira moradia, nosso primeiro lar como família.

Quando mudamos, tínhamos um fogão, um botijão de gás, alguns cobertores e só. A casa ficava vazia; dormimos 2 noites no chão forrado apenas com os cobertores; o Victor dormia "confortavelmente" em seu carrinho. Daí caiu em minhas mãos um encarte da Lojas Americanas, com promoção de colchonete; foi um grande avanço dormir no conforto daqueles colchonetes. Em seguida, na mesma Canudos, um pouco para frente, no sentido da JK, nos deparamos com um carinha que estava vendendo seus móveis pois estava de mudança para São Paulo. Compramos geladeira, mesa, uma poltrona, armário de cozinha, e sei la mais o quê. Pela geladeira, o cara levou o apelido carinhoso de "Geladeira". E, vizinhos, volta e meia cruzávamos com o Geladeira em nossas andanças ao supermercado Viscardi, açougue, farmácia, em todos os lugares do bairro, onde éramos conhecidíssimos. Muito pelo nosso estilo de vida tosco e privado de qualquer luxo, meio riponga, mais ainda pelo lindo filho que carregávamos para cima e para baixo, loirinho, com aqueles olhos azuis maravilhosos, e que parecia um bebê Johnson.

Victor Hugo com menos de 1 anos
Nessa época não tínhamos espelho em casa; tampouco relógio; televisão? Muito menos. Acompanhei a morte do Senna pelos jornais; a morte do Denner, aquele neguinho que jogava muita bola na Portuguesa de São Paulo e que teve uma passagem rápida pelo Grêmio, onde teve seu único título profissional na carreira, também acompanhei pelos jornais; a morte de Kurt Cobain idem. Nossa sorte é que meu irmão Fábio tinha assinatura da Folha de São Paulo. E isso nos deixava informados e por dentro do que acontecia no mundo. Para saber que horas eram eu saía na rua, ia até a Humaitá e perguntava as horas para algum transeunte. Cedo, calculávamos a hora de sair para pegar o ônibus ruma à Uel, pelo avião que passava, chegando de São Paulo. Eram 6 horas e 50 minutos. Hora de sair. Mas quando ocorria algum atraso no voo de chegada, também atrasávamos.

Depois do almoço era praxe eu fazer o Victor dormir andando até o cemitério, rodava com o carrinho por lá, aquele silêncio sepulcral do meio dia e eu cantando algumas canções do Chico Buarque, Lupicínio Rodrigues, Caetano Veloso, Legião e até Smiths. Via os túmulos e viajava na história daquelas pessoas que estavam nas fotos, vendo o ano de nascimento, de morte e pensando na vida que elas levaram. E quando percebia o Victor estava em sono profundo.

Essa vida "rústica" em pleno final do século XX foi uma opção. E pagamos o preço por essa opção de correr atrás do sonho de terminar a faculdade antes de trabalhar. 

Largamos uma vida mais tranquila em Assis, só estudando, para enfrentar o mundo e seguir nossos sonhos. 

Tal escolha teve um preço alto. Nos privamos de tudo. Claro que trabalhei, durante o curso, em tudo que aparecia, todo tipo de subemprego, trabalho precarizado. Mas nós dávamos um jeito e foi assim que vivemos os meus 5 anos de faculdade e os 4 da Juliana: fui garçon em lanchonete, em boteco de bêbado, lavei banheiro com vômito de bêbado, fizemos pesquisa eleitoral, pesquisa no sinal, fiscal de prova, trabalhamos em eventos, enfim, fizemos de tudo um pouco, nada ilícito, lógico. E isso foi a maior lição que tiramos daqueles árduos anos: a batalha pela sobrevivência. E nada pode ser mais bonito do que lutar pelo sonho e enfrentar as dificuldades.

O Victor, ainda sendo amamentado, ia para a faculdade conosco. Ônibus 305 ou 307 lotado, em uma época que ele descia pela Humaitá no sentido Uel e nós três entrando naquela verdadeira caixa de sardinhas, onde nós, o povo, éramos as sardinhas, a Juliana com o Victor no colo e eu carregando o carrinho dele e aquele velho conhecido da população de todas as cidades: o desrespeito do poder público com a população usuária do transporte coletivo, todos sendo esmagados dentro de um veículo extremamente cheio. E a empresa de ônibus enchendo o rabo de ganhar dinheiro e seus sócios enriquecendo a custa de um serviço porco prestado à população.

O pior era fazer pesquisa nos bairros, sobre os serviços públicos e escutar o povo dizer que o transporte coletivo era bom, porque não era usuário; ou porque, pelo desinteresse mesmo, respondia que era bom, mesmo sendo uma bosta.

Eu estudava no CCB e na Central de Salas. A Juliana no Cesa. Quem conhece a Uel, sabe que esses centros ficam um em cada ponta do calçadão. Hoje a Central não é mais central. Mas no começo dos anos 1990 era um dos prédios mais novos da Universidade. No intervalo da aula, nos encontrávamos e ficávamos os 3 juntos. Quando eu tinha aula vaga, ficava com o Victor andando pelo campus; às vezes o levava para sala de aula e assistia aula com ele, cuidando dele. Dias duros aqueles.

E assim foi nos primeiros anos. No segundo ou terceiro ano nos adaptamos melhor e o Victor ficava na escolinha, primeiro em uma escola na rua do cemitério ali do Jardim Ipanema, chamada Girassol. Nessa época morávamos no 2233 da Paranaguá. Foi um ano próspero o de 1995. Com as pesquisas eleitorais bombando, compramos até uma geladeira nova, à vista. Em seguida o Victor foi estudar na Curumim, quando mudamos para o 75 da Joaquim Lacerda. Tudo ali próximo, beirando a Higienópolis. Foi a única vez que moramos "do lado de lá" da Higionópolis. 

Na Curumim, no primeiro dia, o Victor não queria ficar. Chorou, chorou muito, porque não estava acostumado, estranhou tudo. E de repente chegou um amiguinho conhecido dos tempos da Girassol: o Pedro. E aí ele ficou mais ambientado e não chorou mais. Naquela época, o pequeno Pedro era gremista.

Gui bebezinho
Nesses 20 anos de Londrina, muita coisa aconteceu. Londrina é a cidade que mais vivi na minha vida. Sou praticamente pé vermelho. Nasci em Porto Alegre, onde vivi até meus 7 anos; morei em Santos dos 7 aos 18, quando saí para estudar em Assis e aos 21 vim para Londrina. Essa cidade me deu tudo. Até um filho, o Gui, que nasceu em 1998 no Hospital Evangélico.

O estranho é que muitos aqui me chamam de gaúcho. Claro, porque sou gaúcho. Quando vou para Santos, não tenho o sotaque caiçara deles. Quando vou à Porto Alegre, também não tenho o sotaque do portoalegrense. Ou seja, não tenho sotaque de lugar nenhum. E quando me perguntam de onde sou, digo que sou de muitos lugares e ao mesmo tempo de lugar nenhum.

Londrina completou 80 anos a semana que passou. E desses 80, estive presente nos últimos 20. A cidade se transformou e nos transformou. Ela era mais arborizada e verde, ao contrário dessa selva de concreto que é hoje; era a terceira cidade do sul, mas perdeu o posto para Joinville. Coincidência com a decadência da cidade crescendo para o céu com seus blocos de concreto e o descaso ambiental, sempre em nome do progresso - que não veio? Resultado de duas décadas de políticos corruptos, medíocres e incompetentes? Reflexo da falta de politização da população? Talvez de tudo um pouco. 

Porem, mesmo com tantos problemas, a cidade continua seduzindo a quem chega aqui pela primeira vez. Como em 1991, quando pisei pela primeira vez em solo londrinense, rumo à Florianópolis. Fui dar uma volta na cidade, pois o ônibus para a Ilha da Magia só saía à noite e eu tinha o dia inteiro pela frente. Desci na rodoviária e me apaixonei pela obra de Oscar Niemeyer. Até hoje acho a rodoviária mais bonita do Brasil, apesar da de Goiânia ser um shopping. Segui rumo à Uel pela avenida Higienópolis, encantado com a semelhança com a Paulista, no coração de São Paulo. E a Uel, à primeira vista, um dos mais bonitos campus de Universidades do pais. Mal sabia eu o que o destino me reservava dali a 3 anos.

Lembro do meu primeiro dia no VGD. Como esquecer aquela goleada sobre o Coxa? Foi um 4 a 0 que deixou a torcida deles desnorteada a ponto de provocar uma briga com grandes estragos em frente à Maternidade Municipal. Mas também, quem em sã consciência constrói uma maternidade colada a um estádio? Resultado do devaneio de algum fanático pelo Tubarão, para que os bebês já nascessem ao som dos gritos da torcida por mais uma vitória do glorioso LEC?

Festa após a vitória nos penaltis em Maringá
Nesses 20 anos de Londrina, acompanhando o Tubarão e sofrendo, vi a cada ano o desmazelo de diretorias que chegavam prometendo mundos e fundos e no final de seus mandatos, o clube cada vez mais empobrecido. 

Em 2014, a felicidade de um título frente a talvez o maior rival, o Maringá, dentro do estádio deles, em uma cobrança de penaltis para matar qualquer cardíaco. E o mais legal foi ter participado da invasão azul e branca à Maringá e ao Willi Davids. 

Antes da glória, muito osso. Como uma noite no VGD em que o Tubarão goleou por 8 a 0 e o placar do VGD não tinha o número 7; e quando, numa noite de segunda feira, final dos anos 1990, um jogo contra o Sorec, um time de Cascavel que beirava o semi profissionalismo. Porra, assistir Londrina e Sorec? Piada. Ou um jogo contra o CAC, em Cambé, em que ficamos em uma grama, sendo comidos pelos mosquitos, pois não havia arquibancada, em um jogo para lá de sofrível. E aquele uniforme horrível que tinha um tubarão na camisa e o técnico era o Nuno Leal Maia, tendo como auxiliar técnico o Saci? Realmente, não levavam a sério.

Mas também assisti a memoráveis embates da Série B no Estádio do Café. 

Tudo são lembranças. E como escreveu Oscar Wilde: o charme do passado é que ele está no passado.

domingo, 7 de dezembro de 2014

QUARENTENÁRIO - PEQUENAS HISTÓRIAS DE FIM DE ANO


Para o pessimista, terminará mais um ano; e começará outro, que será igual ao que está terminando: dias longos, longas noites mal dormidas, acordando de madrugada, semanas intermináveis, dias modorrentos, aquela velha e maçante rotina de sempre, que enlouquece qualquer um. Já os otimistas estão em polvorosa: um ano que se passa, renovar as energias, fazer planos (que nem sempre – a maioria das vezes – não serão colocados em prática) e começar o ano com o pé direito. Ou esquerdo, sei lá. Os mesmo dias longos e modorrentos, noites mal dormidas, semanas intermináveis, a velha rotina de sempre. Enfim, a vida seguindo seu rumo, dando o seu olá.

Sou daqueles que acha essa época do ano mágica. A euforia toma conta de mim. E minha alegria aumenta consideravelmente. Pode ser porque costumo tirar férias nessa época... sim, credito muito da euforia a essa expectativa. Mas também vejo o final do ano como a oportunidade de fechar as portas daquilo tudo que passou (não trancar para sempre, apenas fechar, talvez enconstar) e abrir as novas que estão logo ali em frente. Encostar as portas que ficaram para trás para depois poder olhar e dizer: foi legal! As conquistas, os dias ensolarados, os cinzentos, as barreiras ultrapassadas, as que não foram, as agruras da vida, os sonhos, as alegrias, as risadas, os choros... enfim, está tudo lá, guardados em nossas memórias. Basta lembrar. E nós, latinos, temos a mania de lembrarmos apenas das coisas boas e romanticamente as coisas ruins, quando lembradas, não vêm com os dissabores do presente. Li isso em algum livro do maravilhoso Gabriel Garcia Marquez, o Gabo, que nos deixou esse ano e foi escrever seus textos maravilhosos por outras plagas. Aliás, estou me programando para reler Cem Anos de Solidão, o primeiro livro que li do Gabo e que me fez apaixonar-me por sua literatura, ainda adolescente.

O passado me fascina. Todos que me conhecem sabem disso. E quando olho para trás nunca me arrependo do que fiz e tenho esse estranho comportamento latino de romancear as coisas ruins e achar graça e até saudades. É impossível guardar mágoas de qualquer coisa assim.

“... no rádio toca uma canção que me faz lembrar você...”

E não é Blitz, mas Radiohead. E Thom Yorke está cantando

“… been thinking about you, your records are here…”

Arrasando!

O final de ano mais antigo que minha memória alcança é ainda em Porto Alegre, na casa da Carminha, lá na avenida Nonoai, que ao chegar em Teresópolis, vira avenida Teresópolis. Engraçado pensar no nome desse bairro: a terra das teresas... às vezes me dá umas de pensar no porquê dos nomes das ruas, dos bairros e até mesmo das cidades, embora esta última com menor freqüência. Até porque é mais fácil de descobrir. Toda cidade divulga em seu site a sua história.

Minha primeira namorada chamava Ana Teresa... o bairro que nasci, a terra das teresas...

Mas lembro de estar na casa da Carminha. Não sei o ano. A memória me trai justamente neste momento. E não lembro mais de nada. Apenas da euforia, muita gente, piscina, alegria, alegria. Não lembro quem estava, nada, nada... apenas da noite de ano novo ao redor da piscina. E isso pulsa na memória.

Depois os finais de ano em Santos, aquela felicidade extrema de todos, o ritual de se vestir de branco, ir para a praia ver a queima dos fogos. E tem dois momentos que gosto de lembrar e que vou compartilhar aqui. Um, ainda criança, por volta de 1982, no verão que a Blitz estourou com a canção Você Não Soube Me Amar. Só se escutava essa canção. E também as da Rita Lee. Lembro do disco que a Rita lançou no início dos anos 1980 e que fez um sucesso enorme. Queria usar um adjetivo mais forte para esse sucesso, mas as palavras me somem. Estava, nessa época, apaixonado por uma guria chamada Andrea. Era minha namoradinha. Bons tempos. Da Andrea não sei de mais nada. Quando mudou do 123 da Espírito Santo, ali no Bairro Campo Grande, ainda a vi por uma vez, conversamos um pouco e depois o tempo e a vida nos separou de uma vez por todas. Ficaram as lembranças e as saudades. Éramos duas crianças. Mas foi divertido.

E lembro dos preparativos, da ansiedade, todos de branco aguardando o relógio dar meia noite, a contagem regressiva. E o que vem à mente é eu andando pela Espírito Santo, à tarde, em frente à doceria Praiano, olhando o movimento, os carros (que definitivamente não eram os mesmos de hoje e muito menos a quantidade que vemos hoje) passando, a música alta nas casas e Doce Vampiro, da Rita, tocando em volume máximo, vindo de algum apartamento em que as pessoas estavam na empolgação total, maior do que todos.

“... and even though I might, even though I try, I can't…”

É isso que rola na ‘vitrola’ enquanto escrevo este post. E o disco da Radiohead vai terminando enquanto minhas lembranças fluem na minha mente. É o Pablo Honey, primeiro disco da banda. Divino!

Parece que naqueles anos 1980 as coisas demoravam mais para acontecer. Por isso tínhamos que aproveitar mais. Outro dia conversando com o Fábio, meu irmão que mora aqui em Londrina, falávamos sobre isso, a sociedade da fartura. Isso é bom e ruim, porque as pessoas não aprendem a valorizar as coisas e tudo se torna descartável. É o que acontece com as novas gerações.

Sociologicamente falando, o modo como nossa sociedade foi se organizando, valorizando acima de tudo o consumismo em massa, associando consumismo com felicidade (a droga da felicidade seria o consumo?). Os comportamentos foram se moldando a essas idéias da pós-modernidade. Ficar muito tempo no mesmo emprego já não é o comportamento esperado, pois demonstra uma personalidade acomodada, sem desafios; mais empresas surgiram, a concorrência acirrada passou a ser uma constante em nossas vidas. Mais e mais produtos, nem sempre imprescindíveis em nossas vidas surgiram e nos venderam a idéia de que não podemos viver sem eles.

Só que para consumir o novo é necessário descartar o velho. Porém, o descarte não passou apenas pelos produtos de consumo, mas atingiu também os relacionamentos, que passaram a ser cada vez mais fugazes e descartáveis. As pessoas passaram a ser vistas como produto. Sei de pessoas que se ‘vendem’ como um produto quando estão em busca de emprego.

Os discursos se moldaram (ou moldaram) a essa nova sociedade. Carpe Diem, expressão latina que significa aproveite o dia, foi difundida a partir do filme A Sociedade dos Poetas Mortos, de 1989. Imperceptivelmente os discursos e as manipulações acontecem sem nos darmos conta. E muitas pessoas justificam suas impulsividades por aproveitar o momento único, que passa rápido. Não percebem que tudo deve ter um equilíbrio.

“Blame it on the black star
Blame it on the falling sky
Blame it on the satellite
That beams me home.”

Quem me conhece sabe que sou fissurado no passado. Mas não sou um velho saudosista amargurado. Muito pelo contrário, vivo cada momento intensamente, para depois poder lembrar de como a vida foi boa. E vou dizer uma coisa: a vida pré internet era muito melhor. Não por ser saudosista, mas esse ritmo de vida que impomos a nós mesmos é surreal. A vida vai passando escorrendo por nossas mãos, esvaindo. E não aproveitamos um terço do que aproveitávamos antes da internet.

A dona Sirlei, que criou cinco filhos sozinha, na raça e na coragem, coisa de gaúcho, pois o Flamarion a deixou com os cinco guris pequenos para criar, dava sempre um jeitinho de fazer nosso natal e ano novo o mais feliz de todos. Não havia a fartura que vemos hoje. Pelo contrário, tudo era contato e devidamente repartido. Mas sempre passávamos esses dias com muita euforia. E vez por outra íamos à praia para ver os fogos de ano novo. Também acompanhávamos a contagem regressiva pela televisão. Esta que ditava quando era a hora de trocar os abraços e dar as boas vindas ao novo ano e às pessoas que nos cercavam.

Outro ano novo que lembro com freqüência foi meu último solteiro, em 1991. Fui para a praia e amanheci vendo no horizonte navios parados aguardando seu momento de atracar no porto; milhares de pessoas de branco estourarem champagne e aos poucos voltarem para suas casas e a praia voltando a ficar deserta, mas com alguns insistentes como eu, sentarem na areia e aguardarem a primeira noite do ano ir embora e o sol nascer. E o mar sujo com as oferendas a Iemanjá e ao todos os santos.

Talvez tenha sido um presságio ao que viria a acontecer no ano seguinte, quando eu e a Juliana fomos morar juntos. Mas a passagem do ano de 1991 para 1992 foi sozinho, com meus ‘botões’ em meio à multidão desconhecida, ora encontrando algum amigo e a família, mas lá estava eu, só entre a multidão, o mar de gente, com uma garrafa na mão, aguardando a explosão e o êxtase da zero hora.

Eu tinha dessas, de ficar sozinho, de refletir sobre a vida, sobre as coisas ao meu redor. Lembro de férias em Santos, na adolescência, quando passava os dias na praia deserta, fora de temporada... um livro nas mãos, pensamentos e sonhos na cabeça... invernos na praia cinzenta e a cena se repetia; dias chuvosos, um guarda chuva, o muro da ponta da praia como assento, o mar aos meus pés e a companhia das gotas de chuva e o anoitecer devagar.

Tiveram outras passagens de ano na praia. Mas igual essa não. E só voltei a amanhecer na praia esse ano, em Canto Grande, Bombinhas, com minha família e meu irmão Rogério, a Terê e o Biel. Estávamos sem rumo, fomos para Floripa, que estava impraticável, depois decidimos que Bombinhas seria nosso destino e finalmente Canto Grande.


São algumas lembranças que passam pela minha mente, como um turbilhão. Tudo ao mesmo tempo, e vou organizando em palavras, o que é difícil. Primeiro porque as palavras escritas não têm o mesmo sabor, a mesma emoção da memória e que a Radiohead me proporcionam; segundo porque ao não escrever imediatamente, a idéia se esvai e se perde na mente. Nem sempre volta com a mesma naturalidade. Mas o que fica de registro é a essência.

O que nos reserva no futuro não sabemos. Talvez esteja escrito em algum livro do destino, sabe Deus. Tem uma canção que diz que

“O futuro é sagrado, ele só a Deus pertence...”

do primeiro disco da Uns e Outros, que por sinal tenho em vinil.
Mas esse destino que o futuro nos reserva não tem como saber a não ser vivendo e o tornando passado. E o passado ninguém tasca. Ele está lá, vivido, usufruído, aproveitado... não tem como apagar ou se arrepender. Simplesmente está lá. Para ser lembrado por toda a eternidade ou enquanto durar nossa memória, que além de fraquejar nos engana a todo momento. Mas é o passado que nos faz ser o que somos e com essas experiências que tomamos tantas decisões erradas e acertadas, marcando nossa essência, nossa alma.

“Don't leave me high, don't leave me dry
It's the best thing that you ever had
The best thing that you ever, ever had
It's the best thing that you ever had
The best thing you ever had has gone away.”

E no final, meus caros, é o que vale.    

sábado, 29 de novembro de 2014

AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - THE CURE - BOYS DON'T CRY

Durante um bom tempo deixei de escrever aqui. Primeiro veio a frustração da Copa do Mundo, com a eliminação do meu Uruguai e na final o vice campeonato de Messi e sua Argentina. Depois veio a eleição e me engajei como nunca outrora havia feito, para abrir a mente das pessoas e as fazerem refletir que re-eleger a Dilma e seu projeto de governo, seria (como é, na minha concepção) o melhor para o Brasil. E graças a muito suor e militância nas redes sociais e nas ruas, conseguimos re-eleger um projeto de governo mais justo, com progresso social, que a nossa presidenta representa (a minha parte ficou só com o twitter, diga-se de passagem).

Há semanas venho nutrindo o desejo de voltar a escrever, sinto a comichão de sentar no note e deixar as palavras fluírem, a alma falar. Mas uma coisa me fez definir "sábado terá novo post"! Terça feira à noite (ou teria sido quarta feira?), como sempre zapeando pela televisão e procurando algo que preste, me deparei com um show do Cure, no canal Bis. Quanto tempo sem escutá-los. E segue um petardo atrás do outro. 

O Cure era a banda preferida do Zé Renato. Tinha todos os discos, até que resolveu, na sua revolta adolescente, jogar tudo no lixo e vendeu tudo. Resolveu que só escutaria punk rock, música crua e sem firulas. Anos mais tarde se arrependeu e comprou todos novamente.

Quem viveu os anos 1980, ou que vive, escutando as canções da época e que curtia um som, certamente já se deparou em uma 'fossa' escutando The Cure. Um dos discos mais marcantes foi o Standing On A Beach, de 1986, uma coletânea dos hits da banda até então. Foi numa manhã de domingo, após uma melancólica noite de sábado (claro!) que escutei incessantemente esse disco, música após música, principalmente as três últimas The Caterpillar, In between Days e Close To Me. Já contei essa história de dor de cotovelo aqui em algum momento. E não vou repetir. Mas foi a primeira vez que cheguei em casa já com o sol à pino. Devia ter uns 15, 16 anos. Depois de uma melancólica noite e madrugada daqueles longínquos e saudosos anos 1980.

Mas enfim, embora esteja escutando The Jesus And mary Chain, que há muito tempo não escuto, enquanto escrevo esse post, e escuto incessantemente o refrão de Blues From a Gun: "Well I guess that's why I've always got the blues, well I guess that's why I've always got the blues, well I guess that's why I've always got the blues..." e tome guitarras distorcidas dos irmãos Reid, a canção que vou postar aqui e que de alguma forma marcou a minha vida, é do Cure. A primeira que escutei, que muitos que curtem a banda escutou e que certamente, como para eu, apresentou a banda. 

A canção, como não poderia deixar de ser, é maravilhosa! Não é a minha predileta no momento. Porém não é menos encantadora por isso. O clipe, em tempos de pouca tecnologia e efeitos especiais, mas de muita criatividade, é magnífico. Uns guris tocando a canção e ao fundo a sombra real dos integrantes da banda. Bem a calhar, afinal garotos não choram... mas escutando Cure, choram sim, e muito... 

Assistam, curtam, divirtam-se e saboreiem!



Boys Don't Cry - Garotos não choram


Eu diria que estou arrependido
Se achasse que isto faria você mudar de ideia
Mas eu sei que desta vez
Eu falei demais, fui indelicado demais

Eu tento rir disso tudo
Cobrindo com mentiras
Eu tento rir disso tudo
Escondendo as lágrimas em meus olhos
Pois garotos não choram
Garotos não choram

Eu me desmancharia aos seus pés
Mendigaria seu perdão, imploraria a você
Mas eu sei que é tarde demais
E agora não há nada que eu possa fazer

Por isso eu tento rir disso tudo
Cobrindo com mentiras
Eu tento rir disso tudo
Escondendo as lágrimas em meus olhos
Pois garotos não choram
Garotos não choram

Eu diria a você que te amava
Se achasse que você ficaria
Mas eu sei que é inútil
E você foi embora

Julguei mal o seu limite
Fiz você ir longe demais
Te subestimei, não te dei valor
Pensei que você precisasse mais de mim

Agora eu faria qualquer coisa
Para ter você de volta ao meu lado
Mas eu só fico rindo
Escondendo as lágrimas em meus olhos
Pois garotos não choram garotos
Garotos não choram

CHAVES...


Hoje acordei chorando. Mas não chorando com as lágrimas nos olhos... com o coração apertado e triste. A notícia da morte do Roberto Bolaños, nosso eterno Chaves e Chapolin, só caiu a ficha agora. Acordei e estava lendo a repercussão no mundo de sua morte. Incrível como os personagens tão bobos e tão inocentes, um programa extremamente trash, possa ter tanta adoração. 

O Chaves é uma unanimidade no Brasil. Não conheço ninguém que não tenha se divertido com suas histórias repetidas à exaustão pelo SBT. E mesmo sabendo o que vai acontecer, mesmo sabendo o que ele dirá, caímos inocentemente na risada. Fico abismado em como é passado de geração para geração esse entusiasmo, essa veneração. Meu sogro era apaixonado pelo Chapolin, pelo Chaves; eu idem, meus filhos têm o mesmo sentimento... ou seja, os adultos, as crianças, todos têm essa verdadeira idolatria. Ainda hoje, quando consigo chegar em casa cedo, quando o trânsito me permite, quando meus treinos de corrida permitem chegar perto das 18 horas em casa, zapeando a televisão para encontrar algo decente para assistir e encontro o Chaves, começo a saborear suas traquinagens, como que hipnotizado.

Lembro até hoje a primeira vez que assisti ao programa do Chaves. Foi no final dos anos 1980, provavelmente 1989. Antes disso, não pegava o SBT em casa, eu morava em Santos nessa época. Coloquei no SBT e estava passando aquele programa tão trash que resolvi deixar, curioso para ver no que iria dar. De repente o seo Madruga leva um tapa da dona Florinda, não tem reação, mesmo estando com a razão. Aquilo me deixou revoltado. Pensei que ele se vingaria e fiquei esperando sua reação. Mas dali a pouco, lá estava novamente levando safanões da mesma. E seguidas vezes. E mais outra. Fiquei com aquele sentimento de injustiça. A partir dali, comecei a assistir todos os dias o Chaves. Me viciei.

E logo veio o Chapolin Colorado, tão hilariante, tão viciante quanto. Um episódio que jamais esquecerei, dentre tantos outros, foi quando ele lutou com um boneco mumificado e ainda levou umas bordoadas. Aquilo foi hilariante. 


Sempre desejei muito assistir a novos episódios do Chaves... com o Kiko, a Chiquinha, a dona Florinda, o professor Girafalis e principalmente o seo Madruga. Mesmo assim, nunca cansei de assistir inúmeras vezes os mesmos episódios, as reprises incessantes.

Ele se foi. Chaves se foi. Chapolin foi para o céu. Nosso herói, Roberto Bolaños se foi. Nos deixou aqui, órfãos de sua genialidade inocente, órfãos das trapalhadas dos seus personagens. 

Adeus gênio! 

Obrigado por nos fazer eternas crianças. Todos sabemos que o teu legado aqui na terra, enquanto houver crianças inocentes, enquanto houver uma criança inocente dentro de cada um de nós, não importa a idade, viverá, eterno! Nada é eterno, a não ser a obra prima dos gênios, que permanece na memória de todos os que ficam por aqui.

Deus te receba bem! 

Depois de tanta alegria que nos deu, deixou nosso plano mais triste e o céu mais feliz com a tua chegada.    

Descanse em paz eterno Chaves!

sábado, 16 de agosto de 2014

AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - DEU PRA TI


Semana passada, sábado para ser mais exato, realizei o sonho de ir ao show dos irmãos Ramil, Kleiton e Kledir. Muito bom ouvir a velha e boa Música Popular Gaúcha; ao vivo dá um sabor inigualável a todos os cinco sentidos. Foi na véspera de um GREnal, que prefiro não lembrar; o show foi muito bom, ou utilizando uma expressão roqueira de Porto Alegre, afudê, apesar de ter ocorrido no teatro Marista, um lugar de coxinhas e da esquerda caviar...

Lembro que meu irmão Rogério tinha uma fita da dupla, lá no início dos anos 1980 e eu adorava "O Analista de Bagé" e tantas outras canções que tinham nessa fita, uma espécie de Best Of. Uma compilação das melhores canções dele, das quais, a maioria eles cantaram, me levando de volta à infância. Não, não cantaram o Analista de Bagé, canção inspirada na obra de Luiz Fernando Veríssimo.

Para um gaúcho, a canção Deu Pra Ti é emblemática, pois sintetiza aquilo que realmente sentimos e que vale à pena: quando tudo estiver uma merda, vamos para Porto Alegre e as coisas melhoram. Coisas de magia, como fala a letra, apesar de falar do Beira Rio e do Falcão. Mas como dizem, nada é perfeito... 

Em tempo, deu pra ti é uma expressão Porto-alegrense que significa algo como chega, já era.




sábado, 26 de julho de 2014

CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO

O local:

meu quarto.

A hora:

Nove horas da manhã. Não se ouve barulho lá fora. Sábado de manhã sempre há silêncio maior. Houve um tempo que acordávamos com o canto dos pássaros. Depois que a elite descobriu a Gleba e a região virou o metro quadrado mais caro da cidade, o sossego se foi com a chegada dos arranha-céus nem tão arranha-céus assim, apesar que aqui do lado tem um prédio de uns 25 andares. Alto demais para os padrões de Londrina. Logo, logo o que antes era valorizado, será desvalorizado com a superpopulação. Ou não.

Adeus canto dos passarinhos! Adeus silêncio, adeus tranqüilidade!

A cena:

Eu deitado, do lado direito da cama, deitado de lado, lendo Bukowski no computador, Crônica de Um Amor Louco; a Juliana, do lado esquerdo da cama, deitada de lado, assistindo àquele carinha que faz a Dilma no programa do Rafinha Bastos, e dando risadas.

Acabamos de acordar.

Por que escrever sobre isso?

Por que não?

Depois de uma noite tórrida de sexo as pessoas costumam acordar de melhor humor. Principalmente se for manhã de sábado. Hot sex. É tudo o que todos querem. Sexo quente e selvagem.

“Todo mundo quer amor,
Quem tem pinto, saco, boca, bunda, cu, buceta,
Quer amor de verdade.”  

Algumas pessoas quando terminam de fazer sexo acendem o cigarro e viram de lado, depois de algum comentário que passou pela cabeça durante o ato. Mesmo concentrado, sempre passa algo nada a ver pela cabeça. Por melhor que o sexo é, às vezes o pensamento voa. E depois de fumar um cigarro, vira de lado e volta aos seus pensamentos... pensamentos absortos; absorto em pensamentos. Já escrevi música sobre isso...

Nós não fumamos. Viramos de lado e cada um liga o seu notebook e mergulha na vida virtual. Ou complementa a vida real com alguma diversão online. Costas com costas, bunda com bunda.

“Preciso colocar uma TV no quarto para continuarmos em sintonia depois do sexo” – penso.

Assisto a mais um episódio de Friends. Estou viciado nos Friends. Penso em ler alguma coisa interessante.  Procuro Bukowski. Crônica de Um Amor Louco. Devoro as páginas baixadas da internet. Ler no PC é ruim, não é das melhores experiências; deitado de lado, a cabeça dá um nó, porque as letras estão em pé e tua cabeça de lado. Deve fazer mal para os olhos, algum oftalmo reprovaria. Mas para quem leu a vida inteira andando pelas ruas (e nunca cai em nenhum buraco ou tropecei, ou fui atropelado. Acho até que andando sem ler corro mais perigo de tropeçar), logo me adapto. Não é a primeira e nem será a última vez que vou ler livro baixado da internet.

A internet é legal. Se não fosse ela, teria que esperar até o dia seguinte para ler o livro, isso se achasse em alguma livraria ou sebo. Nos anos 1980 certamente ficaria entediado sem ter o que fazer, assistir ou ler.

Escuto Maybees. Blue Butterflies. Grande canção. Magnífica canção. O que é o paraíso? Um bom sexo, uma boa canção, um bom livro... tudo o que uma madrugada de sexta feira (de sábado, para ser mais exato) pode proporcionar. O que só uma madrugada de sexta para sábado pode proporcionar. Na play list rola Cure:

“I don't care if Monday's blue
Tuesday's gray and Wednesday too
Thursday, I don't care about you
It's Friday, I'm in love…”

No quarto ao lado o Victor sonha com seus sonhos de vida. Sonho de alguém que curte Mutantes, que acha Mutantes a melhor banda de rock do Brasil, não deve ser um sonho muito normal. Sonho nunca é normal!

Não que Mutantes não seja a melhor banda de rock do Brasil de todos os tempos. Mas quem curte Mutantes geralmente não é normal. E em sonhos, menos ainda.

Não sei se Mutantes é a melhor banda de rock brasileiro de todos os tempos. Achava que DeFalla, nos primeiros discos, antes do EduK despirocar, aliás, quando o EduK era o mais despirocado do caralho, a melhor banda de rock. Depois veio Os Cascavelletes e o não menos maluco Flávio Basso, hoje intitulado Júpiter Maçã. Barão Vermelho também está no mesmo nível. Ainda gosto mais da curta carreira dos Cascavelletes. Mas todos são afudê! E beberam muito na fonte dos Mutantes, Beatles e Rolling Stones. E tem o Ira!

No quarto da frente o Gui, louco por Pink Floyd. Sempre curti mais Doors do que Pink Floyd. Mas por influência dele tenho escutado mais Pink Floyd ultimamente. E o Gui dorme o sono dos inocentes.

Depois do show dos Mutantes eles dormirão até tarde. Com certeza. Experiência única. Não a de dormir até mais tarde, mas a de assistir a um show do Mutantes.


E a vida se passa em segundos, o passado, o presente e o futuro. Passado e futuro próximos. Como num sonho, as imagens se condensam e se misturam na cabeça. 

E nada parece ser o que é.

domingo, 13 de julho de 2014

HISTÓRIA DE COPAS


A primeira copa do mundo que minha memória me leva é a de 1978. Não que me lembre de alguma coisa, que vivi, pois toda minha lembrança dessa copa se refere ao que eu já li posteriormente. Mas de ter vivido, lembro do álbum de figurinhas e de copiar as letras, sem saber ler, da capa do álbum.

Em 1978 minha avó já tinha morrido e eu ainda morava em Porto Alegre. Fui expelido do paraíso pouco tempo depois, quando fomos morar alguns milhares de quilômetros longe, em Santos, no litoral sul paulista.

Sempre penso em como seria minha vida se tivesse ficado em Porto Alegre. Queria ter outra vida para fazer tudo diferente, só para ver no que daria. Acredito que todos os caminhos me trariam para onde estou hoje, mas seria interessante viver essa experiência. Por isso que sou fascinado por filmes que falam sobre volta ao passado, máquina do tempo e coisas semelhantes. Como saudosista, gostaria muito não só de voltar no tempo em alguns momentos da minha vida, mas também em épocas que não vivi, como no filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen.

Mas voltando às copas, foi em 1982 que acompanhei realmente uma copa do mundo. Aquele time que fazia qualquer amante do futebol brilhar os olhos. Como a de 1970, tri campeão no México, aquela de 82 nunca mais existirá. Muitos dizem que o futebol ‘enfeiou’ porque aquele escrete canarinho, que jogava o “fino da bola” ficou mais conhecida por ser uma seleção perdedora. Telê Santana, o técnico daquela seleção, só perdeu a fama de pé frio quando conseguiu vencer a Libertadores e o Mundial Interclubes com o São Paulo.

Nessa época, logo após a derrota do Brasil para a Itália de Paolo Rossi, saímos arrasados para a rua e, claro, fomos jogar bola. E todos queriam ser Paolo Rossi e repetir a comemoração de um dos gols, caído e seus companheiros fazendo montinho nele.

Foi minha maior decepção com uma seleção brasileira. Mesmo tendo saído do Brasil desacreditada, a seleção canarinho chegou na Espanha encantando a todos, jogando um futebol de campeão, o que lhe deu todo o favoritismo. A Itália, que quase não se classificava, na primeira fase foi medíocre, entrou na segunda fase como azarão e ganhou de Brasil e Argentina, que faziam parte do grupo. E depois ganhou o título da Alemanha.

Em 1986, ainda com Telê, mas sem o mesmo brilho, vi uma seleção com Zico se recuperando perder um pênalti contra a França, num jogo duríssimo que acabou empatado em 1 a 1 e o Brasil derrotado nos pênaltis, com Sócrates perdendo um e o azarado goleiro Carlos mandar para o fundo das redes uma cobrança da França que batera na trave e nas costas do goleiro.  

Andávamos Santos inteira para trocar figurinhas. Comprávamos Ping Pong (o chiclete que trazia a figurinha embalada) em diversos locais diferentes para ver se vinham figurinhas diferentes das dos lugares que sempre comprávamos. E por onde andávamos tinha alguém com figurinha para trocar. Lembro que comprávamos caixas e caixas de chiclete e não chegávamos a mastigar, apenas para pegar as figurinhas. Era uma batalha para preencher o álbum. E, pelo que minha memória me diz, não tinha essa de ter jogador que não foi jogar a copa no álbum. Talvez tivesse menos frescura dos técnicos na hora de convocar seus comandados; talvez tivessem menos ânsia de ganhar dinheiro com produtos da copa; ou talvez ainda o futebol nem se interessasse muito para essas ‘pequenas’ paixões das crianças. Nem tudo era grana naqueles tempos.

Em 1990 o Brasil de Lazaroni perdeu nas oitavas para a Argentina de Caniggia e Maradona. O mesmo Maradona que não jogou a Copa de 1978 em casa por ser muito novo, que em 1982 arrebentou Batista na derrota para o Brasil por 3 a 1 e desfalcou contra a Itália e que em 1986 fez até gol de mão na campanha vitoriosa do bi no México. Foi uma seleção que não animou a ninguém.

Nessa copa comprei uma camisa da seleção, acho que a primeira vez que torci com uma camisa do Brasil, da Topper, no Jumbo Eletro da Amador Bueno, que estava em promoção. Essa camisa sobreviveu até a Copa de 1994, apesar de eu ter ganho uma da Umbro, que foi usada em 1994 e 1998.

Em 1994, já em Londrina e com o Victor com 1 ano, vimos em uma televisão minúscula, aquela que tinha rádio também, acho que de 5 polegadas, o Brasil vencer contra a Itália nos pênaltis e oferecer o tetra a Airton Senna que havia morrido alguns meses antes da Copa.

Em 1994 morreram em uma mórbida sequência, Senna, Denner, um promissor meio campista habilidoso revelado pela Portuguesa paulista, que ganhou seu único título profissional pelo Grêmio (Campeão Gaucho) e que tinha se transferido para o Vasco, mas com uma recém acertada transferência para o futebol europeu; dias depois ocorreu a morte de Kurt Cobain. Até a copa do mundo só se falava de Senna, uma pontinha de Denner e um pouco de Kurt Cobain. Foi meu ano mais negro, com certeza, apesar do tetra.

O Victor se mostrou um pé quente. Até porque em 1994 fomos campeões da Copa do Brasil, em 1995 fomos campeões da Libertadores e em 1996 Bi Campeões Brasileiros, um time de 11 guerreiros montado por um certo técnico que começava a despontar no cenário nacional, chamado Felipão.

Em 1998 o Gui nasceu. No meio da copa da França. Lembro de fazer alguns escândalos na madrugada de Londrina e de ter reclamação em casa pela gritaria. Mas o Gui nem se mexia, dormia com sono profundo e tranqüilo. E o Brasil sucumbiu diante da França por 3 a 0, na “Copa vendida”, quando Ronaldo, esse mesmo ‘comentarista’ de uma certa rede de TV, teve um piripaque e quase não joga a final.

Na copa de 1998 a Juliana ganhou uma camisa de treino do Brasil na tampinha da guaraná Antarctica, patrocinadora da seleção. Nesse fui a Porto Alegre e voltando por São Paulo, em Cumbica, no ônibus que nos levava do avião para a sala de embarque, para fazermos a escala no vôo para Londrina, um guri me pergunta se eu era jogador da seleção, por estar com a camisa de treino. Deu vontade de falar que sim, que eu era o Cafu, mas não fiz essa sacanagem, dei risada e disse que não.

O Gui foi para casa, da maternidade do Evangélico exatamente no dia que o Brasil disputava a semifinal contra a Holanda e que ganhou nos pênaltis defendidos pelo Taffarel, o especialista em nesse tipo de cobranças.

Aí veio 2002 e o Penta no Japão/ Coréia. Foi nessa copa que o Ronaldinho Gaucho fez um gol de falta sem querer na Inglaterra e Brasil ganhou dos britânicos de 2 a 1. Nessa Copa também recebi algumas reclamações de bagunça em casa por conta dos jogos e das minhas comemorações escandalosas. Mas dava de ombros e continuava a torcer com muito afinco e algum exagero.

O Gui parecia não se interessar por futebol e meu companheiro de jogos era o Victor. O Gui ficava em algum canto de casa brincando de carrinho ou descia para brincar com os amigos, sempre sob a supervisão da Juliana, pois era pequeno. Acredito que somente em 2006 que ele começou a se interessar e a assistir mais futebol.

Não me recordo muita coisa da Copa de 2006. Morávamos em Rolândia e estávamos quase que de mudança para Caiobá, no litoral paranaense. Eu trabalhava em Londrina e a Juliana na Dori, em Rolândia, o que nos motivou a mudar de cidade. Fazíamos churrasco a cada vitória do Brasil. O Patrick já estava conosco. Torcia com uma camisa do Grêmio que pertencera ao Victor, se não me engano uma das primeiras da vida dele. Nessa copa acho que o Brasil perdeu nas quartas para a França, no episódio da meia do Roberto Carlos.


Em 2010, na África do Sul, já estávamos morando aqui na Jerusalém. Fomos eliminados novamente nas quartas, desta feita pela Holanda. E se o culpado na anterior era o Roberto Carlos, o eleito em 2010 era Julio Cesar e o técnico Dunga, este o herói do tetra, ainda como jogador.

Em 2010 não colecionamos mais figurinhas das seleções. O mundo mudou muito desde as figurinhas que vinham no chiclete ping pong dos anos 1980. O futebol também. Mas as histórias permanecem lá, de alguma forma vivas em nossa memória. Contando com a de 1978, são 10 Copas nos meus 42 anos de vida, em 4 cidades diferentes: Porto Alegre, Santos, Londrina e Rolândia. E a próxima onde estaremos?
É sempre muito divertido esse período de Copa. Pena que passa rápido. Então, até 2018 na Rússia, com mais futebol, torcida e histórias. Fica o gostinho de quero mais e muita, muita saudade.  

domingo, 29 de junho de 2014

AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - THE STROKES - CHANCES



Essa é a canção ideal para o cara que chega em casa em um sábado à noite, depois de ter passado uma noite maravilhosa com a guria que ama, que está apaixonado. E então ele vai para casa, apaixonado, sonhando acordado com a sua guria, já com saudades e louco para pegar o telefone e ligar para ela, mas não quer atrapalhar o sono dela; mesmo sabendo que provavelmente a guria está pensando a mesma coisa que ele, pois a sintonia do amor de ambos faz com que tenham os mesmos desejos, que se completam um ao outro.

Parece bobo, eu sei... é bobo, idiota, cafona, ridículo! Mas é o amor. E é isso que cada um procura encontrar ao sair uma noite de sábado sozinho, desesperadoramente só, pensando em encontrar a pessoa ideal e que vai completar o seu sonho de par perfeito.

Passei por isso. Faz tempo. Não tive que procurar muito, apareceu do nada, de repente, na minha frente, naquele início dos anos 1990, em Assis. Passei por aquela guria risonha, de olhos claros e sorriso fácil e que cruzou meu olhar sem desgrudar dos meus. Foi amor à primeira vista.

Não tive trabalho, não precisei me esforçar muito e quando menos esperava, ali estava ela, na minha frente, sorrindo, me olhando insistentemente, até passar por mim nos corredores da Unesp e virar a cabeça, mantendo os olhares fixos e passando por nossas cabeças milhões de histórias que havíamos sonhados a dois, mesmo sem termos nos conhecido anteriormente. Sabíamos que um dia nos encontraríamos e que viveríamos a realidade daqueles sonhos de outrora, da vida toda.

Foi tão fácil te encontrar, meu tipo ideal, loira, olhos azuis, pele alva. Me apaixonei a primeira vez que te vi. E em questão de segundos, enquanto trocávamos aquele olhar significativamente apaixonante, pensei em como seria nossa vida daquele momento em diante.

Eu tinha dezoito anos e tu dezessete. Duas crianças pensando no futuro. Contra tudo e contra todos. Diversas noites eu me despedia de ti e queria ficar o resto da minha vida contigo

“Esperando pela noite
Partindo noite por noite
Você pode me ver viajar
Nós poderíamos estar em apuros todas as noites
Nós estamos em uma nova vida”

Ainda te encontrei por dias, cruzando olhares e nos beijando em sonhos, pelos corredores, ora no prédio de Letras, quando saía no meio da aula torcendo para te encontrar e te olhar nos olhos, trocar sorrisos e nada mais, nem uma palavra, bastava te ver e só; ora no prédio da Psico, quando tu ias ao meu encontro, no meio da tua aula e passava pela minha sala, esperando que eu notasse que tinhas passado por lá. E sempre dava certo, talvez por sentir o teu perfume de longe, talvez pelo instinto, talvez pelo nosso amor que estava nascendo, sempre dava certo e eu saía na hora certa ou tu saías da tua sala na hora certa. E nem precisava mais nada, apenas te ver alguns minutos para sonhar pelo resto do dia contigo.

E depois que te conheci nada me satisfazia, festas, shows, amigos, qualquer tipo de programa tinha graça alguma; só me interessava estar contigo. E tu me completavas por inteiro, tudo que a vida inteira me faltou eu encontrei em ti. Tinha ido para Assis estudar Psicologia com a intenção de preencher aquele vazio que a adolescência tinha exacerbado na minha vida e em 3, 4 meses encontrei alguém que realmente me fazia sentir o que era felicidade por completo.

Quantos sábados, quantas noites passei em claro pensando em ti, com o coração palpitando de paixão, sonhando acordado com o dia que te teria pela eternidade dos nossos dias. E, pode soar piegas, mas quando não estava contigo o dia, a noite, as tardes, tudo era tão triste e angustiante, sofrido; aqueles corredores da Unesp vazios, gélidos, cinzentos, mesmo que estivesse cheio de gente correndo para cima e para baixo, mesmo que estivéssemos no calor do verão assisense, mesmo que as paredes da universidade fossem coloridos;  mas o contrário, quando estávamos juntos tudo era perfeito, o vazio desaparecia, a temperatura era perfeita, a beleza e o colorido das flores sobressaíam; me sentia forte e poderoso, corajoso, podia enfrentar o mundo, meus medos, meus receios, pois tu simplesmente estavas comigo, ali ao meu lado, me dando o teu carinho e o teu amor.

E quando eu dormia, eram poucas horas, vivia do teu amor, em função do teu amor, me alimentando do nosso amor. E a vida, bem a vida sem tu não parecia jamais fazer qualquer sentido. Pensar em viver sem ti era desesperador e sufocante. Era exatamente como dizia a canção dos Smiths, se viver contigo era maravilhoso, morrer ao teu lado era um prazer celestial. Vida e morte, nada tinha sentido sem te ter comigo; e fazia todo sentido quando estava contigo.

Tudo isso sem te conhecer e apenas vivendo de fantasia. Mas quando finalmente te conheci e trocamos palavras, seguidas de beijos, então finalmente percebi que estava no paraíso e o quão a vida podia ser maravilhosa, linda, perfeita. Naquela noite de 23 de abril de 1991, quando finalmente criei coragem para ir conversar contigo. E eu já te amava profundamente, antes mesmo de te tocar, de pegar tuas mãos e encaixar nas minhas e de andarmos a esmo, embriagados de paixão, seguindo o caminho que nossos corações indicava.

E quando viajei nessa mesma noite, sem ti, foi a viagem mais triste de toda a minha vida, melancólica, só pensava em te encontrar na volta, queria chegar logo de volta e te ligar, te ver, te tocar, te beijar, estar contigo.

Depois daquele dia 23 tudo mudou. Minha vida, minha alma, todo meu ser inteiramente. Posso te dizer com toda certeza e quem me conheceu naquela época sabe perfeitamente, que foste um divisor de águas na minha vida. Eu era um antes de te conhecer e passei a ser outra pessoa depois de nosso primeiro encontro.

As pessoas que conviviam comigo não entendiam tamanho amor, não acreditavam que poderia existir tal sentimento. Que tal dependência poderia existir. Nem eu acreditava. Mas eles viveram o antes e depois de ti entrares em minha vida, o quanto eu mudei e me tornei fraco longe de ti e forte quando tu estavas por perto; o quão cabisbaixo eu ficava quando não estavas comigo e o quão alucinado de alegria eu ficava quando tu compartilhavas a tua companhia comigo.

Me viram chorar, me viram deprimidos, me viram extremamente triste quando nos separamos momentaneamente por força maior. Viram no meu rosto o maior sorriso que poderia ter de felicidade quando pude finalmente te ver novamente. Choraram e sorriram comigo; sofreram comigo a tua ausência na minha vida.

E eu sabia, eu sentia, eu vivia a reciprocidade desse sentimento que me hipnotizava e me conduzia à felicidade.

Escutar essa canção me fez lembrar das noites no Campus da Unesp de Assis, as manhãs de domingo, as aulas que matávamos para ficarmos mais tempo juntos. As aulas de laboratório que fazias e que eu ficava ao teu lado, as aulas de latim, as vezes em que eu subia nas árvores para pegar umas amoras para comermos juntos. 

Essa seria a canção que embalaria a minha história de amor, se existisse naquela época. Ela sintetiza todo o sentimento que vivi naqueles anos. Ela sintetiza todos os sentimentos que vivo desde então.

E naquela época, éramos nós dois e mais ninguém... nós dois e mais ninguém. Era o que bastava!

quinta-feira, 19 de junho de 2014

COPA 2014 - BALANÇO

O Fantasma de 50 está vivíssimo

Escrevo ainda sob o efeito da maravilhosa vitória do Uruguai contra a Inglaterra. Extasiado, empolgado, enlevado e tudo o que for sinônimo de maravilhado. Raça! A isso se resume o Uruguai, que se não é forte na técnica, supera tudo com determinação e vontade. E o fantasma de 50 está mais vivo que nunca!

Depois de uma semana de copa do mundo, aqui no Brasil, já dá para tirar algumas conclusões: a maior decepção foi a Espanha, que em duas partidas tomou 7 gols, fez apenas 1. Como a França em 2002, que era a campeã do mundo, vencida em uma goleada de 3 a 0 sobre o Brasil, de Ronaldo, aquele famoso jogo do piripaque que para os adeptos da teoria da conspiração, teria sido vendida pelo título de 2002 e o direito de organizar a copa de 2014, a Espanha foi eliminada ainda na fase de grupos, sendo que o último jogo será apenas para cumprir tabela, contra uma forte Austrália, que fez a Holanda suar para vencer. Isso me leva a crer que ambas as seleções, ambos os títulos, foram apenas um acaso, como a Inglaterra em 1966 e que nunca mais conseguiu vencer outra e não assusta mais a ninguém.

A Holanda, que depois de golear a Espanha por 5 a 1, na maior surpresa dessa copa, e passou a ser vista como o bicho papão, suou muito para ganhar da Austrália, que por pouco não venceu o jogo. Coisas do futebol. A Holanda talvez não seja tudo isso, apenas pegou uma Espanha fraca, decadente, possivelmente menosprezando os adversários e pensando na final, esquecendo que chegar lá é um processo longo e duro. Ilusão do futebol.

O Uruguai foi uma grande decepção na primeira rodada. Perder para a Costa Rica, de virada, por 3 a 1, não era esperado nem para o mais otimista dos costariquenhos. Mas depois da enorme vitória sobre os inventores do futebol esta tarde, um Maracanazo se aproxima cada vez mais. E o tri fica mais perto a cada partida. Que venham os italianos. Ganharemos deles e conquistaremos o primeiro lugar do grupo! Se não jogou bem na estréia, empolgou a torcida esta tarde. Um salto alto na primeira partida, que não combina com o Uruguai.  Mais ou menos o que ocorreu com a Espanha, no mesmo Maracanã de 1950. Já se fala em Maracanazo 2014, caso da Espanha que caiu diante do Chile. Mas o verdadeiro está por vir.

A chamada Copa das Copas trará muita coisa pela frente. Surpresas, sim, mas se o Brasil conseguir chegar (acredito que pegará a Holanda na segunda fase, porque vence a fraca seleção camaronesa) em primeiro no grupo, pegará a Holanda, que perderá do Chile. Jogando em casa é muito difícil superar, Então o jogo que decide o primeiro lugar desse grupo será um jogão, com certeza. Todos querendo fugir de pegar o Brasil já nas oitavas. Mas se a arbitragem não ajudar o Brasil, como aconteceu com o México, a seleção canarinho também deve temer qualquer dos dois adversários. A Holanda que já eliminou o Brasil e o Chile que vem crescendo e que não tem nada a perder.

Portugal jamais passou de pura mídia em cima do CR7. Caiu de 4 para a Alemanha, sempre uma forte candidata ao título. Frios e calculistas, os alemães que mais chegaram a finais de copas, no total de 6: em 1954 venceu pela primeira vez, vencendo a Hungria; em 1966 perdeu para a Inglaterra no famoso gol que não foi e foi validado para o time da casa. Em 1974, em casa, chegou ao bicampeonato vencendo o famoso carrossel holandês de Johan Cruyff. Em 1986 perdeu para a Argentina de Maradona, dando o troco em 1990 e vencendo o tri campeonato. Finalmente em 2002, quando perdeu para o Brasil de Felipão, Ronaldo e Cia. Até aqui, a mais forte candidata ao título, na minha opinião.

A Itália é sempre aquela coisa, uma incógnita. Chega sem estardalhaço e sem muito favoritismo, mas sempre é um perigo. Vence a Costa Rica, mas cai diante da Celeste Olímpica, que entra em campo precisando da vitória para chegar à segunda fase.

A Colômbia mostrou hoje contra a Nigéria, que vai longe também. Sem a grande estrela Falcão Garcia, mas com Cuadrado, James e Quintero, fez uma grande partida. Ninguém segura a Colômbia no grupo.

A Argentina de Messi, Aguero, Di Maria, Higuain, não foi bem na primeira partida. Me pareceu preguiçosa e nervosa. Mas o craque dos craques desequilibrou. A estréia pesou, deve melhorar ao longo dos jogos. Mesmo sem muita inspiração, Messi fez o suficiente para a primeira vitória portenha.

A França, como a Espanha e a Inglaterra, não vai longe. Mas passa para a próxima fase, não dando o vexame das outras campeãs mundiais.

Finalmente o Brasil. Venceu a Croácia graças a um penalty mandraque, não jogou muito contra um México dedicado, que fará o melhor joga da Copa contra a Croácia. Vai ganhar da fraca Camarões, chega em primeiro no grupo e vai crescer a partir daí.

Essa me parece ser a Copa das Américas. Brasil, Argentina, Uruguai, Colômbia e Chile chegam longe. Acredito em semifinal de Copa América, apesar da forte Alemanha. Talvez a única intrusa. Holanda arrasou a Espanha, mas esta veio a passeio mesmo. Não vai longe.

Lindo seria uma final entre Argentina e Uruguai. Como em 1930. E, claro, vitória da Celeste Olímpica! Será possível pelos cruzamentos? Não sei. Mas seria perfeito...