sábado, 28 de dezembro de 2013

QUARENTENÁRIO


"Se tudo passa, talvez você passe por aqui
e me faça esquecer tudo o que eu vi."

Essa foi a trilha sonora da minha primeira fase adolescente. Tinha 14 anos e no começo de 1987 arrumei meu primeiro emprego. Um vizinho, seo Jorge, mais conhecido como Nonico, que tinha uma loja de sapatos, me chamou para trabalhar com ele, pois precisava de um vendedor. E lá fui eu, no final de 1986, em dezembro, se não me engano dia 1º, começar uma nova vida. 

A canção cujos versos citei acima fazia parte do primeiro disco do Engenheiros do Hawaii. Mas isso eu não sabia. Naquele época, mais romântica do que hoje, era um mistério as bandas que surgiam pelo Brasil afora. Uma época em que não existia celular, internet, nem ao menos computador. Poucos tinham telefone fixo, um luxo reservado apenas às famílias mais abastadas. Período pré era do conhecimento. A loja de sapatos ficava ao lado de uma loja de discos, a Prodisc. E tinha alguém naquela loja que curtiu esse disco e escutava quase todos os dias. E nós escutávamos por tabela.

Graças a Deus o pessoal curtia um som decente. Já pensou hoje ficar escutando sertaNOJO universiORÁRIO ou qualquer outro lixo o dia inteiro? Cobraria adicional de periculosidade. Mas também uma loja de discos hoje é algo inusitado.

Mas eu dizia, essa canção também fez parte da trilha sonora de uma novela da Globo. Não sei qual, só sei que era das 18 horas e que foi no ano de 1986. Só lembro da televisão ligada na novela, talvez minha mãe assistindo e a música tocando. 

O Nonico pagava o salário em duas vezes, metade na primeira quinzena e o restante no final do mês. Eu recebia 800 alguma coisa, dinheiro daquela época. Cruzeiros, cruzados, cruzados novos, sabe-se lá. Só pesquisar pelo Google qual era o dinheiro no começo do governo Sarney. Sim, esse mesmo Sarney vampirão que anda por aí, já rondava os cofres públicos naquela época e pelo que me consta bem antes disso, bem antes da década de 80, já mordia dinheiro público.

A loja ficava na praça José Bonifácio, em Santos, a mesma que tem o famoso Teatro Coliseu, o fórum e a Catedral de Santos. Naquela época uma região bem degradada, o Coliseu, um baita teatro, tinha em sua programação filme pornô ou filmes classe C. À noite a Brás Cubas, uma das ruas cujo Coliseu ficava de esquina (a outra era a Amador Bueno - provavelmente esse o endereço do Teatro Coliseu), todo pomposo, com sua história que provavelmente abrigou em seus camarotes membros da realeza brasileira, se transformava em zona do meritrício. Na verdade, até mesmo durante o dia as chamadas moças de vida fácil ficavam em frente dos prostíbulos, convidando os homens que passavam para um programa.


Eu andava pelo centro de Santos durante meu horário de almoço, vendo as vitrines, namorando as lojas de discos, de instrumentos musicais entre outras diversões que me encantavam. Gostava de passar pela Senador Feijó, onde as putas me convidavam para um programa. Eu olhava timidamente para elas e lá vinha o convite sensual para entrar.

Lembro como fiquei extremamente excitado a primeira vez que uma delas me abordou. Mas antes dessa abordagem, adquiri meu primeiro bem material na primeira quinzena do mês de dezembro de 1986: um violão Rei, marrom, daqueles cuja cor eu nunca mais encontrei, para minha tristeza e decepção. Foi nas Casas Bahia da João Pessoa. Recebi o salário e já sabia que tinha uma promoção nessa loja, por isso no meu almoço fui comprar. Voltei ao trabalho com meu 'pacote' e o Nonico, turco que era, ficou abismado de eu ter comprado à vista um violão. 'Tá certo, gastei toda minha grana, mas valeu à pena. Estávamos montando o Mayday e foi o primeiro instrumento da banda. 

Era um violão simples, de corda de aço e dias mais tarde descobri que havia comprado errado porque para estudar violão na Camerata que dava aula de graça no Teatro Municipal de Santos, era necessário ter violão com encordoamento de naylon. Então troquei todas as cordas do violão, com auxílio do professor.

Antes de estudar violão clássico no Teatro Municipal, ganhei uma bolsa de estudos para estudar em um conservatório, violão popular. Não durou muito, porque meu professor era um nordestino que gostava de Moraes Moreira e outros que na época não me interessavam. Mas me ensinou a tocar Como Vovó já Dizia, canção que o Defalla tocava em seus shows e posteriormente gravaria uma versão em seu segunda álbum. Desisti das aulas.

O segundo disco do Defalla troquei em uma loja de discos no Gonzaga, pelo disco dos Miquinhos Amestrados, Milli Vanilli e um outro que havia ganho no sorteio de um programa da Rede Cultura, em que escrevi uma carta. Era o Matéria Prima, comandado por um certo Sérginho Groisman.

Mas no final das contas, aprendi mais com as revistinhas de cifras que comprava nas bancas com as aulas no Teatro Municipal. Isso porque o que me interessava era tocar 3 acordes e fazer as minhas canções, colocar no papel meus sentimentos de adolescente rebelde e cheio de espinhas. Do it yourself era nosso lema já nos anos 80, antes mesmo da onda que décadas posteriores avassalaria os discursos de auto ajuda do capitalismo neoliberal de empreendedorismo. Era o lema Punk em sua essência, em nossas vísceras. 

Dias depois da compra do violão, naquele mesmo dezembro, se não me engano no dia 31, último dia do ano, recebi a segunda metade do salário. Com o bolso cheio e sem ter no que gastar, depois de ter comprado o disco Longe Demais das Capitais, andando pela Brás Cubas sentido General Câmara (famosa rua de Santos, conhecida pelas boates e pela zona de prostituição, inclusive já tendo sido cenário para videoclipe da banda Charlei Brown Jr.), à esquerda a pomposidade do Teatro Coliseu e à direita as antigas casas de prostituição, todas semidestruídas pelo tempo, pelo descaso e pela falta de manutenção e numa dessas casas, uma das putas me fez o convite para um programa de prazer e descobrimento.

Eu, como meus amigos, era virgem, com pequenas e poucas experiências com o sexo oposto, fiquei alucinado com o convite, excitadíssimo, um turbilhão de sentimentos jamais experimentado antes. Perguntei o valor do programa, com dinheiro no bolso, era o momento adequado para deixar esse lance virgindade de lado. 

Mas é importante contextualizar. Nessa época foi descoberto o vírus da Aids e os maiores transmissores dessa 'peste', da doença do 'amor livre' eram as putas e os gays. Era uma doença totalmente moralista. Uma arma nas mãos dos (demagogos e hipócritas) puritanos. A Aids veio refrear todas as iniciativas de liberdade sexual daquela década. Um banho de água fria em todos nós adolescentes virgens daquela época, um período em que era comum a iniciação sexual ser através de serviços profissionais de prostitutas.

Depois de titubear e ponderar, não aceitei o convite e continuei meu caminho. 


Durante esses anos minha vida sexual se resumia em rodar por essas bandas, receber convites como este e correr em uma banca de jornais para comprar uma revista pornográfica (revistinha de foda, como chamávamos vulgarmente) e bater uma punheta.

A loja de sapatos que trabalhava, que não tinha letreiro, se chamava Michel Calçados, uma alusão ao nome do enteado do Nonico. Como disse, ficava na praça José Bonifácio, praça esta que cortava a rua Senador Feijó. Uma quadra acima, sentido Porto, tinha uma pequena loja de confecções, que trabalhavam umas gurias. Uma delas era uma paquera minha. E os versos da canção acima caem como uma luva, parecem ter sido escritas para aquele meu pequeno romance utópico, como a maioria dos romances sonhadores da adolescência.

E todos os dias eu ficava esperando que ela passasse na frente da Michel Calçados. E sempre no mesmo horário, quase que combinando com meus pensamentos, desejos e sonhos, lá vinha o meu amor platônico. Por vezes trocávamos os papéis e eu passava em frente ao seu local de trabalho. Do outro lado da rua, para poder observá-la por mais tempo e para que ela pudesse me ver antes.

Eu sabia que havia reciprocidade. Eu tinha 14 anos, ela talvez tivesse 15, 16, sei lá. Nunca vou saber. Suas amigas riam insinuantemente, cochichavam entre si, algo que eu sempre interpretei como alimentando nosso 'romance'. Isso durou dias, talvez meses. Naquela época e na minha tenra idade, os dias pareciam séculos.

Até que um dia suas amigas se cansaram daquele cortejo que não saía de troca de olhares, que não avançava, me chamaram para atravessar a rua e dar o próximo passo. Essa foi a primeira oportunidade perdida na vida. Eu simplesmente tremi, não sabia o que fazer ou dizer, com as pernas bambas, virei o olhar e ignorei. Nunca mais elas me olharam ou fizeram qualquer menção de que eu existia. Mudaram o caminho para não passar na minha frente. Ali eu aprendi que não se podia deixar de abrir as portas para as oportunidades. Nunca tive a possibilidade de conversar com aquela guria. Também não tive iniciativa de procurá-la. E tudo ficou no meu imaginário. E no dela.

São lembranças que essa época do ano suscitam. E que a trilha sonora reforça.

sábado, 9 de novembro de 2013

SONINHO


Não acompanhei meus sobrinhos de perto. Tenho 3: Renatinho com 15 anos, João Vitor de 13, filhos do Beto e Victor Gabriel, filho do Rogério, que deve estar com seus 8, 9 anos, não tenho a mínima ideia. Não sei a data de aniversário de nenhum deles. Mal falo com eles. Os filhos do Beto faz muito tempo que não os vejo, acho que a última vez foi no casamento do Renato, há quase uma década. Eram pequenos. O Victor Gabriel vi ano passado. Pouco fala, não consegui um vínculo de tio, do jeito que eu gostaria de ter.

Renatinho e João Victor moram em Diadema, grande São Paulo, talvez uns 500 km a leste de Londrina; Victor Gabriel mora a uns outros 500 km, também a leste de Londrina, mas indo para o sul. 500 km a sudeste e a nordeste me separam desses sobrinhos.

Dona Sirlei teve 5 filhos, todos homens e contando com meus 2 filhos (os primeiros netos) ela tem 5 netos todos homens. Ô família difícil de sair mulher. Tentou por 5 vezes ter uma filha e acabou desistindo. Os filhos tentaram dar uma neta e nada. Até 3 meses atrás.

No dia 12 de julho (mesmo signo do Gui, que nasceu no dia 3), às 8hs04min, na Casa de Saúde de Santos, nasceu a Luiza Caetano Silveira. O mesmo sobrenome dos meus filhos, porque a Luciana é Caetano dos Santos. Como meu irmão jamais colocaria Santos no nome de um filho, escolheram o Caetano e foi batizada com os mesmos sobrenomes dos primos. No futuro serão confundidos como irmãos.

Enquanto estou escrevendo esse post me surgiu uma dúvida: será Luiza ou Luíza (como um acento pode fazer tanta diferença?).


Para quem já tem filhos, ter sobrinhos não chega a ser uma novidade daquelas. Claro que seria legal ter uma convivência mais próxima dos meus sobrinhos, ver crescê-los, ensinar algumas traquinagens que já ensinei para os meus filhos, dar risadas, influenciar no gosto musical, torcer (e sofrer) para o IMORTAL TRICOLOR junto, não ter a obrigação de ficar reprimindo as bagunças deles, como os pais têm que fazer, seria afudê.

Com a Luiza é diferente. Ela é a única guria da família até aqui. Para ter outra, acredito que só com as bisnetas da D. Sirlei. Se vierem gurias. O Rogério tem um filho, não acredito que terá outro; o Beto, com 2, também dificilmente contribuirá para a superpopulação do mundo; o Fábio já disse que não terá herdeiros; eu tenho meus dois que já me dão uma caralhada de trabalho; o Renato, pai fresco, não pensa nisso nesse momento. Sendo assim, Luluzinha do tio, tu és a princesinha da família e será adulada por todos. 

Conheci a Luluzinha (ou Beca, como o pai a chama) essa semana. Estive em Santos depois de 4 anos, especialmente para conhecê-la, pegar no colo, levar para passear, nanar no colo do tio preferido dela, brincar, fazê-la sorrir e dar gargalhadas, enfim, curtir a princesinha da família. Foi uma sensação incrível. Ela cativa qualquer um. Infelizmente não pude dar umas voltas pela praia porque choveu o tempo todo, mas consegui fazê-la dormir diversas vezes no meu colo. E que guria dorminhoca. Um sossego, só mama e dorme, quase não dá trabalho. E fica observando o mundo à sua volta, tentando conhecê-lo pela boca. 

Agora pretendo utilizar muito a ponte aérea Londrina-São Paulo, com parada em Santos, via busão, para visitar com frequência a guria da família; vê-la crescer, dar os primeiros passos, as primeiras palavras, acompanhar e conviver com a minha sobrinha predileta. Espero ser um tio legal para ela, não um que fique levando presentes dos mais caros, mas um que consiga passar as coisas mais importantes da vida, aquelas que o dinheiro não compra. Mostrar para ela como é afudê escutar os grandes clássicos do rock, se emocionar com um belo filme alternativo, dar risadas na frente da tv com qualquer bobagem, sofrer com o Grêmio a cada jogo...

Em uma semana perdi meu pai; na outra conheci a Luiza. E a vida vai seguindo, por caminhos tortuosos, por vezes por retas e tantas outras vezes com suas diversas barreiras, que nos fazem levantar e seguir adiante. Seja bem vinda Luluzinha, a esse mundo, a essa vida, a essas loucuras. E que Deus te abençoe nessa longa caminhada que está por vir. 

Saudades, do teu tio predileto. 

Renato e Luciana, cuidem bem desse tesouro que Deus reservou para vocês.  

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ROTINA

Acorda cedo para ir trabalhar,
o relógio de ponto a lhe observar; 
no lar esposa e filhos a lhe esperar, 
sua cabeça dói, um dia vai estourar, com essa rotina!

Tudo nessa vida é um ritual. O dia a dia, por mais que seja rotineiro, não deixa de ser um ritual. Hoje, quando estava me vestindo para voltar ao trabalho após o almoço, esses pensamentos se misturavam a outros na velocidade que a mente processa as coisas: tudo ao mesmo tempo. Um pequeno inseto é capaz de gerar zilhões de pensamentos, desencadeando um tsuname de idéias, um turbilhão de sinapses. Tudo ao mesmo tempo! E sem ligação qualquer entre os devaneios. E em micro segundos, coisa que talvez nem seja possível de medir, ou de ver a "olho nu", sem qualquer aparelho de medição mais exato, passou pela minha cabeça alguns rituais meus do dia a dia. 

Acordo cedo, às cinco horas e quarenta e cinco da manhã o relógio já está despertando; taí o primeiro ritual do dia, o de levantar; é sempre uma pequena luta da cama aconchegante e macia, tendo o corpo quente da Juliana ao lado, sua respiração tranquila de um sono profundo, contra a necessidade de levantar, a obrigação e responsabilidade de começar mais um dia. Em minutos levanto, não mais do que cinco. E lá vou eu, cambaleante, sonolento, olhos semiabertos... direto ao banheiro e o segundo ritual, que é escovar os dentes, enquanto estou mijando, andando pela casa para ver se está tudo em ordem. Olho o quarto do Gui, sempre com a luz acesa. Desligo, fecho as janelas (esse é ritual dele dormir, toda uma preparação, abrir as janelas, acender a luz e deitar, sabe-se lá pensando noquê), o cubro com o cobertor jogado no chão e o lençol enrolado nas pernas; ele dá uma olhada e vira para continuar dormindo; essa olhada denota que não acordou, apenas um reflexo do barulho da porta abrindo e da luz se apagando. Então, apronto minhas roupas (ainda escovando os dentes) e vou tomar banho.

É sempre a mesma coisa: espero a água esquentar um pouco, sentindo a temperatura com os pés, até que sinto a temperatura melhor e entro embaixo, sentindo a água me relaxar, dou uma espreguiçada forte e sinto arder o olho semi fechado pelo sono e por ter recém acordado. Me seco ainda no box e me dirijo à cozinha separar meu café da manhã, que levo para o hospital: iogurte, uma banana, pão integral e mais duas frutas picadas, que a Juliana cortou no dia seguinte e acondicionou em uma dessas vasilhas pequenas de plástico. 

Faço tudo isso enquanto meu corpo vai se secando por completo para começar a me vestir; antes passo no quarto do Victor:

- Acorda filho, levanta para se vestir.

Ele mais sonolento que eu, levanta e veste a calça e uma camisa qualquer que encontra no guarda roupa, apaga a luz e volta a dormir. É cedo, já estou vestido, uma roupa confortável para caminhar os trinta minutos que me separam do trabalho. Mais um ritual desse comecinho do dia: abro a janela da sala e dou uma respirada forte para sentir o ar fresco em meus pulmões. Aproveito para ver como está a temperatura do final de madrugada. Com o horário de verão, ainda está escuro, no horizonte, ao leste, uma pequena claridade amarelada indica que logo o sol estará nascendo para mais um dia. 

Confiro minha mochila com minha armadura para o trabalho, minha roupa de super herói, para defender a minha família dos males que a pós modernidade nos causa e para enfrentar os vilões do meu trabalho (a sobrecarga de trabalho, a insensatez de uma rotina estafante...); confiro se meu crachá está na mochila, caneta, chave do RH. Tudo ok, a coloco nas costas, volto ao quarto do Victor Hugo.

- 'Tô indo filho, não vai perder a hora, daqui a pouco levanta. Tchau.

Pego o livro que estou lendo e sigo meu caminho. E começo a ler ainda na escadaria. Desço a rua até o lago e, livro em punho, olhos cá e lá, noto o movimento, lua ainda no céu, pessoas correndo, caminhando em grupo, conversando alto; ao menos eu acho, porque é como eu escuto as vozes, ao fundo, pois estou com o fone de ouvido escutando alguma coisa legal para me alegrar o dia. 

O percurso tem subidas e descidas nas ruas da planície de Londrina. E o meu caminho é arborizado, com uma natureza exuberante entornada pelo concreto da cidade. Ando na velocidade em que leio. Por vezes percebo a natureza, uma árvore que insiste em viver no meio de todo o asfalto, o lago que fica parado esperando que o vento crie algum caminho a seguir. Alguns cumprimentos de bom dia, geralmente aos idosos, que são mais amistosos e simpáticos; outras vezes tiro os olhos do livro para atravessar uma rua. Poucos são os carros a essa altura da manhã, menos do que pessoas, por incrível que pareça. Em tantos momentos me perco em pensamentos e tenho que retomar o parágrafo que acabei de terminar de ler e não entendi nada.

Chego no RH, me troco e vou ao hospital (o RH fica fora do hospital) para registrar o ponto (rotina, rotina). Depois de abrir quase uma dezena de portas, de salas e entre-salas, ligo o computador, leio as notícias rapidamente (se o Grêmio ganhou na noite passada me prendo mais às notícias esportivas - uol, clicrbs, msn, globo esporte); vejo o que tem na minha caixa de mensagem, planejo e preparo o meu dia de trabalho (grande porcentagem não será seguido) e desço para tomar café, às sete horas e trinta minutos. 

Quando subo, a rotina some. Cada dia é diferente no trabalho e os imprevistos são a rotina. Como disse, grande parte da porcentagem do programado não será realizado. 

Depois de quatro horas de trabalho, o ritual de trocar de roupa, arrumar a mochila, pegar o livro da leitura do momento e fazer o inverso, voltar para casa e almoçar. E a rotina de chegar em casa, por vezes encontrar o Victor no caminho e dar uma pausa na leitura, perguntar como está

- e daí, tudo beleza?

Jogar alguma conversa fora, comentar do Grêmio, como foi a aula, tudo certinho? Discutir alguma teoria filosófica ou sociológica (claro que superficialmente) que ele aprendeu no cursinho ou leu e que se encantou, como está em matemática filho? E física? As provas do vestibular são foda, tem que suar um pouco! E essas conversas. 

- Tudo bem Juliana, o Gui foi para a escola? Tudo bem com ele? E tu, tudo certo?

Todos os dias mais ou menos a mesma coisa. Voltar para o trabalho, à tarde de carro, pois o sol a pino castiga e não dá para chegar suado. O livro descansando no banco de trás, solitário e esquecido. Um sinal que demore mais e leio um parágrafo e de sinaleira em sinaleira, de parágrafo em parágrafo, chego ao trabalho. 

Dezoito horas! O sinal mental toca e lá vou eu, me trocar, para treinar. Dez quilômetros ás segundas, quartas e sextas e cinco às terças e quintas com o grupo de corrida do Sesc do Aeroporto. Depois academia com a Juliana. E depois casa. Ler um pouco, fuçar no twitter, ler algumas notícias, olhar a novela com a Juliana. E dormir. Dormir para descansar um pouco. 

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão trabalhoso
amanhã você vai trabalhar, de novo.

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão cansativo
amanhã você trabalhar, de novo.

E no despertar do relógio, começar tudo de novo e repetir tudo de novo...

Green light, seven, eleven you stop in  
For a pack of cigarettes 
You don't smoke Don't even want to 
Hey! Now check you change 
Dressed up like a car.

Cinco horas e quarenta e cinco minutos. Hora de levantar. E começar tudo de novo!

Amanhã é sábado. Quebrar a rotina para aguentá-la e recomeçar na segunda feira.    

terça-feira, 29 de outubro de 2013

LUCTUS


Meu pai morreu a noite passada. Descansou. Nos últimos anos sofreu um pouco, com diversas doenças que a velhice lhe resguardou, por uma vida não muito regrada, depois de 6 casamentos e 10 filhos com 3 mulheres desses casamentos. Depois de muitos anos sem contato, alguma mágoa da minha parte pelo sumiço e pela escolha na vida que fez, entrou em contato comigo e passamos a conversar frequentemente. Foi uma experiência legal, mesmo que não nutrisse o sentimento que um filho devesse ter por um pai, era legal ouvir suas histórias e um pouco da minha própria, dos meus primórdios.

Tinha o desejo de que eu fosse visitá-lo na casa dele, em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, na fronteira extrema do país, 1283 km de Londrina, pelo menor trajeto. Não deu tempo. 

Laudelino Flamarion Silveira nasceu em 1942, na cidade de Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, capital do Rio Grande. Filho de Laudelino Ávila Silveira um comunista que conviveu com Luis Carlos Prestes e Dona Julieta Cardoso. 

Era um gaúcho ranheta, daqueles machistas e mulherengos, que em muitos momentos da vida andou pilchado e no final da resolveu se recolher para a pequena Livramento, com a última mulher da vida, dona Ilda, que cuidou dele nesses últimos anos de vida sofrida.

Meu gremismo vem dele. Minha mãe é colorada, filha de um ex-jogador do Inter, talvez da década de 1940. Portanto, toda a família da mãe é colorada, inclusive minha avó, que fez do Rogério, meu irmão mais velho por parte de mãe e pai, em sua infância, um coloradinho. Como fomos criados pela mãe, deveríamos ter sido colorados. Mas meu pai, com quem pouco convivi na minha vida, que aparecia de vez em quando lá em casa, na Clemente Pinto, no bairro de Teresópolis, onde nasci, era gremista e nos deixou essa herança, que hoje tem no Victor Hugo, no Gui, no Renatinho, no João Victor e na pequena Luiza a sua continuidade no amor ao Grêmio e às suas três cores imortais. Isso foi o de mais valioso que o Flamarion nos deixou e com orgulho estamos dando continuidade, não só no seu nome, que ele tanto prezava e que carregamos, mas também no orgulho de ser gremista.  

Outra herança sentimental que ele deixa aos 10 filhos, dos quais poucos ele criou, além do gremismo que seguimos (inclusive a Fernanda, única filha), foi o gauchismo. Esse sentimento de amor ao Rio Grande, que no meu caso, mesmo distante tantos anos, sem conviver com a cultura diretamente, apenas por livros, música e leituras diversas, depois com o advento das tecnologias e da internet e das poucas visitas em algumas férias, se manteve. O amor ao tradicionalismo, mesmo sem ter convivido (nem com o pai, nem com o gauchismo) vem dele, vem dos nossos ancestrais. E não tem explicação tamanho orgulho, apenas existe e é incompreensível para quem não tem esse sentimento. Parece soberba, mas não é. Para quem não sente, não tem como entender. 

Tive a sorte de churrasquear com ele em 2012, quando o encontrei depois de quase 30 anos, já debilitado pelos problemas da velhice (embora pudesse ter saúde melhor, não fossem os excessos e a vida que escolheu), mas ainda consciente e bem humorado, apesar de ser um cara conhecido pelo seu péssimo humor e ranzinzice. Foram dois dias agradáveis, que serviram para eu (re)conhecê-lo e que rendeu a foto que ilustra esse post. E foi muito bom para eu me sentir em paz e poder elaborar esse luto.

Flamarion se foi. Nos deixou. Reclamava dos problemas de saúde, da quantidade de remédios que tinha que tomar, da visão já turva e de não ter mais com quem conversar, uma vez que seu irmão, com quem falava diariamente, jogando conversa fora, provavelmente tomando chimarrão, um em cada lado do telefone (meu tio morava em Porto Belo, no litoral da bela Santa Catarina), morreu ano passado, meses antes de eu visitá-lo nas férias. A solidão e a dependência para tudo o deixavam extremamente triste. Agora devem estar batendo aquele papo que não puderam ter nos últimos meses, voltando aos seus corpos saudáveis da juventude e que arrasavam com as gurias de Porto Alegre.

Peço a Deus que guarde um pedacinho do céu para ele. Se não foi dos melhores pais (longe disso) pagou em vida os seus pecados; se teve seus pecados e suas falhas, foi antes de tudo um ser humano, com seus defeitos e suas qualidades. Ninguém pode julgá-lo, apenas Deus misericordioso. E que pode perdoá-lo.

Espero que na próxima vida tenhamos uma convivência mais estreita. E quando eu for dessa vida, tomara encontrá-lo no céu e jogar bola com ele (ele não pode ver pessoalmente minhas habilidades futebolísticas), coisa que ele fez muito na sua juventude, assim como eu, com o manto tricolor, calção e meião do imortal, totalmente uniformizado de Grêmio, como infelizmente eu não tive o prazer de vê-lo pelos gramados das peladas do Rio Grande, mas que vi em fotos. 

Flamarion se foi. Um dia depois do Lou Reed, contemporâneos, quase com a mesma idade. Levará um pouco das canções nativistas para o imortal Lou Reed. E me deixa duplamente enlutado e triste. Lou Reed é a trilha sonora desse post. Boa música, excelentes lembranças. No final é tudo o que fica, as boas lembranças da efervescente e efêmera vida.

Descanse em paz, Flamarion! Que Deus o tenha! E a mulherada no céu que se cuide.   

domingo, 25 de agosto de 2013

FIRST OF THE GANG TO DIE

Depois de uma semana inteira de overdose de Morrissey (e não acabou, pois ainda estou assistindo ao DVD Who Put The M In Manchester, de 2005), finalmente estou de volta ao meu cantinho virtual. Depois de um longo e tenebroso inverno da pequena londres, literalmente falando, porque tivemos um inverno forte esse ano, finalmente, essa vida no trópico de Capricórnio e ao sul da linha do Equador, quente á beça (como diz uma voz no início da canção que dá nome a esse post - Los Angeles, você é quente demais - bem poderia ser Londrina, você é quente demais) cansa demais.

Quando passávamos noites de sábado entediantes no muro da rua São Paulo, esquina com Joaquim Lacerda ou as tardes de domingo zanzando pelas ruas do Gonzaga, em Santos, sempre discutíamos ou jogávamos conversa fora, para amenizar a inquietação dos nossos corações, nos longínquos anos 80. Mas também passávamos noites e madrugadas de sábado para domingo trocando idéias ou fitas cassete gravadas em algum show totalmente underground, lá na Caneleira; a volta sempre era uma viagem, depois de passar em algum boteco para beber um goró e aquecer nossas almas, antes das famigeradas manhãs de domingo

"Nas manhãs de domingo
Parece que todos olham pra você
Atravessando as tuas, sem olhar os faróis
Nas manhãs de domingo, parece que a noite
Valeu à pena..."

Na verdade quase nunca valia à pena. Em se tratando daquele bando formado pelos punks de final de década dos anos 80, da baixada santista, o lado mais podre dos punks, pois tinham os que andavam com as gurias, que tinham carro e que eram mais velhos que nós, os pirralhos menores de idade. Éramos a escória dos punks, os punks da periferia, como cantava o odiado Gilberto Gil. Havia sim uma segregação entre os punks, os mais velhos e com mais 'moral' e os excluídos. Mas de alguma forma, como eram mais velhos, já estavam entrando no sistema e desistindo da luta. Faziam parte dessa galera mais velha o China, o Branquinho, Nair (esse nos entendia, até foi a um show do Cólera conosco em Sampa) dentre outros. Nosso grupo era formado por eu, Zé Renato, Branco, Ronaldo, Fábio HC, Paul Cook, Fernando, Pipa, Barrigiuinha... tinha duas doidas que vez por outra andavam conosco, que não me recordo os nomes. Mas uma era louca pelo Smiths, como eu. 

Talvez o que mais incomodava os caras era que a era deles estava terminando e que nós seríamos os seus sucessores. 

E nessa época, nossa maior nóia era arrumar uma namorada. Quem seria o primeira da gangue a arrumar uma namorada? Quem seria o primeiro da gangue a morrer? Morrer, no sentido figurado, claro. A morte era entrar para o sistema, andar de roupa social, gravata, casar, ter filhos, enfim ter uma vida comum.

"Somos escravos do sistema, 
obedecemos as leis da vida
Nascer, crescer e se fuder, 
somos escravos do sistema"

escrevi em um rompante daqueles dias, para o Mayday.

Pois bem, éramos contra as instituições, família, igreja, casamento, isso tudo. Portanto, casar era o que menos queríamos. Embora eu sempre tenha gostado de criança, sabia que teria um filho logo, mas não pensava que casaria tão cedo. Apesar de andarmos rasgados e sujos, pela periferia da cidade, quando mais nos sentíamos carentes e sozinhos, íamos onde a galera se encontrava, no Gonzaga, área mais In de Santos. E lá as coisas rolavam, A timidez era deixada de lado e lá íamos nós, de fora em fora. E nosso lema era: depois da meia noite, o que viesse era lucro. Em noites ruins, nossas caças davam resultados ruins e depois da meia noite ficar sozinho nunca. Mas na temporada sempre dava para tirar o atraso e ser mais exigente, escolher melhor. Ser nativo era um atrativo. Ser roqueiro era outro. Ser punk não ajudava muito, mas o discurso politicamente correto já nos anos 80 impressionava a mulherada. E quando dava certo, com um pouquinho de sorte, era a temporada inteira com uma namorada de verão. Bonita e descolada. Nas férias todos são descolados. Depois as pessoas voltam a ser o que são e a carruagem volta a ser abóbora.

Paul Cook, apelido dado pela semelhança com o baterista do Sex Pistols, foi estudar história na Usp; eu fui para Assis estudar Psicologia e conhecer a Juliana e ter os meus dois filhos (justamente aquela vida que sempre quis fugir), Zé Renato bateu cabeça, mas foi estudar jornalismo, fazer, mestrado, doutorado. Fernando, que vivia apanhando quando encontrávamos uns caras que achavam que ele era o chefe da gangue, não sei o que virou. Fábio HC tive algumas notícias, que se perderam no tempo. O Branco casou, teve 3 filhos (por enquanto) e continua fanático pelo Santos. O Ronaldo virou Hare Krishna, tem outro nome, casou com uma militar - logo ele, que vivia apanhando da polícia quando tomávamos geral; o barriguinha não sei dele, assim como do Pipa, que bebia e desmaiava na calçada no final da noite, depois de vomitar muito. O que será que pensava quando acordava de dia e se via sozinho? Mas sempre voltava no sábado posterior. Teve um cara que se matou, enforcado, foi encontrado no quarto, em casa, mas não lembro quem foi. Provavelmente depois de ouvir muito Joy Division. Foi o primeiro da gangue a morrer. Mas no sentido figurativo, eu fui o primeiro da gangue a morrer. Casei aos 21 anos e logo tive o primeiro filho. E depois de 20 anos, nossas vidas continuam separadas pelo tempo e destino, que, implacáveis, nos separaram para sempre. 

"Você nunca esteve apaixonado
Até que tenha visto a luz do sol
Refletida nos ossos humanos esmagados"

A morbidez romântica do Morrissey. À morbidez romântica do Morrissey, às saudades daqueles tempos malucos.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

365 - CANÇÃO PARA MARCHAR

Todas essas manifestações me fizeram lembrar dessa canção do 365. Como todas essas canções dessa banda, tem punch, guitarras pesadas, letras fortes e um som incrivelmente melódico. Com vocês, 365. A letra tem tudo a ver com que aconteceu hoje no final do dia em Brasil todo.


Canção Para Marchar

Olhares distantes, cabeça a pensar.
Luzes no céu não pode alcançar.
Jovens nas ruas começam a marchar.
Tiros no escuro há algo no ar.

Há uma nova canção, que está no ar.

A luz que desceu cegou seu olhar.
Agora seu rumo não é fácil de achar.
Saiu de casa quer solução
Seguem os tiros da revolução

Se arrependeu em marchar

CNH E AS MANIFESTAÇÕES PELO BRASIL


Lembro como se hoje fosse do dia que conheci a Juliana. Na verdade o dia em que conversei pela primeira vez com ela. Foi em uma noite de terça feira de abril de 1991, noite de protestos contra o Collor e a corrupção instaurada no seu governo, naquele recomeço de um Brasil recém saído da ditadura. Naquela mesma noite, após trocarmos diversos beijos, fui para São Paulo, em uma passeata que faríamos na capital do estado, para forçar o impeachment do "caçador de marajás", elle próprio um deles. 

Em São Paulo (a Juliana não foi, era uma bonequinha que não se misturava com aquela galera revoltada e nem combinava muito... e também os pais dela jamais deixariam que ela acompanhasse qualquer passeata), para onde eu tinha ido, para variar, com pouco dinheiro, pouco lembro; mas lembro que fomos almoçar no famoso Largo São Francisco, na faculdade de Direito da USP, onde a burguesia estudava. Com tantos manifestantes, de todo o estado, o RU se tornou pequeno e então pegávamos o bandejão e nos acomodávamos nas escadas, no chão, nos cantos. Os olhares de reprovação e superioridade daqueles idiotas filhinhos de papai era revoltante, mas não estávamos ali para isso; nossos objetivos eram maiores. Éramos os famosos "caras pintadas".

Feita tal introdução, o Victor tirou sua CNH por esses dias. Isso também me trouxe lembranças de quando tirei a minha. E, estranho, tudo evoluiu, o mundo mudou tanto nessas décadas, mas em Londrina continuam fazendo as provas naquele buraco da Vila Portuguesa. Sempre me perguntei: quem, em sua sanidade, voltou a dirigir naquele buraco depois dos testes do Detran? Eu mesmo, nunca voltei. O Victor, depois da sua reprova (como eu, não passou na primeira) acredito que também nunca mais voltará. E me questiono: por que não fazer a prova nas ruas da cidade, no meio do trânsito, para ensinar realmente as pessoas a dirigirem e não ensinar alguns truques que jamais serão utilizados novamente? É como nos cursinhos, que ao invés de ensinar conteúdo, se preocupam mais nos macetes para passar no vestibular.

A lisura do processo do Detran parece não existir. Não quero ser polêmico e nem ser injusto, mas o sentimento que tenho é de que as coisas são assim para dificultar e reprovar; poderiam mudar o lugar do teste. É como maquiar o processo de ensinar a dirigir.

Voltando às manifestações e chegando aos dias atuais, estava correndo no Igapó agora à pouco, quando me deparei com os jovens manifestantes em passeata. E o Victor no meio deles. Tive que desviar, pois eram milhares (10 mil pelo Jornal de Londrina); e em segundos passaram todos esses pensamentos que escrevi acima. O Gui também queria ir, mas como tinha aula nesse horário, desistiu da empreitada. Depois passamos de carro pelo grupo enorme de pessoas e gritamos, para tirar onda.

E buscando na internet, li na Zero Hora de Porto Alegre, os manifestantes cantaram não o hino brasileiro e sim o hino riograndense. Em Porto Alegre, ou melhor, no Rio Grande do Sul, as coisas são um pouco diferentes do que no resto do país.  

Participei de muitas manifestações na adolescência, quando era punk. Íamos para São Paulo e participávamos das passeatas. A que mais me marcou, já devo ter contado aqui, foi quando ao nos perdermos do pessoal da BS (baixada santista) na dispersão da passeata no Vale do Anhangabaú, voltamos para a Praça da Bandeira (onde iniciou a passeata) e os carecas nos encontraram e o Ronaldo levou um chute na boca. Era um feriado de 7 de setembro, talvez de 87, 88. 

Bem, tomara que essas manifestações façam o Brasil acordar e o povo passe a cobrar mais dos políticos, que fazem o que querem com nosso dinheiro. Espero que eles comecem a ficar com medo do povo. Vamos ver o que a mídia vai falar e o quanto vai criticar dos manifestantes. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

FAROESTE CABOCLO - O FILME


"... sentindo o sangue na garganta...
e se lembrou de quando era criança e de tudo que vivera até ali...."

Assim começa o filme Faroeste Caboclo. E transcorre o filme em flashback, ora de momentos da infância de João e que explicava algumas atitudes atuais, ora de momentos próximos ao presente da trama, também com a intenção de explicar detalhadamente algo que a letra da canção deixa na imaginação de cada um.

Lembro do meu irmão Renato questionando, quando escutávamos a canção e refletíamos sobre a letra, ainda crianças, sobre o fato de que todos ao chegarem ao leito de morte, passava pela cabeça um filme da vida da pessoa. 

Assim como a canção, o filme é uma catarse. Todos esperando o drama acontecer, todos sabendo o passo a passo da história, mas em um silêncio agoniado, trazendo à tona os diversos sentimentos que a canção suscita.

Tecnicamente o filme tem alto nível. Fotografia e diálogos bem estruturados, interpretação magnífica de bons atores, destaque para o trio de protagonistas, Fabrício Boliveira (que convence demais como João de Santo Cristo), Ísis Valverde (a Maria Lúcia rica, solitária e em crise existencial) e Felipe Abib (o violento traficante Jeremias), e também as boas interpretações de Antônio Calloni e o uruguaio César Troncoso. 

Dirão os incautos, que parece estar assistindo à Globo no cinema. Li algumas críticas a respeito. Realmente todos são profissionais do 'cast' da emissora citada, mas isso não diminui o talento deles, não é demérito. Pelo contrário, o talento de cada um deles faz com que estejam participando das novelas da Globo, gostemos ou não.

E, ao contrário do que li antes de assistir ao filme, João de Santo Cristo não é retratado como um bandido, não é um filme violento e nem tão pouco há cenas de sexo e do uso de drogas. É um filme tão bonito e sensível quanto a canção que o inspirou. Tampouco é um filme de amor; é sim um filme sobre a árdua luta pela vida, das agruras e angústias que nossa existência nos faz sofrer; dos momentos de intensa felicidade e de profunda tristeza; dos sentimentos, amor, ódio, injustiça e tantos outros que formam esse turbilhão que somos.

O filme não trata diretamente nenhuma questão social ou política da capital em plena ditadura militar do final dos 70 e início dos anos 80. Na verdade apenas retrata jovens que no meio do tédio e do concreto procuram uma fuga para o marasmo e a falta do quê fazer, no caso, o que fica mais evidente são as drogas e o rock. O tédio tem com pano de fundo a canção da "Legião Tédio com Um T (Bem Grande Prá Você)" que toca em uma festa; de crítica social mais contundente somente a canção da Plebe Rude "Até Quando Esperar", que tem uma letra perfeita, um verdadeiro hino.  

O legal do filme é assistir às cenas que sempre imaginamos e só concretizamos em nossos pensamentos e quisemos assistir quando escutamos a música. Nesse quesito, esperava um pouco mais do filme, na verdade que fosse uma cópia da música, o que não é.  

Involuntário e até mesmo natural, é ficar procurando os versos da canção em cada cena que passa na telona. Quase que mecânico.

Prova de que as histórias de Renato Russo são sucesso e que são mais do que nunca atuais, foi a peça publicitária de uma operadora de celular que era um clipe de Eduardo e Mônica, que bombou na internet ano passado ou retrasado, para o dia dos namorados, assistido por milhões em poucos dias.

Faroeste Caboclo o filme deixa aquela mesma sensação de injustiça que a música deixa, e que irrita ao ver João sempre se fudendo e Jeremias se dando bem. Mas a forma como ele trata a traição da Maria Lúcia foi surpreendente, ao menos para eu, que nunca pensei da forma que o diretor René Sampaio. Isso redime um pouco esse ar de injustiça. Sempre pensei que o lance da traição tivesse rolado por uma aproximação natural entre Jeremias e Maria Lúcia, com a ausência do João, mais por pilantragem da guria.

Lembrei de dois amigos meus de infância/ adolescência, hoje pais de família, como eu, fãs incondicionais da Legião, que devem ter ido à pré estréia ansiosos para serem os primeiros a assistirem ao filme: Zé Renato e Ronaldo. E senti como se eles estivessem comigo, mesmo que cada um em uma cidade (o primeiro mora em Santos; o outro mora em São Paulo) e distantes por algumas centenas de quilômetros. Era como se estivéssemos juntos e voltássemos vinte e tantos anos, numa tarde de sábado, em Santos, quando nos reunimos na casa do Zé Renato, que havia comprado o disco naquela semana, para escutarmos pela primeira vez (e nos emocionarmos em silêncio, cada um com seus sonhos e sentimentos) a história de João de Santo Cristo.

No final os letreiros sobem com os primeiros acordes da canção que inspirou o filme. E dezenas de pessoas ficam em seus lugares, até o final dos 9 minutos que a canção tem. Nada mais normal que, depois do filme, todos fiquem sedentos de escutar a canção quilométrica. E pela primeira vez eu vi o público lendo os créditos de um filme.

domingo, 5 de maio de 2013

SOMOS TÃO JOVENS - A HISTÓRIA DE RENATO RUSSO



De novo. Estou novamente escrevendo sobre o filme que conta a adolescência do Renato Russo e suas esquisitices. Na verdade o filme pega leve e não explora a dependência alcoólica do roqueiro e nem o abuso das drogas. Mas é um filme visceral. Porque mostra a obra de Renato no final dos 70 e início dos 80. Em entrevista, o diretor Antônio Fontoura já sinalizou com uma continuação, inclusive com a anuência da família de Renato. Podem ter certeza, escrevam isso, terá uma continuação, sem dúvida. Isso porque o filme acaba quando a Legião viaja para o Rio no primeiro show no Circo Voador. E deixa um gostinho de quero mais.

Primeiramente, quero deixar claro que não estou escutando Legião ou Aborto Elétrico enquanto escrevo esse post. Seria muito óbvio e não gosto de soar previsível. Nem estou escutando os heróis de Renato e da 'tchurma' (e nossos) como Joy Division, Stif Litlle Fingers ou Sex Pistols. Como escrevi, seria óbvio. Estou curtindo o último disco do Ludov, Caligrafia, enquanto aguardo o novo, depois deles terem lançado 3 EP's seguidos.

Mas, ao filme!

Ele é visceral porque mostra o Aborto e o início da Legião em sua essência totalmente roquenroll, baixo, bateria e guitarra, três acordes e letras engajadas, gritadas (mas não desafinadas); para os fãs de rock é imperdível. Para os fãs da Legião, nem se conta. Para quem Renato foi um dos maiores letristas do rock brazuka então, deve assistir mais de uma vez. Porém, para quem não curte e tá pouco se lixando, quer apenas assistir a um bom filme, convido a passar longe das salas de cinema que estão reproduzindo o filme. Isso porque ele deixa a desejar.

O filme inicia com uns diálogos fracos e parece forçado, soando falso, de Renato com aqueles com quem se relaciona: os pais, o pessoal da Colina, Aninha, uma personagem fictícia. O filme tenta demonstrar que Renato criava em cima de tudo o que ocorria ao seu redor, por exemplo Ainda É Cedo, Faroeste Caboclo, fruto da amizade colorida com Carlinhos, que o leva para Taguatinga, uma das cidades satélites de Brasília. Mostra Renato revoltado contra a ditadura militar, coisa que os jovens de hoje não entenderiam, frente à liberdade de expressão que têm, a obsessão dele em montar uma banda de rock e de se tornar um rock star. Muito das entrevistas e dos livros que foram escrito sobre ele estão no filme. Mas em pouco mais de uma hora de filme não dá para ser muito aprofundado. Estão lá quando Renato planejou sua vida dos 20 aos 40 rock star, dos 40 aos 60, quando ele informa a mãe que prefere meninos à meninas e outras passagens da vida dele. 

Em algumas passagens dá vontade de levantar e sair cantando. A telona e o som empolgam a platéia. Há um desfile de canções punks de Brasília, umas da Legião e outras do Capital Inicial, como Fátima, Veraneio Vascaína, Música Urbana, Geração Coca Cola, O Reggae, Ainda é Cedo, Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica, dentre outras. Curiosamente, a canção que tem os versos que dão nome ao filme, Tempo Perdido, não toca.

Me identifiquei muito em algumas passagens do filme, quando ele vai nas festas com o visual punk rocker e levava fita de bandas punks para escutar e causava não só o desconforto, como a curiosidade dos outros; isso acontecia comigo e com meus amigos punks na Baixada Santista, quando íamos às festas todos rasgados e esquisitos, com nossos discos preferidos a tiracolo para colocar na primeira oportunidade e podermos nos divertir um pouco. 

Aos desavisados, dá a falsa ideia de que o punk nasceu na Inglaterra, o que na verdade não ocorreu. O embrião do punk nasceu na Nova York do final dos 60, início dos 70, com diversas bandas como New York Dolls, Ramones, The Stooges, Television, The Dead Boys. Só que na Inglaterra o punk se 'popularizou' e invadiu o mundo, quando Malcoln McLaren levou a ideia que viu nos EUA e criou os Sex Pistols.

No final, uma surpresa bem legal, que não vou estragar. Vá ao cinema e veja com seus próprios olhos e ouvidos. E se divirta!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

SOMOS TÃO JOVENS - O FILME


Hoje estréia nas salas de cinema de todo o país o filme Somos tão Jovens, que retrata a juventude do astro Renato Russo, do Aborto Elétrico à Legião, provavelmente passando pela época do Trovador Solitário, período entre as duas bandas. Mais um filme para colocar em evidência o mito do roqueiro carioca radicado em Brasília, que morreu há quase 17 anos, precocemente aos 36 anos. E aumentar a idolatria de todos. 

Até quem não gosta de Legião conhece a história. Acredito que o maior desafio dessa película é não cair na mesmice que a própria banda caiu após seu final ao fazer diversas regravações de suas canções, sendo um desses discos nomeados como "Mais do Mesmo", a canção que finaliza o 3º disco da banda, que tem dentre as canções, Faroeste Caboclo; em suma, que o filme não seja mais do mesmo. 

É mais um filme da trilogia que conta a história do rock de Brasília, que ajudou a criar um movimento involuntário nos anos 80 que geraram a alcunha rock brazuca. A trilogia começa com um documentário que por Londrina passou quase desapercebido, intitulado Rock Brasília: Era de Ouro, continua com o filme que estréia hoje e culmina com a estréia de Faroeste Caboclo no dia 31 deste mês. 


O primeiro filme, quando fui assistir, em uma noite de sábado no ano passado, quando estava em cartaz em uma sala em Londrina, tive o privilégio de assistir ao filme com exclusividade, pois só se encontravam no cinema eu e a Juliana. O cinema inteiro só para nós! O que não acontecerá com Somos tão Jovens e nem com Faroeste Caboclo, que acredito será um dos filmes nacionais com a melhor bilheteria dos últimos anos, quiçá de todos os tempos.

De qualquer forma, serei um dos expectadores desses dois filmes que têm tudo para ter grandes bilheterias. Embora eu conheça essa história afundo, é uma forma de assistir àquilo que tanto li ou escutei em toda a minha vida. E a idolatria pelo rock, por alguns astros do rock só será fortalecida depois desses filmes. Sem explicação, o mito será maior do que já é. Afinal, quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração?


domingo, 14 de abril de 2013

FAROESTE CABOCLO - O FILME

Depois de uma longa espera, de mais ou menos dois anos, estreias marcadas e adiadas, finalmente a saga do anti-herói João de Santo Cristo chegará à telona. A história, baseada na letra da quilométrica canção de Renato Russo e da Legião Urbana, tem um elenco Global (quem diria, os tempos mudam, se nos aos 80 a canção tinha que ser cortada para poder tocar no rádio, que tentou boicotar por causa dos palavrões e da própria temática, mas não conseguiu porque caiu no gosto da galera, contra todos os prognósticos, onde se viu uma canção de 9 minutos fazer sucesso?) com Isis Valverde, Fabrício Boliveira, Marcos Paulo em sua última aparição em vida, Antônio Calmon, Felipe Abib, dentre outros.


Lembro a primeira vez que escutei a canção. O ano era de 1987, se não me engano, pois foi o ano em que o disco foi lançado. Naquela época acompanhávamos as informações pelo rádio e pelas revistas de rock, como a Bizz, que eu tinha assinatura. E todos os anos era aquela expectativa dos discos que seriam lançados. Muitas vezes ficávamos nas portas das lojas de discos para comprar. E assim foi em um dia de 1987, quando o Zé Renato comprou o disco. Foi o primeiro a comprar e nos chamou para uma audição. Como ele já o tinha feito, ía explicando cada canção que entrava. 

O encarte era uma coisa de outro mundo, luxuoso, com as ilustrações do Bonfas, já nos deixava extasiados. E música após música rolando, até que muda o lado e começa Faroeste Caboclo. Era necessário acompanhar com o encarte a letra, pois era fascinante.  



Apesar da letra enorme todos conseguiam decorar. Cansei de pegar o violão e tocar em casa e onde quiser que estivesse e encontrasse um violão. Engraçado que até hoje não aprendi a tocar essa canção...

As letras da legião sempre nos inspiravam. Lembro que fiz uma letra quilométrica como a de Faroeste, mas, graças a Deus, se perdeu com o tempo. Agora, estamos prestes a assistir o filme... tenho certeza que será uma grande bilheteria, porque a canção agrada a todas as tribos. E caso não agrade, quem gosta de música, mesmo que não curta Legião e Faroeste Caboclo, assistirá pela curiosidade. Acredito que será a maior bilheteria do cinema nacional. Mesmo porque, em menos de 48 horas, o trailer do filme teve mais de 1 milhão de acessos no Youtube. Vamos conferir!  

domingo, 7 de abril de 2013

THE BEATLES - SOMETHING

Essa é talvez a canção mais romântica dos Beatles e uma das mais conhecidas e adoradas. Entretanto, falar de Beatles, além de ser senso comum e de ser unanimidade, não dá para dizer que esta ou aquela é a canção mais importante ou mais legal ou mais algum coisa. Votar nas mais mais dos Beatles seria passar algumas boas horas (de preferência tomando o famoso chá das 5 britânico) discutindo. Só para começar, já fui louco por All You Need Is Love, Hello Goodbye, All My Loving, Here Comes The Sun... porra, tem tanta que acho que dá para escrever umas dezenas de canções.

Mas para essa tarde de domingo chuvosa e cinzenta, Something parece combinar mais.



Algo

Algo no jeito que ela se move que
Me atrai como nenhum outro amor
Algo no jeito com que ela me convence
Não quero deixa-lá agora
Você sabe que acredito e muito
Em algum lugar em seu sorriso ela sabe
Que não preciso de outro amor
Algo em seu estilo que me mostra

Não quero deixa-lá agora
Você sabe que acredito e muito

Você me pergunta se meu amor vai crescer
Não sei, não sei
Fique por perto e você verá
Não sei, não sei

Alguma coisa no jeito que ela entende
E tudo que tenho que fazer é pensar nela
Algo nas coisas que ela me mostra

Não quero deixa-lá agora
Você sabe que acredito e muito

sábado, 6 de abril de 2013

OS GAYS E A SOCIEDADE ALTERNATIVA


Nunca fui preconceituoso com as minorias. Aliás, de certa maneira, sempre me identifiquei com as minorias. Ainda na adolescência não suportava a discriminação, qualquer tipo de discriminação. Sempre tive amigos negros e para falar a verdade, tenho um pezinho em alguma senzala, embora meu tio Luiz tenha me informado que os Silveiras são descendentes de uma tribo nômade do Oriente Médio.

Lembro que nos anos 80, os gays eram uma minoria enorme, com o perdão da contradição que rima. E sim, nessa época, confesso ter preconceito contra os gays (me contradizendo ao parágrafo anterior). Fruto da minha criação em uma sociedade que vivia o final de ditadura e de conservadorismo extremo. Quando entrei na faculdade, em 1991, só tinha homossexual no Câmpus. Exagero, mas eram a grande maioria. No curso de Psico, no curso de Letras, eram a maioria. Comecei a conviver com os homossexuais e meu preconceito caiu por terra. Claro que desde que me respeitassem, não via problemas.

Foi nessa época, provavelmente influenciado por ideologias que me fizeram ser punk e do contra já nos anos 80, oriundo não só da vontade de mudar o mundo, mas também de transformar este em um lugar melhor para se viver, buscar quebrar as normas e mudar o status quo, comecei a pensar, mais maduro do que quando era punk, em como poderia, na prática, mudar o mundo. E comecei a me interessar pelo mundo gay, científica, ideológica e filosoficamente, importante deixar bem claro.

Comecei a pensar que talvez os gays fossem os agentes de mudança, aquelas mudanças que os hipies nos anos 60, 70 pregavam e que tentaram através de algumas experiências de sociedades alternativas na prática e que por algum motivo que não dá para ser aprofundado nesse momento ou sem um estudo mais aprimorado, não deu certo; o que os socialistas, os marxistas ou mesmo os nazistas tentaram impor com suas idéias de revolução. Ou seja, uma nova sociedade, uma nova ordem social.

E durante a faculdade pensei em estudar a 'sociedade gay', pensando que eles poderiam ser os responsáveis por essa nova ordem, onde as coisas seriam diferentes. Os anos se passaram e a vida foi seguindo o seu rumo e eu seguindo os meus caminhos e me afastando de algumas idéias, ideais e certezas pré-concebidas que se mostraram não ser tão certas.

Pois bem, essa semana, assistindo ao jornal na televisão, me deparei com a notícia de que os cartórios do Paraná poderiam fazer casamentos homo-afetivos (agora é assim que se chama, o termo politicamente correto). Ao ver tal reportagem pensei com meus botões: "o que os gays sempre quiseram não era uma nova ordem social e sim as mesmas coisas que os héteros. Ou então, para serem aceitos, foram se adaptando ao sistema ao longo dos anos."

Já a alguns anos vinha percebendo esse movimento dos gays, desde que começaram a desejar construir famílias como a que conhecemos e denominamos como família nuclear, tendo pai, mãe e filhos, ter descendentes e dar continuidade à espécie.

No final das contas, como o marxismo, como o socialismo, a sociedade alternativa dos gays demonstrou ser apenas mais um equívoco que as certezas não absolutas nos prega. E como o capitalismo e suas transformações/ transmutações pelo qual passou ao longo de sua hegemonia (e para mantê-la), os gays também foram se adaptando às exigências da sociedade para deixar de ser uma aberração (como era antigamente) para ser algo tolerável hoje e no futuro próximo, ser algo normal dentro da sociedade.

O que tirar de lição sobre isso? Talvez que o status quo nunca será vencido e sempre que estiver correndo perigo, promove uma transformação que soa como algo revolucionário, mas apenas algo que se permite para se manter tudo como está. Se há os '"revolucionários", os "idealistas", os que lutam por um mundo diferente, é porque o sistema permite, para ele próprio poder se manter. E assim seguimos ao longo dos anos, décadas, séculos... lutando pela utopia.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

THE CRANBERRIES - DREAMS

Trilha sonora dessa quinta feira 'outoniana', contagem regressiva para o final de semana. 



Sonhos

Oh minha vida
Está mudando todos os dias
De todas as maneiras possíveis

Embora meus sonhos
Nunca sejam exatamente como parecem
Nunca sejam exatamente como parecem

Eu sei que já me senti assim antes
Mas agora eu estou sentindo ainda mais
Porque isso veio de você

E então eu abro os olhos e vejo
A pessoa caida aqui sou eu
Uma maneira diferente de ser

La larara larara larara la

Eu quero mais,
Impossível ignorar
Impossível ignorar

E eles se tornarão realidade,
Impossível não se tornarem
Impossível não se tornarem

E agora eu lhe digo abertamente
Você possui meu coração então não me machuque
Você é o que eu não pude encontrar

Uma mente totalmente incrível
Tão compreensiva e tão gentil
Você é tudo pra mim

Oh minha vida
Está mudando todos os dias
De todas as maneiras possíveis

Embora meus sonhos
Nunca sejam exatamente como parecem
Porque você é um sonho pra mim, um sonho pra mim

domingo, 24 de março de 2013

THE STROKES - 80's COMEDOWN MACHINE

Outra das minhas canções prediletas do novo álbum do The Strokes. A letra enigmática diz tudo. Pura poesia! Escute com a letra em mãos. Dispensa comentários,



Máquina do Tempo Dos Anos 80

Esta não é a primeira vez
Que eu vi você
Passando
Eu tentei muito
Conseguir voltar lá
Mas você não está a tempo
Não mais

Tente acreditar em você
Pela segunda vez
Você disse que os muros se fecharam
Mas está se arrastando

Novamente para dentro

Então por favor
Fuja
Então por favor
Fuja

Tentei acreditar nisto
Uma segunda tentativa
Lá está, no cofre
Por quê você não
Fecha as cortinas

Para a noite?

Então por favor
Fuja
Então por favor
Fuja

Então por favor
Fuja
Então por favor
Fuja
Fuja
Então por favor
Fuja
Fuja

THE STROKES - CHANCES

Estou escutando incessantemente o novo disco do Strokes, intitulado Comedown Machine. Além da música título, belíssima, outra que não sai da minha cabeça é Chances. Uma letra cativante e um som tranquilizante, que me faz pensar: sim, a música tem salvação. A máquina do tempo da música de volta ao bom e velho som salvador. Acredito que minha fascinação pelo assunto (volta ao passado = máquina do tempo) influencie na minha fascinação por esse novo disco. Mas claro, são eles, The Strokes, a banda de Julian Casablancas e cia. Impensável não ouvir, indispensável!


Chances
Eu esperei por você
Eu esperei por você
Esperei em você
Mas agora não mais


Você não viu
Eu não vi
Eu não vi
Mas agora, oh, eu vejo


Eu jogo o seu jogo
Eu jogo o seu jogo
Agora
Eu jogo o seu jogo
Eu jogo o seu jogo


Eu tento minha sorte sozinho
Ponha-se em seu lugar e vá embora
Eu não vou esperar mais por você acordado
Então pode me perguntar se algo está errado
Garota
Eu não sei mais


Quando a noite não está preparada pra você
É um sentimento que eu sei que os cães sentem
Eles convidaram uma comissária de bordo, também
Agora eles querem que você veja
Aqui está, a dias ele decidiu que tem tempo
E ele afirma que não é uma surpresa
Quando descobre que a verdade está do lado dele


Eu tento minha sorte sozinho
Ponha-se em seu lugar e vá embora
Eu não vou esperar mais por você acordado
Então você pode me perguntar se algo está errado
Garota
Eu não sei mais
Não acredito em ninguém
Enquanto eles rastejam pra longe de mim


Esperando pela noite
Partindo noite por noite
Você pode me ver viajar
Nós poderíamos estar em apuros todas as noites
Nós estamos em uma nova vida.

sábado, 23 de março de 2013

THE STROKES - COMEDOWN MACHINE


A banda nova yorkina The Strokes está de volta e lança essa semana (mais precisamente no dia 26 de março) seu quinto álbum. E isso vale, logicamente um post. Depois do lançamento da polêmica One Way Trigger, que fez com que muitos fãs brasileiros decretassem a morte da banda. Isso porque a canção tem um tecladinho sem vergonha que lembra as músicas tecno bregas. Mas um exagero, porque a música é boa, basta tirar o teclado escroto, tem uma letra interessante e um Julian Casablancas cantando em falsete que dificilmente conseguirá repetir ao vivo com a mesma afinação. 

Depois de lançar 3 discos muito bons, veio Angles que sofreu algumas críticas pela proximidade com o som eletrônico. Normal a crítica, porque os 3 primeiros discos beiram a perfeição. Então o que se espera é outro perfeito. Curti bastante o Angles, mas claro que minha preferência sempre cai no Is This It? com a minha canção predileta Someday. Angles guarda algumas pérolas como Under Cover of Darkness, Taken For a Fool e Gratisfaction. 

O novo dico começa com a eletrônica Tap Out, uma aproximação com o tecnopop do New Order dos anos 80 e com retoques setentistas, seguida de All The Time, que traz o velho Strokes de sempre; a terceira canção a polêmica One Way Trigger, que escuto insistentemente, ao contrário de todos, gosto muito; Welcome To Japan traz o clima dos discos anteriores; 80's Comedown Machine tem tudo para ser um grande hit do álbum; 50 50 traz um clima mais intimista e mostra a banda mais tranquila; uma bela canção.

Slow Animals vem no mesmo clima de All The Time e 80's Comedown Machine, assim como a seguinte Chances e até o final dá para notar que eles estão de volta (mesmo que Happy Ending traga o flerte com o eletrônico de Angles e Call it Fate Call it Karma que fecha o disco com uma participação especial), fazendo o que de melhor sabem fazer, um som agradável e de qualidade. O susto de One Way Trigger está desfeito. Saboreiem! Vale à pena, como sempre; afinal, é o Strokes!

sábado, 16 de março de 2013

EU NÃO USO DROGAS


Li o texto do Tico Santa Cruz aqui e posso dizer que concordo com muito do que está escrito. Vou discordar quando ele fala que a questão da droga é uma questão de saúde pública e apenas de saúde pública. Também é uma questão de polícia, porque a partir do momento que envolve crianças e adolescentes sem maturidade para discernir o efeito que uma droga pesada pode fazer ao próprio corpo e que é vendida por um filho da puta de um traficantezinho de merda que fica rondando a gurizada nas escolas, nas pistas de skates, shoppings, para vender a droga para eles.

Seguindo o seu raciocínio, que é bastante coerente, qualquer um dirá que é a favor da liberalização das drogas. O controle seria maior, como o são com os remédios controlados vendidos nas farmácias e que enriquecem cada vez mais a indústria farmacêutica. Isso porque é mais fácil comprar cocaína, maconha e qualquer ácido do que um remédio de tarja preta, que exige receita médica. Porém, muitas pessoas conseguem comprar esses remédios através de algum tipo de suborno, seja comprando receituário ou mesmo subornando os atendentes das farmácias. Vivemos num mundo capitalista, onde a corrupção é uma realidade próxima (assim como as drogas) de todos nós. Ao contrário do que a hipocrisia que toma conta de todos versa, no meu prédio, na tua rua, em todos os lugares há corruptos, não apenas onde os políticos se encontram; em nossa sociedade capitalista voraz, todos são passíveis de se vender por trocados.

Dizem que a maconha é uma droga inocente; que não vicia e que não faz mal algum, que o cigarro, que é permitido, faz mal pior do que um baseado. Não sei dizer quem está com a razão, mas posso dizer que usar maconha é uma transgressão e para os jovens, transgressão está associado ao prazer, a conquistar a admiração do outro, a se autoafirmar. E daí para outra droga mais pesada para continuar mantendo o fascínio dos colegas, é um passo. E como é muito fácil conseguir, se tornar um viciado e ir para o fundo do poço não fica longe.

Pode parecer exagero... talvez o seja. Mas a maioria das vezes é o que acontece. Todo mundo começa com maconha e dali vai testando outras drogas para ver se o barato aumenta. Quando entrei na faculdade, em 1991, claro que tinham zilhões de maconheiros e gente que usava outros tipos de drogas. Tinha um tal de chá de cogumelo que o pessoal comentava ser alucinógeno; era febre entre os universitários da Unesp daquela Assis de início da última década do século passado. Esse cogumelo era fácil de encontrar e de graça, porque entre a minha casa e o campus da Unesp havia um pasto e era lá que a galera encontrava a  matéria prima do chá. Eu morava em uma república que os caras faziam suas festas regados a maconha e muita bebida; passava tardes jogando xadrez com um dos meus colegas de república, ele fumando um baseado e eu sem nada e ele ainda ganhava de mim... (Wagner, saudades dessa época). Cheguei a experimentar maconha poucas vezes, não achei graça e nunca desejei utilizar outra droga; tomei um porre nessa mesma época em um churrasco em casa e passei tão mal que por meses não podia sentir o cheiro de churrasco que me nauseava. Essa foi minha experiência mais pesada com drogas. Sempre tive medo de viciar em algo. Tenho um pé no hedonismo e isso corroborou para o meu medo. Nunca tomei o tal chá, nem por curiosidade.

Depois disso nunca mais bebi, no máximo um vinho de vez em quando e uma champagne no ano novo. Nada mais. Não bebo e não fumo. Respondendo ao questionamento que o Tico Santa Cruz faz, não uso nenhum tipo de droga, nem as lícitas, muito menos as ilícitas. Quando estou com dor de cabeça, procuro desenvolver alguma atividade menos estressante até que a dor passe; levo uma vida saudável, com atividades físicas que mantém minha saúde em bom estado; faço academia e nunca tomei nenhum tipo de medicamento para ficar bombado, embora perceba que o resultado de muitos é diferente do meu, bem mais lento; nunca precisei de remédios para dormir, nem nos meus piores dias, quando durmo muito pouco. Costumo nesses dias me ocupar de algo produtivo, como ler um livro, escutando um boa música ou assistir a um filme. Aliás, a música e a leitura é que me fazem viajar. Talvez essa sensação de bem estar seja semelhante a que as pessoas têm ao estar sob o efeito das drogas.

O uso da droga tem relação com o imediatismo de nossa sociedade, da dificuldade em lidar com as emoções, com as angústias; o uso das drogas está ligado com a falta de tempo, com o ritmo de vida, do dia a dia que levamos, em que segundos 'perdidos' em uma sinaleira fazem diferença. A utilização de drogas está ligada a nossa inabilidade em lidar de forma madura com a dor que é viver, com a falta de paciência. Tem relação com não sabermos lidar com a tristeza e com a ditadura da felicidade; quem não é feliz, não sai de casa, não consome, não gasta dinheiro. 

De qualquer forma, não acredito em soluções milagrosas no caso das drogas. Primeiro porque é algo muito profundo a ser discutido. Acredito que todos devem estar envolvidos nesta questão: comunidade, família, autoridades; além disso é necessário vontade do poder público, investimentos altos em programas educacionais, mas também a aproximação maior da família; e quando falo de poder público incluo verbas para conscientização e educação, mas também em treinamento das polícias para saberem abordar adequadamente os usuários, e agindo de forma mais acintosa quando se tratar de traficantes; porém, antes de tudo, precisa separar os bons dos maus policiais, dos que abordam apenas para tomar a droga do usuário e usufruir da mesma e dos que agem de acordo com a lei.

O problema é complexo demais. É com reflexões e boa vontade que a sociedade pode superar. Sem taxações e generalizações. Esse é um caminho. Há outros, a discussão é longa!     

domingo, 24 de fevereiro de 2013

OSCAR 2013 - RESUMÃO


Hoje é a noite do Oscar 2013. Desde que mudou a indicação passou de 5 para 10 filmes, não tinha conseguido assistir a todos os indicados. O problema é que em Londrina não passam todos os filmes. Outra característica dos cinemas de Londrina é que um dos filmes indicados (e um dos que mais gostei) As Aventuras de PI, passou nas salas de cinema somente dublado, uma vergonha, ir ao cinema e ter que assistir a um filme, candidato ao Oscar, dublado. Por isso não fui assistir. Acabei assistindo no computador, como os demais que não entraram em cartaz por essas plagas, como é o caso de "Amor", que assisti nesta tarde.

Amor, o último que assisti, é um filme francês, que conta a história de um casal de idosos e levam uma vida ativa, quando de repente Anne sofre um AVC e tem toda a parte direita do corpo paralisada. George, seu marido, passa a cuidar da esposa com todo cuidado, mas Anne sofre um segundo AVC que agrava a sua situação. O filme começa pelo final, passo a passo demonstrando como chegou a isso. E daí, do final é que se entende melhor o nome do filme.

No sábado passado assisti, também pelo computador, Indomável Sonhadora, que estreou nas salas de Londrina esse final de semana. Conta a estória da pequena Hushpuppy, que vive em uma comunidade miserável, criada pelo pai doente. Hushpuppy é criada como se fora um menino, para ser forte diante de um futuro duro e difícil, como é de se esperar por toda a comunidade. Um filme muito interessante, uma vez que dificilmente vemos a pobreza e a miséria que alguns norte americanos vivem.

Os Miseráveis, baseado na obra de Victor Hugo é um musical e conta a estória do sofrimento de Jean Valjean, que é preso por roubar um pão para comer e sofre exageramente em uma prisão, perseguido por um autoritário inspetor Javert. A estória, um clássico do escritor francês, cujo nome do meu filho mais velho foi uma homenagem e pela admiração ao escritor por este que escreve, se passa durante a Revolução Francesa e é uma crítica social da França do século XIX. O filme é uma adaptação de uma peça da Broadway e também é um musical. Isso estraga o filme, mas vale à pena pela obra de Victor Hugo, pois a estória é muito boa. Quem não gosta de musical e não conhece a obra, com certeza odiará.

Django Livre foi o primeiro que assisti. Quentin Tarantino dispensa apresentações; é um Western dos bons, com muito sangue jorrando pela tela. Uma excelente estória tendo como pano de fundo a escravidão. Assim como Lincoln, que trata da escravidão, indiretamente, pois conta a estória do presidente dos EUA Abrahan Lincoln e sua luta pela abolição da escravatura. É uma história ufanista, demonstrando o presidente como um herói. Ufanismo também é o pano de fundo de Argo, que conta a verídica história de diplomatas americanos que se esconderam na Embaixada do Canadá quando todos os americanos foram presos no Irã, em 1979. A revolta contra os americanos por parte dos iranianos se dá por conta do asilo político dado ao xá que antecedeu ao Aiatolá Khomeini. A Cia então, através de um de seus agentes (Tony Mendez) tem a idéia de fingir que iriam filmar um filme de ficção no Irã. Uma vela história, verídica, que só foi desvendada pelo filme, até então um segredo de Estado e do serviço de inteligência americana. Destaco, como curiosidade, a incrível semelhança entre os personagens do filme e os da vida real. Se o Oscar for para esse filme, pois é um dos favoritos, estará em boas mãos.

O lado bom da vida não é nem um filme de amor e também não é uma comédia, como foi difundido, embora contenha elementos desses dois tipos de enredo; na verdade é um filme sobre a perda, de quão difícil é para algumas pessoas elaborarem e superarem o luto porque passamos ao longo de nossa vida. Sendo assim, o filme é um drama psicológico, muito bem desenvolvido, dirigido e encenado por atores do porte de Robert De Niro. Um dos indicados que mais gostei. Assim como As Aventuras de PI, uma inusitada estória sobre um rapaz indiano que passou por um naufrágio e sobreviveu por semanas ou meses, com um tigre chamado Richard Parker. Mais inusitado o nome de PI, que na verdade é Piscina Patel, nome batizado por um tio bem próximo do seu pai, que gosta muito de nadar e tem como preferência uma piscina pública de Paris e resolve homenagear a mesma dando o nome ao filho do amigo. O filme é uma mistura de Naufrago com Forest Gump. Uma curiosidade do filme é que o livro, escrito pelo canadense Yann Martel no qual é baseado foi inspirado no livro do escritor gaúcho Moacyr Scliar chamado Max e os Felinos, que contra a estória de um refugiado judeu fugido da Alemanha cruzando o oceano em um bote com um jaguar. Scliar, que faleceu em 2011. O canadense, por um tempo, foi acusado de plágio. É o meu filme predileto, mas dificilmente vencerá.

A hora mais escura, que conta a estória do assassinato de Bin Laden, uma ficção, uma vez que não acredito que os americanos tenham matado o chefe da Al-Qaeda, é outro filme ufanista e patriótico norte americano. 

Façam suas apostas. A sorte está lacrada desde a última 5ª feira.