sábado, 9 de novembro de 2013

SONINHO


Não acompanhei meus sobrinhos de perto. Tenho 3: Renatinho com 15 anos, João Vitor de 13, filhos do Beto e Victor Gabriel, filho do Rogério, que deve estar com seus 8, 9 anos, não tenho a mínima ideia. Não sei a data de aniversário de nenhum deles. Mal falo com eles. Os filhos do Beto faz muito tempo que não os vejo, acho que a última vez foi no casamento do Renato, há quase uma década. Eram pequenos. O Victor Gabriel vi ano passado. Pouco fala, não consegui um vínculo de tio, do jeito que eu gostaria de ter.

Renatinho e João Victor moram em Diadema, grande São Paulo, talvez uns 500 km a leste de Londrina; Victor Gabriel mora a uns outros 500 km, também a leste de Londrina, mas indo para o sul. 500 km a sudeste e a nordeste me separam desses sobrinhos.

Dona Sirlei teve 5 filhos, todos homens e contando com meus 2 filhos (os primeiros netos) ela tem 5 netos todos homens. Ô família difícil de sair mulher. Tentou por 5 vezes ter uma filha e acabou desistindo. Os filhos tentaram dar uma neta e nada. Até 3 meses atrás.

No dia 12 de julho (mesmo signo do Gui, que nasceu no dia 3), às 8hs04min, na Casa de Saúde de Santos, nasceu a Luiza Caetano Silveira. O mesmo sobrenome dos meus filhos, porque a Luciana é Caetano dos Santos. Como meu irmão jamais colocaria Santos no nome de um filho, escolheram o Caetano e foi batizada com os mesmos sobrenomes dos primos. No futuro serão confundidos como irmãos.

Enquanto estou escrevendo esse post me surgiu uma dúvida: será Luiza ou Luíza (como um acento pode fazer tanta diferença?).


Para quem já tem filhos, ter sobrinhos não chega a ser uma novidade daquelas. Claro que seria legal ter uma convivência mais próxima dos meus sobrinhos, ver crescê-los, ensinar algumas traquinagens que já ensinei para os meus filhos, dar risadas, influenciar no gosto musical, torcer (e sofrer) para o IMORTAL TRICOLOR junto, não ter a obrigação de ficar reprimindo as bagunças deles, como os pais têm que fazer, seria afudê.

Com a Luiza é diferente. Ela é a única guria da família até aqui. Para ter outra, acredito que só com as bisnetas da D. Sirlei. Se vierem gurias. O Rogério tem um filho, não acredito que terá outro; o Beto, com 2, também dificilmente contribuirá para a superpopulação do mundo; o Fábio já disse que não terá herdeiros; eu tenho meus dois que já me dão uma caralhada de trabalho; o Renato, pai fresco, não pensa nisso nesse momento. Sendo assim, Luluzinha do tio, tu és a princesinha da família e será adulada por todos. 

Conheci a Luluzinha (ou Beca, como o pai a chama) essa semana. Estive em Santos depois de 4 anos, especialmente para conhecê-la, pegar no colo, levar para passear, nanar no colo do tio preferido dela, brincar, fazê-la sorrir e dar gargalhadas, enfim, curtir a princesinha da família. Foi uma sensação incrível. Ela cativa qualquer um. Infelizmente não pude dar umas voltas pela praia porque choveu o tempo todo, mas consegui fazê-la dormir diversas vezes no meu colo. E que guria dorminhoca. Um sossego, só mama e dorme, quase não dá trabalho. E fica observando o mundo à sua volta, tentando conhecê-lo pela boca. 

Agora pretendo utilizar muito a ponte aérea Londrina-São Paulo, com parada em Santos, via busão, para visitar com frequência a guria da família; vê-la crescer, dar os primeiros passos, as primeiras palavras, acompanhar e conviver com a minha sobrinha predileta. Espero ser um tio legal para ela, não um que fique levando presentes dos mais caros, mas um que consiga passar as coisas mais importantes da vida, aquelas que o dinheiro não compra. Mostrar para ela como é afudê escutar os grandes clássicos do rock, se emocionar com um belo filme alternativo, dar risadas na frente da tv com qualquer bobagem, sofrer com o Grêmio a cada jogo...

Em uma semana perdi meu pai; na outra conheci a Luiza. E a vida vai seguindo, por caminhos tortuosos, por vezes por retas e tantas outras vezes com suas diversas barreiras, que nos fazem levantar e seguir adiante. Seja bem vinda Luluzinha, a esse mundo, a essa vida, a essas loucuras. E que Deus te abençoe nessa longa caminhada que está por vir. 

Saudades, do teu tio predileto. 

Renato e Luciana, cuidem bem desse tesouro que Deus reservou para vocês.  

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ROTINA

Acorda cedo para ir trabalhar,
o relógio de ponto a lhe observar; 
no lar esposa e filhos a lhe esperar, 
sua cabeça dói, um dia vai estourar, com essa rotina!

Tudo nessa vida é um ritual. O dia a dia, por mais que seja rotineiro, não deixa de ser um ritual. Hoje, quando estava me vestindo para voltar ao trabalho após o almoço, esses pensamentos se misturavam a outros na velocidade que a mente processa as coisas: tudo ao mesmo tempo. Um pequeno inseto é capaz de gerar zilhões de pensamentos, desencadeando um tsuname de idéias, um turbilhão de sinapses. Tudo ao mesmo tempo! E sem ligação qualquer entre os devaneios. E em micro segundos, coisa que talvez nem seja possível de medir, ou de ver a "olho nu", sem qualquer aparelho de medição mais exato, passou pela minha cabeça alguns rituais meus do dia a dia. 

Acordo cedo, às cinco horas e quarenta e cinco da manhã o relógio já está despertando; taí o primeiro ritual do dia, o de levantar; é sempre uma pequena luta da cama aconchegante e macia, tendo o corpo quente da Juliana ao lado, sua respiração tranquila de um sono profundo, contra a necessidade de levantar, a obrigação e responsabilidade de começar mais um dia. Em minutos levanto, não mais do que cinco. E lá vou eu, cambaleante, sonolento, olhos semiabertos... direto ao banheiro e o segundo ritual, que é escovar os dentes, enquanto estou mijando, andando pela casa para ver se está tudo em ordem. Olho o quarto do Gui, sempre com a luz acesa. Desligo, fecho as janelas (esse é ritual dele dormir, toda uma preparação, abrir as janelas, acender a luz e deitar, sabe-se lá pensando noquê), o cubro com o cobertor jogado no chão e o lençol enrolado nas pernas; ele dá uma olhada e vira para continuar dormindo; essa olhada denota que não acordou, apenas um reflexo do barulho da porta abrindo e da luz se apagando. Então, apronto minhas roupas (ainda escovando os dentes) e vou tomar banho.

É sempre a mesma coisa: espero a água esquentar um pouco, sentindo a temperatura com os pés, até que sinto a temperatura melhor e entro embaixo, sentindo a água me relaxar, dou uma espreguiçada forte e sinto arder o olho semi fechado pelo sono e por ter recém acordado. Me seco ainda no box e me dirijo à cozinha separar meu café da manhã, que levo para o hospital: iogurte, uma banana, pão integral e mais duas frutas picadas, que a Juliana cortou no dia seguinte e acondicionou em uma dessas vasilhas pequenas de plástico. 

Faço tudo isso enquanto meu corpo vai se secando por completo para começar a me vestir; antes passo no quarto do Victor:

- Acorda filho, levanta para se vestir.

Ele mais sonolento que eu, levanta e veste a calça e uma camisa qualquer que encontra no guarda roupa, apaga a luz e volta a dormir. É cedo, já estou vestido, uma roupa confortável para caminhar os trinta minutos que me separam do trabalho. Mais um ritual desse comecinho do dia: abro a janela da sala e dou uma respirada forte para sentir o ar fresco em meus pulmões. Aproveito para ver como está a temperatura do final de madrugada. Com o horário de verão, ainda está escuro, no horizonte, ao leste, uma pequena claridade amarelada indica que logo o sol estará nascendo para mais um dia. 

Confiro minha mochila com minha armadura para o trabalho, minha roupa de super herói, para defender a minha família dos males que a pós modernidade nos causa e para enfrentar os vilões do meu trabalho (a sobrecarga de trabalho, a insensatez de uma rotina estafante...); confiro se meu crachá está na mochila, caneta, chave do RH. Tudo ok, a coloco nas costas, volto ao quarto do Victor Hugo.

- 'Tô indo filho, não vai perder a hora, daqui a pouco levanta. Tchau.

Pego o livro que estou lendo e sigo meu caminho. E começo a ler ainda na escadaria. Desço a rua até o lago e, livro em punho, olhos cá e lá, noto o movimento, lua ainda no céu, pessoas correndo, caminhando em grupo, conversando alto; ao menos eu acho, porque é como eu escuto as vozes, ao fundo, pois estou com o fone de ouvido escutando alguma coisa legal para me alegrar o dia. 

O percurso tem subidas e descidas nas ruas da planície de Londrina. E o meu caminho é arborizado, com uma natureza exuberante entornada pelo concreto da cidade. Ando na velocidade em que leio. Por vezes percebo a natureza, uma árvore que insiste em viver no meio de todo o asfalto, o lago que fica parado esperando que o vento crie algum caminho a seguir. Alguns cumprimentos de bom dia, geralmente aos idosos, que são mais amistosos e simpáticos; outras vezes tiro os olhos do livro para atravessar uma rua. Poucos são os carros a essa altura da manhã, menos do que pessoas, por incrível que pareça. Em tantos momentos me perco em pensamentos e tenho que retomar o parágrafo que acabei de terminar de ler e não entendi nada.

Chego no RH, me troco e vou ao hospital (o RH fica fora do hospital) para registrar o ponto (rotina, rotina). Depois de abrir quase uma dezena de portas, de salas e entre-salas, ligo o computador, leio as notícias rapidamente (se o Grêmio ganhou na noite passada me prendo mais às notícias esportivas - uol, clicrbs, msn, globo esporte); vejo o que tem na minha caixa de mensagem, planejo e preparo o meu dia de trabalho (grande porcentagem não será seguido) e desço para tomar café, às sete horas e trinta minutos. 

Quando subo, a rotina some. Cada dia é diferente no trabalho e os imprevistos são a rotina. Como disse, grande parte da porcentagem do programado não será realizado. 

Depois de quatro horas de trabalho, o ritual de trocar de roupa, arrumar a mochila, pegar o livro da leitura do momento e fazer o inverso, voltar para casa e almoçar. E a rotina de chegar em casa, por vezes encontrar o Victor no caminho e dar uma pausa na leitura, perguntar como está

- e daí, tudo beleza?

Jogar alguma conversa fora, comentar do Grêmio, como foi a aula, tudo certinho? Discutir alguma teoria filosófica ou sociológica (claro que superficialmente) que ele aprendeu no cursinho ou leu e que se encantou, como está em matemática filho? E física? As provas do vestibular são foda, tem que suar um pouco! E essas conversas. 

- Tudo bem Juliana, o Gui foi para a escola? Tudo bem com ele? E tu, tudo certo?

Todos os dias mais ou menos a mesma coisa. Voltar para o trabalho, à tarde de carro, pois o sol a pino castiga e não dá para chegar suado. O livro descansando no banco de trás, solitário e esquecido. Um sinal que demore mais e leio um parágrafo e de sinaleira em sinaleira, de parágrafo em parágrafo, chego ao trabalho. 

Dezoito horas! O sinal mental toca e lá vou eu, me trocar, para treinar. Dez quilômetros ás segundas, quartas e sextas e cinco às terças e quintas com o grupo de corrida do Sesc do Aeroporto. Depois academia com a Juliana. E depois casa. Ler um pouco, fuçar no twitter, ler algumas notícias, olhar a novela com a Juliana. E dormir. Dormir para descansar um pouco. 

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão trabalhoso
amanhã você vai trabalhar, de novo.

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão cansativo
amanhã você trabalhar, de novo.

E no despertar do relógio, começar tudo de novo e repetir tudo de novo...

Green light, seven, eleven you stop in  
For a pack of cigarettes 
You don't smoke Don't even want to 
Hey! Now check you change 
Dressed up like a car.

Cinco horas e quarenta e cinco minutos. Hora de levantar. E começar tudo de novo!

Amanhã é sábado. Quebrar a rotina para aguentá-la e recomeçar na segunda feira.