domingo, 22 de fevereiro de 2015

OSCAR 2015

Apesar de já ter o post semanal, esse final de semana merece um extra, pela noite especial. 

Hoje é a noite do Oscar, prêmio da academia de cinema que tem sido cada vez mais previsível. Vejamos. Todos os anos são indicados um filme com a temática do racismo, um filme sobre o ufanismo da guerra americano, um drama psicológico e assim por diante. Ou seja, para ser indicado, existe um formato específico. Basta seguir a receita, o que poda muito a criatividade dos produtores e diretores.

Bem, mas em 2015, acredito que seja o ano mais rico em bons filmes indicados. Com certeza, outros tantos foram deixados de lado. Mas fazer o quê, não dá para agradar a todos. De qualquer forma, os escolhidos, mesmo seguindo a regra das temáticas são tão bons que fica difícil a escolha. Claro que levam em consideração diversos aspectos de qualidade da película. Mas um filme bem produzido, que foi sucesso de bilheteria e com bom elenco, não somente de astros, mas de bons atores, sai na frente. 

Apelo emocional será que conta? Se fosse assim, Selma e Jogo da Imitação seriam favoritíssimos. E 
pelo andar da carruagem, os mais indicados e os favoritos são Boyhood e Birdman.


O primeiro trata de uma interessante história sobre um guri cujos pais são separados e a ótica dele desde criança até os 18 anos, quando está prestes a ir para a faculdade. Na minha opinião, favorito, além de ser uma excelente ‘fita’ foi realizado em 12 anos, com os mesmos personagens, que foram envelhecendo ou crescendo, no caso do garoto Mason e sua irmã Samantha, interpretados por Ellar Coltrane e Lorelei Linklater (filha do diretor Richard Linklater). O inusitado tempo de produção do filme é uma novidade que pode ser premiada a mais cobiçada estatueta da noite: melhor filme. Também deve levar melhor direção.



Birdman, outro que tem sido apontado como favorito, conta o drama e a luta de um ator mediano e falido, que fez muito sucesso nos anos 1990 com a trilogia de um filme sobre o homem pássaro. Esse personagem foi tão forte em sua vida que é como se fosse o seu alterego, dando palpites em sua vida, através de uma voz que o atormenta a todo momento. O personagem de Michel Keaton tem delírios de que tem poderes especiais. Uma grande história que promete diversas estatuetas, inclusive a de melhor ator.


Apresentado os favoritos da noite, vamos às outras seis indicações de melhor filme. E na sequência do meu gosto, do mais legal para o menos. Um escolha um tanto difícil, pois os escolhidos foram todos excepcionais e merecem o maior prêmio.

O filme que mais gostei das oito indicações foi Whiplash. Conta a história da obsessão de um jovem estudante de artes em ser o melhor baterista de jazz e que não mede esforços para tal, inclusive deixando sua vida pessoal de lado. Além de mostrar a disciplina do guri que tem a pretensão de ser o melhor, apresenta um professor com métodos ortodoxos demais, para um época que hoje em dia o colocaria na cadeia nas suas primeiras aulas. Para os gurus da administração de RH seria um exemplo de como a disciplina e o foco podem fazer com uma liderança adequada podem chegar. O professor Fletcher, interpretado por JK Simmons, indicado ao prêmio de ator coadjuvante, trata os ensaios da banda como situação de guerra e demonstra como deve ser a liderança nessas ocasiões.


O Jogo da Imitação é outro que fala sobre a obsessão, desta feita do matemático Alan Turing em construir uma máquina inteligente, o que hoje conhecemos como computador. A história verídica, tem como pano de fundo e na minha opinião a principal temática do filme, o homossexualismo e como o preconceito fez com que muitos gênios sofressem pela ignorância e que tolheu anos de progresso humanos.


Já que estamos falando de preconceito, citemos o filme Selma, que fala da luta dos negros em uma América tomada pelo preconceito racial, no direito pelo voto. Luta esta capitaneada por Martin Luther King e conta como foi a historicamente conhecida passeata de Selma a Montgomery, no Arizona, com a presença pacífica de negros e brancos de diversas partes do país, que se juntaram em busca dos direitos iguais para os cidadãos americanos, que a constituição do país já permitia. Como todos os filmes que tratam da temática do racismo, emocionante.


Outro filme que fala sobre fatos verídicos é A Teoria de Tudo, que conta a história do físico Stephen Hawking que tentava explicar tudo por apenas uma teoria e que descobriu uma doença aos 21 anos de idade, que segundo os médicos, teria apenas mais 2 anos de vida e sua luta para desenvolver sua teoria e pela própria vida, diante das grandes limitações impostas pela doença. Destaque para a atuação impecável de Eddie Redmayne no papel de Hawking, favorito nesta noite à estatueta de melhor ator.


O Grande Hotel Budapeste, com 9 indicações, talvez seja o mais alegre dos filmes indicados, apesar do tom melancólico e saudoso do protagonista que vai contando sua história para um escritor que se hospeda para escrever seu livro naquele que era um dos mais badalados endereços dos endinheirados europeus no período entre as guerras e que não tem mais o mesmo glamour de outrora e está em decadência.



Por fim, não menos legal, Sniper Americano, que conta a saga de Chris Kyleque tem em sua quota oficialmente 160 mortes na guerra dita contra o terrorismo, no Iraque. Um homem enlouquecido pela sua obsessão pela guerra e por proteger os soldados americanos.


Aposte suas fichas. A premiação logo começa. Foi uma maratona incrível durante o carnaval que só acabou hoje à tarde, para assistir aos 8 indicados a melhor filme. Agora relaxar e assistir aos demais indicados a outras categorias. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

QUARENTENÁRIO - UM DIA DE CHUVA

Esse é o canal 1, como não tenho foto do 2,
Bernardino de Campos, fica esta mesmo.
Se alguém tiver, me manda aí, please
Voltando do trabalho hoje à tarde, às 18 horas, começou uma chuva forte e eu dirigindo, escutando Morrissey. A canção que começa a tocar é Hold On Your Friend. A chuva forte, as ruas molhadas, os dedilhados da guitarra, a voz inconfundível e incomparável do eterno vocalista dos Smiths me remetem ao início dos anos 1980: 1981... 1980, talvez. A saudade toma conta de mim e uma pontinha de nostalgia vai subindo pela espinha.

Minha lembrança mais remota no momento remonta a um dia de chuva, chegando do Centro da cidade de Santos, canal 2, avenida Bernardino de Campos. Eu, minha mãe e o Renato, meu irmão mais novo. Talvez o Fábio estivesse junto também. Lembro de descer do ônibus, o 17, que faz o percurso oposto ao 10, vem do Centro, desce a Bernardino até a praia, segue até o canal 4 pela avenida da praia, que em Santos muda a cada trecho de nome, entra na avenida do canal 4 e segue até Afonso Penna e depois a Conselheiro Nébias, até chegar ao Centro.

Desde os tempos de Porto Alegre, dia 10 era dia de ir ao Centro, Banco Bradesco, para sacar o dinheiro que o Flamarion depositava para que a mãe administrasse nossa sobrevivência. Pagar aluguel, 
Eu, Beto, Renato (ele não gostava de futebol) Rogério e Fábio,
ainda em Porto Alegre, anos 1970
contas, comida, nossa, o Flamarion devia depositar uma fortuna. Com certeza a Sirlei tinha um orçamento apertado e limitadíssimo para sustentar suas 5 crias. Mas dava conta. Tinha que dar... tempos duros... mas a vida era mais barata e menos consumista. Ah, e menos descartável, bem menos descartável do que é hoje. 

Contar isso para o Victor e para o Gui, eles acham que era a pré pré história, devem imaginar nós saindo das cavernas, com tacape e arco e flecha para caçar. Não ter internet, celular, whatsapp, bah, quequeéissopelamordeDeus! Como vocês viviam? Muito bem, obrigado! Comprar roupa, tênis, uma vez por ano e só usar roupa nova para “sair” (o conceito de sair era ir para algum evento importante), como na época dos nossos avós (o velho Laudelino Ávila Silveira e a dona Julieta Cardoso devem ter vivido isso no começo do século passado) de usar a “roupa boa” para ir à missa.

Ir ao Centro significava passar nas Americanas e comer o famoso cachorro quente, coisa que não existe mais hoje em dia, pois as poucas lojas Americanas de rua que sobraram não têm mais lanchonete. As de shopping, muitas vezes são tão pequenas que não têm espaço para tal. Deviam lançar uma lanchonete Americanas na praça de alimentação dos shoppings. E a lanchonete das Americanas deixa saudades. Muitas saudades. Dos lanches, do ambiente que me lembra a infância e que me traz à tona tantas coisas. Como podem acabar com aquilo que fez parte da nossa vida? Isso deve ser o que melhor representa o conceito de morte, morrer aos pouquinhos a partir do momento que as coisas da tua vivência deixam de existir.

Um breve parênteses aqui, como será que isso fica na cabeça das pessoas hoje em dia, se tudo morre tão rápido e tudo é tão superficial? A era da superficialidade. Vários filósofos e sociólogos, ou as duas coisas, já discorreram sobre a pós-modernidade, principalmente Bauman, o meu predileto.

Lembro que naquela época eu não gostava de comer a salada do hot dog, então comia apenas o pão com salsicha; e adorava! Quando chegamos em Santos, de mudança definitiva, de mala e cuia, como se diz, o ritual se manteve, Centro, Banco Bradesco, Americanas, cachorro quente, sem molho, por favor! Que idiota, a parte mais gostosa do sanduba, cada mania, cada mania, tsc, tsc, tsc. E todo dia 10 era a mesma coisa. Passava mês e ano e lá estávamos nós, naquele local e sempre comendo a mesma coisa, Lojas Americanas e cachorro quente sem molho, seco pra caramba, mas era assim que eu gostava. Depois que cresci um pouco é que comecei a gostar das coisas mais molhadas.

Era engraçado (não vejo nada de graça nisso, diria o Guilherme e eu retrucaria que é apenas uma expressão antiga que eu carrego com o tempo) que em todas as cidades que eu passava era sempre igual, sempre tinha uma Lojas Brasileiras (vulgo Lobras) ao lado da Lojas Americanas. Mas nós, programados para receber os lixos dos U.S.A. sempre preferimos as Americanas. Acho que o nome,
Vovó Sirlei, Sirla, Sirloka e os netos mais velhos, Gui e Vitor
em sua ultima passagem por Londrina
inconscientemente remetia a coisas boas, porque nós tupiniquins no auge de nossa baixo estima e complexo de inferioridade coletivos, vivíamos reclamando que as coisas no  Brasil não funcionavam e não prestavam. Bastava vir de fora, ser importado (às vezes da Zona Franca de Manaus) para ser bom.     
Naquela época as coisas demoravam para acontecer. Ano novo, natal, férias escolares, aniversário, o tempo era outro. Talvez nossa sensação de tempo era outra. Embora as mudanças climáticas e as alterações produzidas pela mão do homem tenham feito com que a Terra desse a volta em si mesma mais rápido, o que fez com que o dia ficasse mais curto do que as 24 horas que estamos habituados (li isso em um livro de RH faz tempo. Sabia que essa bosta serviria para alguma coisa em um dia), não foi tanto assim para que a sensação do tempo fosse tão diferente do que de décadas atrás. Mas hoje parece que as coisas acontecem em uma velocidade absurda. E logo é natal e logo ano novo de novo e de novo. Vivemos na velocidade da internet, a vida online é que dita a velocidade e estamos sempre correndo, para fazer nada a maioria das vezes, mas sempre correndo. Meu amigo Carluxo dizia que queria chegar logo em casa para ficar mais tempo sem fazer nada. Hoje em dia eu acordo cedo aos finais de semana e feriado para ficar mais tempo sem fazer nada.

Minha lembrança remonta a um dia de chuva, como dizia, em que descemos do 17. Lembro que estava com a mãe eu e o Renato, o Fábio não lembro se estava conosco. Mas como éramos os mais novos, geralmente andávamos os três com a mãe, que como um canguru nos levava para onde ia. Eu com 8, 9 anos, o Renato com 6, 7 e o Fábio, dois anos mais velho que eu, 10, 11. Se bem que nesse dia ele poderia estar no colégio, estudando à tarde.

Eu andava sempre com a mão pendurada no braço da Sirlei. O Renato idem. Aquela mãe era grande e forte, protetora, nos geria além do alimento para o corpo, o espírito, a alma e o carinho. Nunca foi daquelas mães castradoras, éramos bem livres, exceto quando saía para trabalhar e não nos deixava descer, pois era e é, acima de tudo, cautelosa. O receio era de que na sua ausência as coisas poderiam sair do controle. Hoje, como pai, sei bem o que ela sentia.

Enquanto a Sirloka era extremamente cautelosa, o pai, o Flamarion (Favo), era um maluco que vivia a vida louca. Mulheres, putarias e tudo o mais e nunca se contentava em um lugar, pulava de casa, cidade e estado com uma facilidade. Deve ser o sangue nômade das tribos do Oriente Médio, nossos ancestrais que corria nas veias. Seu irmão Luiz era a mesma coisa. Eu mesmo já morei em tantos lugares que penso que sou um cidadão do mundo, pois não tenho sotaque de porra nenhuma, de gaúcho nada, de Santos menos ainda e de paranaense, bah, nada. Nem de interior paulista ou do litoral paranaense. Sou um ser sem sotaque, apatriado, descendente de tribos nômades do Oriente Médio.

Voltando ao que realmente interessa e que não é cagar, como diz o Walter Elias, amigo do Victor, numa dessas vezes em que foi trabalhar, Rogério e Beto provavelmente estavam em seus primeiros empregos ou na praia, jogando bola, a mãe deixou o Fábio, que era o mais velho de nós três, cuidando de nós dois e de si próprio. O Fábio sempre foi politicamente correto, seguia a risca as regras e ordens estipuladas. E não nos deixava descer. Nessa época morávamos no 123 da Espírito Santo, no apartamento 23. E podia implorar que o Fábio não nos  deixava descer. Da janela do primeiro andar, onde ficava o apartamento 23, podíamos ver todos nossos amigos brincando e nos chamando para brincar.

O Renato era tranqüilo. Se pudesse descer, tudo bem, seria legal, mas se não pudesse, para ele tanto fazia. Sempre foi um cara tranqüilo, boa praça, evitava criar problemas para si e para os outros. Sempre foi assim. E tinha eu. Atentado! O capeta no corpo, inquieto e à margem das regras. Já era punk aos 8 anos. Contestador por natureza, não aceitava aquela prisão imposta sem motivo. Victor e Gui tiveram a quem puxar, pois vivem questionando as regras.

No fundo, todos queriam descer, mas não tinha como fazer isso com o Fábio no comando e com as ordens expressas da mãe para não descermos. Foi quando me deu aqueles 10 segundos de bobeira... calma, não pulei do primeiro andar para me juntar aos amigos e jogar bola no prédio. Não pulei porque me machucaria, com certeza (a cautela da Sirla), mas tinha algo que podia fazer e não prejudicaria minha estrutura física: jogar alguma coisa que precisássemos descer para buscar (o aventureiro amalucado Favo pulsando em minhas veias). E daí, já era, pois não teria como voltar para a gaiola. Eu era o verdadeiro matador de passarinhos (ecoa na minha mente o refrão da canção que abre o programa do Rogério Skylab – matador de passarinho, matador de passarinho). Resolvi jogar os travesseiros. O Fábio, revoltado, me deu uns petelecos, mas descemos os três e os dois, espertos, resolveram também ficar, pois qualquer coisa que acontecesse, tinham a quem culpar. E assim foi a minha vida inteira, eu sendo a ovelha negra da família e os dois, quando possível, se aproveitando das coisas que eu aprontava. Hum, safadeeenhos!

Foi numa dessas vezes que descemos sem autorização da mãe e que devo ter inventado alguma para poder brincar, mesmo com a proibição dada, que o Renato sofreu um acidente feio e que me marcou por muito tempo, acho que até hoje, e se fizer uma análise mais profunda, para o resto dos meus dias, com remorso. Deve ser uma das fontes de alguma das minhas pirações, das minhas neuroses. A tal esquizofrenia aclumbática maluco, diagnosticada por Hermes e Renato.

Como já era de se esperar, proibidos de descer, devo ter insistido ao extremo e aprontado alguma para nos obrigar poder brincar. Chega até a ser cruel não deixar crianças brincarem, quando estão de férias. Ao menos naqueles tempos, inocentes tempos. Porque hoje em dia está bem diferente. O perigo (pode) mora ao lado. Drogas, pedofilia e tantos outros malefícios da pós-modernidade estão ao acesso de nossas crianças, que a cautela e o cuidado nunca são demais. Como resultado, criamos pessoas superprotegidas e que não sabem lidar com a negação e a frustração.

Mas, voltando, como sempre, consegui com minhas pequenas e inocentes tramóias infantis, descer para brincar e os dois, Fábio e Renato, desceram na minha cola. Fomos brincar de ‘malha’, brincadeira idiota daqueles anos, que se tratava de chutar uma bolinha de tênis ou mesmo uma tampinha de garrafa de refrigerante (aquelas de alumínio, pois ainda não existiam as garrafas pet) e se passasse por baixo das pernas de alguém, teria que passar por um corredor polonês.

Porra, aquela pequena circunferência de alumínio passava por baixo das pernas de qualquer merda, caralho. Não tinha como não passar. Era só chegar perto e alguém dar um chute certeiro que passava. Era propicio para desencadear (e descarregar) nossos instintos primitivos.

“Existe profundo no sonho
Uma floresta futurista
Deuses astronautas, em plena nudez
Existe a terra, o fogo, água e o ar
Longe existem chances para o meu amor”

E, numa dessas passou por baixo das pernas do Renato. Eu tive dó, pois era nosso irmãozinho caçula (hoje, o mais alto da família, ainda é o queridinho da família, o caçulinha, o pai da Luizita). Nem bati e com certeza o Fábio também não o fez, quando passou no corredor polonês; mas a galera bateu e um babaca, o Jonas (Jôniiii) além de bater pôs o pé de forma que ele tropeçasse e bateu nas costas dele, com tanta força que o empurrou. Resultado: bateu a cabeça na quina do pilar, fez um corte grande e muito sangue jorrando; e corre daqui para lá, nós desesperados, eu chorando com lágrimas de remorso, copiosamente, em soluços. E a mãe trabalhando, sem saber de nada. Informações cada vez mais contraditórias, desencontrada nos chegavam a todo momento. Plástica na cabeça, ficar careca para o resto da vida e coisas piores. Foi uma das maiores tragédias da minha infância. E eu atazanado, andava para lá e para cá, remoendo no meu remorso, perdido nas minhas culpas. Com 7, 8 anos de idade. Não é crueldade demais? Na inocência da infância, sendo crucificado por um ato tolo de busca da liberdade. Como é cruel nossa sociedade!

Logo à noite ele estava de volta para casa, depois de passar alguns momentos difíceis na Beneficência Portuguesa, um hospital que fica na Bernardino de Campos, perto da Rua São Paulo. E estava bem, graças a Deus!, sendo paparicado por todos, inclusive por mim. Alguns pontos na cabeça, enfaixada para proteger os pontos.

Mas e aquele dia de chuva, do começo da história? Descemos do ônibus, era o 17, sentido bairro – praia, eu segurando o braço da mãe, o Renato idem. O Fábio não lembro se estava junto. Puxando pela memória, nem o Renato devia estar junto, porque naquela época eu estudava no Dino Bueno de manhã e os dois no Cleóbulo Amazonas Duarte, no canal 3, em frente ao clube Atlético, à tarde. Por isso eu deveria estar sozinho com a mãe. Devia ser 1980. Quase certeza de uma memória que não é mais aquelas coisas, já desgastada com o tempo e pouco confiável.

Chuva fina em Santos, daquelas que não param nunca e quando começa é por dias a fio. O dia inteiro chuvoso.  Santos é assim, quando desembesta a chover, parece que nunca mais pára. Por volta de três e meia, um pouco mais, um pouco menos. Descemos do ônibus e esperamos ele passar na nossa frente para atravessarmos. No início dos anos 1980 haviam poucos carros nas ruas, o trânsito era menos selvagem. Então começamos a atravessar e eis que aparece um palhaço, empinando a bike, no meio da rua, da avenida Bernardino de Campos, canal 2, se mostrando para a namorada, que vinha a pé, logo atrás, com sua mãe. E o susto que o cara tomou conosco atravessando foi tão grande que chegou a cair da bike, se ralando e se esborrachando no chão. Levantou com a bike, xingando e vociferando palavrões, que encontram eco na Sirlei, que devolveu em dobro os xingamentos, fruto do nervosismo, do susto e do instinto materno em defesa da prole.

Estranho o que um dia de chuva, uma canção, uma memória saudosista podem fazer em uma viagem de apenas 10 minutos, do trabalho até em casa. Me deu saudades da Sirloka, de ouvir a voz dela; saudades do bolinho de chuva que só ela sabe
Luiza, Luizita, Fofolona do tio, com a tia Ju e a tia Terê ao fundo
 fazer, que fica uma delícia, principalmente quando meio cru. Na páscoa vou para Santos para vê-la e a Fofolona Luizita, minha sobrinha querida. E vou pedir para fazer bolinho, como chamávamos essa guloseima.  

Quatro minutos de canção e um turbilhão de lembranças e de emoções. A canção que despertou tudo isso? Hold On To Your Friends. Morrissey e sua poesia romântica e ácida.

Hold on to your friends
Hold on to your friends
Resist - or move on
Be mad, be rash
Smoke and explode
Sell all of your clothes
Just bear in mind :
Oh, there just might come a time
When you need some friends

Devaneios de um dia de chuva. Apenas isso, devaneios de um dia de chuva e um tempo parado no trânsito já caótico de Londrina, a pequena Londres. E um boa música rolando e indo direto para a alma.

P.S.: devaneios ocorridos na quarta feira de cinzas e escrito em seguida, ao chegar em casa, no calor da emoção, terminado no dia seguinte, na permanência na Unopar.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

ÁLBUM DE FÉRIAS II - A GRANDE PARTIDA - SILVEIRAS PAIS FOOT BALL PORTO ALEGRENSE CONTRA SPORT CLUBE SILVEIRAS FILHOS

Ano passado, meados de janeiro meu irmão Rogério esteve em Londrina pela primeira vez. Trouxe consigo a Terê e o Biel. Um desejo se apoderou dele de forma que não dizia outra coisa: bater uma bolinha. O que teria desencadeado esse desejo? Saudosismo? Ter uma atividade prazerosa com os irmãos que não via há quase tanto tempo quanto não jogava futebol? Descarregar um pouco a raiva em cada chute na bola, pois para ele "o futebol é muito violento"? Imagina o cara que lutava Kung Fu, achar o futebol violento... tsc, tsc, tsc. Apesar que o Diego, professor da academia de Muay Thay, quando chamado para jogar futebol com a galera da academia se negou com o mesmo discurso: futebol é muito violento, tem muito contato físico, muitos movimentos bruscos e para se contundir é fácil. E para ilustrar seu raciocínio perguntou para os contundidos na aula, um deles eu, no joelho, como eu havia me machucado. A resposta foi unânime: jogando bola, como chamamos vulgarmente o futebol.

Jogamos semanalmente nosso sagrado futebol de domingo, no horário das 10 às 12 horas, eu, o Fábio e a galera. Porém, com a galera do futebol não daria para jogar, porque meu irmão queria pegar a estrada de volta ao paraíso (mora no litoral catarinense "bah, mas o guri é sortudo, tchê! Tem uma sorte tri...") logo cedo no domingo. Então restou o sábado a tarde e o aterro do Igapó como o campo para apresentarmos nosso futebol arte. Não deu tempo de chamar alguém para jogar e compor os times. Resolvemos então jogar uma partida que ainda não sabíamos a proporção que tomaria e se tornaria memorável: Silveiras pais contra Silveiras filhos, um embate entre pais e filhos: Silveiras Pais Foot Ball Porto Alegrense versus Sport Club Silveiras Filhos. Quase sem querer, na falta de mais atletas, as equipes foram compostas  da seguinte maneira: Fábio, Rogério e eu pelo SPFBPA e Victor, Gui e Biel vestiriam o manto do SCSF. Gol caixote, como se falava em Santos na época de criança, gol marcado com chinelo; saída bangu, aquela saída sem meio de campo. E assim iniciou-se o embate entre Silveiras.

Esse primeiro embate terminou com o resultado de 3 a 1, para choro do Biel e desinteresse do Victor e do Gui. Fábio fez dois gols e eu fiz um. Quem descontou para eles não sei. Deve ter sido o Victor, o melhor em campo deles, apesar das firulas. Dele e do Biel, que sai de campo ovacionado pela galera e apelidado de bailarino. Rogério desfilou sua categoria de sempre, apesar dos anos fora dos gramados; segurança na zaga e muita categoria no ataque. Toque de bola refinado. No meio de campo distribui la pelota com maestria e no ataque o Fábio não decepcionou e foi o artilheiro da partida.

Toda essa movimentação nos animou. Por ideia da Terê, combinamos passar as próximas férias de verão no litoral catarinense. Alugaríamos uma casa onde coubesse toda a galera, Sirlei, filhos, netos e noras e a farra da praia culminaria em mais um embate do SPFBPA e SCSF. Os times seriam formados por Rogério e Beto distribuindo categoria e segurança na defesa. O Beto sempre jogou muita bola e elegância na lateral direita dos times de praia em que jogava. Força, raça e categoria. O Rogério não se fala, sempre foi o melhor de todos os Silveiras, joga muita bola o guri. Meio de campo seria eu e o Renato, este meia atacante, o autodenominado homem gol. No ataque nosso artilheiro, Fábio, estilo Jardel, com gol de canela, de bunda, mas resolvendo o problema.

Já o SCSF teriam sérios problemas para montar sua agremiação: Victor joga um bolão, diria que se empenhasse seria o segundo melhor de todos os Silveiras. E digo isso contando todos os 10 filhos do Flamarion, com todas suas mulheres. Gui, canhotinho, também poderia jogar bem, se levasse a sério. Aos domingos de manhã, quando joga comigo e tem uma sequencia de partidas, pega ritmo de jogo e não compromete. Biel, se não ficar com firula, joga bem. Mas o problema vem aí: Victor Gabriel,mais conhecido pela alcunha de Dinoboy, filho do Rogério, não puxou o pai e aparentemente não tem a mesma desenvoltura do pai para o futebol. Renatinho e Jão Vitor não demonstra traquejo para o esporte bretão. Digo isso sem nunca tê-los visto jogando futebol. Portanto, é julgar o livro pela capa.

Os planos estavam bem traçados. Rogério corria os finais de semana pelas praias maravilhosas e paradisíacas, procurando a praia mais linda e uma casa para alugarmos. Até que chegou na Guarda do Embaú e se apaixonou.Conseguiu uma casa que caberia toda a galera.  Conversou com o dono de uma casa e bastava depositarmos 50% do valor para a reserva. Mas por percalços não conseguimos acertar tudo e fomos para o plano B: passar o ano em Santos, onde moram Renato e família e a Sirloka, no mesmo condomínio. E não contávamos com mais um desfalque: Fábio não poderia comparecer por problemas de agenda e o Beto por rabujice não quis ir e não liberou seus filhos para descerem a serra, já que moram ali pertinho, em Diadema. Birra do Beto, fazer o quê.

Fomos eu e o Rogério e o Renato já estava lá. Nas nossas conversas o que mais rolava era o tão esperado embate entre pais e filhos. Somente eu e o Rogério poderíamos ser bi campeões. Gui e Victor participaram da primeira partida e tinham a possibilidade de empatar o clássico. Mas nós é que estávamos empolgados, porque a gurizada não tava nem aí, inclusive ameaçando nem jogar. No dia 2 de janeiro fizemos um churrasco e o Antônio Carlos, vulgo Dentinho, que não é um Silveira por mero detalhe, pois é amigo de todos os Silveiras, pais e filhos o adoram, e de longa data, no mínimo há 25 anos, garganteou o tempo todo. Prometeu ao menos 8 gols, no jogo que estava marcado para o dia seguinte, sábado dia 3.

Zé Renato, outro Silveira postiço, presente no churrasco, não prometeu nada. Até mesmo porque futebol não é o forte dele. Muito, muito pelo contrário. Na época de escola, ginásio, costumava pegar a bola e fazer gol contra ou tirar a bola dos jogadores do próprio time, para desespero de todos e do Flávio, nosso colega de escola que levava, como todos nós, a sério as partidas 'contra' que arrumávamos na praia. E ficava mais fudido comigo por eu levar o mané para jogar no time. O filho dele, Lucas, que tem 10 anos e que curte bater uma bolinha, e que leva um jeitinho, contrariando o pai, e todos os prognósticos, não estava presente no churrasco mas foi escalado para o futebol.

O Zé Renato nunca gostou de futebol. Ía jogar para avacalhar. E sua escalação para nossa equipe, a agremiação  Silveiras Pais Football Porto Alegrense (porque todos nasceram em Porto Alegre), custou caro, como veremos adiante. Na época de escola dizia que torcia para o Bragantino mas não tinha o mínimo interesse por futebol. Era só para aloprar a galera. Já o Lucas, joga futebol na escola (levando a sério), vive com camisa do Barcelona e torce para o Corinthians e gosta a beça de futebol, mesmo vivendo em um ambiente sem futebol que é a sua casa, cresceu curtindo o esporte bretão.

Combinamos de nos encontrar na praia do Embaré, em frente à igreja, para ficar mais fácil para o Zé Renato. Mas o Dentinho e o Renato escolheram as areias do Gonzaga para ser nosso 'gramado' da peleja que se daria às 19 horas do sábado dia 03 de janeiro de 2015. Não em ponto, mas a hora que toda a galera chegasse.

Estávamos apreensivos com o tempo. Chuva e raios era um receio e provavelmente motivo para cancelamento da partida. Dias antes morrera 4 pessoas da mesma família na Praia Grande. Mas o sábado amanheceu, como todos os outros dias, ensolarado e quente. Sinal de que poderia virar no final do dia, com aquelas tempestades de verão, com nuvens carregadas de energia. E o cancelamento da partida seria uma grande frustração, já que era nosso último dia em Santos, estávamos de partida para Palhoça, Santa Catarina, região metropolitana de Florianópolis.

Após o almoço, fomos para o Gonzaga dar uma volta, eu, Rogério e Renato, Juliana, Terê e a Sirloka. A Luciana ficou com a fofolona, a pequena Luizita Silveira, a coisa mais fofa do mundo. Nossa concentração foi andando pelas ruas abarrotadas de gente do Gonzaga, dentro do Shopping Balneário, na loja C&A da avenida Ana Costa e pelas adjacências. Antes havia deixado o Victor e o Gui na casa do Dentinho, na concentração deles, jogando vídeo game, isso sim concentração de boleiro. Ao menos para a concentração eles agiram profissionalmente.

O Shopping Balneário, que para quem não sabe fica na Ana Costa de esquina para a avenida da praia, que em Santos, com seus quase 7 km muda de nome a cada trecho, foi palco do meu alívio, aquilo que um amigo do Victor disse certa vez que era o que realmente importa na vida: dar uma cagada gostosa. E claro, como já é praxe desde as férias passadas, em Navegantes, uma foto especial. A Juliana diz que o meu celular é o mais contaminado do mundo. Deve ser, deve ser...

O tempo estava agradável, bem mais do que os dias quentes que antecederam o sábado, que propiciavam aquelas tempestades de final de dia, bem típico do verão santista. Isso era um bom presságio, pois por ora caía uma chuva fina, que alivia o calor e impedia que tempestades carregadas de energia se formassem. E a partida, aparentemente, estava garantida.

Pouco antes das 18 horas fui buscar o time adversário, Victor, Gui e Dentinho. Nos encontramos novamente na fonte luminosa em frente à Ana Costa. A bola da partida seria a do Fábio, uma Topper oficial do campeonato paulista. Um pouco mais pesada e dura do que o normal. Fomos procurar o melhor lugar para montarmos o campo. Demarcamos os limites, as laterais e a linha de fundo, como há muito tempo não havíamos feito. Anos, décadas, se passaram desde a minha última partida na praia.

A praia de Santos, do Gonzaga, mais especificamente, sempre foi o palco das minhas peladas nos tempos que morava por aquelas plagas; tem uma extensão grande da areia para a água, que possibilita e facilita a prática de diversos esportes e principalmente o futebol de praia. Muita gente organiza futebol com tudo o que têm direito: arbitragem, punições e até gancho para os jogadores indisciplinados. Uma estrutura semi-profissional. Jogar perto do calçadão da praia seria suicídio, uma vez que a areia é fofa e pesada. Já mais perto da água, a areia fica batida e facilita a bola correr e a nossa movimentação atrás da mesma. E foi perto da água que montamos nosso campo.

Antes de começarmos, Dentinho resolveu acertar algumas regras: derrubar o chinelo que serve de trave não seria validado gol; bola alta também não valeria o gol. Dito isso, um pouco de aquecimento e lá fomos para a partida. Iniciamos timidamente, tocando a bola, até para aquecer e estudar os movimentos do time adversário, uma forma de respeitar o SCSF; apenas o Dentinho queria mostrar suas habilidades futebolísticas, ora com um drible, ora com uma jogada de efeito, coisa que venhamos e convenhamos, não é o seu forte. Nunca foi. O gargantão falou tanto que achei que seu futebol havia melhorado consideravelmente desde aqueles longínquos anos 1980, quando não era grande coisa. Talvez depois da faculdade de Educação Física tivesse se aprimorado. Mas a tarde demonstrou que, além de estar fora de forma, o profissional de educação física não havia melhorado sua técnica no futebol, apenas a maturidade o deixou mais confiante.

Logo após o pontapé inicial chegaram os atrasados: Zé Renato e Lucas. O primeiro vestiu o manto tricolor e foi para o nosso time. Lucas reforçou o time dos filhos, enquanto o pai enfraqueceu o time dos pais.

Com o início da partida veio logo o primeiro lance polêmico: Victor chutou e a bola bateu no chinelo, que caiu e entrou para o gol. Anulado, com toda justiça, uma vez que o Dentinho esclareceu a regra. Mesmo assim, não passou desapercebido pelo corneta, que reclamou, timidamente, confesso, mas não deixou passar em branco. Mas se aquietou, embora um pouco contrariado, dizendo que se fosse trave de verdade, teria sido gol, ao bater na trave e entrar. Verdade, mas regra é regra. Gol invalidado pela arbitragem (esta não passava de nós mesmos em consenso).

Não demorou muito para o Renato abrir o marcador. Toques rápidos, de pé em pé e o substituto do Fábio fez o que este faria: empurrou para as redes. O autointitulado homem gol dos Silveiras, disse ao que vinha. 1 a 0 para o Silveiras Pais Foot Ball Porto Alegrense. 

O jogo permanecia disputado e a qualquer momento poderia sair mais gols, para qualquer dos lados. E num desses lances ampliamos com gol meu. Desta feita Renato devolveu a gentileza e me deixou na cara do gol, em um contra ataque rápido que a defesa deles estava desprevinida. Mais uma vez o SCSF buscava a bola no fundo das redes e dava início à partida.

Então começou a reação deles, com um gol quase que sem querer, mais por nossa falha do que mérito do time adversário: estávamos no ataque pela direita e fui virar o jogo para o Renato, que abria pela esquerda, mais ou menos na mesma linha que eu. Atrás de mim o Rogério, deixava a defesa desprevenida. Quando virei o jogo, encontrei o Zé Renato, que não deveria tocar na bola, mas desviou a bola, que sobrou para o Victor, que de longe, com categoria, diminuiu para eles. Belo gol, 2 a 1 para o SPFBPA.

Embora o Rogério demonstrasse todo seu talento na zaga, arriscava algumas idas ao ataque, desconcentrando a defesa adversária; eu no meio cadenciava a partida, sem firulas, jogo sério e na marcação do ataque deles; o jogo segue equilibrado, com chances para ambas as partes até que o Renato, o autointitulado homem gols dos Silveiras, marca mais um: 3 a 1 e um pouco de folga. A essa altura da partida já aparecia os primeiros sinais de cansaço em todos. Zé Renato, embora tenha praticamente entregado o primeiro gol, não comprometia, se esforçava bastante e tocava a bola certinho. Do outro lado, Dentinho segurava seu time e era o melhor da equipe. Victor, já cansado, segurava na defesa; Guilherme e Lucas eram os responsáveis pelo ataque do SCSF. 

Num desses ataques, Lucas cruza para Guilherme, mas antes a bola encontra Zé Renato, que desvia para as próprias redes: 3 a 2 e um resultado apertado. Devido ao avançado tempo da partida, ficou definido que o próximo gol, fosse de quê lado, seria o que decretaria seu final.  

Dentinho então dá uma arrancada, passa pelos marcadores, Victor fica na frente de Renato e o chute do Dentinho é certeiro para empatar a partida. Porém, Renato, o marcador do Victor, reclama de falta recebido; enquanto dificultava a marcação de Renato, Victor o segura e o atrapalha . Isso faz com que Dentinho reclame muito, pois não achou que a falta existira, mesmo com Victor assumindo que havia feito o lance faltoso. E, sob protestos de Dentinho, o jogo segue, disputado e apertado. Até que Rogério vai para o ataque, dribla o marcador e bate de esquerda, fazendo o 4º gol do SPFBPA e decreta o final da partida.

Mais um ano festejando a vitória. Bicampeões! Para desespero do Dentinho, que alardeou uma exagerada habilidade futebolística que não conseguiu apresentar dentro de campo. E fomos então confraternizar comendo em um boteco no canal 2, sob seguidos e insistentes protestos de Dentinho, que não aceitava não só ter perdido a partida, mas não ter feito nenhum gol na partida principal, pois a de fundo, quando entraram duas gurias que pediram para jogar e as equipes se formaram com eu, Rogério e uma das gurias contra Renato, Dentinho e a outra guria: 2 a 1 para nós e o gol do Dentinho finalmente.

Ganhar sempre é bom. Todos querem. Mas mais gostoso que isso foi uma partida com o Dentinho e o Zé Renato depois de tantos tempos e ainda mais prazeroso jogar com meus irmão Renato e Rogério. Passou pela minha cabeça lembranças do início dos anos 80 do século passado, quando morávamos nos 123 da Espíríto Santo e dávamos os primeiros passos no futebol, com o Rogério nos ensinando e nos treinando, épocas do Gaúcho, time que jogávamos os três (Fábio, eu e Renato e mais três carinhas do prédio onde morávamos) em embates calorosos contra os times da Almirante Barroso e do Itaú. Nós jogávamos com um uniforme escrito Gaúcho, depois um jogo de camisas do Grêmio e o Itaú, com camisas do banco, daí os nomes das equipes. E o Rogério nos ensinava os primeiros passos no mundo da bola.

Parodiando a propaganda de um certo cartão de crédito, jogar com essa galera não tem preço. A emoção e o prazer, inestimáveis. O Beto, homi do mato e o Fábio, fizeram falta. Os guris do Beto também. Estamos planejando agora o próximo clássico para as areias da praia da Ponta do Papagaio, em Palhoça, Santa Catarina, a Bela & Santa, como diz o Rogério. Caso não dê para contar no verão de 2016 com os dois, em outubro não dá para fugir, uma vez que é o octogenário da d. Sirlei. Nesta data, vamos nos reunir e comemorar muito. Obrigação de todos, deixarem a birra de lado, no caso do Beto e festejar mais uma década da Sirloka. Com muita alegria, churrasco, farra e futebol. 

Que vença quem vencer! O mais importante é reunir essa galera maravilhosa e confraternizar. Para alegria e emoção da d. Sirlei. E a nossa, com certeza!
Nanando com a Fofolona

Antes da Partida tranquilidade

Uniforme preparado

Aliviando antes da partida no banheiro do
Shopping Parque Balneário

Pose para foto antes da peleja, já uniformizados

Rogério atendendo aos assédios dos fãs

Foto ao final das partidas principal e do fundo, com as gurias
boas de bola - elas deram um show, principalmente a de branco

Foto dos Bi Campeões Silveiras Pais Foot Ball Porto Alegrense

SCSF - Sport Club Silveiras Filhos que continuam sem vencer

Galera indo para o supermercado em busca dos mantimentos
para churrasquear

Café na manhã da partida - amenidades

Gui e Victor 

Luizita no colo do Victor e com o Gui

Victor com a princesinha Silveira Luiza

Nossa Fofolona linda de vestido novo

Dentinho ao fundo à esquerda resmungando e se sentindo injustiçado
com a arbitragem após o embate

Victor na concentração do SCSF

Luiza mamando com 'bobó'

Churrasqueando

A princesinha Luizita

Sono tranquilo do Gui antes da peleja

D. Sirlei e seus netos mais velhos

Os três netos presentes da Sirloka

Três gerações: mãe, filhos e netos

sábado, 7 de fevereiro de 2015

QUARENTENÁRIO - AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - NÚCLEO BASE - IRA!

A canção Núcleo Base é sem dúvida alguma a mais conhecida do Ira!, a banda paulistana mais honesta do rock nacional. Digo isso porque em plenos anos 1980 e no auge da ditadura do sr. Chacrinha, eles se recusaram a tocar de toquinha de papai noel no programa e todos os demais o fizeram e passaram o ridículo em frente das câmeras para o Brasil inteiro. Mesmo que os demais artistas, como Legião e Capital os apoiassem, na hora h amarelaram e só o Ira! manteve sua integridade. 

Não que seja ridículo a touquinha natalina, mas naquela época as bandas eram sérias, cantavam ideologias, tinham o que falar ao público, aquela rebeldia contra o momento político que o Brasil se arrastava desde o golpe militar de 1964. E o Ira! se recusou a usar essa indumentária, com o argumento da seriedade do trabalho deles. Inicialmente apoiado por diversos artistas, que não tiveram a coragem de enfrentar o velho Chacrinha e suas manias.

Em meados dos 80 meu irmão Rogério chegou com uma caralhada de discos em uma das viagens da Marinha, com mais discos do que roupas, o que já contei aqui, e um dos discos era o Mudança de Comportamento, do Ira!. A canção Núcleo Base, que Scandurra fez quando estava no Exército, faz parte desse maravilhoso disco, na minha opinião o melhor disco do rock nacional. Ao menos dos 80. Naquela época, eu achava o melhor disco do rock nacional disparado, e ainda acho dos melhores, principalmente porque naquela década foram produzidos os melhores discos do rock nacional, os mais criativos.

Os caras pouco entendiam de produção e da questão técnica. Sabiam tocar e tinham feeling. Mas muita capacidade e competência, além de criatividade ao extremo. Tanto que nas décadas que se seguiram, apesar da falta de apoio da indústria musical, o que corrobora para o que vemos hoje, poucos shows das bandas de rock, não conseguiram repetir o que ocorreu nos anos 1980.

O que propiciou essa onda criativa não sei explicar, aquele boom do rock, que começou com Você Não Soube Me Amar, da Blitz. Mas tem muito a ver com a ditadura e com a industria da música investindo nessa vertente musical. Quando li Dias de Luta, do Ricardo Alexandre, muita coisa clareou. Leitura fundamental para aqueles que curtem rock brazuka, que hoje chamam de rock pop, não só os que viveram aquela época. Aliás, pop, naquele época, era xingamento, falar que era pop era pior do que ser sertanejo hoje. Bem, não exageremos. Sertanejo é a escória da escória. Tenho um exemplar do livro aqui, quem quiser emprestado pode vir pegar, mas com são 4 'Vs'.

O primeiro disco do Ira! Mudança de Comportamento, foi considerado por anos o melhor disco do rock brazuka por mim e costumava achar que a canção definitiva do rock era Camila, Camila, da Nenhum de Nós. Isso nos 80. Hoje as coisas mudaram... para pior! Mas que nada, tem muita coisa boa rolando no underground. Para a indústria da música o rock, agora com a alcunha de rock pop, não interessa, porque não dá grana. As pessoas emburreceram e ficaram tão imediatistas e superficiais na pós modernidade que não entendem letras mais elaboradas e com conteúdo. Renato Russo não faria o sucesso que fez se surgisse nos dias de hoje.

O clip dessa canção foi retirado do Youtube, claro e escolhi um ao vivo de 1987, de um programa chamado Mixto Quente, da Rede Globo, que agora só investe em programas de péssima qualidade musical, se preocupando apenas com a qualidade técnica das imagens e da produção. Esquece a música. Mas dizia que o clip é de um especial para esse programa, feito na praia. Bons tempos de shows na praia. Excelentes tempos. Assim que assisti quase todas as bandas de rock dos 80, na praia e de graça. Praia do Gonzaga, em Santos. Inclusive show do Ira!.

Como tantas coisas boas, isso também faz parte do passado...

À canção então! Sancdurra cabeludo, tocando uma Rickenbacker e Nasi em seus tempos de galã. E com aquela velha afinação na voz que nós, fãs do Ira! tanto conhecemos. Destreza guitarrística de Scandurra e a potente voz do Nasi... a alma do Ira! Venham para Londrina, please!