sábado, 12 de junho de 2010

UM POUCO DE HISTÓRIA


Dia desses estava conversando com a Juliana sobre música e demos muitas risadas juntos, relembrando do meu passado de quase músico. Foi muito engraçado lembrar das bandas que tive e do que eu, Zé Renato, Ronaldo, Branco e tantos outros amigos fazíamos em meados dos anos 80 tentando sair do anonimato impressionar para comer as meninhas e deixar a nossa marca na música brasileira. Tudo começou antes do punk mudar nossa vida.

Em 1985 eu tinha 13 anos, estudava a 7ª série e gostava de uma guria chamada Alessandra. Eu era muito tímido e claro, jamais me declarei. Ela estudava na 5ª série, na classe do meu irmão Renato. Foi quando começou a aflorar minha veia artística. Comecei a escrever algumas letras de música e algumas estórias, que na verdade queria transformar em livro. O meu grande amigo Dentinho tem tudo isso ainda (se não jogou fora). Há anos atrás eu doei para ele essas relíquias. Espero que tenha guardado.

Mas dizia eu que minha veia artística começou a aflorar. Como não conseguia agir na vida real, comecei a utilizar de um mecanismo de defesa da psicanálise, a sublimação, muito utilizada pelos artistas, que significa dirigir a energia da libido para outra área que não seja a de satisfação direta. Isso acontece porque muitos desses desejos são proibidos e então a sublimação os transforma em algo socialmente aceitáveis, como a arte por exemplo. Espero ter sido claro, mas é o pouco que lembro das aulas de psicanálise (nossa como estou enferrujado).

Voltando ao tema, comecei a verificar o quanto os rock stars eram amados (e como comiam a mulherada) e eu sempre tive essa necessidade de ser amado (alguém se habilita a dizer o contrário de mim?). Então comecei a desejar ser um rock star. Comecei a escrever letras de música e a pensar em montar uma banda. Claro que as letras beiravam o ridículo, como a música Alessandra (homenagem à guria citada e que morava em frente a uma padaria):

"Acordo todo dia, vou na padaria

Fico um tempo lá, vendo se ela está

Começo a jogar bola, torcendo que ela saia prá fora

A bola cai lá e eu pensando que ela ía pegar


Alessandra saia pra fora, que eu quero te beijar

Alessandra, pegue minha bola, eu não me canso de te amar
(...)"

Bom pessoal, eu tinha apenas 13 anos. Fiz essa composição em parceria com meu amigo Tony Penedo (por onde andas companheiro?) e não lembro mais do resto. Nem precisa... se perdeu na memória, pois não tenho os escritos dessa época, há alguns anos atrás, quando eu pensei que era intelectual (kkkkk) queria apagar isso da minha memória e nunca lembrar que cheguei a escrever algo parecido com isso.

Outra letra (gravei essa música na casa do André Quinda - será que essa fita ainda existe? - Quinda, contigo a palavra):

"(...)No escuro ninguém vê,
Mas eu sei que é você


No escuro, é difícil ver o que acontece

Não consigo te ver, mas eu posso te comer


Ninguém pode saber que você me amou

E que você gostou

De passar uma noite
Comigo no escuro (...)"

Não esqueçam, eu tinha apenas 13 anos. Essa música se chamava No Escuro.

Nessa época montamos a primeira banda, formada por eu, Renato meu irmão, Ronaldo (que era conhecido no Dino Bueno pela alcunha de Michael, porque andava com uns tênis quadriculados, acho que igual do Michael Jackson - ou então era chamado assim porque era preto mesmo), César e não lembro mais quem era o 5º integrante. Nessa época não sabíamos tocar nada, não tínhamos nenhum instrumento e nem sabíamos direito o que estávamos fazendo. Então eu comprei o primeiro violão, em duas vezes, na Casas Bahia (kkkkk). E comentei com a galera que teríamos que estudar música. Até hoje dou risada com o Renato, que ao ouvir soar a palavra estudar pulou fora (puta que pariu, vou mijar de rir aqui, kkkkk).

Na verdade eu já estava com vontade de largar a banda (kkkkkk) que foi batizada pelo bizarro nome de Legionários do Brasil (puta, que merda, kkkkkkk). Isso porque o Zé Renato tinha reclamado que eu tinha montado uma banda e não tinha chamado ele para fazer parte.

Sobre isso, faço uma pausa aqui. Um dos livros que escrevi começava com um sonho, em que a personagem desse sonho era uma guria chamada Andrea Dória, claro, uma homenagem à linda e sensível música da legião (quero ter alguém com quem conversar, alguém que depois, não use o que eu disse contra mim...) e quando o Zé Renato leu, disse que também curitia Legião. E desse momento em diante fomos trocando informações sobre bandas e descobrimos que além de sermos vizinhos, sermos amigos, brincarmos juntos, éramos roqueiros.

Outra coisa, de cagar de rir. Nessa época o Renato e o Ronaldo se intitulavam Porshe (kkkk, gente isso é demais). O China, amigo do meu irmão Fábio, esse mesmo do Baixo Clero (que também escrevia umas músicas nessa mesma época), que era punk, falou que o lance era virar Porshe, que seria um degrau antes de ser punk. Isso nunca existiu, mas os dois malas, então no auge dos seus 11, 12 anos, andavam pelas ruas com roupas pretas (muitas vezes camisas com estampas que eles colocavam no avesso) botando panca, e se achando o máximo. O Renato ainda usava um pedaço de pau, como o personagem de uma novela que ele assistia na época (kkkkk, muito bom isso, kkkkk). Quando eles descobriram, algum tempo mais tarde, a vergonha foi o mínimo que sentiram.


Mas, voltando, comecei a querer sair da banda Legionários do Brasil. Com a saída do Renato, que não queria nem ouvir falar de estudar, quanto menos fazer o ato em si, o grupo se enfraqueceu, porque eu também passei a pensar em outra banda. Foi quando eu, Zé Renato (que também havia comprado um violão) e o Ronaldo montamos o Kaos. Porém, já estávamos em uma fase mais revoltada, tínhamos virado punk e lutávamos contra o sistema (o que uma cambada de guris sem nada de informação, sem experiência, sem porra nenhuma, de 13, 14 anos, poderia fazer contra o sistema?). Pobre de nós... mas a ilusão era tão maravilhosa, ter um ideal era gostoso demais. Pelo menos impressionava as gurias, que insistiam em não nos dar bola.

O Kaos logo terminou, porque descobrimos uma banda punk de Sampa chamada Kaos 64. Então o Zé Renato, em uma de suas leituras literárias gibitescas trouxe para nós o nome Mayday, que adotamos e com isso chamamos o Robson para ser o baixista da banda. O Robson era engraçado, porque a mãe dele, dona Margarida, que está no meu orkut, não deixava ele sair, não podia ser punk, então deixava os apetrechos na minha casa e todo sábado era a mesma coisa, ele se montava (sem conotações drag queen, rsrsr) em casa. E saíamos os quatro a rodar pelas ruas de Santos City.

Santos City rendeu uma música, letra do Zé Renato e música minha (éramos a dupla Johnny/Márcio - assim assinávamos nossas composições em parceria. Era como Morrissey/Marr, Jagger/Richards, Lennon/McCartney. Por aí já podem ver as nossas pretensões), que cito abaixo um pedaço da letra:

"O lugar onde eu cresci
é muito legal
E as pessoas de lá são muito legais

A praia sempre poluída e as pessoas sempre tão fudidas

E ninguém faz porra nenhuma

E ninguém faz porra nenhuma


Bye Bye Santos City
".

Nessa época o Mayday era formado por:

Márcio Mayday (eu - kkkk) - Guitarra e voz
Johnny Alienado (Zé Renato) - Guitarra
Ronaldo Anarquista - Bateria
Rato Branco (Robson) - Baixo

Outra música da mesma parceria, em homenagem ao Branco e se chamava Batman:

"(...) Sábado à noite, ocorre a transformação
O filhinho da mamãe sofre uma mutação

Acorda cara, 'cê tá na contramão
(...)"

O Branco só entrou na banda com a condição de comprar um baixo.

Ser assim era a forma que encontrávamos para extravasar nossas energias, tentar impressionar as gurias para transar com o maior número possível, porque 4 carinhas sem grana, duros (em todos os sentidos, rsrsrs) e feios poderiam fazer para as gurias se aproximarem? Apesar que o efeito era contrário, quanto mais punks, sujos e feios ficávamos, mais elas se afastavam.

Gente, esse post está ficando enorme, preciso ir para academia, continuo mais tarde. Tem muita coisa pela frente.

4 comentários:

  1. Graaande Márcio "Crânio",
    Cara, acabei de descobrir seus textos aqui. Muito bom. Vou voltar.
    Quantas histórias voltaram a minha mente lendo isso aqui. Foi nesta época, com seu violão das Casas Bahia e seus LPs, que aprendi a gostar de coisas que definiram muito do meu gosto pela música nos anos que viriam. Zero, Inocentes, Plebe Rude, mas principalmente (e fundamentalmente) The Smiths. Valeu cara.
    Sobre a fita: Infelizmente roubaram esta e todos os meus K7s quando assaltaram minha republica em São Carlos. Mas lembro muito bem dela e das nossas gravações. Até hoje eu canto "No Escuro".

    Existem marés e existe a lua. Existem canções.

    Grande Abraço.
    André "Quinda"

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  2. kkk
    pois é cara, que pena que levaram nossa gravação de "NO Escuro". Mas na memória ficou!

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  3. classe a zega
    mó saudade dessa época, apesar de tudo éramos felizes. bons tempos. como nos divertimos.abraço mano véio.

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