sábado, 6 de abril de 2013

OS GAYS E A SOCIEDADE ALTERNATIVA


Nunca fui preconceituoso com as minorias. Aliás, de certa maneira, sempre me identifiquei com as minorias. Ainda na adolescência não suportava a discriminação, qualquer tipo de discriminação. Sempre tive amigos negros e para falar a verdade, tenho um pezinho em alguma senzala, embora meu tio Luiz tenha me informado que os Silveiras são descendentes de uma tribo nômade do Oriente Médio.

Lembro que nos anos 80, os gays eram uma minoria enorme, com o perdão da contradição que rima. E sim, nessa época, confesso ter preconceito contra os gays (me contradizendo ao parágrafo anterior). Fruto da minha criação em uma sociedade que vivia o final de ditadura e de conservadorismo extremo. Quando entrei na faculdade, em 1991, só tinha homossexual no Câmpus. Exagero, mas eram a grande maioria. No curso de Psico, no curso de Letras, eram a maioria. Comecei a conviver com os homossexuais e meu preconceito caiu por terra. Claro que desde que me respeitassem, não via problemas.

Foi nessa época, provavelmente influenciado por ideologias que me fizeram ser punk e do contra já nos anos 80, oriundo não só da vontade de mudar o mundo, mas também de transformar este em um lugar melhor para se viver, buscar quebrar as normas e mudar o status quo, comecei a pensar, mais maduro do que quando era punk, em como poderia, na prática, mudar o mundo. E comecei a me interessar pelo mundo gay, científica, ideológica e filosoficamente, importante deixar bem claro.

Comecei a pensar que talvez os gays fossem os agentes de mudança, aquelas mudanças que os hipies nos anos 60, 70 pregavam e que tentaram através de algumas experiências de sociedades alternativas na prática e que por algum motivo que não dá para ser aprofundado nesse momento ou sem um estudo mais aprimorado, não deu certo; o que os socialistas, os marxistas ou mesmo os nazistas tentaram impor com suas idéias de revolução. Ou seja, uma nova sociedade, uma nova ordem social.

E durante a faculdade pensei em estudar a 'sociedade gay', pensando que eles poderiam ser os responsáveis por essa nova ordem, onde as coisas seriam diferentes. Os anos se passaram e a vida foi seguindo o seu rumo e eu seguindo os meus caminhos e me afastando de algumas idéias, ideais e certezas pré-concebidas que se mostraram não ser tão certas.

Pois bem, essa semana, assistindo ao jornal na televisão, me deparei com a notícia de que os cartórios do Paraná poderiam fazer casamentos homo-afetivos (agora é assim que se chama, o termo politicamente correto). Ao ver tal reportagem pensei com meus botões: "o que os gays sempre quiseram não era uma nova ordem social e sim as mesmas coisas que os héteros. Ou então, para serem aceitos, foram se adaptando ao sistema ao longo dos anos."

Já a alguns anos vinha percebendo esse movimento dos gays, desde que começaram a desejar construir famílias como a que conhecemos e denominamos como família nuclear, tendo pai, mãe e filhos, ter descendentes e dar continuidade à espécie.

No final das contas, como o marxismo, como o socialismo, a sociedade alternativa dos gays demonstrou ser apenas mais um equívoco que as certezas não absolutas nos prega. E como o capitalismo e suas transformações/ transmutações pelo qual passou ao longo de sua hegemonia (e para mantê-la), os gays também foram se adaptando às exigências da sociedade para deixar de ser uma aberração (como era antigamente) para ser algo tolerável hoje e no futuro próximo, ser algo normal dentro da sociedade.

O que tirar de lição sobre isso? Talvez que o status quo nunca será vencido e sempre que estiver correndo perigo, promove uma transformação que soa como algo revolucionário, mas apenas algo que se permite para se manter tudo como está. Se há os '"revolucionários", os "idealistas", os que lutam por um mundo diferente, é porque o sistema permite, para ele próprio poder se manter. E assim seguimos ao longo dos anos, décadas, séculos... lutando pela utopia.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e blog Márcio! Boa reflexão.
    Acho que o que estás sentido é parecido com o sentimento que tem um fã, quando a banda underground dele vira mainstream!
    Mas entendo que deve haver uma grande necessidade humana de aceitação. Devem haver muitos gays que não pretendem se casar, mas defendem o direito em função da "possibilidade de", que é de um simbolismo bem grande.
    Creio que em relação ao aborto pode acontecer algo parecido. Conheço pessoas que jamais variam um aborto, mas mesmo assim defendem a discriminalização. Em miúdos: entendo que uma parte do "encanto" se perca quando as minorias são "aceitas no clube" (impossível não lembrar o Groucho Marx: "eu jamais faria parte de um clube que me aceita de sócio"..eheheh), mas vejo isso como uma evolução da nossa sociedade. Espero que isso logo seja naturalizado, e que pelo menos uma parte do "encanto" seja preservada!

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  2. Ah, E viva a sociedade alternativa!!!

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  3. cara, tu sacaste bem o espírito da coisa, rsrsrs. Na verdade esse lance da banda que ninguém conhece e de repente "se vende" e entra para uma grande gravadora é mais um egoísmo nosso. Mas o lance é parecido mesmo, uma decepção semelhante. O que vejo é que a oportunidade que tínhamos de ter uma alternativa, um universo paralelo, se desfez, como quando o muro de Berlim caiu, é isso que sinto. Não temos alternativa...

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  4. Pode ser... acho que não dá para ignorar esse possível lado negativo da coisa, que em geral é bem positivo! Mas talvez seja o mesmo lance do egoísmo. Inclusive não se pode ignorar a questão legal. Lembro sempre do caso do Chicão, filho da Cássia Eller. Se fosse agora, não seria toda aquela novela para ficar com a companheira da Cássia, como era óbvio. Sobre o tema que vc falou, do universo paralelo se desfazer e citar o muro de berlim, me lembraste o ótimo "Adeus Lenin", um dos mais belos filmes que já vi. Imagino que já tenhas visto, se não, corre ver... ehehehe. Bom, nao acho que seja o fim da história. Outras utopias virão (que venham!), só acho que talvez seja cada vez mais difícil percebermos aonde elas estão.

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  5. Uma vez ouvi o Renato Russo dizer em entrevista que recusou fazer parte do movimento Gay! Ele queria viver as escolhas dele sem militância! Militâncias sempre correm o risco de cair num discurso intolerante em defesa da tolerância!
    Sem entrar no mérito específico desta discussão, acho que se Raul Seixas lançasse hoje o "Rock das Aranha" seria processado por homofobia!
    Aqui uma opinião do meu orientador no Estação Raul! Ele se baseia em Marcuse pra dizer que o movimento gay deixou de ser revolucionário e passou a ser conservador! A defesa dos mesmos valores, só que agora com polos invertidos:
    http://estacaoraul.blogspot.com.br/2011/05/nos-anos-60-um-dos-gurus-da.html

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