sexta-feira, 1 de novembro de 2013

ROTINA

Acorda cedo para ir trabalhar,
o relógio de ponto a lhe observar; 
no lar esposa e filhos a lhe esperar, 
sua cabeça dói, um dia vai estourar, com essa rotina!

Tudo nessa vida é um ritual. O dia a dia, por mais que seja rotineiro, não deixa de ser um ritual. Hoje, quando estava me vestindo para voltar ao trabalho após o almoço, esses pensamentos se misturavam a outros na velocidade que a mente processa as coisas: tudo ao mesmo tempo. Um pequeno inseto é capaz de gerar zilhões de pensamentos, desencadeando um tsuname de idéias, um turbilhão de sinapses. Tudo ao mesmo tempo! E sem ligação qualquer entre os devaneios. E em micro segundos, coisa que talvez nem seja possível de medir, ou de ver a "olho nu", sem qualquer aparelho de medição mais exato, passou pela minha cabeça alguns rituais meus do dia a dia. 

Acordo cedo, às cinco horas e quarenta e cinco da manhã o relógio já está despertando; taí o primeiro ritual do dia, o de levantar; é sempre uma pequena luta da cama aconchegante e macia, tendo o corpo quente da Juliana ao lado, sua respiração tranquila de um sono profundo, contra a necessidade de levantar, a obrigação e responsabilidade de começar mais um dia. Em minutos levanto, não mais do que cinco. E lá vou eu, cambaleante, sonolento, olhos semiabertos... direto ao banheiro e o segundo ritual, que é escovar os dentes, enquanto estou mijando, andando pela casa para ver se está tudo em ordem. Olho o quarto do Gui, sempre com a luz acesa. Desligo, fecho as janelas (esse é ritual dele dormir, toda uma preparação, abrir as janelas, acender a luz e deitar, sabe-se lá pensando noquê), o cubro com o cobertor jogado no chão e o lençol enrolado nas pernas; ele dá uma olhada e vira para continuar dormindo; essa olhada denota que não acordou, apenas um reflexo do barulho da porta abrindo e da luz se apagando. Então, apronto minhas roupas (ainda escovando os dentes) e vou tomar banho.

É sempre a mesma coisa: espero a água esquentar um pouco, sentindo a temperatura com os pés, até que sinto a temperatura melhor e entro embaixo, sentindo a água me relaxar, dou uma espreguiçada forte e sinto arder o olho semi fechado pelo sono e por ter recém acordado. Me seco ainda no box e me dirijo à cozinha separar meu café da manhã, que levo para o hospital: iogurte, uma banana, pão integral e mais duas frutas picadas, que a Juliana cortou no dia seguinte e acondicionou em uma dessas vasilhas pequenas de plástico. 

Faço tudo isso enquanto meu corpo vai se secando por completo para começar a me vestir; antes passo no quarto do Victor:

- Acorda filho, levanta para se vestir.

Ele mais sonolento que eu, levanta e veste a calça e uma camisa qualquer que encontra no guarda roupa, apaga a luz e volta a dormir. É cedo, já estou vestido, uma roupa confortável para caminhar os trinta minutos que me separam do trabalho. Mais um ritual desse comecinho do dia: abro a janela da sala e dou uma respirada forte para sentir o ar fresco em meus pulmões. Aproveito para ver como está a temperatura do final de madrugada. Com o horário de verão, ainda está escuro, no horizonte, ao leste, uma pequena claridade amarelada indica que logo o sol estará nascendo para mais um dia. 

Confiro minha mochila com minha armadura para o trabalho, minha roupa de super herói, para defender a minha família dos males que a pós modernidade nos causa e para enfrentar os vilões do meu trabalho (a sobrecarga de trabalho, a insensatez de uma rotina estafante...); confiro se meu crachá está na mochila, caneta, chave do RH. Tudo ok, a coloco nas costas, volto ao quarto do Victor Hugo.

- 'Tô indo filho, não vai perder a hora, daqui a pouco levanta. Tchau.

Pego o livro que estou lendo e sigo meu caminho. E começo a ler ainda na escadaria. Desço a rua até o lago e, livro em punho, olhos cá e lá, noto o movimento, lua ainda no céu, pessoas correndo, caminhando em grupo, conversando alto; ao menos eu acho, porque é como eu escuto as vozes, ao fundo, pois estou com o fone de ouvido escutando alguma coisa legal para me alegrar o dia. 

O percurso tem subidas e descidas nas ruas da planície de Londrina. E o meu caminho é arborizado, com uma natureza exuberante entornada pelo concreto da cidade. Ando na velocidade em que leio. Por vezes percebo a natureza, uma árvore que insiste em viver no meio de todo o asfalto, o lago que fica parado esperando que o vento crie algum caminho a seguir. Alguns cumprimentos de bom dia, geralmente aos idosos, que são mais amistosos e simpáticos; outras vezes tiro os olhos do livro para atravessar uma rua. Poucos são os carros a essa altura da manhã, menos do que pessoas, por incrível que pareça. Em tantos momentos me perco em pensamentos e tenho que retomar o parágrafo que acabei de terminar de ler e não entendi nada.

Chego no RH, me troco e vou ao hospital (o RH fica fora do hospital) para registrar o ponto (rotina, rotina). Depois de abrir quase uma dezena de portas, de salas e entre-salas, ligo o computador, leio as notícias rapidamente (se o Grêmio ganhou na noite passada me prendo mais às notícias esportivas - uol, clicrbs, msn, globo esporte); vejo o que tem na minha caixa de mensagem, planejo e preparo o meu dia de trabalho (grande porcentagem não será seguido) e desço para tomar café, às sete horas e trinta minutos. 

Quando subo, a rotina some. Cada dia é diferente no trabalho e os imprevistos são a rotina. Como disse, grande parte da porcentagem do programado não será realizado. 

Depois de quatro horas de trabalho, o ritual de trocar de roupa, arrumar a mochila, pegar o livro da leitura do momento e fazer o inverso, voltar para casa e almoçar. E a rotina de chegar em casa, por vezes encontrar o Victor no caminho e dar uma pausa na leitura, perguntar como está

- e daí, tudo beleza?

Jogar alguma conversa fora, comentar do Grêmio, como foi a aula, tudo certinho? Discutir alguma teoria filosófica ou sociológica (claro que superficialmente) que ele aprendeu no cursinho ou leu e que se encantou, como está em matemática filho? E física? As provas do vestibular são foda, tem que suar um pouco! E essas conversas. 

- Tudo bem Juliana, o Gui foi para a escola? Tudo bem com ele? E tu, tudo certo?

Todos os dias mais ou menos a mesma coisa. Voltar para o trabalho, à tarde de carro, pois o sol a pino castiga e não dá para chegar suado. O livro descansando no banco de trás, solitário e esquecido. Um sinal que demore mais e leio um parágrafo e de sinaleira em sinaleira, de parágrafo em parágrafo, chego ao trabalho. 

Dezoito horas! O sinal mental toca e lá vou eu, me trocar, para treinar. Dez quilômetros ás segundas, quartas e sextas e cinco às terças e quintas com o grupo de corrida do Sesc do Aeroporto. Depois academia com a Juliana. E depois casa. Ler um pouco, fuçar no twitter, ler algumas notícias, olhar a novela com a Juliana. E dormir. Dormir para descansar um pouco. 

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão trabalhoso
amanhã você vai trabalhar, de novo.

Feche seus olhos para dormir
de um dia tão cansativo
amanhã você trabalhar, de novo.

E no despertar do relógio, começar tudo de novo e repetir tudo de novo...

Green light, seven, eleven you stop in  
For a pack of cigarettes 
You don't smoke Don't even want to 
Hey! Now check you change 
Dressed up like a car.

Cinco horas e quarenta e cinco minutos. Hora de levantar. E começar tudo de novo!

Amanhã é sábado. Quebrar a rotina para aguentá-la e recomeçar na segunda feira.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Opine, comente, reclame, grite! Aqui: