sábado, 16 de março de 2013

EU NÃO USO DROGAS


Li o texto do Tico Santa Cruz aqui e posso dizer que concordo com muito do que está escrito. Vou discordar quando ele fala que a questão da droga é uma questão de saúde pública e apenas de saúde pública. Também é uma questão de polícia, porque a partir do momento que envolve crianças e adolescentes sem maturidade para discernir o efeito que uma droga pesada pode fazer ao próprio corpo e que é vendida por um filho da puta de um traficantezinho de merda que fica rondando a gurizada nas escolas, nas pistas de skates, shoppings, para vender a droga para eles.

Seguindo o seu raciocínio, que é bastante coerente, qualquer um dirá que é a favor da liberalização das drogas. O controle seria maior, como o são com os remédios controlados vendidos nas farmácias e que enriquecem cada vez mais a indústria farmacêutica. Isso porque é mais fácil comprar cocaína, maconha e qualquer ácido do que um remédio de tarja preta, que exige receita médica. Porém, muitas pessoas conseguem comprar esses remédios através de algum tipo de suborno, seja comprando receituário ou mesmo subornando os atendentes das farmácias. Vivemos num mundo capitalista, onde a corrupção é uma realidade próxima (assim como as drogas) de todos nós. Ao contrário do que a hipocrisia que toma conta de todos versa, no meu prédio, na tua rua, em todos os lugares há corruptos, não apenas onde os políticos se encontram; em nossa sociedade capitalista voraz, todos são passíveis de se vender por trocados.

Dizem que a maconha é uma droga inocente; que não vicia e que não faz mal algum, que o cigarro, que é permitido, faz mal pior do que um baseado. Não sei dizer quem está com a razão, mas posso dizer que usar maconha é uma transgressão e para os jovens, transgressão está associado ao prazer, a conquistar a admiração do outro, a se autoafirmar. E daí para outra droga mais pesada para continuar mantendo o fascínio dos colegas, é um passo. E como é muito fácil conseguir, se tornar um viciado e ir para o fundo do poço não fica longe.

Pode parecer exagero... talvez o seja. Mas a maioria das vezes é o que acontece. Todo mundo começa com maconha e dali vai testando outras drogas para ver se o barato aumenta. Quando entrei na faculdade, em 1991, claro que tinham zilhões de maconheiros e gente que usava outros tipos de drogas. Tinha um tal de chá de cogumelo que o pessoal comentava ser alucinógeno; era febre entre os universitários da Unesp daquela Assis de início da última década do século passado. Esse cogumelo era fácil de encontrar e de graça, porque entre a minha casa e o campus da Unesp havia um pasto e era lá que a galera encontrava a  matéria prima do chá. Eu morava em uma república que os caras faziam suas festas regados a maconha e muita bebida; passava tardes jogando xadrez com um dos meus colegas de república, ele fumando um baseado e eu sem nada e ele ainda ganhava de mim... (Wagner, saudades dessa época). Cheguei a experimentar maconha poucas vezes, não achei graça e nunca desejei utilizar outra droga; tomei um porre nessa mesma época em um churrasco em casa e passei tão mal que por meses não podia sentir o cheiro de churrasco que me nauseava. Essa foi minha experiência mais pesada com drogas. Sempre tive medo de viciar em algo. Tenho um pé no hedonismo e isso corroborou para o meu medo. Nunca tomei o tal chá, nem por curiosidade.

Depois disso nunca mais bebi, no máximo um vinho de vez em quando e uma champagne no ano novo. Nada mais. Não bebo e não fumo. Respondendo ao questionamento que o Tico Santa Cruz faz, não uso nenhum tipo de droga, nem as lícitas, muito menos as ilícitas. Quando estou com dor de cabeça, procuro desenvolver alguma atividade menos estressante até que a dor passe; levo uma vida saudável, com atividades físicas que mantém minha saúde em bom estado; faço academia e nunca tomei nenhum tipo de medicamento para ficar bombado, embora perceba que o resultado de muitos é diferente do meu, bem mais lento; nunca precisei de remédios para dormir, nem nos meus piores dias, quando durmo muito pouco. Costumo nesses dias me ocupar de algo produtivo, como ler um livro, escutando um boa música ou assistir a um filme. Aliás, a música e a leitura é que me fazem viajar. Talvez essa sensação de bem estar seja semelhante a que as pessoas têm ao estar sob o efeito das drogas.

O uso da droga tem relação com o imediatismo de nossa sociedade, da dificuldade em lidar com as emoções, com as angústias; o uso das drogas está ligado com a falta de tempo, com o ritmo de vida, do dia a dia que levamos, em que segundos 'perdidos' em uma sinaleira fazem diferença. A utilização de drogas está ligada a nossa inabilidade em lidar de forma madura com a dor que é viver, com a falta de paciência. Tem relação com não sabermos lidar com a tristeza e com a ditadura da felicidade; quem não é feliz, não sai de casa, não consome, não gasta dinheiro. 

De qualquer forma, não acredito em soluções milagrosas no caso das drogas. Primeiro porque é algo muito profundo a ser discutido. Acredito que todos devem estar envolvidos nesta questão: comunidade, família, autoridades; além disso é necessário vontade do poder público, investimentos altos em programas educacionais, mas também a aproximação maior da família; e quando falo de poder público incluo verbas para conscientização e educação, mas também em treinamento das polícias para saberem abordar adequadamente os usuários, e agindo de forma mais acintosa quando se tratar de traficantes; porém, antes de tudo, precisa separar os bons dos maus policiais, dos que abordam apenas para tomar a droga do usuário e usufruir da mesma e dos que agem de acordo com a lei.

O problema é complexo demais. É com reflexões e boa vontade que a sociedade pode superar. Sem taxações e generalizações. Esse é um caminho. Há outros, a discussão é longa!     

Um comentário:

  1. Perfeito Márcio! Onde eu assino?
    Somos muito parecidos nestes hábitos... Eu também raramente bebo e evito [quase sempre] remédios pra dor!
    Concordo contigo! Vivemos uma ditadura da felicidade e esta tem que ser imediata, fugaz, embriagada...
    Abraço!
    #tamojunto

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