terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

AMOR SEM ESCALAS


Amor Sem Escalas recebeu cinco indicações ao Oscar 2010, entre eles o de melhor filme e o de melhor diretor para Jason Reitman (Juno e Obrigado por Fumar).

Aparentemente chama a atenção dos mais apaixonados o título por parecer se tratar de um filme romântico, desses com final feliz e extremamente meloso. É o primeiro pecado que alguém pode ter ao julgar o filme apenas em verificar o nome nos cartazes de cinema ou nos cadernos de cultura dos jornais. Fui assistir ao filme com esse pré conceito, apenas para agradar à Juliana, pois só reclama que só a coloco em roubada, quando me acompanha a um programa que curto (a última vez no show do Júpiter Maçã, que ela odiou).

Porém, como o velho ditado, não se conhece o livro pela capa. Fiquei surpreso com a qualidade da estória. A temática roda entre a solidão que o mundo do trabalho nos leva, ao darmos mais atenção a ele (exigência de 10 entre 10 empresas para se manter no mercado) e o desespero de ser descartado de seu emprego. Um pouco menos angustiante que
O Corte, por tratar do tema com um viés mais ameno, mas também angustiante.

A estória de um consultor que trabalha em uma empresa contratada para dar a notícia de demissão para os seus colaboradores, quando quer cortar gastos. Se passa durante a crise que devastou a economia americana nesse final de década e consequentemente a do mundo inteiro. Ou seja, como não têm coragem da dar a notícia e terceirizam a desgraça dos trabalhadores. Nos
EUA tudo é um negócio.

Ryan Bingham
(George Clooney também indicado ao Oscar de melhor ator) tem a estranha mania de colecionar milhagens de voo e tem uma meta a alcançar: entrar para o seleto grupo que conseguiram 10 milhões de milhas de voo. Solitário e solteirão, não dá a mínima para as irmãs e trata o casamento de uma delas com sarcasmo e quase revolta por não entender como é que as pessoas decidem casar.

Até conhecer, em uma de suas viagens, uma mulher (Vera Farmiga) tão solitária quanto ele e sua vida começa a mudar e passa a dar valor a coisas que jamais havia pensado, ou estava fugindo a tempos. Tu estás certo, ele se apaixona por ela (nada mais óbvio e sem imaginação) e juntamente com outro fator - seu chefe descobre uma ambiciosa funcionária recém contratata (Anna Kendrick - indicada ao Oscar de melhor Atriz Coadjuvante)
que desenvolve um programa para dispensar as pessoas através de vídeo conferência, sem precisarem passar tanto tempo fora de casa e longe de suas famílias e obviamente com uma tremenda diminuição de gastos; inusitado e degradante, mas bem provável em uma economia perversa - vê sua vida dar uma guinada.

No dia a dia do meu trabalho costumo dar esse tipo de informação a um colaborador. Costumo dizer que sou a ave de mal agouro, que trás as notícias ruins. Certa vez, tentando amenizar ao máximo a notícia, um colaborador me jogou na cara que eu deveria ser feliz, porque não sentia o sofrimento por ter como uma das funções essa triste atividade. Lembrei de Enriquez, sociólogo francês: a racionalização não é outra coisa senão a perversão da razão. O que faço é a mesma coisa que Ryam Bingham ensina no filme: racionalizar. Mas a sensação do espectador, ao sair do filme, é que o capitalismo e sua voracidade nos torna todos lobos; parafraseio aqui o filósofo inglês Thomas Hobbes: o homem é o lobo do homem.

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