quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA


















Hoje assisti ao filme/ documentário "Notícias de Uma Guerra Particular". Conta através de relatos a guerra entre policiais e traficantes nos morros cariocas. Muito bem elaborado e desenvolvido, conta, ainda que superficialmente, o surgimento do comando vermelho, quando os militares que estavam no poder, durante a ditadura militar, tiveram a brilhante idéia de colocar alguns presos políticos com presos comuns na mesma cela. A principal idéia dos idealizadores do Comando Vermelho, como as milícias em toda a América Latina, era uma revolução contra o sistema capitalista, já perverso à época, e estar presente onde o Estado não estava e fazer aquilo que este não fazia para a população mais carente, pela força ou não. Um pouco da estória do CV no link http://pt.wikipedia.org/wiki/Comando_Vermelho. Também é possível ver a estória romanceada no filme "Quase Dois Irmãos" da diretora Lúcia Murat.


Antes de falar do documentário em si, de algumas partes que são extremamentes importantes de serem citadas, tenho que contar algo que me deixou extremamente revoltado. Meu filho de 16 anos foi assaltado ontem, pela segunda vez esse ano, na antevéspera do ano novo. Dessa vez foi aqui na rua de casa mesmo, que fica em um bairro tranquilo, de classe média. Na certa esses marginais andam à espreita, aguardando algum 'riquinho' para assaltar. Levaram dele a mochila com os 'apetrechos' para jogar uma pelada com os amigos, no prédio da namorada. Nada que tivesse algum valor, talvez o tênis e a mochila, ambos já desgastado pelo uso e pelo tempo.


A minha primeira vontade era pegar esses covardes vagabundos que estavam em maior número e dar uma 'camaçada' de pau, como minha mãe costumava falar quando batia em nós, ainda na infância. Eu sempre achei esses moleques vítimas da sociedade, assim como eu na infância, que não têm culpa da exclusão que sofrem. Mas vou ser conservador nesse momento: trabalhar, dar duro para ganhar a vida, como qualquer cidadão honesto, isso eles não quere, nem pensar. O negócio desses covardes, ladrõezinhos de merda, é aterrorizar os guris que não têm culpa da situação deles.


Pensando em soluções, ainda sendo conservador, a repressão policial resolveria de imediato a situação. Mas é paliativo, não resolve por si só o problema. Tenho certeza que se houvessem policiais na rua no momento do ocorrido, meu filho não seria assaltado. Porém, a longo prazo, continharemos como a música do Engenheiros do Hawai "Os Muros e as Grades" "... (construímos) muros e as grades (que) nos protegem de quase tudo... nos protegem do nosso próprio mal..." Agora tenho que ficar levando e buscando ele na casa da namorada, que deve ficar no máximo a uns 800 metros de casa. Até quando será assim?

Mas ao mesmo tempo, falando de policiamento, será interessante para a sociedade uma polícia que não seja corrupta? Os policiais entrarão em festas de bacanas regadas à cocaína, vão prender os políticos corruptos, como prendem os bandidinhos de periferia, fazendo todo o estardalhaço, apresentando e mostrando os rostos dos poderosos em rede nos programas idiotas da hora do almoço, vão prender os poderosos fazendeiros e grande latifundiários que fazem do campo os seus pequenos reinos, matando e criando um clima de terror, vão prender aqueles filhos de grandes empresários, de políticos, de figurões, que matam no trânsito ou que usam do seu poder para praticar delitos? Esses, querem uma polícia justa e incorruptível? Acredito que não. Vamos continuar contruindo muros e grades para nos proteger do nosso próprio mal! (Para escutar a música "Muros e Grades" clique aqui http://www.4shared.com/file/44762205/6a5d85ee/Engenheiros_do_hawaii_-_Muros_.html?s=1)


No documentário, Hélio Luz, então Chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, faz esse questionamento por diversas vezes. A partir do momento em que a polícia passa a ser justa e imparcial, através de uma experiência própria, no interior do estado do Rio de Janeiro, passaram a ser mal vistos pela sociedade e boicotado por esta; "... uma polícia que não seja corrupta não tem limites, a sociedade vai conseguir segurar isso?" 'Isso' ao que ele está se referindo é aplicar a lei também sobre a elite. Não poder mais dar 'carteirada' porque sou fulano de tal e meu pai é isso ou aquilo... repito o questionamento: a sociedade vai segurar isso?


Em um momento de extrema lucidez, Hélio Luz, mesmo sabendo ser impossível, acredita que a guerra contra o tráfico terá melhor sucesso quando conseguirem controlar a produção de armamentos tanto dos EUA quanto da Suíça, assim como o primeiro quer controlar a produção do narcotráfico na Bolívia e na Colômbia. Afinal, por que produzir armas cada vez mais poderosas? Qual mercado consome esse tipo de armamento? O lucro do narcotráfico está muito próximo do lucro da indústria bélica.

O problema da violência, então, está onde? Na produção de armas cada vez mais desenvolvidas, que matam e destroem mais? No narcotráfico? No Zé Mané que assalta um par de tênis ou um celular, como aconteceu com meu filho? A culpa é do meu filho ou minha, que ralo trabalhando para comprar as coisas que ele quer ou precisa? Não, a discussão é mais complexa. Está no capitalismo, que é um sistema excludente, que para poucos terem muito, outros tantos devem viver à margem, onde uns poucos conseguem amealhar riquezas e fortunas e a maioria vive na miséria (financeira ou intelectual, e até mesmo as duas, importante para a manutenção do status quo).

A violência demonstrada no documentário não está no ato em si, mas nas palavras e depoimentos de cada um. Por exemplo quando um presídiário demonstra a crueldade de nossa sociedade: "... nunca gostei de ser massacrado pela sociedade. A sociedade me massacra mesmo... minha avó tem 73 anos, trabalhou à pampa (sic) hoje é aposentada e nunca conseguiu nada. Que sociedade é essa?"

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