domingo, 27 de dezembro de 2009

SESSÃO NOSTALGIA - MAIS DO MESMO OU VARIAÇÃO SOBRE O MESMO TEMA?

Para quem é muito fissurado em música, como é o meu caso, as fases da vida são lembradas por uma música específica. Como no final da 8ª série, que eu escutava incessantemente "Ask", "Cemetry Gates", entre outras do "Smiths", a banda da minha vida. Foi a fase "Rank", disco ao vivo póstumo de Morrissey e Cia. Tenho esse disco no famoso e nostálgico formato 'bolachão' ou LP. Nós fãs, sempre tivemos a ilusão de que, como Morrissey dissera em uma entrevista, que li na Revista Bizz (época em que era assinante) que se encontrasse Johnny Marr em uma esquina o chamaria para voltarem a fazer uma das parcerias mais importantes do rock mundial. Devo ter até hoje essa reportagem, amarelada pelo tempo, em páginas tipo jornal que vinham no meio da revista. Isso se as mudanças que tive desde os idos de 1988 conseguiram manter essas coisas em algum lugar.

Mas dizia sobre a questão das músicas que marcaram cada momento da minha vida. Lembro de quando meu grande amigo José Renato comprou o disco da Legião Urbana, Que País É Este. Éramos guris sonhadores, queríamos montar uma banda, nossa fase pré punk e pré entrada no mercado de trabalho. Fomos até a casa dele fazer uma escuta em 1ª mão e nos apaixonamos imediadamente por Faroeste Cabloco e Mais do Mesmo, que fecha o disco. O André Quinda, outro grande amigo da época, ficou inconformado com o erro da capa e da própria música que cantava "que país é 'eSSe'" e não "que país é 'esTe'", como a grafia da capa e o encarte com a letra. E eu pensava: o que importa é o conteúdo.

O "V", também da Legião, foi do começo do meu namoro com a Juliana. É o disco mais melancólico que eu já escutei. E eu vivia um romance proibido. Foi no 1º ano de faculdade, uma loucura, sair de casa, vida nova, liberdade, festas malucas, saudades e um grande amor. Víviamos o período do "Fora Collor". Lembro de ter participado ativamente de muitas passeatas e movimentos que depuseram nosso 1º presidente eleito pelo voto direto após a violenta e sangrenta ditadura militar. Não vivi a ditadura, porque era criança, mas sei que hoje seria impossível ter um blog como este; eu seria considerado subversivo e estaria nos porões sendo torturado. Músicas marcantes: a dilacerante "Vento no Litoral" e a música que conta a minha estória "O Mundo Anda Tão Complicado", pois largamos tudo para ficarmos juntos.

Voltando um pouquinho no tempo, o 1º disco que comprei com o produto do meu trabalho, ainda na 7ª série, quando dei aulas de matemática para o Erik e recebi uma graninha, comprei o 1º disco do Capital Inicial, ainda com músicas da época do Aborto Elétrico, banda que os irmãos Fê e Flávio faziam parte junto com Renato. Minha escolha foi simples: naquela época, 1985, tinha a censura ("A Censura, única entidade que ninguém censura...") e tinha uma tarja preta dizendo que era proibida a venda para menores de 18 anos. Não era não, pois eu comprei. E tinha 13.

Teve o 1º disco do Engenheiros Hawai, que anos mais tarde teve o seu auge sendo a banda das bandas. Fui ao show desse disco, no saudoso Caiçara Music Hall, na divisa entre Santos e São Vicente. Ainda não eram famosos, mas a música Toda Forma de Poder bombava em uma novela da Globo. Conheci uma guria que era apaixonada pelo Carlos Maltz. Tivemos um affair e nunca mais nos encontramos. Naquela época era praticamente impossível rever alguém que morava longe, não existia celular, computador, e-mail, msn, e outras tantas formas que hoje encurtaram as distâncias. Poucos tinham telefone. Não era o meu caso.

Depois veio a fase punk. Shows do cólera em São Paulo, passeatas de 7 de setembro, 6 de agosto contra armas nucleares e tantas outras. Nosso sonho era ser preso em uma dessas passeatas e sermos fichados na polícia; tínhamos 15 anos e nada na cabeça, além de sonhos de mudar o mundo e uma grande energia pela vida. Haviam as loucuras de shows no Circo Marinho, noites nos puteiros santistas, até nos descobrirem e nos expulsarem por sermos menores de idade na famosa rua General Câmara e muita, muita batida policial, como o caso da mais perigosa de todas, no morro do Jabaquara. Essa vale a pena um capítulo à parte. Mas fica para outra postagem.

Infelizmente não temos registro através de fotos dessa época. Idas para Cubatão para passar a noite em claro, na rua, voltas da Caneleira a pé, um bairro distante na Zona Noroeste (só Santos mesmo para designar uma região como Noroeste), bem distante, atrás do morro do Jabaquara, já citado aqui, após escutar um som na casa do Zé do Kiss, a pé, porres homéricos do Tuta, que caía na calçada desmaiado entre vômitos toda vez em que bebia. Sempre o deixávamos caído, abandonado, pois no dia seguinte ele não lembrava de nada. Bailes no Santos FC, onde quem discotecava era uma cara do Harry, uma banda de Santos, alternativa, que fazia a festa dos punks da BS (Baixada Santista) tocando Ramones, Sex Pistols, Joy Division. Hoje pode ser moda, mas naquela época era a escória.

E nesse movimento findou-se os anos 80, fui embora de Santos fazer faculdade, conheci novas bandas e outras músicas fizeram parte da minha vida. Foi a fase que descobri outras músicas que não apenas o punk rock e abri a mente para o hard rock e para a mpb. Inusitado, contraditório, mas enriquecedor musicalmente. E o "Mayday", banda formada por eu, Zé Renato, Branco e Ronaldo e que chegamos a ensaiar algumas vezes, terminou antes mesmo de sair do papel. Uma pena, pois éramos bons! Não como músicos, mas com idéias; e tínhamos diversas músicas escritas. Posteriormente sob a alcunha de "Alquimia", eu, Ronaldo, Nair e um guri que não lembro o nome, como vocalista, também ensaiamos e chegamos a nos inscrever em um festival; o Zé Renato encontro todas as férias que vou para Santos, fez doutorado em jornalismo, leciona em uma faculdade do Guarujá, tem um filho, o Lucas; o Branco se formou em algum curso superior, é agente da dengue e não temos contato, tem três filhos; o Ronaldo não terminou nem o 1º grau, pouco se sabe, depois de punk virou vegetariano, Hare Krishna e a última notícia que se soube é que estava em sampa, casado, com 1 filho e que era cozinheiro. O Nair não sei que fim deu, apenas que mora em Santos.


E tudo que vem à mente é que "... tudo passa, tudo passará..." mas sempre "... teremos coisas bonitas para contar..."!

P.S.: a foto é a vista da janela da sala do meu ap. A constradição da criação da natureza e do homem, as árvores e os inúmeros prédios do centro de Londrina.

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