sábado, 5 de dezembro de 2009

O TRABALHADOR E A SUBJETIVIDADE

Muito se fala do trabalhador desenvolver competências, conhecimentos, ser criativo e tantos outros adjetivos pertinentes que levam à empregabilidade. Além disso, outro aspecto importantea ser desenvolvido para quem quer ser empregável (útil ao capitalismo) é o comprometimento. Sem essas características o indivíduo torna-se descartável, imprestável, inútil. Diversos autores discorrem sobre esse tema em seus artigos. divergentes em alguns pontos, têm em comum um fator: a responsabilidade é toda do trabalhador.

Vejamos (ou tentemos esclarecer) o porquê.

Na época pré revolução industrial, em que tudo era produzido manual e artesanalmente, antes do advento das máquinas, o trabalho se moldava às características do trabalhador. Vale ainda salientar que isso é anterior à administração científica do trabalho e de qualquer tipo de tentativa de organização do trabalho, algo impensável para a época. Ou seja, havia o predomínio do elemento subjetivo (trabalhador) sobre o elemento obejtivo da produção. Com a revolução industrial as máquinas passaram a exercer atividades antes sob a responsabilidade do homem. Foi então possível estudar e necessário uma nova organização do trabalho, a tal da administração científica. Surgiram então os "ismos" (taylorismo, fordismo, toyotismo, volvismo). Aos poucos o capital passou a apreender um outro campo antes intransponível, o campo da subjetividade.

A partir do domínio da subjetividade do trabalhador o capitalismo se renovou e passou então toda a responsabilidade para os trabalhadores. Por isso a culpa pelos resultados negativos, a cobrança e tantos outros sentimentos que nos fazem reféns das empresas em que trabalhamos. O trabalhador aprisionado em todas as instâncias (físicas, psíquicas, intelectuais e mesmo religiosas). Interessante que pouco se fala sobre a empresa desenvolver atividades que sejam motivadoras, desafiadoras, estimulantes. A responsabilidade é toda do trabalhador. E quando se fala na empresa, o discurso é de que os líderes (quem são eles, senão uma parcela de trabalhadores explorados, mas com salários melhores?) devem selecionar, treinar, receber melhor os trabalhadores. E a responsabilidade das empresas? Até aqui não vi ainda.

Como se percebe, muito se fala de aspectos extrínsecos à empresa, principalmente intrínseco ao trabalhador, mas pouco se discute sobre aspectos como melhores salários, benefícios e mesmo condições melhores de trabalho.

Entretanto, o que fazer diante dessa realidade? Não dançar conforme a música? Isso é um luxo que poucos podem se dar. Atualmente milhões de pessoas sofrem com a falta de uma vaga de emprego e tantos outros por trabalharem em excesso. Vivane Forrester, em "O Horror Econômico", reflete a certa altura: o que é pior, ser explorado pelo capitalismo ou viver à margem da sociedade, desempregado?


Um comentário:

  1. Muito bom o seu texto. Estou fazendo um artigo de final de disciplina e escolhi o livro de Forrester pra servir de base. Muito punk, principalmente porque quase nunca tinha me perguntado sobre o sentido do trabalho e de sua falta. Valeu pra refletir a sociedade que vivemos hj.

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