domingo, 1 de maio de 2011

INCÊNDIOS


Atordoado! Durante o percurso do cinema até em casa e antes de dormir, deitado olhando a tv sem interesse, enquanto o sono não vinha ou o barulho lá fora findasse (há um boteco desgraçado do outro lago do Igapó 2 que ficou tocando pagode - eca - até 2 da manhã! E ao ligar para a polícia, além de quase ser xingado, tive que ouvir que aquilo não era função deles. De quem será, meu Deus? Pensei em jogar uma bomba lá, será que isso viraria caso de polícia?), pensei no adjetivo que pudesse sintetizar e traduzir o mais próximo possível do que senti ou qualquer expectador sentiu enquanto assistíamos ao filme Incêndios, uma produção canadense e francesa de 2010, do diretor Denis Villeneuve - será este parente do piloto de fórmula 1 Gilles Villeneuve, o canadense voador, que morreu na pista nos anos 80? - difícil de sintetizar a explosão de sentimentos em uma só palavra, mas o exercício é apenas para que possam ao menos ter uma idéia do que o filme pode passar.

Atônito! Esse é o adjetivo mais próximo que encontrei para traduzir qual o sentimento ao subir o letreiro no final do filme. Gosto de ficar olhando a tela no final, lendo os créditos, remoendo os sentimentos, principalmente em um bom filme, que mexe com meus sentimentos.

Catatônico! Sim, ao sair do cinema notei os diálogos entre os expectadores, tentando exprimir a sua perplexidade diante da película que acabara de assistir. Saímos todos com uma mistura de sentimentos impossíveis de serem expressados, apesar de todo o esforço para tal.

Inusitado! Por fim, é o que penso ao relembrar a história do filme incêndios. E candidatíssimo ao melhor filme da minha vida. Sim, posso dizer que se não é melhor que O Poderoso Chefão, Peggy Sue, A Sociedade dos Poetas Mortos, Clube da Luta, Efeito Borboleta, Em Nome do Pai e tantos outros que não me recordo agora, está no mesmo patamar.

Não se pode esperar menos de um filme em que a protagonista está morta e que a sua narrativa se mescla ora no presente, ora no passado, em flashback. Está certo, não é muito original, mas o diretor Villenuve conseguiu amarrar as duas histórias, que na verdade era uma só, da mulher que foi esmagada em uma guerra entre a minoria cristã, da qual fazia parte, e a maioria muçulmana em um país do Oriente Médio - que a minha ignorância leva a crer que seja a Palestina.

No meio de uma guerra maluca, onde bastava ter outro pensamento para que o indivíduo tivesse sua vida ceifada, sem qualquer pergunta, sem compaixão, sem a tolerância do diferente, a destruição das famílias e seus lares, o ódio em nome de uma guerra santa. Sendo assim, toda a tortura e maldade pode ser justificada; os fins justificam os meios... e no meio a protagonista, apenas querendo encontrar o filho perdido nessa loucura toda, enfrentando o mundo para ter a tal paz de espírito.

E não senti um viés político, já que embora os muçulmanos apareçam como inimigos da protagonista, esta se volta contra a direita extremista cristã, que na sua avaliação é culpada pela morte do homem que ama e da perda de seu filho.

O filme ainda é dividido entre os momentos, primeiro intitulado Gêmeos e posteriormente a cidade ou ocasião de cada descoberta, ora no passado, ora no presente, no que um expectador desatento não entenderia, ou mesmo alguém acostumado com a linguagem fácil e emburrecedora hollywoodiana, não conseguiria acompanhar.

Uma volta ao passado para entender o presente. Uma verdadeira sessão de psicanálise, com um resultado que nos leva a entender nossos comportamentos ou atitudes e decisões, valores que temos atualmente. O passado explicando o presente. Na realidade diversas sessões, porque para chegar ao resultado do final do filme seriam necessários encontros seguidos.

Uma morte nunca é o final de uma história!

Um filme bom, na opinião leiga de um apaixonado pela 7ª arte, deve ter uma bela narrativa, uma boa história, um roteiro bem escrito e amarrado, ser inusitado, fazer transbordar sentimentos, sem ser piegas e sem ser mirabolante, como alguns filmes que assisti o ano passado, cheio de amarrações que no final se tornavam o filme chato e meio nonsense. Ah, e claro, o principal, com um final inesperado. E tudo isso tem no filme Incêndios. Consegue juntar tudo em uma história atordoante.

O filme foi candidato ao Oscar 2011, mas não obteve sucesso. Deveria, assim como o diretor.

E citando Renato Russo: nenhuma guerra pode ser santa!

Magnifique!

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