sexta-feira, 22 de abril de 2011

AMANHÃ É 23

23 de abril: o Brasil já fora descoberto, Tiradentes já fora enforcado e o dia do índio já passou. Em 1991 o Brasil só era tri campeão do mundo e fazia um ano do vexame na Itála, para a Argentina de Maradonna e Caniggia. Tínhamos eleito um presidente mauricinho, que depois veio a ser o maior vexame da história mais recente da república.

Um fato extremamente triste aconteceu nesse ano. O IMORTAL foi rebaixado ao perder do Botafogo no Rio por 3 a 1. Amargamos a segundona pela primeira vez. Uma coisa que nunca entendi como é que um time que fora 3º lugar no campeonato anterior, que manteve a base do time e tal, poderia ser rebaixado no ano seguinte?

Esse era o contexto dessa época. Eu me aventurava para uma cidade que nem sequer sabia que existia no mapa e muito menos tinha ouvido falar. Olhei no caderno do vestibular e vi que o curso de Assis tinha 5 anos, com Formação de Psicólogo, enquanto em Bauru a Unesp oferecia apenas 4 anos de curso e Licenciatura e Bacharelado. Bauru já ouvira falar, mas Assis...

Essa história começa alguns anos antes, em uma noite de insônia daquelas da adolescência; quando entrei no segundo grau, hoje ensino médio, pretendia fazer medicina. E gosto de pensar que eu passaria no vestibular. Porém, logo no primeiro ano me deparei com um professor de biologia estranho, que olhava para o teto quando explicava a matéria. Mas isso não influencou minha escolha e sim o fato de eu pouco entender a explicação do professor astronauta (que vivia no mundo da lua) fez eu abortar a idéia do curso de medicina, para tristeza da dona Sirlei, que trabalhava à época na Santa Casa de Santos.

Noites de insônia eram comuns; era mais uma delas, não sei que ano no final dos 80, sem nada para ler, peguei um dicionário e comecei aleatóriamente a ler o significado de algumas palavras. Me deparei com esquizofrenia. O que li, imediatamente me indentifiquei. Fiquei preocupado, ao pensar que eu era um esquizofrênico.

Outra coisa que influenciou minha escolha foi uma professora de Filosofia, ou seria de Biologia? Bem, não me recordo ao certo, acho que era da segunda matéria. Mas ela era Psicóloga. E eu, com 16 anos, estudando no noturno do Primo Ferreira, apelidado 72, por ser o ano que eu nasci e também o mais novo de todos da sala, era muito bagunceiro, aprontava pra caramba. Conversava demais, fazia gracinhas na sala de aula, tirava a concentração com algumas tiradas irresponsáveis que fazia a galera rir. Um bobo da corte, era o que eu parecia. Na primeira prova, tirei a melhor nota da turma. A professora, ao entregar as provas, não relacionou o meu nome à nota. Vendo que a maioria havia tirado nota baixa, largou um: - quem é esse Márcio? Com minha resposta e da sala, ficou surpresa. Soltou um - Você!!!???

A surpresa era explicável, afinal de contas, como ela poderia saber que o cara mais imaturo da sala era o melhor aluno no quesito nota? A partir daí começou a rolar uma admiração mútua, porque antes do episódio a antipatia era recíproca. E esse foi um dos fatores que me levaram a escolher a Psicologia. Primeiro eu queria me conhecer e essa simpatia com a professora, no 2º ano, foi fator preponderante.

Aos 18 anos aporto em Assis, mala nas costas, sonhos no coração e na cabeça, nos pensamentos, nas emoções. Vida nova!




Poucos dias depois do início das aulas a conheci. Loira, olhos azuis por trás dos óculos, pele clara, expressões ingênuas de uma guria de 17 anos. Os mesmos sonhos (bem, não deviam ser os mesmos), o mesmo bater no coração... adolescência... eu já era adulto. Completara 18 vários meses antes, estava próximo dos 19. O primeiro olhar foi magnetizante. Ela era o meu tipo. A mulher dos meus sonhos. Os cabelos revoltos e loiros, o sorriso enigmatico e sonhador, o olhar ingênuo, a fibra de uma mulher batalhadora ainda em formação.

Tudo foi tão rápido, como se assistisse a um filme e saísse do cinema e de repente fosse novamente e assistisse a outro filme. E entre filmes de guerra e canções de amor os anos passaram. Os guris vieram, cresceram (e continuam crescendo), novos filmes de amor, canções de guerra, o mundo mudou... Os anos passaram, os dias, as semanas, os meses, os anos... 20 anos. Daquele primeiro encontro, pouco antes do dia 23; de abril!


Antes do fatídico dia 23, depois dos flertes, eu chegando no campus e olhando para o mezanino onde ela esperava para trocar apenas alguns olhares antes de cada um seguir para a sua aula, para o seu curso. Um quase encontro na sala de pingue pongue, umas noites desencontradas na avenida (Rui Barbosa, a principal de Assis) e mais trocas de olhares na biblioteca da universidade. E lá veio o dia 23, quando uma amiga (dela) me chamou, para subir no tal mezanino para me aprsentar àquela guria que tirava o meu sono, o meu sossego, que me fazia sonhar acordado; e para minha surpresa, a recíproca era verdadeira. Juliana. Esser era o nome. Juliana, me cérebro repetia e repetia, inúmeras vezes... aquele nome oriundo do latim, que naquele dia fui buscar naquele mesmo dicionário de anos atrás, e que percebi que significava cheia de juventude, descendente de Júlio, Júlia, ou nascida em julho. Embora esta nascera em agosto.

Aquele dia 23 era especial. Foi especial, é especial. Mas era um dia de manifestações contra o governo do mauricinho. Fora Collor, caras pintadas. Sim, eu fui um cara pintada! Com direito à passeatas em Assis e em São Paulo. A troca do primeiro beijo ao som de A Dois Passos do Paraíso, da Blitz.

"Longe de casa,
a mais de uma semana
Há milhas e milhas distantes,
do meu amor
Será que ela está me esperando,
Eu fico aqui sonhando,
Voando alto,
Perto do céu
O rádio toca uma canção
Que me faz lembrar você"

Tais versos eram perfeitos para 38 dos 40 alunos da minha sala, que vinham de diversas cidades de todo o estado de São Paulo.

A primeira noite no Porão, a casa noturna da época onde todos os estudantes da Unesp se encontravam, pois entravam gratuitamente às sextas. E o afloramento do amor. Brigas, discussões, ciumes, reconciliações sem a separação e tudo o mais que um casal passa. Um ano de namoro escondido e uma história espetacular, que viraria um livro, um filme, uma novela.

Bem, amanhã é 23, são 8 dias para o fim do mês... e ainda guardo um retrato antigo. Há 20 anos nosso amor nasceu. E assim seguimos, às vezes em crise, às vezes em sintonia, em crises mais pesadas e vamos seguindo. Assim começou, assim vai acontecendo.

Como vai ser daqui pra frente?

Não sei, mas espero que ela me aguente por mais 20 anos, porque eu sou insuportável, acho que ninguém me aguentaria como ela me aguentou e me aguenta até hoje. Guria de fibra, batalhadora. Obrgado por me aturar. Obrigado pelos guris! E embora eu tenha pisado na bola em tantas vezes, meu amor continua tão grande como quando nasceu naquele 23 de abril de 1991. Aquela noite de terça feira de um ano que parou no tempo.

E foram tantos os 23 de abril que se seguiram...


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