domingo, 24 de janeiro de 2010

SOBRE SERTANEJO, VIADOS, PUTAS E MACONHEIROS

Frequento a picina do Sinpro (Sindicato dos Professores de Escolas Particulares de Londrina e Norte do Paraná) que fica ao lado da Uel e na cidade universitária, conjunto de prédios onde se concentram os estudantes de fora da cidade que vêm fazer graduação na Universidade citada. Aquilo é uma festa a céu aberto aos finais de semana. O pessoal aproveitando estes que são os melhores momentos da vida. É o vácuo entre a liberdade de ter saído de casa e a responsabilidade que logo a vida adulta trará... uma coisa me intriga já a algum tempo: por que será que o estudante universitário perdeu aquela pecha de revolucionário? Por que ao invés de escutar músicas inteligentes, em suas festas só rola sertanejo? Onde está o espírito explorador para garimpar na internet a vastidão de estilos musicais? Por que são tão facilmente manipuláveis pela mídia, como diz os versos da música do Garotos Podres: "... essa massificação me diz o que devo fazer, o que devo comprar, o que devo vestir, o que devo falar, o que devo comprar...;" versos estes presentes na música Eu Não Sei o Que Quero, do primeiro disco da banda, dos anos 80, mas atualíssima.


Digo isso porque no meu tempo de universitário, os estudantes tinham o estereótipo de revolucionários, de malucos, de drogados, enfim, eram tidos como pessoas que incomodavam a elite dominante, formadora de opinião. Não que isso fosse a realidade, mas era assim que nos apresentavam e era assim que gostávamos de aparecer. Assis, no interior de São Paulo, no início dos anos 90 via os estudantes da Unesp, onde fui estudar Psicologia em 1991, como a escória do mundo. Para a sociedade Assisense, quem estudava naquele campus da Unesp era viado, puta ou maconheiro. Um exagero, obviamente, pois embora encontrassem essa galera aos montes (alguns alunos conseguiam ser os três), tembém estudavam uns caretas, como era o meu caso e de tantos outros. Mas um campus onde os cursos eram de Psico, Letras e História, depois Biologia (este onde se concentravam o maior número de alunos normais) não era de se esperar coisa diferente: os alunos malucos que vinham de fora e o preconceito de uma cidade pequena do interior paulista.


Nas festas da Unesp daquela época, o que rolava era um banquinho e um violão, muita MPB e Bossa Nova, além de muito Rock and Roll - e aquele nefasto cigarro de maconha que passava de mão em mão. Ou seja, havia a galera da MPB e a galera do Rock. Símbolos da intelectualidade e da rebeldia, respectivamente. Todos queriam festa, sim, como hoje, mas havia um resquício de ideologia, mesmo que vazia (apesar das passeatas do fora Collor, das quais participei).


O que vejo atualmente é algo tão desanimador: a galera não tem mais aquele ímpeto revolucionário e nem os mesmos gostos musicais. Se a pouco tempo atrás se impressionava uma guria com um papo cabeça e a rebeldia aparente de um roqueiro revolucionário, hoje, para levar para a cama alguém, é necessário ficar em festas e churrascos curtindo sertanejo... nada contra... mentira, tudo contra, odeio esse tipo de música, tenho asco, acho escrota demais... chega!!! Bom, é nojento perceber a elite (que deveria ser) pensante sendo tão facilmente manipulada pela mídia. Cadê os roqueiros, os zens, os maconheiros (e quando digo maconheiros não são os drogados, que por exemplo hoje usam drogas sintéticas ou mais pesadas, mas a inocência de um cigarro de maconha, que se mal fazia, ao mesmo tempo era algo que aproximava os mais tímidos e reservados dos descolados)?


Depos de muito pensar cheguei a conclusão que o mundo deu tantas voltas e que a sociedade hoje é tão individualista e superficial que os ideais revolucionários se perderam no tempo, pois agora é cada um por si, não há tempo a perder com coisas que não serão resolvidas. Por um lado eles estão certos, pois não conheço nenhum movimento estudantil que tenha resolvido algum problema (pelo menos da minha época) ou que tenha mudado o status quo. Provavelmente essa desilusão fez mudar a cabeça dessa juventude alienada e desinteressada. Entretanto e os ideais de mudança? Não foi passado de geração por geração. E creio, isso (a falta de resultados) não é motivo para perder as esperanças e o espirito rebelde. É uma volta ao tempo dos yupies, que só pensavam em amealhar os seus milhões de dólares o mais rápido possível, não importando os meios.


Meu objetivo não é fazer um estudo sociológico desse fenômeno (obviamente), mas apenas constatar um fato. Pode ser que o redor do lugar que eu frequente seja o local da galera que tem grana e que os alunos mais proletários estejam espalhados pela cidade, com seus ideias revolucionários e rebeldes. Espero que assim seja, porque encontrar aqueles malucos hippongas, roqueiros, maconheiros, zens que foram meus contemporâneos universitários, enfim, os sonhadores, é sempre um alento, saber que ainda existem pessoas inconformadas com as barbáries de nossa organização social.


Ainda sob o efeito de minhas reflexões, acredito que é um fenômeno semelhante ao que ocorreu com o futebol no Brasil. Assim como aquela seleção de Telê Santana da Copa do Mundo de 1982, com craques como Zico, Sócrates, Falcão, Éder e tantos outros, onde até a dupla de zaga formada por Oscar e Luizinho era elegante e jogava bonito, com o talento que Deus lhes deu, mas que não conseguiu nada além de encantar o mundo com seu toque de bola envolvente e concretamente não chegou ao título mundial, não entrou para os anais futebolísticos como campeão do mundo e caiu no esquecimento dos mais pragmátcos. Como o que se valoriza são as conquistas efetivas, o troféu, o carro, a casa, enfim, coisas palpáveis, não atingir um resultado concreto é sinônimo de fracasso e isso significa ter que mudar para atingir os resultados, as metas. Portanto, assim como a seleção brasileira passou a jogar feio, mas um jogo de resultados, os universitários deixaram essa bobagem de mudar o mundo para trás. Preocupações como essas não valem à pena, é perda de tempo. Carpe Dien!


Na verdade esse post é apenas um protesto contra a nojenta música sertaneja, que agora com o chamado sertanejo universitário, conseguiu atingir o espaço acadêmico. Uma pena que as coisas tenham chegado a esse ponto. Meus pêsames! Malucos universitários, uni-vos contra esse absurdo.



7 comentários:

  1. nojento foi esse seu comentário... chegou dar ânsia, do começo ao fim, em todos os detalhes...

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  2. totalmente preconceituoso... um horror como se apenas o que vc faz ou escuta é o correto...

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  3. As avaliações sociológicas não estão ai para despertar prazer ou repulsa. Apenas para retratar a realidade. No microuniverso de sua análise, a concreticidade e a plasticidade do que escreveu é notória. Parabéns pela análise.

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  4. Analisando o conteúdo acima sito, a expressão que me vem a mente é de um conteúdo pré conceituoso e um tanto o quanto ultrapassado. Sou uma admiradora da música em seus diversos estilos, defendo o direito dos estudantes universitários de ouvirem o que lhes proporciona prazer, considerando inclusive que os estudantes dos anos 80 não foram iguais aos dos anos 90, e seria uma hiprocresia esperar que os estudantes atuais fossem iguais a qualquer outra geração anterior a atual. Criticar o estilo de música em questão não mudará a realidade, uma vez que você pode se considerar na contra mão, lutando contra uma grande maioria. Provavelmente desenvolverá com suas opiniões antiquadas polêmica e revolta, não agregando valor algum ao conhecimento dos estudantes aniversitários, os mesmos que inclusive você se refere demonstrando tanta preocupação.

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  5. Parabens pelo texto! Tempo em q ouviamos , clube da esquina, novos bahianos, mutantes, tropicalia, bossa nova. Onde a musica significava cultura. E nao musica de baixa qualidade, musica de rodeio, cancao de corno, ou musica sertaneja universitaria. Faça me favor. O comentario acima disse que voce esta indo contra a maioria. No entanto, como dizia Nelson Rodigues; " Toda unanimidade é burra"

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  6. Uma análise super embasada da letra da música Paga Pau, que eu apelidei carinhosamente de sertanojo mano, confira:
    Você diz que não me ama, você diz que não me quer
    Mas fica pagando pau, qual é que é.
    Na primeira frase já fica evidente o clichê que a maioria das duplas não consegue escapar: Todo fã de música sertaneja é corno. A mina do cara finge que não tá nem aí pra ele e fica pegando no pau de todo mundo. Fernando e Sorocaba trocaram pegando por pagando apenas para não chocar a sociedade. Eles ainda têm o desplante de tentar uma intimidação com a moça (qualéquié meu, tá embasando por quê?).
    Todo dia seu teatro é exatamente igual,
    Você finge que me odeia, mas no fundo Paga-Pau.
    Não é teatro ela é não gosta do cara. Conselho: Nesses casos é melhor assumir que é corno do que tentar disfarçar. Ódio é uma palavra muito forte pra descrever o que ela sente, talvez seja a segurança de fazer o que quiser com um otário e ele ainda acha que ela tem alguma admiração, coitado.
    Ela é atriz, ela faz cena, ela mete uma pressão
    Se joga na minha frente, me engana não.
    Olha o corno tentando se justificar mais uma vez, a única pressão que ela mete é pro rapaz pagar as contas dela. A vadia é tão desclassificada que se joga na frente do mané, e ele se gaba por isso, mas disfarça porcamente.
    Feito cobra mal matada, ela rebola eu passo mal
    Com o nariz empinado, ela é a tal.
    Citar um animal silvestre faz parte do clichê sertanejo, afinal o cantor não pode negar suas origens, na letra da música é obrigatório citar um animal (cobra, cavalo, boi, etc.), viola, fazenda, ou outra tag que lembre o universo sertanejo. O nariz empinado dela pode ser compreendido de você voltar na explicação da segunda frase.
    Se eu mando um xaveco, ela finge não ouvir
    Mas se eu grito: Olha bruxa! Vem discutir.
    “Sou um Pokémon e vivo em uma pokebola, quer ficar comigo ou nem rola?” Só um retardado mental passaria uma cantada falha como essa. No Halloween tente: “Oi gostosura, vamos fazer uma travessura?” (by: Nagueva) A bruxa vai adorar.
    Sua psicologia tá um tanto quanto errada
    Ou me aceita de uma vez, ou tá danada!As duas últimas frases fazem pouco ou nenhum sentido, vai ver o autor já estava tão de saco cheio dessa merda, que lá pela décima oitava dose de pinga resolveu complementar o último verso com o auxílio do gerador de lero lero.

    NO BREGANEJO, NO CORNMUSIC, NO AGROBOYS, NO SERTANOJO.......... YES ROCK´N ROLL....!!!!

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  7. muito bom o teu comentário, essa análise da letra da música ficou muito interessante. que a letra é um lixo, assim como deve ser a música, não tenhamos dúvidas. mas sempre é possível fazer uma análise do lixo. e esse 'compositor' caprichou na pobreza poética... rsrsrs
    é isso aí, God Save The Rock and Roll!

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