domingo, 31 de janeiro de 2010

NO MEU LUGAR

No meu lugar é um filme que conta a estória de três famílias que mudam a partir de um ato violento. Isso é lugar comum, está escrito por aí, na crítica do filme, ou mesmo na sinopse, é só ler a mídia impressa ou virtual. Vencedor de diversos prêmios tanto nacionais quanto internacionais, inclusive com exibição na seleção oficial de Cannes 2009, só por isso já merece ser assistido, para saber o que tem de tão especial, para receber a premiação e críticas positivas.

O filme começa no final, e passa a desenrolar um quebra cabeças dando um nó no espectador menos atento (até nos mais atentos). Aos poucos percebe-se que as estórias dos três núcleos não ocorrem no mesmo tempo cronológico. O casal Beto (Raphael Sil) e Sandra (Luciana Bezerra) ele entregador em um mercadinho e ela doméstica na casa de um bacana. Essa estória ocorre antes do crime; como e porque tudo desemboca no crime do final (ou do começo). Roberto é um guri carinhoso com a mãe e a irmã mais nova. Ao conhecer Sandra passa ser mais reflexivo e introspectivo. Ao conhecer Sandra, instigado pela mesma, passa a pensar mais no futuro, a tal ponto que a mãe nota a mudança. Sandra não é uma guria ambiciosa ou interesseira, apenas tem o seu minuto de bobeira ao ter a idéia.

A segunda família, do tenente da polícia Zé Maria (Márcio Vito) - que participa da cena do crime inicial - e de sua filha adolescente Janaína (Lívia Magno); um relacionamento edipiano, confuso, que no início se confunde com marido e mulher. A estória parece ocorrer no presente, logo após o crime, quando ocorre uma sindicância policial interna a respeito do ocorrido na cena e no momento do ato.

A família de Elisa (Dedina Bernadelli) e Fernando (Licurgo Spinola) está no futuro, quando vão à casa do assassinado (ex-marido de Elisa), que está fechada a algum tempo, para, aparentemente, tomar providências quanto aos bens do espólio.

As três estórias estão amarradas de forma que uma complementa a outra, muitas vezes o que ocorre em uma (como por exemplo o toque de campainha da casa) é um gancho para voltar a contar estória de outro núcleo. Entretanto, eles não se encontram em momento algum, mesmo porque não estão em tempos diferentes. Esse é o charme do filme, de contar as estórias, a partir de um acontecimento envolvendo as três famílias, mas sem terem qualquer relacionamento.

As relações familiares são permeadas por um édipo muitas vezes pouco sutil, como Beto e sua mãe, Zé Maria e Janaina (já citado aqui) e Fernando e a filha mais velha Lili (Letícia Tavares), talvez este o mais tênue. Provavelmente por não ser filha deste e sim do ex-marido de Elisa, o assassinado que amarra as estórias.

A estória demonstra que a violência está dentro de todos nós, faltando um fator motivante para o seu aparecimento. É nosso instinto animal. Na realidade não é a violência, mas um ato violento isolado; como dezenas que ocorrem em nosso dia a dia, no trânsito ou em situações estressantes da nossa rotina. Aquela velha máxima de que a
ocasião faz o ladrão é a moral que passa. Que mesmo um cara pacato e trabalhador, carinhoso com a família, pode malsinar o caráter. Em um momento de bobeira e pronto, está feito. E o arrependimento vem em seguida, como no caso, quando Sandra se desespera e vai para a rua pedir socorro à polícia. Sutil, o filme passa por uma linguagem monótonona e confusa, necessitando que o espectador permaneça atento aos acontecimentos para entendê-lo.

Como no começo (assim como no fim), ouve-se o tiro do assassinato, tudo fica escuro e o que aconteceu fica na imaginação de cada um, de quem partiu o tiro mortal, do policial (exímio atirador) ou do rapaz pouco afeito ao crime. Novamente a atenção do espectador a pequenos detalhes desvendam o mistério. Isso não esclareço, vai perder a graça e o suspense... assista o filme, mas preste atenção aos detalhes. Está tudo lá, não precisa interpretar. E bom filme!


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