domingo, 1 de abril de 2012

PRIMÓRDIOS

A última vez que vi o sr. Laudelino Flamarion Silveira fora em 1983, 84, contava em torno de 13, 14 anos, ou seja, era uma outra pessoa, bem diferente deste que escreve neste momento, neste blog, que completou 40 anos às 15hs do dia 29 de março, última quinta feira. Laudelino Flamarion Silveira é aquele que vem a ser meu pai, que de repente sumira no mundo sem dar notícias, ou ao menos eu, no final da infância, início da puberdade, nunca recebi nenhuma, ou poucas que apareciam ao longo desses quase 30 anos. Mas o ano passado, comecei a ter um contato mais aproximado, através do telefone e este ano, nas férias, de passagem por Navegantes, o encontrei na casa do meu irmão mais velho Rogério (o mais velho da minha mãe, porque tem o César, que conheci o ano passado, também nas férias, de passagem por Florianópolis, onde ele mora). Nesta passagem também conheci meu sobrinho neto, Gabriel e minhas sobrinhas (bah, essa família também tem mulher) Lídia e Thaís.

E desde então tenho mantido o contato com ele. Meu pai completará 70 anos esse ano, mas está bem envelhecido, com inúmeros problemas de saúde. Leva uma sobrevida à base de uma porrada de remédios que o impedem de viver mais dignamente. Tudo isso, provavelmente fruto de seus exageros ao longo de sua atribulada vida, de 10 filhos e em torno de 6 casamentos.

Conversando com o César ano passado, que foi até a casa do Rogério churrasquear (cujo churrasqueiro é este que vos escreve) esse ano quando encontrei o Flamarion depois de tantos anos, percebi o quanto ele é apegado à família e como nós, os Alves Silveira, ficamos isolados de toda a família. Flamarion teve filhos com a Eda, primeira mulher do Flamarion, com quem ele realmente foi casado, 2 guris, o César e o Julio; teve filhos com a Sirlei, meus 4 irmãos por parte de pai e mãe, e com a Sônia teve filhos concomitantemente, tanto que a Fernanda, com quem encontrei nesse mesmo churrasco que se encontravam o dono da casa (Rogério, que se encontra na foto), a própria Fernanda e o César, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1974, exatamente um dia após o meu irmão mais novo (filho da Sirlei): 4 de fevereiro de 1974; o Flamarion fala que são gêmeos. Nesse churrasco também conheci as lindas filhas da Fernanda (sim, tem mulher nessa família). Digo isso porque a Fernanda é a única guria dos 10 filhos do Flamarion. A Sirlei, por exemplo, só tem guris, 5 ao todo e os 5 netos também são todos guris. E todos os filhos do Flamarion, com excessão dos da Alves (como ele chama minha mãe) que ficaram isolados em Santos, conviveram ao longo de todas essas quase 4 décadas. Nesse encontro dava para ver o orgulho do velho Flamarion com 40% das suas crias nesse churrasco, isso tendo saído da sua boca. Hoje por exemplo o César emprega a Fernanda e o Lholho, apelido do filho do André (o filho mais velho do André, filho da Sônia), que foi criado pelo avô Flamarion. Não lembro o nome dele, por isso o apelido. E as histórias do César, ao longo dos anos em Porto Alegre, anos estes em que estávamos em Santos.


Quinta feira o Flamarion me ligou. No mínimo umas 5 vezes, mas conseguiu falar comigo no final da noite. Queria dar os parabéns ao "Pinto" meu apelido na primeira infância, depois de tantos anos. E justo no meu quarentenário. Foi muito legal. Aproveitei para questionar sobre nossos ancestrais. Sempre pensei que minha origem fosse dos Charruas, tribo indígena que habitava as terras do Rio Grande do Sul nos primórdios. Mesmo assim acredito que meu sangue ainda tem a ver com essas tribos, embora o Flamarion tenha me dito que somos descendentes de tribos árabes nômades, o que seu irmão e meu finado tio (óbvio) Luiz já havia me dito anos atrás. Pois bem, minha bisavó Feliciana da Silva Ávila era uma argentina de Santo Tomé, da Província de Corrientes, que se encontra unida através da Ponte da Integração com a cidade de São Borja, terra de Getúlio Vargas (que, diga-se de passagem, é ariano como eu). Essa proximidade com o Rio Grande do Sul e provavelmente numa das idas e vindas de José Higino da Silveira, que vivia na Vila 13 de Janeiro, hoje Santo Antônio das Missões, já cidade emancipada, mas à época distrito de São Borja, pela ponte que liga as duas cidades, conheceu Feliciana na Argentina. Os Silveira, nesses tempos moravam em umas terras chamada Rincão dos Silveira. Dá até para pensar e imaginar (romancear) no romance internacional dos dois.

Essa união gerou o velho Laudelino, este, meu avô, que teve então 3 filhos com a velha Julieta: Luíz, Tereza e Laudelino Flamarion. Os dois primeiros nasceram em São Luís do Gonzaga, mas o guri mais novo nasceu numa das viagens à capital, em Canoas, na grande Porto Alegre. Nas palavras deste, nasceu em Canoas e abriu os olhos em São Luís do Gonzaga. Em 1951 a família decidiu ir para a capital, onde os filhos fizeram a vida e suas respectivas famílias.


Flamarion sempre foi um cara inteligente e letrado. Lembro das cartas que mandava à minha mãe, caprichosamente escritas à máquina, com a assinatura ao final, um texto bem escrito, de quem não só escrevia muito bem, como de um assíduo leitor. Assim como o irmão Luíz, que era mais revolucionário. Versa a história que o velho Laudelino, camponês comunista, alfabetizado já na adolescência, que exercitava sua verve revolucionária através de artigos escritos em jornais de São Luís do Gonzaga. Isso por volta da segunda metade da década de 1930. Laudelino, nascido em 5 de julho de 1892 (ou seja, 2 dias depois do Gui, que é de 3 de julho, só que com um hiato de 106 anos) era membro do PCB, tendo militado por décadas. Na foto abaixo, o velho Laudelino em um churrasco a Luiz Carlos Prestes (na minha interpretação, essa amizade deu o nome ao primogênito do velho).

O Guilherme Caetano Silveira, meu caçula, tem uma áurea ou sei lá o quê, que talvez explique muito do seu comportamento, do seu passado e futuro. Ele tem o mesmo nome do bisavô por parte de mãe, que veio da Itália sei lá por volta de que ano, que ao chegar nas terras brasileiras seu nome Guglielme Gaetano se transformou em Guilherme Caetano, nasceu quase no mesmo dia e tem o mesmo signo do tataravô paterno. Coincidências ou não, esse guri já tem o peso de um grande passado.

Histórias e mais histórias. Fiquei muito contente de receber os parabéns do Flamarion, depois de tantos anos. E foi uma prosa muito legal, ter contato com as minhas origens. Agora resta buscar os ancestrais dos argentinos Ávila e dos Silveiras dos rincão.



P.S: ao som de muita música regional do Rio Grande que escrevi esse post, uma coisa rara para um roqueiro contumaz como eu;

P.S²: na realidade Guglielme Gaetano ou Guilherme Caetano era tataravô do meu Gui por parte de mãe;

P.S³: a foto que inicia o post é do velho Laudelino, todo garboso e charmoso em algum dia ensolarado das primeiras décadas do século passado.

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