domingo, 8 de abril de 2012

REENCONTRANDO O PASSADO


Ontem encontrei um amigo meu, que não via há mais de 10 anos. Acho que devo ter falado com ele pela última vez ainda na década de 1990, quando então sumiu nesse mundão de Deus. O Ronaldo, que fez parte do Mayday, era o batera da banda, depois ainda tivemos o projeto de uma banda chamada Alquimia, que tinha o Nair de baixista e um carinha que não lembro o nome de vocalista, chegamos a alugar um estúdio para ensaiarmos. Nessa época o Tety já tinha nascido.

A última notícia que tive do Ronaldo foi que tinha casado e que morava em São Paulo, que era chefe de cozinha ou algo do tipo. Ronaldo era o típico nordestino que nos anos 80 tinha vergonha de ser zuado pelos preconceituosos santistas e por isso se dizia carioca, uma artimanha para fugir do bullying, mas que só piorava, porque de cariocas eles não tinham nada. Todos os nordestinos se orgulhavam de serem cariocas, tanto que torciam para o flamengo, como o Ronaldo, e outros times do Rio. Não sei porque ser carioca era melhor do que ser nordestino. Tinha um amigo dessa época, o Rapá, que pelo simples fato de ter sido registrado em um cartório do Rio, achava que era carioca. O Ronaldo é de Crato, se não me engano no Ceará.


O Ronaldo passou por tantas provações nessa vida. A mãe morreu ainda cedo, morava com o pai e o irmão pequeno em uma casa de dimensões menores do que as que podiam morar decentemente uma família com 3 pessoas, onde embaixo moravam família da tia (que era irmã do pai dele e provavelmente dava uma força na criação dos dois sobrinhos). Por ser negro e pobre, sempre sobrava para ele. Primeiro foi da nossa geração punk da BS (Baixada Santista); nessa época, todas as vezes que levámos uma geral da polícia, sobravam uns sopapos, como no caso de uma vez em que estávamos no pé do morro do Jabaquara e a polícia nos deu a geral mais violenta dessa fase. Além de ter levado uma lanternada na cabeça, os policiais levaram toda o salário dele, recebido naquele dia; outra vez, em Sampa, fomos a um show do Cólera e quase apanhamos dos carecas, mas certamente se tivessemos apanhado, ele levaria a pior, como quando em uma passeata de 7 de setembro de oitenta e alguma coisa, levou um chute na boca de um careca (dos Carecas do Subúrbio, esses mesmos que batem em negros e homossexuais), quando esperávamos nossos amigos de Santos, na praça da República, porque havíamos nos perdido.

Estávamos eu, o Zé Renato e o Ronaldo, todos magrelinhos, menores de idade (uns 15, 16 anos) e nos cerca 3 carecas todos bombadões, fortões, acho que mais velhos que nós. Perguntaram de onde éramos e quando respondemos que de Santos eles questionaram se éramos da cidade ou do subúrbio, não sem antes titubearmos e respondermos que éramos da cidade, raciocinando que em Santos não tinha subúrbio, eles simplesmente disseram: aqui é o seguinte, careca! E partiram para ação: tentaram um chute na cara do Zé Renato, que estava sentado, mas ele foi agiu e desviou do chute, não o suficiente para resvalar em seus óculos e estes caírem ao chão; eu estava de pé, então foi fácil me desvincilhar; o Ronaldo, sentado ao lado do Zé Renato, não teve a mesma sorte e levou um chute na boca que sangrou muito. Fomos ao Hospital das Clínicas e ele foi atendido, mesmo sem documentos, teríamos que passar pelo módulo policial, mas fugimos pela outra porta e tivemos que pegar vários ônibus para não sermos pêgos mais uma vez pelos carecas que cercavam as estaçoes de metrô.

Hoje, lembrar disso, soa como uma aventura legal, mas na época tivemos muito medo. Tanto que na hora de subirmos no ônibus, na rodoviária do Jabaquara, para irmos para Santos, decidimos nos dividir. E por sorte não fomos pêgos e presos pelo juizado de menores. Acho que nem nossos pais sabiam que estávamos em São Paulo. Mas enfim, fui na frente o motorista pediu documento, apresentei o meu RG, ele perguntou minha idade e certamente não soube fazer as contas, pois eu era menor de idade. A sorte que não parou o Zé Renato e o Ronaldo, porque este estava sem documento, só para variar. Ao chegarmos em Santos, a galera estava já toda em suas respectivas casas, nem se preocuparam em nos procurar pelas ruas desertas de uma São Paulo em dia de feriado.

Lembro que antes de ser punk ele quis ser surfista, mas não deu certo... é que a maioria das gurias só queriam saber dos surfistas. Nessas fases ele usou drogas, inclusive pesadas. Mudou para Humaitá, que é um bairro barra pesada em São Vicente ou na Zona Noroeste de Santos (só Santos para ter Zona Noroeste...). Nessa época fui para Assis fazer Psicologia. Foi nesse período que muitos dos meus amigos de bate bola e da adolescência, se afundaram em drogas. Tanto que alguns tiveram que ficar foragidos porque tinham cheirado o produto que era para vender, ficaram devendo para traficante e tudo o mais. Então o Ronaldo sumiu por uns tempos e de vez em quando aparecia. Não sei o que deu desse pessoal, inclusive se ainda estão vivos. Alguns dos meus amigos dessa época já morreram, alguns em acidentes violentos, mas assassinado não tenho conhecimento.


Das últimas vezes em que fui para Santos ninguém mais sabia de nada sobre o Ronaldo. Até que essa semana que passou, meu irmão Beto, que mora em Diadema, no grande ABC(D) o encontrou em Sampa. Nossa, encontrar alguém em São Paulo sem querer é algo inusitado. Existem milhares de possibilidades e de ocasiões, horários precisam coincidir, tantas outras variáveis... como encontrar alguém que não se tem notícias há anos em uma região com 20 milhões de habitantes, sem marcar nada?

Assim encontr(aram)ei o Ronaldo. Quase que por acaso; quase sem querer! Trocamos algumas mensagens por celular e enviei meu e-mail, meu twitter. Ele não tem facebook, assim como eu, ainda consigo resistir a essa investida do sistema, apesar de me sentir um ET muitas vezes por não tê-lo. Espero que em breve nos encontremos.

Quantas pessoas passam pelas nossas vidas. Sei que muitos que convivo hoje, não farão parte do meu círculo daqui há 10 anos, por exemplo. Até mesmo meus filhos, que a vida deve levá-los logo para seus destinos... Deus do céu, não quero meus filhos longe de mim...

a pessoa mais antiga da minha vida que lembro de andar junto era um carinha chamado Douglas, se não me engano, estudava comigo no Grupo Escolar Ceará, em Porto Alegre. Ele era irmão de um amigo do meu irmão Rogério e era um tanto encapetado. Éramos alunos da professora Darci Veríssimo, que tinha parentesco com o grande Erico. Lembro das minhas professoras do primário: 1ª série a professora Débora, na 2ª a Shirley, na 3ª a destemperada da Vicentina, na 4ª não consigo lembrar do nome da víbora, acho que fiquei traumatizado.


As pessoas passam por nossas vidas, nós passamos pelas vidas delas e seguimos nosso rumo, enquanto elas seguem os delas, que muitas vezes são muito desconexos com os nossos. Mas lá na frente, vem a vida e parece nos colocar de volta em frente novamente, por alguma razão que desconhecemos. Embora tenhamos a neurótica idéia de reviver aqueles momentos que jamais serão iguais, tentando reencontrar nossos amigos de outrora. É difícil aceitar que aqueles guris de antigamente não são os homens de hoje em dia. Somos todos outras pessoas em um mundo bem diferente daquele que vivemos juntos. E nada volta a ser como era antes, nada!

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