sábado, 31 de março de 2012

ROCK AND ROLL, BABY, ROCK AND ROLL, PLEASE!


Ler Mate-me Por Favor é como ler um pouco da minha história, ao menos no que diz respeito à parte do rock and roll, a parte em que a gurizada se reunia para fazer um som pesado e com todos as suas limitações de grana, instrumentos decentes e até mesmo de não saberem tocar direito. Mas o início do Punk era de muita loucura. O final dos anos 60 estavam fervilhando o lance de liberdade, de ser diferente, de novidades, de ser diferente. No fundo, os caras só queriam algo mais simples na música, que estava virando mastubação mental com os loucos solos das bandas pré punks e com o progressivo. Para quem não sabe, escute um pouco de Pink Floyd, por exemplo, solos e mais solos, instrumentos experimentais, músicas longas e massantes, muito ácido e loucura. Então sugem uns guris de Nova York, principalmente, querendo ser diferentes, ter uma atitude cool. E isso significava usar drogas diferentes do ácido, fazer música diferente do que havia no momento e se vestir de forma cool, ou seja, ser diferente e ser descolado. As drogas foram importantes, pois o som que eles estavam tocando exigia a utilização de drogas pesadas, como cocaína e principalmente a heroína. Os picos eram constantes e muitos dos nossos (ao menos meus) ídolos se drogaram por vinte e tantos anos. Tanto que Johnny Thunder, quando morreu em 1991, não tinha mais onde se picar, sendo que já tinha utilizado até veias dos pés.

Nessa passagem do texto, lembro de que quando o filme do Cazuza passou muitos puritanos exclamaram o que seria a ignorância da juventude em cultuar ídolos que não passavam de marginais drogados e que viviam em excesso, sempre chapados. Tipo: que exemplo é esse para nossa juventude. Essa é a percepção de quem não tem a sensibilidade de perceber que a contracultura, a rebeldia, a genialidade, têm um preço alto. Ser contra a mesmice que nos cerca não é fácil, remar contra a maré e lutar contra a moralidade imbecil, castradora, emburrecedora, custa caro, assim como custou caro a esses ídolos, muitas vezes a sua própria vida. Muitos deles morreram jovens

"É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais"

e nos deixaram incompletos, assim como suas obras. Viver mil anos em um, não é para qualquer. Só para pessoas excepcionais, para gênios, que nos deixam cedo demais, mas que deixam um legado imortal.

Estranho que na passagem da morte de Johnny Thunders, um dos maiores expoentes do punk rock, da clássica banda The New York Dolls, estivesse tocando a canção Don't Go, do Ramones. E, embora Dee Dee Ramone fosse desafeto de Johnny (e vice versa) e do episódio em Paris do roubo da jaqueta do primeiro e ter sido encontrada na mala do segundo, que a trocaria por heroína, poderia bem ter sido feita para Johnny, o que, é claro, não foi feita. Seria apenas mais uma daquelas coincidências da vida (estar escutando Don't Go na academia e lendo a passagem da morte de Johnny) se eu acreditasse em coincidências. Mas como eu sempre falo, tudo tem um porquê. São as complexidades dentro das complexidades, onde se descobre uma e outras se abrem para serem esclarecidas e cada vez mais aparecerem. Nunca terminam. Para os preguiçosos e que são facilmente influenciáveis, uma tortura.



Falando de complexidades, anos atrás, ainda na faculdade, assim me senti quando comecei a estudar Psicanálise e me sentia angustiado por saber que a cada conceito entendido, novos apareciam para serem esclarecidos e entendidos e aquilo nunca, nunca acabou. Um exercício eterno da busca do desconhecido, do esclarecimento do tudo e do nada.

Bem, mas escrevia eu sobre lembrar da minha formação musical e do punk rock. No final dos 80's o punk, ao menos quando participei do movimento, não era formado por jovens junkies como nos primórdios, mas sim por garotos sedentos por rock pesado e por parecem cools, para chamar a atenção das garotas. Só não tinham drogas, nem leves e nem pesadas. É que ficávamos chapados e loucos pelo próprio rock, era nossa droga; escutar um disco dos Pistols, do Clash, dos Dolls, dos Ramones nos abria a mente, como as drogas faziam e fizeram com nossos ídolos. Eles terem passado pelas drogas pesadas e terem vivido degradantemente nesse submundo nos propiciou e permitiu que vivêssemos os mesmos sentimentos de revolta, de liberdade, a mesma atitude cool, sem que mergulhássemos de cabeça nas drugs. Lembro de quando saíamos de um transe psíquico que a audição do Never Mind The Bolocks nos propiciava e queríamos fazer aquilo, pegar nossas guitarras, rasgar nossas roupas, usar coturnos e ser iguais a eles, mas sem a necessidade de se chapar com cocaína. Simplesmente porque já estávamos chapados; de sair de uma sessão de Sid & Nancy ou Rock and Roll High School e querer ter um romance destrutivo como dos primeiros ou participar de uma festa rockandroll ocmo no segundo filme.

O Zé Renato dizia que não usava drogas porque não tinha interesse, mas que se achasse cool ele usaria, sem se importar com porra nenhuma. Eu não usei drogas porque sei que me viciaria facilmente, sempre fui fraco para os prazeres da vida, sei que ao sentir um prazer tão grande eu dificilmente conseguiria não querer sentir aquele prazer novamente. Sou quase um hedonista... porém os caras com quem andávamos não usavam drogas, nem maconha rolava. No máximo umas biritas e o velho cigarro.

Entretanto, quando saí de Santos em 1991 e fui estudar em Assis, alguns daqueles caras com quem andava, já melancólicos e decadentes, aos 18 anos, começaram a usar drogas como alternativa para a chatice que a vida se mostrava àquelas alturas. Tanto que o Ronaldo chegou a se viciar em cocaína. E me descreveu os sintomas que a droga lhe proporcionava sob o efeito e na sua ausência. Aprendi muito com uma ligação que ele fez em 1998 mais ou menos, de Santos, que durou mais de duas horas de conversa.

O Zé Renato ainda andou mais uns anos com a galera punk, Fábio HC, Fernando, Barriguinha, os caras de Cubatão, Pipa e tantos outros, que me afastei quando fui estudar. Na minha memória guardo a história do Paul Cook, que ganhou essa maravilhosa alcunha por ser muito parecido com o baterista dos Pistols, que foi estudar História na USP de São Paulo e certo dia foi encontrado enforcado em seu quarto. Os demais devem estar vivos e talvez menos punks e engolidos pelo sistema. Sempre acreditei no punk como uma revolta da juventude, não autodestritiva como muitos querem passar, mas contra a merda toda instituída, uma forma de equilíbrio para poder sobreviver ao sistema opressor, manipulador. Depois vamos envelhecendo e amadurecendo e infelizmente aprendemos que não podemos lutar contra esse poder do sistema e então nosso ímpeto revolucionário se apaga. E esse ímpeto muitas vezes permanece em algum canto de nossas almas e viramos escritores, blogueiros, artistas, montamos bandas, ou simplesmente damos de ombros para todas as merdas que querem nos empurrar, para estravazarmos essa porra toda que se mantém adormecida em nossas almas. E por ser assim, somos incompreendidos, chamados de loucos ou imaturos. Mas apenas estamos vivendo da forma como queremos, fugindo da mesmice e tentando não sermos (tão) manipulados em nossos gostos, desejos e vontades. Sinto na pele por ser diferente e virar alvo de brincadeiras por tocar rock em churrascos ou colocar um cd dos Ramones na academia para me exercitar.

Mas também nos tornamos prisioneiros da nossa própria família, como diz a canção dos Titãs, caretas e preocupados com o perigo que circunda a adolescência dos nossos filhos, aqueles mesmos perigos que nos circundaram na nossa revolta. Por isso a Psicologia, a Psicanálise e principalmente o livro Laranja Mecânica me audaram tanto a entender que é apenas um mometo da vida, que, infelizmente, como tudo, passa muito rápido (mesmo porque se não fosse rápido não agunetaríamos). E, aos que como nós, sobreviveram à loucura adolescente, seguimos essa melancólica e decadente vida burguesa, como se mortos estivéssemos; então, como Dee Dee ao saber da morte de Johnny, meses antes da do Dead Boy Stiv Bators e recente de um amigo, desejou que a sua morte fosse a próxima, desejamos a nossa ainda jovens, para não virarmos velhos decadentes e nostálgicos. Como na canção do Who My Generation!


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