sábado, 10 de maio de 2014

QUARENTENÁRIO - MAYDAY: HISTÓRIAS DE ROCK E SONHOS

A Mayday na sua formação original era eu (Márcio Mayday) nos vocais e guitarra, Zé Renato (Johnny Alienado) nas guitarras, Robson (Rato Branco) no baixo e Ronaldo (Ronaldo Anarquista, alcunha que eu e o Zé Renato inventamos para ele) na bateria.

Nos primórdios éramos eu, Ronaldo, meu irmão Renato, César “cara de cachorro”. Eu tinha 13 anos, estava na sétima série. O Ronaldo tinha 12, o Renato e o César 11. Os três estudavam na 5ª série do lendário Dino Bueno, eram da mesma sala. Tinham mais dois caras que faziam parte da banda, não me lembro quem eram. Ninguém tinha instrumento ou tocava alguma coisa.

Era época da febre de um quadro no programa do Silvio Santos chamado Porta da Esperança e o César inventou de mandar uma carta para o programa para ganharmos todos os instrumentos. Falo isso com uma puta vergonha alheia, mas participei dessa piada. Não sei se a carta foi enviada, mas essa era a principal idéia, o plano “A” da banda para dar certo e termos os instrumentos.

A banda não tinha nome. Estávamos pensando em algo duplo, como Capital Inicial, Legião Urbana, Engenheiros do Hawaí, coisas assim. Até que o Ronaldo, fã incondicional da Legião e do Renato Russo, veio com Legendários do Brasil (mais vergonha alheia) e então decidimos por esse horripilante nome. Não tinha melhor (pior) e acho que ainda não tínhamos exercitado nem um pouco da nossa criatividade.
Nessa época já rabiscava umas letras bem idiotas e também infantis, como o caso de Alessandra, uma letra que escrevi com o Tony Penedo, um grande amigo que a vida separou:

Acordo todo dia, vou pra padaria
Fico um tempo lá, vendo se ela está
Começo a jogar bola, torcendo que ela saia pra fora
A bola cai lá e eu pensando que ela ia pegar

Aí eu peço

Alessandra, saía pra fora,
Que eu quero te beijar
Alessandra, pegue minha bola
Eu não me canso de te amar.

Apesar de infantil, a letra carrega um duplo sentido sacana. Talvez essa tenha sido a primeira letra de música que fiz. Mas nunca musiquei, porque tempos depois percebi o ridículo. A história é real, porque fomos eu e o Tony, um sábado de manhã, na padaria, jogar bola, e a bola realmente caiu na casa da Alessandra, que morava ao lado. Ficamos inspirados e começamos a cantarolar esses versos ‘maravilhosos’. Cheguei em casa e escrevi.

À esquerda casa da Alessandra, à direita a padaria: inspiração
Alessandra foi uma das minhas paixões do Dino Bueno. Paixão platônica, diga-se de passagem. Nunca me deu a menor bola. Gostava do Magoozinho, que gostava da Ekaterine, que gostava de um dos manos, que finalmente gostava dela. Magoozinho era o Frederico, cegueta (daí o apelido), Ekaterine era uma guria linda, grega, que tempos depois foi morar na Grécia e os manos não têm nada a ver com a conotação dada hoje de cara da periferia que curte rap, hip hop, eram os gêmeos Alessandro e Adriano, que se tratavam por mano.

A Legendários do Brasil teve uma vida curtíssima. Quando eu falei que precisaríamos aprender a tocar e que iria matricular todos no curso de violão do Teatro Municipal de Santos, porque teríamos que estudar música, o Renato processou apenas a palavra ‘estudar’ e pulou fora. O Zé Renato queria montar uma banda e ficou fudido que eu não o tinha chamado para isso. Então eu saí dessa banda com nome horroroso e levei comigo o Ronaldo. Éramos eu na guitarra e vocal, o Zé Renato na guitarra e o Ronaldo na bateria. Faltava um baixista. Como não tocávamos nada, chamamos o Branco, que tocava menos ainda, com uma condição: comprar o baixo. Aquela idéia esdrúxula da Porta da Esperança do César foi totalmente abortada, graças a Deus! O nome vergonhoso Legionários do Brasil também foi para o brejo. Então sugeri Kaos e ficou por um tempo com esse nome.

O Kaos durou pouco, porque descobrimos que existia uma banda punk de São Paulo chamada Kaos 64. Se não eram de São Paulo, eram de Brasília, uma banda de Oi, uma vertente do punk, mais pesada, misturada com Ska, cantada por nacionalistas nazistas e racistas, cuja banda mais conhecida é o Vírus 27 (de Oi, não necessariamente com essa ideologia), que comecei a curtir por uma época, que virei nacionalista. O fato é que pelo nome da banda, tivemos que mudar de nome. E foi o que fizemos.

De novo sem nome, continuávamos a criar canções, até o Branco arriscava umas letras, mas nenhuma prestava para o propósito da banda. O Ronaldo raramente escrevia, acho até que o Ronaldo nem sabe ler e escrever até hoje, kkkk, tipo Tiririca. Mas tinha muitas idéias, nem sempre boas – o primeiro nome da banda demonstra o tipo de idéia. Mas a cabeça dele funcionava, se tivesse um bom direcionamento (o que não aconteceu) talvez hoje fosse outra pessoa.

Sobrava eu e o Zé Renato, que éramos mais prolixos e até escrevemos algumas coisas juntos, ele fazia a letra e eu a música, como no caso de Lucíola, que ele chegou com a letra, revoltado de ter que ler o livro homônimo para uma tarefa da escola, do autor brasileiro José de Alencar.

Lucíola era uma puta
Gostosa pra caralho
Se prostituía
Pra comprar cocaína

Lucíola La La La
Lucíola La La La La La La

Ela não prestava,
Ela não valia nada
Mas fazia a alegria
Da molecada

Era uma música experimental que virou um dos maiores sucessos da banda-sem-sucesso-que-jamais-saiu-do-papel-Mayday. A letra era uma crítica não à personagem, mas intrínseca à obrigação de ter que ler o que não se queria. Pura rebeldia adolescente e sadia.

O nome Mayday foi trazido pelo Zé Renato, que estava assistindo a um desenho, se não me engano do Duck Tales, quando um personagem pedia socorro e gritava mayday. O nome foi bem aceito e eu virei Márcio Mayday, como os Ramones, que recebiam o sobrenome quando entravam para a banda.

A história toda de tocar em uma banda nada tinha a ver com sucesso ou grana. O lance era impressionar as gurias para ver se conseguíamos algumas noites de orgia, muito sexo, coca cola e roquenrol. Molecada de 13, 14 anos, nos anos 80, não tinha acesso a drogas mais pesadas do que a coca cola. E era outro mundo, não nos interessávamos por droga ou sair da realidade, fugir da realidade com algum entorpecente. Isso fazíamos com as loucuras do dia a dia, lendo um livro que nos tirava da realidade, nos transportava para suas páginas; pogando ao som de um punk rock, escutando algumas porradas sonoras, a adrenalina sempre era alta. Era isso que nos dava prazer, sacolejar ouvindo alguma canção pulsante, ler e jogar conversa fora, ficar a toa no muro da rua São Paulo, esquina com a Joaquim Távora, em Santos.

Eu era um maluco, que ficava no meio da rua sacolejando como se dançasse alguma música hipnótica e neurótica. Era super tímido, mas chegava nas gurias com a maior cara de pau. Como tinha essa cara de pau enorme, a galera gostava de andar comigo, em pequeno número, para não assustar as meninas, tanto cara feio junto. Curtia rock, me vestia com camisas de banda compradas em uma loja de discos no Gonzaga, ou então camisas Hering compradas no Peralta, supermercado perto de casa (de todas as casas, porque tinha praticamente um em cada esquina em Santos nos anos 80) sempre lisas, branca, preta ou cinza; usava uma bota bico de aço, pesadíssima, que comprei do China. Durante um tempo aderi ao suspensório (quando virei nacionalista). Este era o meu indumentário.

Sempre fui muito palhaço, daqueles de na 6ª série, no segundo dia de aula, estar de castigo virado para a parede, na diretoria. Mas sempre fui excelente aluno, com as melhores notas da turma, o que me rendeu a alcunha de Márcio Crânio. Durante os 4 anos de ginásio no Dino Bueno, minha mãe ia nas minhas reuniões só para ouvir aborrecimentos da bagunça que eu fazia, mas nunca por causa de notas. Aos 15, no Primo Ferreira e no Colegial, amadureci em uma sala do noturno que eu era tipo o xodó, o cara mais novo, virei o “sete dois”, por ter nascido em 1972 e todos serem da década anterior ao meu nascimento. Não baguncei mais. Era ‘adulto’.

Eu era Office boy, o que me dava liberdade para me vestir do jeito que eu queria, mas não era podrão, usava sempre roupa limpinha e tomava banho todos os dias. Aos 15 anos resolvi colocar um brinco na orelha esquerda. Ao mesmo tempo em que me apaixonei pelas canções de Morrissey e Marr, queria andar como se todos pensassem que tinha uma banda de rock. No inverno usava uma jaqueta de couro estilo Ramones. Essa idéia de andar com roupas que fizessem as pessoas pensarem que eu tinha uma banda de rock veio de uma entrevista que li na (revista) Bizz do Johnny Marr. Olha aí os Smiths permeando novamente a história da minha vida.

Tinha umas gurias que andavam conosco em Santos. Era a Beth e a irmã da Beth – não lembro o nome. Elas nos acompanhavam em algumas das nossas barcas – não as furadas, claro – tipo o baile do Santos aos domingos à noite, discotecagem feita pelo cara da Harry, uma banda de Santos que teve alguma aparição no underground paulista, com boas críticas; nessas noites de domingo no Santos (esse mesmo clube do time de futebol do Neymar) o cara rolava um som underground no meio das bostas da moda, tipo Joy Division, Sex Pistols, Ramones, Smiths.

Nós nos divertíamos; era o nosso momento; a galera pogando no meio, enquanto os demais apenas observavam ou saíam para beber, fumar. No auge do “momento underground” rolava Surfin’ Bird, versão dos Ramones gravada no Rocket to Russia, disco de 1977, o mais famoso da banda de todos os tempos. Também rolava Toy Dolls “a música da Madonna”. Era o ápice da loucura. Na conservadora Santos dos anos 80 rolando Olga e seus comparsas de Toy Dolls.

A irmã da Beth curtia Smiths e sempre trocávamos figurinhas. Era quando eu me sentia entendido entre os punks, embora ela não fosse exatamente uma punk, apenas uma garota underground em busca (procura) do seu espaço. Apesar de ser um som underground, Smiths estava muito longe de ser um som sujo e punk, mais para um pop underground inteligente e de qualidade; um rock conhecido hoje como indie. Pensar em ser pop era um crime!

Fui criticado pra caralho pelos punks da BS (Baixada Santista) nessa época por curtir Smiths, e usar brinco. Os caras eram bem conservadores. Eu era um cara que não fugia das minhas raízes de curtir rock nacional, de ir em show do Engenheiros, Capital, Ira, Ultraje, Titãs (apesar que o som agressivo do Cabeça Dinossauro fez muito punk ir aos shows do Titãs naquela época). Curtir a loucura do DeFalla e dos Cascavelletes, TNT.

Eu assumia minhas posições políticas, como assumo hoje, mesmo com a probabilidade de execração pública. E não era diferente naquela época, quando comecei a curtir uma das bandas de heavy metal que surgiram a princípio sem muita mídia ou alarde, uma tal Guns and Roses. Gosto do frizar que fui um dos primeiros em Santos a usar uma camisa da banda, quando ainda era desconhecida do grande público. Mas os punks quase me mataram por isso, embora fossem todos pacifistas. O ‘mataram’ é no sentido figurativo. Onde já se viu andar com os punks com camisa de ‘metal’ e ainda por cima de brinco. Era muita audácia.

É bom contextualizar. Se hoje reclamam da intolerância com os diferentes, tem todo um discurso politicamente correto para a aceitação e criminalização do preconceito contra as minorias, nos anos 1980 isso inexistia. Então a intolerância era alta. Não em Santos, que por ser uma cidade praiana as tribos conseguiam conviver sem se misturar, mas sem conflitos ou brigas. Acontecia de ter shows no Circo Marinho, no Emissário Submarino, divisa de Santos e São Vicente e aparecer todas as tribos, que curtiam suas bandas pacificamente e depois partiam para o boteco, claro que tudo separadamente, sem se misturar. Ninguém se misturava, mas todos conseguiam conviver sem violência, bem diferente de São Paulo.

Mesmo sem violência, cabeludos, carecas e punks nunca se misturavam.

Usar brinco, camisa de ‘metal’, ir a shows de bandas ditas comerciais, era uma afronta que eu levava na boa. Mas as críticas sempre foram duras, embora eu não me importasse, o que fazia perder a força. Na verdade, acho que os caras nem me levavam a sério. Mas o mais difícil deles terem aceito, foi de eu declarar meu voto no Brizola na primeira eleição presidencial após o longo tempo de ditadura, em 1989.

Os punks eram anarquistas, não tinham interesse em voto, pichavam pelas ruas frases libertárias e anarquistas, tinham um comportamento anarquista e liam (pouco) literatura de autores com a mesma ideologia. Pouco se interessaram pelas eleições, a não ser para criticar. Eu tinha 16 anos e tirei meu título para votar, mesmo sem a obrigatoriedade. Eu queria votar, ter essa experiência. Era um momento ímpar, inédita. Estava participando diretamente da história do país. Só por isso já era alvo de críticas por isso. Quando decidi que não votaria nulo, mas no Brizola, por ser gaúcho, a revolta foi grande. Votar em alguém porque era gaúcho era o cúmulo da alienação!

A primeira vez que vi uma propagando política me apaixonei pelo Lula. Tinha uns 9 anos e era eleição para governador do estado de São Paulo. Partido dos Trabalhadores. Eu só poderia votar em um partido desses, não que eu fosse trabalhador na época. Mas seria no futuro. E o lema “trabalhador vota em trabalhador” fez todo o sentido para mim. Na primeira oportunidade votaria nele.

Veio a primeira eleição e fiquei em dúvida e meu gauchismo falou mais alto; porém, no segundo turno votei no Lula. Eram os dois com maiores índices de rejeição da população manipulada pela Rede Globo (tem coisas que parecem não mudar). E daí para frente foi sempre no Lula e no PT que eu votei. E, embora com todos os arranhões dos últimos anos, continuarei votando assim, desde que em candidatos que me interessem. Jamais votarei em candidatos de partido de direita. Não voto em corrupto e nem em bandido. Seja de que partido for.

Assim que em 1989 votei no Brizola. E sofri as mais duras críticas talvez da minha vida.

Os punks não me levavam a sério. Falo isso hoje, na época não percebia se isso era real. Mas deviam me achar alienado e modista, talvez incoerente. Acontece que sempre segui a minha coerência incoerente. Nunca fui de modismos ou opinião de terceiros. Alguns até me julgavam cabeça dura, teimoso; julgam até hoje. É o preço que se paga por ter personalidade e vontade própria. Por isso nunca escutei rádio, porque era uma forma dos outros controlarem o meu gosto, me dizerem o que deveria gostar. Nunca me prostitui ou me vendi por valores que não acreditavam corretos. Jamais vou puxar o saco no trabalho para levar vantagem e me enojo de quem joga o jogo da política em todo tipo de relacionamento. É importante diferenciar política por vantagens próprias de jogo de cintura, uma característica forte em mim.

A Mayday nunca fez um show. Ensaiamos algumas vezes, mas logo a vida nos separou, cada um seguindo o seu rumo. Durante a Mayday eu tinha um projeto paralelo, que era um som soturno, meio Dark, meio Joy Division, com baixo marcante e pesado: a Frankenstein Boys. Era uma dupla, eu e o Branco. Eu escrevia umas letras mais pesadas no sentido emocional, down, depressivas, reflexões sobre a vida. Eu fiz até uma camisa da banda, com a foto do Frankenstein. Mas a dupla também não vingou. Ensaiávamos com dois violões.

Logo me mudei para Assis e fui estudar Psicologia e minha vida mudou completamente. Conheci a Juliana e queria montar uma banda com ela, estilo guitarra, bateria e teclado, cantando em inglês. Ela fazia Letras e manjava de inglês, o que não era o meu caso. Logo escolheu Espanhol e nunca escrevemos uma letra sequer. Ela não aderiu aos meus planos. As parcas letras que escrevi naquela época, de romance e loucuras da paixão, que era para ela passar para a língua inglesa, nunca vingaram. Sem muito foco, caiu no esquecimento e fora de prioridade.

Ainda voltei para Santos em 1993, quando montei uma banda com o Ronaldo na bateria, o Nair (André) no baixo e um amigo do Ronaldo nos vocais. Eu na guitarra. Mas estava numa fase muito chata, pedante, estava insuportável, estrelinha demais. Não aceitava opinião de ninguém. Até o nome da banda que os caras trouxeram eu não aceitei: Alquimia. Eles baseados nas leituras no Paulo Coelho e eu por preconceito não aceitei. Mudavam alguns acordes das músicas nos ensaios e eu chegava muito fudido e reclamava, porque a música era minha.

O Ronaldo chegou a nos inscrever em um festival de música em Humaitá, periferia de Santos ou de São Vicente, não sei ao certo, mas eu não aceitei. Com razão, pois não estávamos preparados. A galera, mesmo contra a vontade, entendeu que não seria uma boa experiência naquele momento. Meses depois mudei para Londrina e segui minha vida.

O Ronaldo foi viver suas experiências com os Hare Krishna; depois casou com uma militar, logo ele que era o que mais apanhava nas batidas policiais que levávamos nos tempos de punk e zona (lê-se puteiro); virou cozinheiro, teve 1 filho e mora em São Paulo, em uma zona militar. Continua maluco, tive um contato com ele tempos atrás, por telefone, disse que estava black Power, não tinha vida virtual e havia adquirido um celular (nossa fonte de contato) há pouco tempo; depois, como sempre, ele sumiu no mundo e não consigo encontrá-lo mais nos números que tenho dele. Qualquer dia aparece em Santos, fala com o Renato e retoma o contato para depois sumir em seguida; e voltar, e sumir, e voltar e sumir; sempre com o desejo de reencontrar com a galera do Mayday. Coisa que não fazemos a pelo menos uns 20 anos, no mínimo.

Lembro bem como foi que o encontramos da última vez. Em um banco, em São Paulo (aquele mundão) ele encontrou meu irmão Beto. Trocaram telefones e o Beto passou para o Renato, que passou para mim.

O Branco foi estudar engenharia no Santa Cecília. Não foi muito para frente, desistindo alguns anos depois. Trabalhou, se não me engano, na dengue e casou, teve 3 filhos. Meu último contato com ele foi sacana demais. Foi na época do Orkut. Zoava demais com ele, vinha com aquela história fanática do Santos, uma chatice só e junto com o Zé Renato, inventamos uma história de que o Zé Renato era viado, que iria se separar, tinha conhecido um cara e se apaixonado. Isso tudo pelo MSN, em conversas a três. O Zé Renato sairia de casa em breve e moraria com o cara. Em particular, eu e o Zé Renato inventávamos o que falaríamos na conversa em grupo. Tínhamos medo que ele contasse para a mãe do Zé Renato, que é vizinhao do Branco até hoje. Quando ele certo dia encontrou o Zé Renato na rua e este desmentiu, dizendo que eu tinha inventado tudo; ao descobrir a verdade, que estávamos trolando ele, ficou muito puto e não falou mais comigo. Foi agressivo e não aceitou a brincadeira. Não tive mais notícias, me bloqueou no Orkut, no MSN e todo o contato se perdeu. Uma das vezes que fui a Santos combinamos eu, Zé Renato e Branco de sair, mas ele não apareceu.

Às vezes penso que a mulher dele não deixa ele se misturar, como a mãe e o pai dele faziam e o prendiam em casa, proibido de sair. Quando saia no sábado, não podia sair no domingo e vice versa.

O Zé Renato fez jornalismo, casou uma vez, separou, casou de novo e teve um filho. Diferente dele, o guri adora futebol e torce para o Corinthians. Fez mestrado, doutorado e hoje está fazendo pós doc no Espírito Santo. É quem eu tenho contato sempre que vou para Santos e por e-mail. É um vagabundo que leva a vida que todos gostaríamos, estudando e ganhando para isso. Trabalha pouco e aproveita a vida pra caralho. Praticamente um bom vivant, vida fácil.

Eu vivo aqui em Londrina, trabalho pra caralho, tive meus dois guris, que dão um trabalho sem fim; tenho meus projetos de banda (agora tocar bateria) underground, escrever um livro (são 3 sendo encubados – minha biografia, para ser lançada daqui 8 anos, nossa história da rua São Paulo, com o nome Os Meninos da rua São Paulo, parodiando o famoso livro de Molnár Os Meninos da rua Paulo e o terceiro baseado em uma canção da Legião Urbana).

O tio Luiz, na última vez que o encontrei, em 2011, disse com toda sua sabedoria, que um homem, na vida, deveria ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. O Victor e o Gui são as minha contribuição não só para a continuidade da espécie, como para a perpetuação dos Silveiras; já plantei algumas árvores na vida, embora não saiba o fim delas; falta o livro, que persigo desde os 12 anos de idade, quando comecei a ler compulsivamente, por influência do meu irmão Rogério, um leitor assíduo, que ao vê-lo com um livro nas mãos, associava a algo gostoso e prazeroso.


Antes de partir para o outro lado da vida, espero finalizar ao menos um dos 3 livros que tenho em mente. E encontrar meu pai, meu tio e as pessoas que já se foram, com um exemplar para entregá-los e terem uns bons momentos de leitura.

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