sábado, 4 de junho de 2011

XADREZ


Em 1986 eu estava na 8ª série. Fazia parte daquela porra toda, aquela maluquice toda, Zé Renato, Flávio (meus companheirões desde a 5ª), Quinda, Cleber, Raimundo, Sílvio (foi da minha sala desde a 3ª, nussa), os manos (numa época em que ser mano era ser irmão de alguém - eles eram gêmeos - Adriano e Alexandro), Marcus Wander, Erik, porra, quem mais?

Resolvemos montar uma equipe de xadrez para disputar os jogos intesescolares (não sei como se chamavam esses jogos). Acho que houve uma preliminar e a equipe ficou formada entre eu, Marcus Wander e Alexandro. Na boa, eu era o melhor dos 3. Fomos então para os jogos, na ponta da praia, no ginásio lá que não me recordo o nome, mas gigantesco, um grande complexo esportivo.

As primeiras partidas foram baba, o cara sentava na minha frente e levantava em seguida. Eu era foda mesmo nessa de xadrez. Aprendi na infância com meu irmão Rogério. Esse cara era fera. Ganhava tudo que jogava: botão - ele tinha um time do GRÊMIO que havia trazido de Porto Alegre, os últimos sobreviventes, War, cartas, xadrez... e foi o melhor dos 5 no futebol. Naquela época, eu franzino, magrelinho, jogava muito também, na rua era o melhor de todos, mas não deu muito certo a minha investida no futebol, faltou força física mesmo. Depois parei de jogar porque fui fazer faculdade. Mesmo assim me embrenhei em fazer testes, primeiro no Brasil lá do Jabaquara, sei lá, perto do BNH do canal 5; depois na Portuguesa Santista, que joguei uma temporada e não dei continuidade por dois motivos: na época, com uns 13 anos, ainda não tinha documentos e também porque meu lance era a música, nessa época, queria fazer música para comer as meninhas.

Voltando ao xadrez, todas as partidas foram fáceis demais. Cheguei na final e sentou um gordinho na minha frente. Era uma manhã dessas ensolaradas de Santos, com a praia vazia, por ser dia de semana e em período de aula. Lembro de termos saído do Dino logo cedo, o professor Júlio dando força para nós (pela primeira vez o Dino estava na final do xadrez). Saímos todos juntos, pegamos o ônibus na Ana Costa, quase em frente ao Dino Bueno, acho que era o 42, que ía até a ponta da praia. E lá fomos nós, confiantes, certos de uma medalha de ouro no xadrez, inédito para a escola.

E o gordinho com cara de poucos amigos na minha frente. Eu confiante (até demais)! No xadrez, existe um tempo para cada um jogar e se o caboclo toca na peça, tem que mexer aquela peça. O gordinho tocou em uma peça, sem perceber que a rainha dele estava encurralada. Quando notou, quis voltar atrás. Eu, bobo, cheio de confiança, pensei comigo mesmo - eu recupero. No final, não deu para recuperar; perdi o jogo. Quando levantei, meus companheiros levaram um susto. Decepcionado, falei para o Alexandro ficar tranquilo, jogar o jogo dele. Naquela época, ganhava a equipe que fizesse dois pontos, ou seja, mesmo eu perdendo, poderíamos ficar com o ouro, desde que meus dois companheiros vencessem.

Meu fracasso mexeu com o lado psicológico do Alexandro. Ele perdeu em seguida. O Marcus ainda lutou, mas fracassou. Com isso, ficamos com a medalha de prata. Me senti totalmente decepcionado. Foi uma das piores derrotas que tive na época, não porque eu não poderia perder, mas porque fui idiota e agi com excesso de confiança. Um jogo fácil. Isso que me indignou. Lembro de que no pódium estávamos completamente desolados e o professor Júlio veio nos abraçar e dar uma força. Pela primeira vez o Dino tinha ganho uma medalha no xadrez. Era um feito.

Alguns anos depois, me inscrevi nos jogos internos do Primo Ferreira. Estava no 2º ano, com 16 anos. Era do 2C1, noturno. Quando começou o campeonato, joguei com um carinha do 3º da manhã, que vim a saber depois, era o melhor de todos, imbatível. Cheguei humildemente e ganhei dele. Foi uma surpresa geral. Todos quiseram me desafiar, não valendo pelo campeonato, mas como eu tinha batido o grande favorito, fizeram fila. Joguei contra todos. Venci todos. O que venci valendo o campeonato, o favoritíssimo, comentou: te pego na final e será diferente!

Um a um fomos vencendo nossos oponentes e dias depois nos encontramos na final, como havia previsto. E novamente ganhei dele, tendo dessa forma, coroado minha vitória com a medalha de ouro. Depois do jogo, indgnado e vencido, mas não tendo se dado por, quis jogar mais partidas. Queria ganhar de qualquer jeito. Jogamos diversas partidas e depois de muito perder, ele conseguiu vencer. Se deu por satisfeito.

Acho que aprendi a lição da 8ª série, quando fui prepotente e achei que ganharia fácil. Hoje jogo pouco xadrez, acho que o Tety e o Gui nem sabem jogar. Mas gosto de lembrar desses episódios, pois fazem parte de um período da vida em que eu tinha tempo para me divertir na frente de um tabuleiro. Hoje nem xadrez em casa eu tenho. Bons tempos!

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