sábado, 4 de junho de 2011

SOBRE O TEMPO


Sobre o tempo é uma canção da banda Nenhum de Nós, que ficou conhecida nos anos 80 pela canção Camila, Camila. Naqueles tempos quando ninguém conhecia a banda em Santos eu já estava com o primeiro disco deles em casa (que tenho até hoje, uma bela capa); a vida também era outra, não existia internet e nem computador, eu mesmo compunha em uma velha Lettera 22, que apareceu em casa, uma máquina de escrever (uma o quê? - diria o Tety). Outro dia, voltando da academia com o Tety, estávamos falando sobre isso. Tenho trocado muitas idéias com o Tety, são conversas meio loucas, ele escutando um som no celular dele (nos anos 80 não existia celular e nós sobreviviamos - e muito bem, obrigado) e eu escutando outras músicas no meu, mas falando sobre o que vem à cabeça, ora reclamando do cansaço que a musculação nos proporciona, ora lembrando de algumas coisas da infância dele, intercalado por histórias hilárias dele e dos amigos, enfim, jogando conversa fora, uma delícia de conversa entre pai e filho, coisa que nada pode comprar, o prazer e a felicidade que esses momentos podem trazer. Não há comparação na vida para descrever isso. Nem a melhor relação sexual, nem o IMORTAL sendo campeão mundial.

Muitas vezes estou contando para ele os meus "causos" de quando eu tinha a idade dele e junto com Zé Renato, Branco, Ronaldo e a galera da Rua São Paulo (os meninos da Rua Paulo) o que (tentavávamos) fazíamos para nos divertir naquela época.

Como é de conhecimento de muita gente, praticar exercícios libera serotonina, um hormônio que causa sensação de prazer. Eu amo a serotonina, rsrsr. Por isso pratico muito exercício, a semana inteira, 7 dias na semana. Muita gente deprimida toma fluoxetina para liberar serotonina, mas deveriam praticar exercícios, mais barato e saudável, além de ser uma forma de conviver com mais pessoas. Uma solução inteligente, sair do casulo que o deprimido se coloca e se cercar de pessoas. Sei lá, cada um com sua neura. Acho que por isso sou um cara alto astral, devo ter níveis altos de serotonina no meu cérebro. Descobri nessa paixão pela serotonina, tempos atrás, que alguns alimentos como banana, tomate, chocolate e até o vinho são ricos num troço chamado triptofano (e olha que eu odiava as aulas de psicofarmacologia) que auxilia na produção da serotonina. Acho que é isso, rsrs. Como eu sou de comer muita banana e tomate, acho que tudo isso ajuda a manter o meu bom humor. Chocolate e vinho, de vez em quando.

Nos anos 80, quando era office boy e jogava o meu bate bola na praia aos sábados, além de correr na mesma algumas vezes na semana, a minha amiga serotonina estava lá, sendo liberada nas sinapses. Isso fazia fluir o pensamento e reflexões, na verdade eu vivia (vivo) dopado de serotonina. E minhas reflexões ocorriam a todo momento, tudo ao mesmo tempo, condensado, como na linguagem dos sonhos. E às vezes, no meio de uma caminhada no calçadão da praia, no meio do expediente de trabalho, vinha a inspiração. Carregava entre as contas para pagar e os documentos para entregar nos locais que visitava, um bloco de notas, caneta e papel. E lá ía eu, sentar em um dos bancos da praia, escrever sobre o que vinha à cabeça, coisas tolas de adolescente, que me fizeram ser o que e quem sou hoje.

Muitos anos se passaram. Hoje passo a minha experiência para esse guri lindo que é o Tety e alguma coisa para o Gui (vai chegar a hora dele voltar comigo da academia - eu sempre estarei lá, eles seguindo a vida deles). Penso que daqui a 10 anos estaremos em outro mundo, outra vida. Quem estará nos acompanhando? Com quem nos relacionaremos? O pessoal da academia, Luizinho, Fernando, Allan, Antônio, Rafa, será que estaremos no mesmo universo? O pessoal dos anos 80 estão em outro universo, o universo paralelo dos anos 80. Zé Renato, que mora próximo à casa da minha mãe em Santos, ainda tenho algum contato; Branco há tempos que não encontro e o Ronaldo se perdeu no mundão; o Dentinho sei notícias dele, mas a última vez em que estive em Santos não o encontrei; os meninos da rua Paulo... na rua São Paulo o progresso destruiu o muro em que ficávamos (foi triste e dolorido quando passei pela rua e não vi mais nosso muro), ou seja, apagaram um pedaço da nossa história; aqueles guris da rua São Paulo também se perderam no mundão. Estão em um desses universos paralelos.

Quantos universos paralelos existem um uma vida de 39 anos? Onde estaremos daqui a (será esse'a' craseado ou do verbo haver?) 10 anos? Com quem estaremos convivendo? Como fazer para voltarmos a um desses universos paralelos que vivemos? E as pessoas que estão neles, nunca mais encontraremos? E se encontrarmos serão as mesmas pessoas ou já serão outras, com outros valores, desejos e objetivos? Vai ver elas ficaram no universo paralelo e hoje são outras pessoas. Eu devo ser outra pessoa. Aquele eu deve estar num desses universos paralelos. Quem me encontrar hoje, a galera do Dino Bueno (Cleber, Quinda, Flávio, Márcio Ateu, Raimundo, Alexandre, Marcus Wander) me achará diferente, não mais velho, mas outra pessoa. O Márcio Crânio do Dino Bueno ficou no universo paralelo dos anos 80.

Fecho os olhos. Vejo o mundo nú, desnudo, crú... a violência, a estupidez... o passado vem à tona, revive, se torna presente. Talvez essa seja a única forma de fazer uma viagem no tempo, lembrando daquilo que vivemos e com quem vivemos. Que em algum lugar do universo ficou guardado, em uma caixinha de histórias para contar para nossos filhos... histórias para desfrutar com o Tety (e com o Gui), quando estivermos voltando da academia. Na ponta dos olhos algumas lágrimas que insistem em não cair (- homem não chora meu netinho) denotam a emoção de cada momento, do passado, do presente e do futuro. Onde estaremos? Com quem estaremos?

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