sábado, 26 de abril de 2014

QUARENTENÁRIO - HISTÓRIAS SOBRE INSÔNIA, LOUCURA E NADA


Como diz no meu perfil do Twiiter, do blog, aí embaixo à direita, sou Psicólogo, formado pela Universidade Estadual de Londrina e quem acompanha meu blog, sabe que comecei a estudar na Unesp de Assis em 1991. E, se tem algum coisa da qual me arrependo, foi de não ter terminado a faculdade lá, ter transferido para a Uel. Claro que Londrina é muito mais desenvolvida que Assis, não tem comparação; e não estou falando mal de Assis. Mas o fato é que se compararmos a Unesp com Uel, esta está anos luz atrás em qualidade e estrutura. Principalmente no curso de Psicologia, que posso avaliar comparativamente a realidade, por ter estudado nas duas universidades.

Não me arrependo de muita coisa que fiz na vida; aliás, não lembro de me arrepender de nada. Mas isso é algo que, se poderia voltar atrás, teria terminado o curso na Unesp mesmo. Do resto, do que fiz certo ou errado, não me arrependo, faria tudo de novo, da mesma forma que fiz. Minhas escolhas foram pautadas no momento que estava vivendo, não teria como seguir outro caminho. Por isso sempre repito o que é um clichê: me arrependo das coisas que deixei de fazer, não do que fiz.

Me apresento como Gremista, Gaúcho, Psicólogo e Roqueiro, sem preferência ou importância. Ano retrasado, fui ao cinema assistir ao documentário Rock Brasília, Era de Ouro. Foi uma sessão particular, pois estávamos apenas eu e a Juliana. E um dos entrevistados se apresentava como jornalista e roqueiro. Achei muito interessante e resolvi utilizar as minhas alcunhas, coisas que me apresentam na essência: sou gremista desde que nasci, costumo dizer que é o DNA da família; sou gaúcho de Porto Alegre, lugar que amo como a capital da minha pátria; sou Psicólogo e finalmente, roqueiro inveterado, daqueles chatos e conservadores, que não gosta de outro tipo de som.

Há uma década e meia, desde que me formei, trabalho com RH e destes 14 anos, 8 são como gerente da área. Aprendi muita coisa, principalmente que trabalhar com pessoas é muito, muito difícil; satisfazer o ser humano é impossível e agradar a todos e principalmente, que os desejos e anseios das pessoas, as levam à beira do insuportável. Melhor seria estudar o comportamento dos animais do que do ser humano.

Há seis anos trabalho com EaD, Ensino à Distância. É uma modalidade inovadora, e na minha opinião, mesmo diante dos mais críticos, e da minha própria crítica em relação à qualidade, substituirá o ensino convencional, esse de sala de aula, que o professor fala, fala e fala e o aluno dorme, sonha e acordo em outro planeta. Mas isso levará umas boas décadas. As pessoas ainda não estão preparadas para tanta autonomia. Mas o futuro da educação, queiram ou não, está no Ensino à Distância.

Numa dessas noites de trabalho no EaD, há uns 2 ou 3 anos atrás, tive um surto criativo e escrevi desmesuradamente algumas letras de música. Havia conversado dias depois, com o Emerson, para ele musicar as letras, porque não tenho mais aquela motivação para fazer a música, pegar o violão, juntar uns acordes, uma batida e então fazer a canção completa. E também queria ver como ficava uma letra minha com um compositor diferente.

Na Mayday tive a experiência de musicar algumas letras do Zé Renato. Mas eram outros tempos. Formávamos a dupla de compositores, uma espécie de Morrissey/ Marr; Johnny/ Márcio era uma dupla promissora, infelizmente seguimos rumos diferentes e a vida nos separou.

Depois de terminar a leitura da biografia do Barão Vermelho esta semana e escutar toda discografia da banda e ter passado praticamente a noite inteira acordado, estava fuçando nos arquivos do meu notebook e encontrei essas dezenas de letras, escritas em algumas horas de trabalho.

Ontem, aliás, foi um retorno ao passado. Terminei minha leitura por volta das 22 horas. Virei de lado e dormi. Acordei por volta das 2 e meia da madrugada do sábado. Assisti a uns programas no youtube e fuçando na pasta dos meus documentos, deu vontade de ler o livro do Vampeta, jogador de futebol conhecido pela sua irreverência, posou nu para uma revista voltada aos homossexuais e que inventou o apelido de ‘bambi’ para os são paulinos. Em menos de 12 horas li o livro de 160 páginas; uma leitura fácil e leve. Dei boas risadas das suas ‘resenhas’. Tudo isso ao som da Fernandinha Takai, o novo disco dela, Na Medida do Impossível.

A volta ao passado se deu porque por muitos anos, durante a faculdade, eu dormia até certa hora da madrugada, acordava no meio da noite, estudava e depois dormia até o horário de ir para a faculdade. Hoje, dormi por volta das 6 da manhã, depois de dar umas boas risadas e levar uns chega prá lá da Juliana, por incomodar o seu sono.

Conforme já disse, nunca fui de dormir muito. Agora, com meus 40 anos é que durmo mais. Apesar que tenho uma vida atribulada, acordo muito cedo e vou dormir tarde, ando de bike, faço academia, muay thai. Jogo futsal aos domingos. Só não voltei a correr depois da lesão que tive no joelho em fevereiro. Que horas levanto? O primeiro despertar é às 5 e 38. 15 minutos depois eu levanto e só vou descansar próximo das 23 horas.

Gosto de contar para os amigos e para meus filhos, certa vez, na adolescência, que acordei na sexta feira para trabalhar, às 7 horas, como de costume, trabalhei o dia inteiro, cumprindo meu expediente de serviço, depois fui para o Primo Ferreira, estudar. Saindo de lá, direto para a rua São Paulo, encontrar a galera, ficar até altas horas no muro, conversando, dando risadas, enfim, vivendo nossa adolescência. Fui para casa e continuei acordado, assistindo TV, torcendo para passar um filme bom, porque naquela época tínhamos que contar com a sorte, não tinha toda essa interatividade que vemos hoje com a internet. Como passei a noite em claro, provavelmente a programação estava boa, no Corujão. Naquela época não tinha esse monte de programa religioso que assola a programação da madrugada de quase todos os canais abertos. E TV a cabo só nos filmes americanos.

Como eu trabalhava aos sábados, cumpri meu compromisso, voltei para casa na hora do almoço, fui bater uma bola na praia com o Quinda, Marcus Wander, Márcio Ateu, Raimundo, Cleber, Alexandre e todos os demais, programa sagrado de todos os sábados à tarde, naquela época. À noite sai com a galera punk, Caneleira, muito som, bebedeira, andanças pela zona e novamente filme na televisão. E chegou o domingo.

Praia; como sempre, eu, Zé Renato, Branco, André Rosa, meu irmão Renato, Wagner e mais sei lá quem; barraca do banco Real, no Gonzaga, próximo ao canal 3, banco que o pai do Zé Renato trabalhava e que tinha um baiano (baiano é todo nordestino em Santos) que cuidava da barraca e sempre nos olhava enviesadamente, não simpatizando com nossa presença. Mas quando íamos com o Tãozinho (o nome do pai do Zé Renato é Sebastião) o Bahia nos tratava bem pra caralho. Não lembro da cara do Baiano, mas imagino que seja a cara do Baiano, personagem do ator Fábio Lago, de Tropa de Elite.

Costumo dizer que a galera que mora no litoral sempre tem o que fazer aos sábados e domingos de manhã. Nós, simples mortais moradores do interior nunca temos nada para fazer de proveitoso. 

Tem uma passagem muito cômica da praia e da barraca do banco Real. Acho que já contei aqui, não tenho certeza; se falei, vou repetir, se não, é uma boa história.

Ocorreu em um domingo nublado. Nós íamos por volta das 9 horas para a praia. Acordar o Zé Renato nunca foi fácil, mas eu sempre o fazia; ele ficava fudido comigo. Então lá fomos nós para a praia. Jogamos bola, ficamos na barraca do banco Real. Como não teve movimento naquele dia, sobrou groselha adoidado na barraca, que oferecia para todos os usuários, funcionários do banco em seu momento de lazer na praia. O Baiano resolveu nos presentear com toda aquela groselha, que seria jogada fora e provavelmente sobraria para ele alguma bronca.

E nós lá, jogando uma bolinha e bebendo groselha. Eu exagerei, confesso. Tomei altas doses de groselha. Então fomos embora. No meio do caminho comecei a sentir os efeitos da overdose de groselha; não conseguiria chegar em casa intacto; pressentindo isso, comecei a andar mais devagar. A galera me acompanhando, diminuía o ritmo; resolvi acelerar, mas a galera acelerou. Parecia que estavam prevendo o final dramaticamente ridículo. Seguíamos pela José Caballero, paralela à avenida Ana Costa, no Gonzaga. Até que chegamos em cruzamento, rua Luiz Suplicy com a Assis Correa, que é continuação da  José Caballero e não consegui segurar. Peguei uns jornais que estavam por perto, vi que a rua estava deserta mesmo àquela hora (próximo às 13 horas) e abaixei as calças e caguei ali mesmo. O jornal me foi útil naquele momento, não como leitura, mas para o óbvio.

A árvore permanece, mas o cenário mudou completamente, esse prédio era uma casa de muro grande.
Os caras ficaram indignados e enojados com aquilo. Meu irmão Renato sempre me leva naquela árvore fatídica, quando estou em Santos. Já mostrou para os meus filhos; segundo a lenda da gozação, aquela árvore morreu naquele dia, poluída; eu digo que dali para frente ela floriu com mais vida.

Voltando ao final de semana que não dormi na sexta e nem no sábado, fui para casa almoçar e domingo à tarde futebol na praia com a galera mais velha, amigos dos meus irmãos mais velhos, saudoso Quinda, Gordo, meus irmãos Beto e Fábio, Pada, Zé Maria, irmão do Quinho, Amaral, mais uma galera; sempre tinha alguma briga e como eu era pequeno, não me metia, mas rolava umas voadoras do Quinho, do Beto, o Amaral, que lutava judô; eu quieto, só olhava e admirava. Depois voltávamos na maior gargalhada. No outro domingo encontrávamos os caras das brigas e tudo tinha passado. Bons tempos, as brigas eram de socos e pontapés e depois sem mágoas. Hoje, se não matam na hora, buscam arma e voltam para matar.

À noite, Fantástico, algum filme de Domingo Maior e finalmente o sono sagrado. Foi a vez que fiquei mais tempo acordado na minha vida. Mais de 50 horas acordado; quase 3 dias sem dormir.

Embora tenha escrito tudo isso, não era esse meu objetivo. O principal era para lembrar esse surto criativo que tive numa noite anos atrás no trabalho. E lendo as letras essa tarde, após terminar de ler o livro do Vampeta, vi que minhas temáticas continuam as mesmas: escrevo sobre o nada e depois percebo que escrevi sobre tudo. Parece que estou psicografando e depois que paro percebo o conteúdo da obra. Ilustro abaixo uma dessas letras, que fala sobre loucura e minha fixação no passado:


SE EU ME PERDER

Se eu me perder
Sei onde encontrar o caminho de volta
Aquela mesma rua da infância
Os mesmos amigos de sempre
São eles que vão me levar
De volta à realidade dos meus sonhos

Se eu me perder
Quero esquecer que um dia terá futuro
Quero me perder no passado
Voltar na máquina do tempo e ficar por lá
Sonhando com a minha realidade
De volta à realidade dos meus sonhos

Eu não quero voltar
Eu não quero voltar
Quero ficar aqui, perdido para sempre
Naquilo que jamais viverei novamente

Se eu me perder
Quero enlouquecer para sempre
Ficar nesse mesmo lugar
Onde vivi a ilusão da felicidade
Não quero voltar à realidade dos meus sonhos

Se eu me perder
Quero enlouquecer um pouco,
Esquecer os dias que sonhei acordado
Não quero mais voltar à realidade dos meus sonhos
Quero esquecer que um dia terá futuro
Quero me perder no passado

Eu não quero voltar
Eu não quero voltar
Quero ficar aqui, perdido para sempre
Naquilo que jamais viverei novamente 

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