sábado, 15 de março de 2014

UMA PEQUENA HISTÓRIA


O primeiro disco que comprei na vida, com meu dinheiro, foi do Capital Inicial, com dinheiro ganho dando aulas de matemática para meus colegas de sala, principalmente o Erik. Também dei aulas de matemática e português para o Branco. Todos eles passaram de ano. Era um bom professor. Meu irmão Renato teve aulas com o Flávio... repetiu aquele ano. Eu estava na sétima série e queria comprar um disco com meu primeiro “soldo”. Escolhi o disco meio ao acaso, por ser de uma banda de Brasília, mas por ser um disco proibido para menores de 18 anos (eu tinha 13).

Meus irmãos compravam discos todos os meses e eu comecei a comprar os meus. Todos os meses tinham as novidades do rock nacional em casa. Recém lançados, saídos do forno. A década de 1980 foi a década do rock nacional. O Fábio tinha o Dois e só depois de ter esse disco é que comprou o primeiro da Legião; também tinha o Nós Vamos Invadir sua Praia, dentre tantos outros, como do Lobão, do Barão. O Beto tinha o Viva do Camisa de Vênus, que eu, na inocência da pré adolescência e dos anos 80, não entendia porque era tão polêmico o nome da banda. A gravadora queria que os caras trocassem singelamente por Camisa, o que, claro, foi repelido por Marcelo Nova e banda. Perguntava para todos o motivo e nunca recebi explicação alguma.

O Rogério trazia discos dos Beatles, raríssimos, importados, piratas, do Iron Mayden, do qual é fã até hoje, John Lennon... o Beto fazia uma salada mista de Ted Nungent a Dio, Led Zeppelin, Sex Pistols. Foi assim que escutei pela primeira vez o Never Mind The Bollocks. Depois ele se perdeu, escutando música sertaneja (bah, que vergonha!). Certa feita disse a ele que escutar dupla sertaneja não tinha nada a ver com aquele cara que me apresentou na adolescência discos dos ACDC, Sex Pistols, Dio e tantos outros clássicos do rock mundial e que contribuiu consideravelmente para a minha formação musical.

Assim, com todos comprando discos, em casa havia uma discografia e tanto do rock dos anos 80. Foi o Fábio quem começou a levar uns discos de bandas punks de São Paulo, como Garotos Podres. Isso fazia de nossa casa uma “biblioteca” de discos e todos que queriam as novidades, bastava passar na casa dos Silveiras para escutar e algumas vezes pegar emprestado, gravar em fita cassete.

Meados de 1988, 1989, comprei o primeiro disco do TNT. Já escutava algumas bandas gaúchas, como Replicantes, Engenheiros e DeFalla. Aliás, achava o 1º disco do DeFalla afudê (o que acho até hoje). Replicantes e Surfista Calhorda eram imbatíveis, mas foi do Engenheiros que tive oportunidade de assistir ao show, no saudoso Caiçara Music Hall. Acho que foi meu primeiro show. Tinha uns 14 anos, arrumei uma namorada groupie, que adorava o Carlos Maltz. Claro que estou exagerando ao chamar a guria de groupie, mas tivemos um pequeno flerte naquele show. Em épocas sem internet, celular, sem tecnologia, não combinamos de nos encontrar mais. E nunca mais eu a vi; seu nome sequer eu lembro.

Antes de escutar as bandas gaúchas restava escutar Kleiton e Kledir, que sempre curti e que curto até hoje, mas que estava distante do que pode ser chamado de rock.

Aí comecei a escutar uma música no rádio, seguidas vezes, comentei com o pessoal e ninguém havia escutado ou sabia que canção era aquela que me paralisou, me deixava extasiado. Até que o Zé Renato decifrou o enigma. Como todo gaúcho, temos a mania de valorizar muito o que é de nossa terra; por vezes, incompreendidos, somos tachados de chatos. Os brazucas não estão acostumados com o orgulho e amor à pátria que os riograndenses têm.  E o Zé Renato me veio com a de que eu já sabia que era uma banda gaúcha e tal. O nome da banda? Nenhum de Nós. A canção? Camila, Camila.

Tempos depois comprei o disco da banda. E no final daquele ano, no amigo secreto, pedi o segundo disco do TNT. Em Santos, naqueles tempos, tinha a impressão de que eu era o único cara que gostava de TNT. Também consumia as coletâneas de rock que vinham do sul. Assim conheci Julio Reny e o Expresso Oriente e uma banda que mudou minha vida: Os Cascavelletes. A banda de (ainda) Flavio Basso e Nei Van Soria, recém saídos do TNT por divergência no som (eles queriam tocar o chamado pornobilly) e ainda contou com o grande Frank Jorge que tocava também na sua banda Graforréia Xilarmônica. Nessa coletânea tinha Morte por Tesão e a romântica Estou Amando Uma Mulher. Depois veio Nega Bombom, que estourou no Brasil inteiro por fazer parte de uma trilha de novela da Globo. É aquela da “punhetinha de verão”. Os Cascavelletes ficaram famosos também por tocarem certa vez no programa da Angélica, na extinta TV Manchete, para um público infantil a canção Eu Quis Comer Você. Não assisti essa apresentação, só anos depois, pelo youtube. Mas assisti ao DeFalla, no programa da Rosana Hermann, cantar It’s Fucking Boring to Death e a platéia sem saber patavinas do que dizia a letra, batendo palmas, como se estivessem em um show do Menudo.

Todo esse enorme preâmbulo é para dizer que minha eleição dos melhores dos anos 1980, eleição que fiz na época e que comungo até hoje, a canção mais bonita é Camilla, Camilla, com Tolices do Ira! ali do lado, palmo a palmo. E o melhor disco, Mudança de Comportamento do Ira!, com o primeiro do DeFalla bem próximo, ganhando por um focinho. Os Cascavelletes, foram a banda mais rocker da década.

Ah, os ’80... grande década, belas bandas. E belas histórias.

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