sábado, 7 de fevereiro de 2015

QUARENTENÁRIO - AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - NÚCLEO BASE - IRA!

A canção Núcleo Base é sem dúvida alguma a mais conhecida do Ira!, a banda paulistana mais honesta do rock nacional. Digo isso porque em plenos anos 1980 e no auge da ditadura do sr. Chacrinha, eles se recusaram a tocar de toquinha de papai noel no programa e todos os demais o fizeram e passaram o ridículo em frente das câmeras para o Brasil inteiro. Mesmo que os demais artistas, como Legião e Capital os apoiassem, na hora h amarelaram e só o Ira! manteve sua integridade. 

Não que seja ridículo a touquinha natalina, mas naquela época as bandas eram sérias, cantavam ideologias, tinham o que falar ao público, aquela rebeldia contra o momento político que o Brasil se arrastava desde o golpe militar de 1964. E o Ira! se recusou a usar essa indumentária, com o argumento da seriedade do trabalho deles. Inicialmente apoiado por diversos artistas, que não tiveram a coragem de enfrentar o velho Chacrinha e suas manias.

Em meados dos 80 meu irmão Rogério chegou com uma caralhada de discos em uma das viagens da Marinha, com mais discos do que roupas, o que já contei aqui, e um dos discos era o Mudança de Comportamento, do Ira!. A canção Núcleo Base, que Scandurra fez quando estava no Exército, faz parte desse maravilhoso disco, na minha opinião o melhor disco do rock nacional. Ao menos dos 80. Naquela época, eu achava o melhor disco do rock nacional disparado, e ainda acho dos melhores, principalmente porque naquela década foram produzidos os melhores discos do rock nacional, os mais criativos.

Os caras pouco entendiam de produção e da questão técnica. Sabiam tocar e tinham feeling. Mas muita capacidade e competência, além de criatividade ao extremo. Tanto que nas décadas que se seguiram, apesar da falta de apoio da indústria musical, o que corrobora para o que vemos hoje, poucos shows das bandas de rock, não conseguiram repetir o que ocorreu nos anos 1980.

O que propiciou essa onda criativa não sei explicar, aquele boom do rock, que começou com Você Não Soube Me Amar, da Blitz. Mas tem muito a ver com a ditadura e com a industria da música investindo nessa vertente musical. Quando li Dias de Luta, do Ricardo Alexandre, muita coisa clareou. Leitura fundamental para aqueles que curtem rock brazuka, que hoje chamam de rock pop, não só os que viveram aquela época. Aliás, pop, naquele época, era xingamento, falar que era pop era pior do que ser sertanejo hoje. Bem, não exageremos. Sertanejo é a escória da escória. Tenho um exemplar do livro aqui, quem quiser emprestado pode vir pegar, mas com são 4 'Vs'.

O primeiro disco do Ira! Mudança de Comportamento, foi considerado por anos o melhor disco do rock brazuka por mim e costumava achar que a canção definitiva do rock era Camila, Camila, da Nenhum de Nós. Isso nos 80. Hoje as coisas mudaram... para pior! Mas que nada, tem muita coisa boa rolando no underground. Para a indústria da música o rock, agora com a alcunha de rock pop, não interessa, porque não dá grana. As pessoas emburreceram e ficaram tão imediatistas e superficiais na pós modernidade que não entendem letras mais elaboradas e com conteúdo. Renato Russo não faria o sucesso que fez se surgisse nos dias de hoje.

O clip dessa canção foi retirado do Youtube, claro e escolhi um ao vivo de 1987, de um programa chamado Mixto Quente, da Rede Globo, que agora só investe em programas de péssima qualidade musical, se preocupando apenas com a qualidade técnica das imagens e da produção. Esquece a música. Mas dizia que o clip é de um especial para esse programa, feito na praia. Bons tempos de shows na praia. Excelentes tempos. Assim que assisti quase todas as bandas de rock dos 80, na praia e de graça. Praia do Gonzaga, em Santos. Inclusive show do Ira!.

Como tantas coisas boas, isso também faz parte do passado...

À canção então! Sancdurra cabeludo, tocando uma Rickenbacker e Nasi em seus tempos de galã. E com aquela velha afinação na voz que nós, fãs do Ira! tanto conhecemos. Destreza guitarrística de Scandurra e a potente voz do Nasi... a alma do Ira! Venham para Londrina, please!

  

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