Quebrar meu período sabático no
blog não foi fácil. Muitas coisas passam pela minha cabeça e queria voltar com
novidades sobre a Mayday, que pipocam pelo whatsapp, depois que o Zé Renato
demonstrou o desejo de voltarmos a tocar e compormos juntos. Com as facilidades
de hoje, é certo que a distância de Santos (por vezes Vitória, onde faz Pós
Doc) e Londrina, não será impedimento. Ainda mais com as promoções de vôo, tudo
se torna como ir à esquina. Estamos amealhando meu irmão Fábio para a bateria e
cogitando meus filhos Gui e Victor para compor a banda. E um CD não é um sonho
distante. Estamos escrevendo canções e tentando ser mais maduros do que na
adolescência. Embora que maturidade não é nosso forte.
Mas o que me fez tirar dessa
letargia de meses sem escrever no blog foi o grande e maravilhoso Moz e suas
canções definitivas. Desta feita, a canção escolhida é First Of The Gang To
Die. Todas as canções de Moz parecem ser definitivas, pela qualidade de seus
versos e da sua criatividade, mesmo não compondo mais com seu parceiro de
Smiths, Johnny Marr.
Outro motivo de voltar a escrever
no blog foi o pedido de um guri, que estuda com o Gui, o Caio. Então, Caio, esse
é para ti, especialmente.
Morrissey gravou essa canção no
disco You Are The Querry, de 2004. Mas ainda nos anos 80 do século passado eu
já pensava em qual de nós seria o primeiro a ‘morrer’. E na verdade o morrer
seria figurativo; seria na verdade o primeiro a casar. E jamais poderia pensar
que eu seria o cara: First Of The Gang To Die. Fui eu, que saí do convívio dos
meus amigos de maneira abrupta com o sonho de liberdade, sem o controle do
pais, fora do ninho, de casa e buscar algo diferente na vida, ao invés de continuar
vivendo na praiana Santos City dos anos 90, aquela vidinha cômoda mas sem muita
emoção, como se desenhava a vida naquele início de década. Mas qual seria a
minha grande surpresa, que ao ficar longe de tudo e de todos, da minha
namoradinha de adolescência, da minha família e de meus amigos de infância/
adolescência, apresentaria um vazio tão grande traduzido na melancolia da
carência oriunda na ausência e distância das pessoas próximas e queridas.
Sempre achei que era imune a essa
baboseira. Ledo engano, claro! Queria correr o mundo. E aquele era o primeiro
passo. E quando aportei em Assis para estudar, não sabia que sentiria tanta
falta dessas pessoas. E foi o que ocorreu. Embora acolhido pela galera que lá
encontrei, todos na mesma situação que eu, me apaixonei por uma certa guria e
acabei me casando poucos anos depois, antes mesmo de concluir o curso de
Psicologia na Unesp. E em seguida veio o Victor ao mundo, meu primeiro filho.
E lá estava eu, sem a liberdade a
qual fui ao encontro quando saí de Santos naquele distante fevereiro de 1991.
Dei início a minha peregrinação no mundo, quando segui meus instintos nômades,
escrito em meu DNA por meus ancestrais que viveram séculos passados, antes de
chegarem ao Rio Grande, no Oriente Médio, em tribos nômades.
Esse instinto fez meu pai e meu
tio correrem o mundo, para enfim deixarem esse plano perto de onde nasceram
(não tão perto assim: meu tio em Porto Belo, no lindo litoral catarinense e meu
pai em Livramento, na divisa com o Uruguai e perto de onde o pai deles e o avô
tinham terras chamadas Rincão dos Silveiras; o primeiro nasceu em Canoas,
região da Grande Porto Alegre; o segundo nasceu em Bagé, se não me engano. Ou
seja, cada um nasceu em uma cidade, provando que o sangue dos ancestrais das
tribos nômades do Oriente Médio gritava em suas veias.
O sangue desbravador desses
ancestrais corre nas veias desses Silveiras. Basta saber que dos 10 filhos do
Laudelino filho (meu avô chamava Laudelino também), meu pai, raros são os que
moram na mesma cidade. Eu e o Fábio estamos em Londrina e a Fernanda e o César
(o primogênito do Laudelino filho) moram na mesma São José, região
metropolitana da belíssima Ilha de Florianópolis. O restante, todos espalhados
pelo sul e pelo estado de São Paulo. Milhares de quilômetros separando os
irmãos de três mães diferentes.
Essa característica dos filhos do
Laudelino filho, assim como dele mesmo, filho do velho Laudelino, por
conseguinte meu avô, de morarem longe uns dos outros, dificultou fazer o que o
Orkut e as redes sociais permitiram: reunir todos os filhos, aproximar toda a galera,
netos e esposas do Laudelino filho, ao
menos as três que tiveram filhos dele, porque ao todo foram seis em vida. A
idéia era fazer essa reunião antes que o pai fosse embora dessa para melhor.
Mas não deu tempo. E ficou somente no desejo de alguns filhos. Isso porque tem
dois no estado de São Paulo, um em Santos e outro em Diadema, dois no Rio
Grande do Sul (o mais novo em uma cidade perto de Livramento, o único dos dez
filhos do Laudelino filho que pôde velá-lo e enterrá-lo e outro que mora na
serra, em Bento Gonçalves) os dois que moram no Paraná, os dois de São José em
SC e mais um que mora em Navegantes e outro em uma cidadezinha próxima a
Criciúma, a qual não me recordo o nome nesse momento.
Como pode ser constatado,
Laudelino filho espalhou filhos pelo mundo. E todos com o mesmo sangue nômade.
Minha família demonstra essa aparente falta de raiz que temos: nasci em Porto
Alegre, Victor em Santos e o Gui em Londrina. Somos cada um de um canto dessa
pequena porção de Brasil que é o sul e suldeste. Fora a Juli, que se tornou uma
Silveira e que nasceu em Assis. Sendo assim, nenhum de nós somos da mesma
cidade, nem mesmo do mesmo estado.
Sobre a canção, First of the Gang
To Die, que faz parte do disco lançado em 2014, depois de 7 anos sem gravar,
faz parte de um movimento que toma conta de mim, que é de voltar a escutar
Morrissey depois de alguns meses. Todos os anos tenho uma fase Smiths ou
Morrissey. A fase de escutar este foi exacerbada pelo fato d’eu estar me
esbaldando na encomenda da Siciliano que fiz recentemente após procurar uma
biografia do nosso herói Moz e não ter encontrado em português (o que os
editores estão esperando?); mas encontrei esses três livros que citam Moz: Quem
Vai Ficar Com Morrissey?, que conta o romance (final de um) cuja personagem
Fernando é fissurado nas canções de Moz e recheia as páginas e seus pensamentos
com frases e canções da banda que lançou Morrissey ao mundo (ou seria o
contrário?); Mozipedia é uma espécie de biografia escrita em forma de
dicionário. Sensacional! E finalmente Caro Morrissey, o qual ainda não tive
contato com suas páginas, mas que pelo que li na sinopse antes de adquiri-lo,
fala sobre um guri que em crise existencial, escreve cartas sempre começando
com “caro Morrissey”. Cartas, diário, algo assim, pelo que lembro.
Por fim, saboreemos essa
excelente canção pop de Morrissey, que continua compondo e gravando, fazendo
shows pelo mundo, com a mesma acidez e critica dos tempos de Smiths. Boa
audição, muchachos!
E agora estou definitivamente de
volta ao blog. Em breve algumas surpresas da Mayday. Para ti, Caio. Valeu!
O Primeiro da Gangue a Morrer
(Los Angeles, você é quente demais)
Você nunca esteve apaixonado
Até que tenha visto as estrelas
Refletidas nos reservatórios
E você nunca esteve apaixonado
Até que tenha visto o amanhecer
Por trás do asilo de cegos
Nós somos os belos ladrõezinhos baratos
E você está nas nossas ruas
Onde Hector foi
o primeiro da gangue a ter uma arma na mão
E o primeiro a cumprir pena
E o primeiro da gangue a morrer
Oh, Deus
Hector foi o primeiro da gangue
A ter uma arma na mão
E o primeiro a cumprir pena
E o primeiro da gangue a morrer
Oh Deus
Você nunca esteve apaixonado
Até que tenha visto a luz do sol
Refletida nos ossos humanos esmagados
Nós somos os belos ladrõezinhos baratos
E você está nas nossas ruas
Onde Hector foi o
primeiro da gangue a ter uma arma na mão
E o primeiro a cumprir pena
E o primeiro da gangue a morrer
Que garoto bobo
Hector foi o primeiro da gangue
A ter uma arma na mão
E uma bala na garganta
E o primeiro rapaz perdido a ir
Para baixo da terra
E ele roubava dos ricos e dos pobres
E dos não muito ricos e dos muito pobres
E ele roubou nossos corações
Ele roubou nossos corações
Ele roubou nossos corações
Ele roubou nossos corações...
Boooaaaaa Marcião!
ResponderExcluirSempre dou uma pescoçada aqui no teu blog pra "ouvir" suas histórias!
Admito, no entanto, que seus posts sobre cinema não leio até o fim, pois, embora goste de filmes, é um gostar superficial o suficiente pra eu querer apenas ver e jamais ler sobre...
Mas as histórias nômades deste cara fenomenal que encontro sempre no estádio são sempre muito boas! Eu, um sedentário que tem delírios nômades, sinto-me cada vez mais disposto pra, a qualquer momento, cair na estrada com minha bicicleta sem me preocupar com as horas ou a passagem dos dias...
Nos vemos por aí...
p.s. já estou ansioso pra ouvir uma de suas composições musicais!
boa Jé! Esses dias fiz uma gravação tosca de Lucíola. Ficou afudê! kkk
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