segunda-feira, 20 de abril de 2015

EPOPÉIA DO PEDAL

Esse ano a galera do futebol resolveu inovar com uma idéia genial: criaram um grupo do pedal. Não é exatamente toda a galera do futebol, mas uma pequena parte. A mesma galera do Quinteto do Penta, que foi para Maringá ano passado na final do Paranaense e que festejou o tetra do Tubarão nas terras da cidade canção, na famosa invasão alvi-celeste daquele domingo ensolarado e alegre.

Quinteto do Penta e a invasão azul a Maringá:
Jé, Thaigo, Eu, Ju e Xandy
A idéia da bike foi sensacional. Eu já estava a utilizando para ir ao trabalho, como uma forma de me exercitar nos dias que não ia correr. Começou assim minha historia de biker. Há anos quero comprar uma bike, mas sempre ia adiando e andando com a que esta em casa há tempos e que por muito tempo ficou parada. Pois bem, comprei finalmente. Não ‘aquela bike’, mas uma simplesinha, com minha mania de economia. Aproveitei e comprei capacete e luvas, o que não pode faltar para um autêntico biker. A diferença entre um andador de bicicleta e um biker: o capacete.

Minha mania de economia é confundida com pão-durismo. Intriga da oposição; exagero dos meus detratores. Primeiro que para ser pão duro o caboclo tem que ter grana, o que definitivamente não é meu caso. Segundo porque... sei lá, só tem primeiro mesmo. O fato é que me contenho com arroubos de gastar e também com supérfluos, impulsionados pelo capitalismo e pela mania do consumismo. Compro aquilo que realmente vou utilizar, somente o que me é util. Por muito tempo não tive um celular e por tantos outros anos não tinha esses mais modernos, os tais smartphones. Tudo porque não achava útil. Por causa disso sou extremamente criticado, um pouco pela minha língua afiada. Por achar supérfluo sempre sou mal compreendido.

O fato é que não compro coisas porque os outros falam ou porque os outros têm. Só aquilo que julgo necessário para minha vida atribulada, confusa e enrolada. Seja moda, tendência ou a porra que for, isso não me seduz. Marqueteiros se fodem comigo. Sou punk prá caralho!

Desde que começamos a andar de bike, o grupo ainda não conseguimos reunir o quinteto do penta, que ficou para o ano que vem (o penta do Tubarão), com a derrota ontem na capital. Mas logo teremos esse prazer, com, quem sabe, o reforço do Mathias que entrou para o grupo, por enquanto só do whatsaap. O prazer de reunir todos e de ser penta estadual.


Dentre os percursos que fizemos destaco a recente ida até o pedágio mais caro do mundo, que fica na cidade de Jataizinho, que ida e volta da minha casa deu 64 km. Foram quase 5 horas de pedalada constante, entre subidas, descidas, muitos acidentes geográficos. Não foi exatamente uma trilha rural, mas foi bem divertido, principalmente por testarmos nossos limites.

Nossos encontros têm ocorrido sempre aos sábados, ora de manhã, ora na parte da tarde. E, neste sábado, com desfalques do Ju , do Thiago e do Xandy, combinei com o Jé de darmos um role. Ficou combinado de nos encontrarmos na rotatória da Rio Branco com a Leste/ Oeste, região central de Londrina, uns 6 km de casa e uns 4 km da casa do Jé. Nosso destino? A vizinha cidade de Cambé, a Oeste de Londrina.

Já fizemos trilhas pelo sul e pelo Leste da cidade. Faltava irmos em direção ao Oeste. Uma incursão pelo velho Oeste? Sim, só que ao invés dos cavalos, as bikes e ao invés do cantil de água, uma parada no supermercado mais próximo para nos abastecermos do isotônico mais famoso do mercado.

Chamei o Gui para ir comigo. Ele, para minha surpresa, topou. Isso significava duas coisas: nossa velocidade média cairia consideravelmente; nas subidas mais acentuadas ouviria um tanto assim de reclamação. Mas é muito gostoso dar umas voltas com o Gui, mesmo ele sendo de poucas palavras e resmungão. E toda vez olho para trás e vejo ele vindo, na maior tranqüilidade. Andar com o Gui tem mais: não suar. Andar naquele ritmo tranqüilo, parecendo que temos todo o tempo do mundo. E não temos?

Tracei o melhor caminho na cabeça para chegarmos ao local combinado com o Jé, sem pegarmos muitas subidas. E lá fomos nós. Não sem antes nosso herói de plantão, Gui, fazer das suas e se recusar a ir de capacete. Aquele pequeno stress, que se não tiver, não é o Gui.

E lá fomos nós. Antes uma pequena explicação: Londrina é uma cidade nova, de 80 anos e cujo maior problema (ou um dos maiores) é a mobilidade urbana. E parece que nossos engenheiros de trânsito fizeram o curso por correspondência, porque só fazem merda. Cito dois exemplos ridículos de cagada: a tal “ciclovia” em volta ao lago Igapó e o aterro. Primeiro que a pista de bicicleta não pode ser chamada de ciclovia. Uma via deve levar de um lugar para o outro e a pista citada, apenas contorna o lago. Isso fudeu todo o transito da região. Se antes tínhamos duas ruas com pistas de ida e volta, agora só temos uma opção de saída. Os congestionamentos são constantes nos horários de rush; outro exemplo da idiotice desses “profissionais” é a saída o Catuaí, pela Madre Leônia. Simplesmente eles fecharam todos os retornos para quem vai para o Leste e tudo desemboca na rotatória da Airton Senna com a Madre. E o resultado? Mais congestionamentos.


Em suma, não temos ciclovias. Uma promessa de campanha do atual prefeito, que para variar, não cumpriu e nem se ouve qualquer menção sobre o fato, o que nos leva a crer que era só mais uma promessa de campanha, como de tantos políticos profissionais (no sentido pejorativo) que ouvimos Brasil afora.

Pelo fato de não termos ciclovias, temos que nos arriscar e dividir o espaço com os carros e os motoristas estressados e mal educados. E quem está de bike, ao menos eu faço muito isso, sempre entra na contramão para facilitar.

Pois aqui está a primeira lição da epopéia do pedal: ao andar na contramão, o cuidado deve ser quadriplicado. Evite entrar na contramão... e, melhor, nunca entre na contramão.

Estávamos subindo uma rua que não sei o nome, mas que sairia no final da Pio XII, uma quadra para baixo da avenida JK, quando na virada, eu fechado, para evitar os carros que desciam, vem um senhor educado (sarcasmo) e faz uma curva fechadíssima, jogando seu carro para cima de mim; tive tempo de desviar, evitando o pior, mas não o suficiente para evitar de bater meu guidão no retrovisor do carro. E foi só. Eu, nervoso, questionei o cara, pois deveria ter mais cuidado, já que estou de bike e poderia ter me machucado. Pois o raivoso gritava que eu estava na contramão, que eu era um babaca, que eu havia quebrado o retrovisor dele. E eu dizia que ele quase tinha me matado. Um baita stress. O Gui, na sua calma característica (d’onde esses guris tiram tanta calma nessas horas? Ou será que eu é quem sou estourado demais?) disse para eu sair fora, o que fiz, sábias palavras do Gui. Esses imbecis se enervam e se estão armados, saem atirando e depois pagam uma fiança e se safam de tudo. Essas leis brasileiras...

O susto foi grande e de traumatizar. Porque além de cuidar de mim, tinha o Gui. Entre mortos e ferido, seguimos nosso rumo. Encontramos o Jé adiante e fomos traçando o percurso conversando, sem rumo, mas com destino: Cambé. Melhor assim. E, para fugir do trânsito, fomos por dentro, ao invés de pegar a Tiradentes, que vira BR 369. E podamos por um trecho que não conhecíamos. Pegamos Estrada de chão, linha do trem, cruzamos terras nunca d’antes cruzadas.

E finalmente saímos em algum lugar conhecido. Conhecido? Mais ou menos conhecido: a PR 445, sentido Warta. Lugar que só passei de carro quando ia para Assis SP. E seguimos até a entrada da cidade de Cambé. Finalmente chegamos até um trecho que permitia a entrada no conhecido Jardim Ana Rosa. E então, depois de tantos lugares desconhecidos (e o Ana Rosa só é conhecido de nome) fizemos nossa parada para abastecer de isotônico. Nossos camelos (bikes) puderam ter um descanso. Nossa tração animal também, as pernas.

Parada no golfinho, foto da ‘esquerda gatorade’. E seguir adiante. Qual o enlouquecido cavaleiro andante Dom Quixote, a procura de sua Ducinéia de Toboso, fomos em direção ao centro da cidade, já noite adentro, para iniciarmos nosso retorno. Como era uma subida tremenda, nosso herói Gui desceu da bike e foi empurrando. Eu, como bom pai, esperei o guri subir ladeira acima, andando devagarzinho ao seu lado, até alcançarmos o Jé, que estava em um trecho mais plano.

Esquerda Gatorade: Gui, eu e Jé
Diferente do (anti) herói de Cervantes, mesmo tendo passado pelo Moinhos Dona Benta, não entramos em luta corporal contra o moinho, achando se tratar de dragões. E nem encontramos donzelas em perigo para defendermos sua honra.  

Eis que ocorre o que pode ser previsto, mas que é imprevisto e que jamais tinha ocorrido em nossos roles de bike: furou o pneu dianteiro da bike do Jé. E eu, que estava com a bike com os pneus totalmente carecas, me safei dessa. Tínhamos rodado, segundo o Jé, 15 km, ou seja, metade do percurso.

Segunda lição da epopéia do pedal: andar sempre com uma camâra de ar avulsa, a estepe. E com uma bomba para encher até o próximo posto.

No meio do caminho, alguns borracheiros me fez lembrar como é fácil encontrar esse profissional em Cambé, e que em Londrina não é tão comum. Mas, para nosso azar, todos fechados. Até que chegamos num, que tinha casa nos fundos. Resolvi tentar a sorte. Bati palmas, um cachorro estressado nos atendeu e seu dono, da porta. Deu para ver que era deficiente físico e gritou perguntando o que queríamos, visivelmente assustado e desconfiado. Ao pedir ajuda, ele titubeou, resmungou algumas coisas, até vociferar um “sem chances” desanimador para nós.

Demos meia volta e continuamos nossa epopéia, Jé empurrando a bike até o posto mais próximo, talvez 1 km à frente. E ao chegarmos ao posto do Super Muffato de Cambé, que por capricho do destino, não tinha calibrador. Mais 1 km do Jé empurrando a bike até chegarmos ao próximo posto e torcendo para que fosse possível encher o pneu e rodar ate minha casa, 15 km a frente.

Para calibrar colocamos no modo vazio e quase estourou a câmara de ar. Outras tentativas e ajuda do frentista e lá fomos nós. Como conheço o trecho de volta, expliquei para o Jé o próximo posto para o caso de esvaziar o pneu. E foi o que aconteceu, a cada trecho o pneu esvaziava.

No meio de tanto azar, a sorte foi que a PR 445 sentido Cambé - Londrina é recheada de postos; paramos em todos. Quando chegamos em frente à Uel vimos, de longe, uma cena inusitada: um cara correndo como louco e outro subindo em uma moto. O cara correndo em ritmo alucinado. Como dali 100 metros encontrei uma carteira jogada no chão, entendi o ocorrido minutos antes: mais um assalto para as estatísticas. Provavelmente sob a mira de uma arma o motoqueiro entregou seu veículo e saiu em disparada. Só não entendi qual artifício o assaltante utilizou para fazer o motoqueiro parar.


Então chegamos em casa, guardei a bike do Jé para arrumar na segunda e o levei de carro em casa. E isso já passavam das 20 horas. E ainda tinha combinado de ir ao cinema assistir com o Gui ao filme Um Corpo que Cai, na programação dos clássicos. Mas isso, meus caros, fica para outra historia. 

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