sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DA PRIMEIRA VEZ QUE ME ASSASSINARAM



Mario Quintana está no rol dos melhores poetas brasileiros do século passado e de todos os que virão. Essa coisa de morrer mexe com todos, pois o desconhecido nos assusta, desde os mais ateus até os crentes (não no sentido pejorativo, mas no sentido de acreditarem em Deus), passando por ideologias religiosas (ou não), filosofias etcs. E a morte não é apenas a física, mas cada perda e luto que vivemos diariamente. Por exemplo as pessoas que passaram por nossas vidas e que nunca mais encontramos, que ficaram no passado, as coisas que perdemos por escolher os caminhos que nos trouxeram para onde nos encontramos hoje, as cidades e coisas que deixamos para trás, são pequenos lutos que elaboramos diariamente.



Fiz esse prólogo apenas para deixar abaixo o belíssimo poema do meu conterrâneo (apesar de ser de Alegrete, viveu em Porto Alegre).

Da primeira vez que me assasinaram

Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.

Depois, a cada vez que me mataram,

foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meus cadáveres eu sou

O mais desnudo, o que não tem mais nada.

Arde um toco de Vela amarelada,

Como único bem que me ficou.



Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!

Pois dessa mão avarenta adunca

Não haverão de arrancar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!

Que a luz trêmula e triste como um ai,

A luz de um morto não se apaga nunca!

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