domingo, 8 de março de 2015

QUARENTENÁRIO - AS CANÇÕES DA MINHA VIDA - VOLANTES - GOETHE COM MOSTARDEIRO

Volantes é uma banda que durou pouco, mas que mexeu muito com minha vida musical. Como oficialmente não houve um final e eles estavam gravando um disco pela DeckDisc há uns dois anos atrás, três talvez, a esperança é de que um dia voltem. Isso tudo depois de mudarem de Porto Alegre para São Paulo e mudarem a formação original, que já havia sido mudada com a saída do baixista Guilherme Nunes e a entrada de Bernard Simon. Quem sabe não nos surpreendam com um disco e uma volta triunfal um dia?

Conheci de forma inusitada a banda. Primeiro que sou seguidor do rock portoalegrense desde os anos 1980, quando escutava as promissoras bandas Os Replicantes, TNT, DeFalla, Os Cascavelletes e algumas que fizeram grande sucesso no âmbito nacional, Engenheiros do Hawai e Nenhum de Nós.

Dizia que conheci a banda de forma inusitada. Foi através do Orkut. Até aí tudo bem, muitas bandas divulgam seus trabalhos nas redes sociais, principalmente facebook e twitter. Mas o Orkut (lembram dele?) tinha umas comunidades que a galera participava para trocar idéias, dar opiniões, brigar ou até mesmo se fazer de entendido daquilo que não entendia birosca nenhuma.

Uma das comunidades que eu participava e era um assíduo “comentador” (e eu participava de todas as comunidades que fazia parte, dando meus pitacos balizados, inúteis e totalmente leigos na maioria das vezes) era uma chamada Futebol Arte é Coisa de Viado (?). Na verdade uma sátira dos, como eu, defensores do futebol feio e de chutão para a frente, dos volantes de contensão, dos carrinhos na bola e principalmente das maravilhosas retrancas. Sem essa de chutes de efeito, firulas e frescuras de jogadores cai, cai como Neymar e tantos outros brasileiros frescos que vemos nos campos deste país. E daqueles que defendem que 1 a 0 é goleada e que depois de tomar um sufoco do caralho a partida toda, faz um gol de falta ou de contra ataque. Que se foda, o que vale não são os três pontos? Então, prefiro um jogo horroroso e ganhar o título, do que ficar com frescura e perder. Acontece que há anos o Grêmio joga feio e perde, dirão meus críticos. Infelizmente, tem isso.

E nessas discussões tinham os defensores do futebol arte. O que faz um cara, que gosta do chamado futebol bonito, participar de uma comunidade com esse nome? P R O V O C A Ç Ã O com certeza! Mas esse é o barato, discussões calorentas, sem nenhuma razão, somente com o sentimento, um xingamento só e uma puta terapia cibernética.

Numa dessas discussões, um defensor do futebol arte, ou seja, um bico na comunidade, que só queria satisfazer seu desejo de “criar caso”, deixa um link zoando com um cara chamado Guilherme Nunes. Provavelmente (não lembro) por causa de algum tópico de muita batalha (às vezes baixa) verbal. Curioso, entrei no link, que tirava um sarro do cara e vi que era uma foto dele com uma guria, na certa sua namorada, com a legenda: “próxima capa da caras”. Mais curioso ainda, fucei no perfil do cara e vi que tinha uma banda. Além disso, o cara era gremista. Isso fez eu me identificar mais ainda com ele. Mas não acreditava que poderia gostar de uma banda que conhecesse dessa forma. Entrei no perfil do cara e consegui uns links para escutar suas canções. Puta merda! Os caras eram geniais! Eu tava escutando uma junção de Joy Division com New Order, cantado em português? Era isso mesmo? Era! E com letras românticas de pura poesia. Um vocalista sensível, uma voz afinada, um som que lembrava o melhor do tecnopop dos 1980.
Show em Curitiba, na James

Daí para a frente foi uma adoração pela banda, que me fez bandear (com o perdão do que poderia ser um trocadilho infame) para Curitiba no início do inverno de 2011, para assistir a um show dos caras. Lá no James, uma boate GLS no chique bairro do Batel, região central da bela capital paranaense. E foi mesmo afudê o show dos caras.


Arthur - vocal e letrista - na James em Curitiba
Em seguida os caras gravaram um EP maravilhoso (Sobre Gostar e Esperar), gravaram um clipe de Maçã e de No Corredor, Ali.

Em 2012, novamente nos reencontramos com a banda. Desta feita em um show em Maringá, no Tribus Bar, um bar underground na Cidade Canção. E novamente era um inverno rigoroso.

Volantes é a banda mais legal que surgiu neste século no cenário nacional. A chamada cena indie onde já despontou bandas como Ludov (que assisti ao vivo em Assis em 2008), Mop Top, Columbia, Vanguart, Pullovers, Gram, que voltou recentemente depois de uma separação de alguns anos, Los Porangas, Cambriana, Móveis Coloniais de Acaju, Viana Moog e tantas outras que demonstram que o rock não morreu; e que no Brasil, de norte a sul os caras mandam bem pra caralho! Basta dizer que a Vanguart é de Campo Grande (sim meus caros, Campo Grande também tem rock, porra!) e Los Porangas do Acre... do Acre, caralho! E Viana Moog de Novo Hamburgo... Roquenroll, porra!

Mas Volantes é diferente. E não (só) por ser de Porto Alegre, de onde vêm Sabonetes, Cartolas, Apanhador Só, Reverso Revolver (a banda do Guilherme Nunes, quando saiu da Volantes), Viana Moog (que na verdade são de Novo Hamburgo, no pé da serra gaúcha), Nacional Riviera, Gullivers, Pública e tantas outras que agora não me ocorrem. Mas sim pelo som totalmente diferente de tudo o que está rolando no momento. Difícil de descrever para um leigo. Mas muito teclado, mistura eletrônica e toda essa salada, com guitarras marcantes e baixo e bateria em uma sintonia joydivioniana, efeitos. Em seus releases se apresentam como influenciados pelo pós-punk e indie dance dos anos 1980. E fazem muito bem! Na minha opinião, nada do que qualquer um fez no rock brazuca até hoje. Essa originalidade, embora influenciada fortemente pela música dançante inglesa, é que os tornam especiais.


Volantes é a melhor banda que surgiu depois de Los Hermanos. Esta no final do século passado; aquela no novo século.

Foi difícil escolher uma das suas poucas canções gravadas. Meu Samba sempre foi minha predileta. Mas depois do EP passei a curtir Nas Ruas. Maçã é sensacional. Mas Goethe com Mostardeiro é especial. Totalmente Porto Alegre. Quem não conhece minha terra natal, a capital dos gaúchos, a melhor cidade do mundo, que tem o por do sol mais bonito do mundo (no rio Guaíba), a rua mais bonita do mundo (ops, estou sendo sentimental demais. Deixa eu voltar), jamais entenderá o nome dessa canção. Goethe é uma avenida que corta o centro da cidade e chega até o Parcão, como é vulgarmente chamado o Parque Moinhos de Vento, em uma das regiões mais nobres da cidade. E Mostardeiro é uma das ruas que cortam a Goethe, pelo mesmo bairro. Uma região de encontros em bares da noite portoalegrense, geralmente dos jovens mais abastados. A Mostardeiro é também um dos primeiros endereços do Grêmio.

Só para esclarecimento, na Mostardeiro fica o Hospital Femina, onde nasceu meu irmão mais novo Renato. Isso foi fruto de muita gozação na nossa infância. Imagina, nascer em um hospital chamado Femina. Porém esse hospital é especializado na saúde da mulher.

Bem, mas chega de blá,blá, blá e vamos à canção. Quem tiver curiosidade e gosta de garimpar as bandas de rock do Brasil, deve se aprofundar e procurar pelo youtube pelas canções da Volantes. Sugiro começar pelas citadas Maçã, As Ruas, Meu Samba, 126 e Meias. E Última, a Love Will Tear Us Apart dos caras. E vale a pena buscar mais sobre as bandas nacionais citadas. Os saudosistas vivem dizendo que hoje em dia não se faz música boa. Se faz sim, só que não toca no rádio. Esqueçam das rádios comerciais, eles jamais tocarão o que é de bom. Eduquem seus ouvidos com música boa. Rádio emburrece os ouvidos.

Espero que curtam o som. E ouçam no volume máximo. Façam o vizinho que gosta de sertanejo ou de funk escutar um pouco de música de qualidade.


Goethe com Mostardeiro

Como faz pra ter alguém tipo você?
Como é lá dentro da casa em que eu não entro?
Quando você pega um táxi na esquina
E some em meio aos outros carros na avenida
Como é pra você olhar para o espelho?
Logo de manhã
Me dê algum conselho
Qualquer livro besta
Que você tenha lido
E faça diferença se eu encontrar contigo

Vou errar todas as palavras pra você me corrigir
Na hora mesmo lhe roubo um beijo
E acordo no mesmo lugar

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