O primeiro disco que comprei na
vida, com meu dinheiro, foi do Capital Inicial, com dinheiro ganho dando aulas
de matemática para meus colegas de sala, principalmente o Erik. Também dei
aulas de matemática e português para o Branco. Todos eles passaram de ano. Era
um bom professor. Meu irmão Renato teve aulas com o Flávio... repetiu aquele
ano. Eu estava na sétima série e queria comprar um disco com meu primeiro “soldo”.
Escolhi o disco meio ao acaso, por ser de uma banda de Brasília, mas por ser um
disco proibido para menores de 18 anos (eu tinha 13).
Meus irmãos compravam discos
todos os meses e eu comecei a comprar os meus. Todos os meses tinham as
novidades do rock nacional em casa. Recém lançados, saídos do forno. A década
de 1980 foi a década do rock nacional. O Fábio tinha o Dois e só depois de ter
esse disco é que comprou o primeiro da Legião; também tinha o Nós Vamos Invadir
sua Praia, dentre tantos outros, como do Lobão, do Barão. O Beto tinha o Viva
do Camisa de Vênus, que eu, na inocência da pré adolescência e dos anos 80, não
entendia porque era tão polêmico o nome da banda. A gravadora queria que os
caras trocassem singelamente por Camisa, o que, claro, foi repelido por Marcelo
Nova e banda. Perguntava para todos o motivo e nunca recebi explicação alguma.
O Rogério trazia discos dos Beatles,
raríssimos, importados, piratas, do Iron Mayden, do qual é fã até hoje, John
Lennon... o Beto fazia uma salada mista de Ted Nungent a Dio, Led Zeppelin, Sex
Pistols. Foi assim que escutei pela primeira vez o Never Mind The Bollocks.
Depois ele se perdeu, escutando música sertaneja (bah, que vergonha!). Certa feita
disse a ele que escutar dupla sertaneja não tinha nada a ver com aquele cara
que me apresentou na adolescência discos dos ACDC, Sex Pistols, Dio e tantos
outros clássicos do rock mundial e que contribuiu consideravelmente para a minha
formação musical.
Assim, com todos comprando
discos, em casa havia uma discografia e tanto do rock dos anos 80. Foi o Fábio quem
começou a levar uns discos de bandas punks de São Paulo, como Garotos Podres. Isso
fazia de nossa casa uma “biblioteca” de discos e todos que queriam as
novidades, bastava passar na casa dos Silveiras para escutar e algumas vezes
pegar emprestado, gravar em fita cassete.
Meados de 1988, 1989, comprei o
primeiro disco do TNT. Já escutava algumas bandas gaúchas, como Replicantes,
Engenheiros e DeFalla. Aliás, achava o 1º disco do DeFalla afudê (o que acho
até hoje). Replicantes e Surfista Calhorda eram imbatíveis, mas foi do
Engenheiros que tive oportunidade de assistir ao show, no saudoso Caiçara Music
Hall. Acho que foi meu primeiro show. Tinha uns 14 anos, arrumei uma namorada
groupie, que adorava o Carlos Maltz. Claro que estou exagerando ao chamar a
guria de groupie, mas tivemos um pequeno flerte naquele show. Em épocas sem
internet, celular, sem tecnologia, não combinamos de nos encontrar mais. E nunca
mais eu a vi; seu nome sequer eu lembro.
Antes de escutar as bandas
gaúchas restava escutar Kleiton e Kledir, que sempre curti e que curto até
hoje, mas que estava distante do que pode ser chamado de rock.
Aí comecei a escutar uma música
no rádio, seguidas vezes, comentei com o pessoal e ninguém havia escutado ou
sabia que canção era aquela que me paralisou, me deixava extasiado. Até que o
Zé Renato decifrou o enigma. Como todo gaúcho, temos a mania de valorizar muito
o que é de nossa terra; por vezes, incompreendidos, somos tachados de chatos.
Os brazucas não estão acostumados com o orgulho e amor à pátria que os
riograndenses têm. E o Zé Renato me veio
com a de que eu já sabia que era uma banda gaúcha e tal. O nome da banda?
Nenhum de Nós. A canção? Camila, Camila.
Tempos depois comprei o disco da
banda. E no final daquele ano, no amigo secreto, pedi o segundo disco do TNT.
Em Santos, naqueles tempos, tinha a impressão de que eu era o único cara que
gostava de TNT. Também consumia as coletâneas de rock que vinham do sul. Assim
conheci Julio Reny e o Expresso Oriente e uma banda que mudou minha vida: Os
Cascavelletes. A banda de (ainda) Flavio Basso e Nei Van Soria, recém saídos do
TNT por divergência no som (eles queriam tocar o chamado pornobilly) e ainda
contou com o grande Frank Jorge que tocava também na sua banda Graforréia
Xilarmônica. Nessa coletânea tinha Morte por Tesão e a romântica Estou Amando
Uma Mulher. Depois veio Nega Bombom, que estourou no Brasil inteiro por fazer
parte de uma trilha de novela da Globo. É aquela da “punhetinha de verão”. Os
Cascavelletes ficaram famosos também por tocarem certa vez no programa da
Angélica, na extinta TV Manchete, para um público infantil a canção Eu Quis
Comer Você. Não assisti essa apresentação, só anos depois, pelo youtube. Mas
assisti ao DeFalla, no programa da Rosana Hermann, cantar It’s Fucking Boring
to Death e a platéia sem saber patavinas do que dizia a letra, batendo palmas,
como se estivessem em um show do Menudo.
Todo esse enorme preâmbulo é para
dizer que minha eleição dos melhores dos anos 1980, eleição que fiz na época e
que comungo até hoje, a canção mais bonita é Camilla, Camilla, com Tolices do
Ira! ali do lado, palmo a palmo. E o melhor disco, Mudança de Comportamento do
Ira!, com o primeiro do DeFalla bem próximo, ganhando por um focinho. Os Cascavelletes,
foram a banda mais rocker da década.
Ah, os ’80... grande década,
belas bandas. E belas histórias.
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