Engraçado o destino. O Gui diria
que não é engraçado, porque não nos faz dar risada, “o que é engraçado, qual a
graça?” – diria. Mas o destino é engraçado; engraçado no sentido de que as
coisas acontecem sem querer, ou quase sem querer,
“... tenho andado distraído,
impaciente e indeciso...”
sem estarem estabelecidas. Ao
menos aparentemente. Não adianta querer planejar algo se o destino não se
interessar pelo plano. E o acaso junta as coisas que não esperamos e quando
menos esperamos.
Destino e acaso unidos para dar
sentido à vida, mesmo que não tenha nenhum sentido aparente ou não faça sentido
para nossa razão, nosso lado racional. Quando estava no Segundo Grau, hoje
Ensino Médio, tinha aula de Física com a Mércia, uma professora magra, alta,
com uma voz levemente esganiçada (dá para ser esganiçada em tom leve? Sempre me
perguntei isso quando tentava descrever as características de sua voz.) pouco
atraente, mas bonita, dizia que podia não existir um Deus, mas que alguma
energia, alguma matéria com uma fonte de energia existia, uma energia superior
que influenciava no destino, em nossas vidas. E que essa energia ela chamava de
Deus. Os poucos ateus da sala deveriam pestanejar; eu guardei essas palavras,
essa idéia para o resto dos meus dias, ao menos até aqui.
O fato é que comecei a ler a
biografia do Nasi, que comprei ontem. A Ira de Nasi. A vida do Nasi, que
conheci pessoalmente meses atrás, no embarque de Congonhas para Londrina,
voltando de Santos, quando trocamos olhares e como dois velhos conhecidos que
não se encontram há tempos, apertamos as mãos e trocamos saudações. Um cara
simples, extremamente simpático e carismático. Isso foi o que senti. Fiquei em
êxtase, queria abraçá-lo, conversar, tirar foto, dizer o quanto ele e sua banda
foram importantes na minha vida e tal, enfim, tietar idiotamente; coração
taquicárdio, adrenalina, suor e cerotonina pelo corpo. Estupefato e paralisado
pela emoção grande, acabei não fazendo nada, apenas mandando uma mensagem para
meus contatos sobre o ocorrido e o seguindo com os olhos, torcendo para que
viesse para Londrina. Mensagem esta enviada, cheio de orgulho e tentando fazer meus
amigos morrerem de inveja do ocorrido.
Mas, dizia, a vida de Nasi se
confunde com a do Ira! e com a de seus companheiros de banda, como Edgard
Scandurra. Ler a biografia de Marcos Valadão, o Nasi, que recebeu esse apelido
na escola, segundo grau, por ser bom de briga e entrar em confusões,
inicialmente apelidado de Nazista e logo depois sendo abreviado, tendo mudado a
grafia, trocado o “z” pelo “s” quando começou a ter bandas, é ler a história do
Ira!, é conhecer um pouco da vida do Scandurra, do André Jung e do Gaspa.
Após esse longo preâmbulo, ao
assunto. Ontem, animado e até mesmo inspirado, escrevi mais uma parte da história
da minha vida, o que tenho chamado de Quarentenário, uma vez que comecei a
escrever após completar os meus 40 anos, as 4 décadas; e contei que havia uma
rixa entre os punks da cidade e os do subúrbio, da periferia. Lendo o início do
livro já citado aqui, encontro uma explicação plausível para essa divisão:
diferente dos ingleses e do resto do mundo, que se uniam contra o stablishment,
o estabelecido, o status quo, o sistema, os punks da cidade de São Paulo e da
periferia (as cidades que formam a região conhecida como Grande São Paulo,
cidades periféricas à que dá nome a região metropolitana) não se misturavam e
brigavam entre si. Aí um esclarecimento que completa o post anterior, quando
apanhamos dos carecas do subúrbio por sermos punks da cidade, ou da city e não
da periferia ou do subúrbio. Justifico assim essa pausa para esclarecimento.
Ler sempre foi sinônimo de cultura.
Fonte de conhecimento e esclarecimento. É isso que faz o hábito da leitura um
prazer quase que orgástico! Lendo e aprendendo! Vivendo e aprendendo. Quando
fiz 15 anos queria colocar a canção XV Anos (Vivendo e Não Aprendendo) na
vitrola exatamente às 15 horas, que foi a hora do meu nascimento. Estava
escutando o Vivendo e Não Aprendendo do Ira! e programei tudo para o momento.
Meu irmão Beto não deixou, pois estava escutando outra música desse mesmo
disco. Frustração momentânea. Escutei uma das melhores canções do Ira! depois
das 15 horas, minutos ou horas mais tarde. Hoje não faz diferença, mas o ritual
da passagem para os 15 anos ficou inacabado.
E sempre que me sinto assim,
volto a ter 15 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Opine, comente, reclame, grite! Aqui: