A Mayday na sua formação original
era eu (Márcio Mayday) nos vocais e guitarra, Zé Renato (Johnny Alienado) nas
guitarras, Robson (Rato Branco) no baixo e Ronaldo (Ronaldo Anarquista, alcunha
que eu e o Zé Renato inventamos para ele) na bateria.
Nos primórdios éramos eu,
Ronaldo, meu irmão Renato, César “cara de cachorro”. Eu tinha 13 anos, estava
na sétima série. O Ronaldo tinha 12, o Renato e o César 11. Os três estudavam
na 5ª série do lendário Dino Bueno, eram da mesma sala. Tinham mais dois caras
que faziam parte da banda, não me lembro quem eram. Ninguém tinha instrumento
ou tocava alguma coisa.
Era época da febre de um quadro
no programa do Silvio Santos chamado Porta da Esperança e o César inventou de
mandar uma carta para o programa para ganharmos todos os instrumentos. Falo
isso com uma puta vergonha alheia, mas participei dessa piada. Não sei se a
carta foi enviada, mas essa era a principal idéia, o plano “A” da banda para
dar certo e termos os instrumentos.
A banda não tinha nome. Estávamos
pensando em algo duplo, como Capital Inicial, Legião Urbana, Engenheiros do
Hawaí, coisas assim. Até que o Ronaldo, fã incondicional da Legião e do Renato
Russo, veio com Legendários do Brasil (mais vergonha alheia) e então decidimos
por esse horripilante nome. Não tinha melhor (pior) e acho que ainda não
tínhamos exercitado nem um pouco da nossa criatividade.
Nessa época já rabiscava umas
letras bem idiotas e também infantis, como o caso de Alessandra, uma letra que
escrevi com o Tony Penedo, um grande amigo que a vida separou:
Acordo todo dia, vou pra
padaria
Fico um tempo lá, vendo se ela
está
Começo a jogar bola, torcendo
que ela saia pra fora
A bola cai lá e eu pensando
que ela ia pegar
Aí eu peço
Alessandra, saía pra fora,
Que eu quero te beijar
Alessandra, pegue minha bola
Eu não me canso de te amar.
Apesar de infantil, a letra
carrega um duplo sentido sacana. Talvez essa tenha sido a primeira letra de
música que fiz. Mas nunca musiquei, porque tempos depois percebi o ridículo. A
história é real, porque fomos eu e o Tony, um sábado de manhã, na padaria,
jogar bola, e a bola realmente caiu na casa da Alessandra, que morava ao lado. Ficamos
inspirados e começamos a cantarolar esses versos ‘maravilhosos’. Cheguei em
casa e escrevi.
![]() |
À esquerda casa da Alessandra, à direita a padaria: inspiração |
Alessandra foi uma das minhas
paixões do Dino Bueno. Paixão platônica, diga-se de passagem. Nunca me deu a
menor bola. Gostava do Magoozinho, que gostava da Ekaterine, que gostava de um
dos manos, que finalmente gostava dela. Magoozinho era o Frederico, cegueta
(daí o apelido), Ekaterine era uma guria linda, grega, que tempos depois foi
morar na Grécia e os manos não têm nada a ver com a conotação dada hoje de cara
da periferia que curte rap, hip hop, eram os gêmeos Alessandro e Adriano, que
se tratavam por mano.
A Legendários do Brasil teve uma
vida curtíssima. Quando eu falei que precisaríamos aprender a tocar e que iria
matricular todos no curso de violão do Teatro Municipal de Santos, porque
teríamos que estudar música, o Renato processou apenas a palavra ‘estudar’ e
pulou fora. O Zé Renato queria montar uma banda e ficou fudido que eu não o
tinha chamado para isso. Então eu saí dessa banda com nome horroroso e levei
comigo o Ronaldo. Éramos eu na guitarra e vocal, o Zé Renato na guitarra e o
Ronaldo na bateria. Faltava um baixista. Como não tocávamos nada, chamamos o
Branco, que tocava menos ainda, com uma condição: comprar o baixo. Aquela idéia
esdrúxula da Porta da Esperança do César foi totalmente abortada, graças a
Deus! O nome vergonhoso Legionários do Brasil também foi para o brejo. Então
sugeri Kaos e ficou por um tempo com esse nome.
O Kaos durou pouco, porque
descobrimos que existia uma banda punk de São Paulo chamada Kaos 64. Se não eram
de São Paulo, eram de Brasília, uma banda de Oi, uma vertente do punk, mais
pesada, misturada com Ska, cantada por nacionalistas nazistas e racistas, cuja
banda mais conhecida é o Vírus 27 (de Oi, não necessariamente com essa
ideologia), que comecei a curtir por uma época, que virei nacionalista. O fato
é que pelo nome da banda, tivemos que mudar de nome. E foi o que fizemos.
De novo sem nome, continuávamos a
criar canções, até o Branco arriscava umas letras, mas nenhuma prestava para o
propósito da banda. O Ronaldo raramente escrevia, acho até que o Ronaldo nem
sabe ler e escrever até hoje, kkkk, tipo Tiririca. Mas tinha muitas idéias, nem
sempre boas – o primeiro nome da banda demonstra o tipo de idéia. Mas a cabeça
dele funcionava, se tivesse um bom direcionamento (o que não aconteceu) talvez
hoje fosse outra pessoa.
Sobrava eu e o Zé Renato, que éramos
mais prolixos e até escrevemos algumas coisas juntos, ele fazia a letra e eu a
música, como no caso de Lucíola, que ele chegou com a letra, revoltado de ter
que ler o livro homônimo para uma tarefa da escola, do autor brasileiro José de
Alencar.
Lucíola era uma puta
Gostosa pra caralho
Se prostituía
Pra comprar cocaína
Lucíola La La La
Lucíola La La La La La La
Ela não prestava,
Ela não valia nada
Mas fazia a alegria
Da molecada
Era uma música experimental que
virou um dos maiores sucessos da banda-sem-sucesso-que-jamais-saiu-do-papel-Mayday.
A letra era uma crítica não à personagem, mas intrínseca à obrigação de ter que
ler o que não se queria. Pura rebeldia adolescente e sadia.
O nome Mayday foi trazido pelo Zé
Renato, que estava assistindo a um desenho, se não me engano do Duck Tales,
quando um personagem pedia socorro e gritava mayday. O nome foi bem aceito e eu
virei Márcio Mayday, como os Ramones, que recebiam o sobrenome quando entravam
para a banda.
A história toda de tocar em uma
banda nada tinha a ver com sucesso ou grana. O lance era impressionar as gurias
para ver se conseguíamos algumas noites de orgia, muito sexo, coca cola e
roquenrol. Molecada de 13, 14 anos, nos anos 80, não tinha acesso a drogas mais
pesadas do que a coca cola. E era outro mundo, não nos interessávamos por droga
ou sair da realidade, fugir da realidade com algum entorpecente. Isso fazíamos com
as loucuras do dia a dia, lendo um livro que nos tirava da realidade, nos
transportava para suas páginas; pogando ao som de um punk rock, escutando
algumas porradas sonoras, a adrenalina sempre era alta. Era isso que nos dava
prazer, sacolejar ouvindo alguma canção pulsante, ler e jogar conversa fora,
ficar a toa no muro da rua São Paulo, esquina com a Joaquim Távora, em Santos.
Eu era um maluco, que ficava no
meio da rua sacolejando como se dançasse alguma música hipnótica e neurótica. Era
super tímido, mas chegava nas gurias com a maior cara de pau. Como tinha essa cara
de pau enorme, a galera gostava de andar comigo, em pequeno número, para não
assustar as meninas, tanto cara feio junto. Curtia rock, me vestia com camisas
de banda compradas em uma loja de discos no Gonzaga, ou então camisas Hering compradas
no Peralta, supermercado perto de casa (de todas as casas, porque tinha
praticamente um em cada esquina em Santos nos anos 80) sempre lisas, branca,
preta ou cinza; usava uma bota bico de aço, pesadíssima, que comprei do China.
Durante um tempo aderi ao suspensório (quando virei nacionalista). Este era o
meu indumentário.
Sempre fui muito palhaço,
daqueles de na 6ª série, no segundo dia de aula, estar de castigo virado para a
parede, na diretoria. Mas sempre fui excelente aluno, com as melhores notas da
turma, o que me rendeu a alcunha de Márcio Crânio. Durante os 4 anos de ginásio
no Dino Bueno, minha mãe ia nas minhas reuniões só para ouvir aborrecimentos da
bagunça que eu fazia, mas nunca por causa de notas. Aos 15, no Primo Ferreira e
no Colegial, amadureci em uma sala do noturno que eu era tipo o xodó, o cara
mais novo, virei o “sete dois”, por ter nascido em 1972 e todos serem da década
anterior ao meu nascimento. Não baguncei mais. Era ‘adulto’.
Eu era Office boy, o que me dava
liberdade para me vestir do jeito que eu queria, mas não era podrão, usava
sempre roupa limpinha e tomava banho todos os dias. Aos 15 anos resolvi colocar
um brinco na orelha esquerda. Ao mesmo tempo em que me apaixonei pelas canções
de Morrissey e Marr, queria andar como se todos pensassem que tinha uma banda
de rock. No inverno usava uma jaqueta de couro estilo Ramones. Essa idéia de
andar com roupas que fizessem as pessoas pensarem que eu tinha uma banda de
rock veio de uma entrevista que li na (revista) Bizz do Johnny Marr. Olha aí os
Smiths permeando novamente a história da minha vida.
Tinha umas gurias que andavam
conosco em Santos. Era a Beth e a irmã da Beth – não lembro o nome. Elas nos
acompanhavam em algumas das nossas barcas – não as furadas, claro – tipo o
baile do Santos aos domingos à noite, discotecagem feita pelo cara da Harry,
uma banda de Santos que teve alguma aparição no underground paulista, com boas
críticas; nessas noites de domingo no Santos (esse mesmo clube do time de futebol
do Neymar) o cara rolava um som underground no meio das bostas da moda, tipo
Joy Division, Sex Pistols, Ramones, Smiths.
Nós nos divertíamos; era o nosso
momento; a galera pogando no meio, enquanto os demais apenas observavam ou
saíam para beber, fumar. No auge do “momento underground” rolava Surfin’ Bird,
versão dos Ramones gravada no Rocket to Russia, disco de 1977, o mais famoso da
banda de todos os tempos. Também rolava Toy Dolls “a música da Madonna”. Era o
ápice da loucura. Na conservadora Santos dos anos 80 rolando Olga e seus
comparsas de Toy Dolls.
A irmã da Beth curtia Smiths e sempre
trocávamos figurinhas. Era quando eu me sentia entendido entre os punks, embora
ela não fosse exatamente uma punk, apenas uma garota underground em busca
(procura) do seu espaço. Apesar de ser um som underground, Smiths estava muito
longe de ser um som sujo e punk, mais para um pop underground inteligente e de
qualidade; um rock conhecido hoje como indie. Pensar em ser pop era um crime!
Fui criticado pra caralho pelos
punks da BS (Baixada Santista) nessa época por curtir Smiths, e usar brinco. Os
caras eram bem conservadores. Eu era um cara que não fugia das minhas raízes de
curtir rock nacional, de ir em show do Engenheiros, Capital, Ira, Ultraje,
Titãs (apesar que o som agressivo do Cabeça Dinossauro fez muito punk ir aos
shows do Titãs naquela época). Curtir a loucura do DeFalla e dos Cascavelletes,
TNT.
Eu assumia minhas posições
políticas, como assumo hoje, mesmo com a probabilidade de execração pública. E não
era diferente naquela época, quando comecei a curtir uma das bandas de heavy
metal que surgiram a princípio sem muita mídia ou alarde, uma tal Guns and Roses.
Gosto do frizar que fui um dos primeiros em Santos a usar uma camisa da banda,
quando ainda era desconhecida do grande público. Mas os punks quase me mataram
por isso, embora fossem todos pacifistas. O ‘mataram’ é no sentido figurativo.
Onde já se viu andar com os punks com camisa de ‘metal’ e ainda por cima de
brinco. Era muita audácia.
É bom contextualizar. Se hoje
reclamam da intolerância com os diferentes, tem todo um discurso
politicamente correto para a aceitação e criminalização do preconceito contra
as minorias, nos anos 1980 isso inexistia. Então a intolerância era alta. Não
em Santos, que por ser uma cidade praiana as tribos conseguiam conviver sem se
misturar, mas sem conflitos ou brigas. Acontecia de ter shows no Circo Marinho,
no Emissário Submarino, divisa de Santos e São Vicente e aparecer todas as
tribos, que curtiam suas bandas pacificamente e depois partiam para o boteco,
claro que tudo separadamente, sem se misturar. Ninguém se misturava, mas todos conseguiam
conviver sem violência, bem diferente de São Paulo.
Mesmo sem violência, cabeludos,
carecas e punks nunca se misturavam.
Usar brinco, camisa de ‘metal’,
ir a shows de bandas ditas comerciais, era uma afronta que eu levava na boa. Mas
as críticas sempre foram duras, embora eu não me importasse, o que fazia perder
a força. Na verdade, acho que os caras nem me levavam a sério. Mas o mais
difícil deles terem aceito, foi de eu declarar meu voto no Brizola na primeira
eleição presidencial após o longo tempo de ditadura, em 1989.
Os punks eram anarquistas, não
tinham interesse em voto, pichavam pelas ruas frases libertárias e anarquistas,
tinham um comportamento anarquista e liam (pouco) literatura de autores com a
mesma ideologia. Pouco se interessaram pelas eleições, a não ser para criticar.
Eu tinha 16 anos e tirei meu título para votar, mesmo sem a obrigatoriedade. Eu
queria votar, ter essa experiência. Era um momento ímpar, inédita. Estava participando
diretamente da história do país. Só por isso já era alvo de críticas por isso.
Quando decidi que não votaria nulo, mas no Brizola, por ser gaúcho, a revolta
foi grande. Votar em alguém porque era gaúcho era o cúmulo da alienação!
A primeira vez que vi uma
propagando política me apaixonei pelo Lula. Tinha uns 9 anos e era eleição para
governador do estado de São Paulo. Partido dos Trabalhadores. Eu só poderia
votar em um partido desses, não que eu fosse trabalhador na época. Mas seria no
futuro. E o lema “trabalhador vota em trabalhador” fez todo o sentido para mim.
Na primeira oportunidade votaria nele.
Veio a primeira eleição e fiquei
em dúvida e meu gauchismo falou mais alto; porém, no segundo turno votei no
Lula. Eram os dois com maiores índices de rejeição da população manipulada pela
Rede Globo (tem coisas que parecem não mudar). E daí para frente foi sempre no
Lula e no PT que eu votei. E, embora com todos os arranhões dos últimos anos,
continuarei votando assim, desde que em candidatos que me interessem. Jamais votarei
em candidatos de partido de direita. Não voto em corrupto e nem em bandido.
Seja de que partido for.
Assim que em 1989 votei no
Brizola. E sofri as mais duras críticas talvez da minha vida.
Os punks não me levavam a sério.
Falo isso hoje, na época não percebia se isso era real. Mas deviam me achar alienado
e modista, talvez incoerente. Acontece que sempre segui a minha coerência
incoerente. Nunca fui de modismos ou opinião de terceiros. Alguns até me
julgavam cabeça dura, teimoso; julgam até hoje. É o preço que se paga por ter
personalidade e vontade própria. Por isso nunca escutei rádio, porque era uma
forma dos outros controlarem o meu gosto, me dizerem o que deveria gostar.
Nunca me prostitui ou me vendi por valores que não acreditavam corretos. Jamais
vou puxar o saco no trabalho para levar vantagem e me enojo de quem joga o jogo
da política em todo tipo de relacionamento. É importante diferenciar política
por vantagens próprias de jogo de cintura, uma característica forte em mim.
A Mayday nunca fez um show. Ensaiamos
algumas vezes, mas logo a vida nos separou, cada um seguindo o seu rumo.
Durante a Mayday eu tinha um projeto paralelo, que era um som soturno, meio
Dark, meio Joy Division, com baixo marcante e pesado: a Frankenstein Boys. Era
uma dupla, eu e o Branco. Eu escrevia umas letras mais pesadas no sentido
emocional, down, depressivas, reflexões sobre a vida. Eu fiz até uma camisa da
banda, com a foto do Frankenstein. Mas a dupla também não vingou. Ensaiávamos
com dois violões.
Logo me mudei para Assis e fui
estudar Psicologia e minha vida mudou completamente. Conheci a Juliana e queria
montar uma banda com ela, estilo guitarra, bateria e teclado, cantando em
inglês. Ela fazia Letras e manjava de inglês, o que não era o meu caso. Logo
escolheu Espanhol e nunca escrevemos uma letra sequer. Ela não aderiu aos meus
planos. As parcas letras que escrevi naquela época, de romance e loucuras da
paixão, que era para ela passar para a língua inglesa, nunca vingaram. Sem
muito foco, caiu no esquecimento e fora de prioridade.
Ainda voltei para Santos em 1993,
quando montei uma banda com o Ronaldo na bateria, o Nair (André) no baixo e um
amigo do Ronaldo nos vocais. Eu na guitarra. Mas estava numa fase muito chata, pedante,
estava insuportável, estrelinha demais. Não aceitava opinião de ninguém. Até o
nome da banda que os caras trouxeram eu não aceitei: Alquimia. Eles baseados
nas leituras no Paulo Coelho e eu por preconceito não aceitei. Mudavam alguns
acordes das músicas nos ensaios e eu chegava muito fudido e reclamava, porque a
música era minha.
O Ronaldo chegou a nos inscrever
em um festival de música em Humaitá, periferia de Santos ou de São Vicente, não
sei ao certo, mas eu não aceitei. Com razão, pois não estávamos preparados. A galera,
mesmo contra a vontade, entendeu que não seria uma boa experiência naquele
momento. Meses depois mudei para Londrina e segui minha vida.
O Ronaldo foi viver suas
experiências com os Hare Krishna; depois casou com uma militar, logo ele que era
o que mais apanhava nas batidas policiais que levávamos nos tempos de punk e
zona (lê-se puteiro); virou cozinheiro, teve 1 filho e mora em São Paulo, em
uma zona militar. Continua maluco, tive um contato com ele tempos atrás, por
telefone, disse que estava black Power, não tinha vida virtual e havia
adquirido um celular (nossa fonte de contato) há pouco tempo; depois, como
sempre, ele sumiu no mundo e não consigo encontrá-lo mais nos números que tenho
dele. Qualquer dia aparece em Santos, fala com o Renato e retoma o contato para
depois sumir em seguida; e voltar, e sumir, e voltar e sumir; sempre com o
desejo de reencontrar com a galera do Mayday. Coisa que não fazemos a pelo
menos uns 20 anos, no mínimo.
Lembro bem como foi que o
encontramos da última vez. Em um banco, em São Paulo (aquele mundão) ele
encontrou meu irmão Beto. Trocaram telefones e o Beto passou para o Renato, que
passou para mim.
O Branco foi estudar engenharia
no Santa Cecília. Não foi muito para frente, desistindo alguns anos depois.
Trabalhou, se não me engano, na dengue e casou, teve 3 filhos. Meu último
contato com ele foi sacana demais. Foi na época do Orkut. Zoava demais com ele,
vinha com aquela história fanática do Santos, uma chatice só e junto com o Zé
Renato, inventamos uma história de que o Zé Renato era viado, que iria se
separar, tinha conhecido um cara e se apaixonado. Isso tudo pelo MSN, em
conversas a três. O Zé Renato sairia de casa em breve e moraria com o cara. Em
particular, eu e o Zé Renato inventávamos o que falaríamos na conversa em
grupo. Tínhamos medo que ele contasse para a mãe do Zé Renato, que é vizinhao
do Branco até hoje. Quando ele certo dia encontrou o Zé Renato na rua e este
desmentiu, dizendo que eu tinha inventado tudo; ao descobrir a verdade, que
estávamos trolando ele, ficou muito puto e não falou mais comigo. Foi agressivo
e não aceitou a brincadeira. Não tive mais notícias, me bloqueou no Orkut, no MSN
e todo o contato se perdeu. Uma das vezes que fui a Santos combinamos eu, Zé
Renato e Branco de sair, mas ele não apareceu.
Às vezes penso que a mulher dele
não deixa ele se misturar, como a mãe e o pai dele faziam e o prendiam em casa,
proibido de sair. Quando saia no sábado, não podia sair no domingo e vice
versa.
O Zé Renato fez jornalismo, casou
uma vez, separou, casou de novo e teve um filho. Diferente dele, o guri adora
futebol e torce para o Corinthians. Fez mestrado, doutorado e hoje está fazendo
pós doc no Espírito Santo. É quem eu tenho contato sempre que vou para Santos e
por e-mail. É um vagabundo que leva a vida que todos gostaríamos, estudando e ganhando
para isso. Trabalha pouco e aproveita a vida pra caralho. Praticamente um bom
vivant, vida fácil.
Eu vivo aqui em Londrina, trabalho pra
caralho, tive meus dois guris, que dão um trabalho sem fim; tenho meus projetos
de banda (agora tocar bateria) underground, escrever um livro (são 3 sendo
encubados – minha biografia, para ser lançada daqui 8 anos, nossa história da
rua São Paulo, com o nome Os Meninos da rua São Paulo, parodiando o famoso
livro de Molnár Os Meninos da rua Paulo e o terceiro baseado em uma canção da
Legião Urbana).
O tio Luiz, na última vez que o
encontrei, em 2011, disse com toda sua sabedoria, que um homem, na vida,
deveria ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro. O Victor e o Gui
são as minha contribuição não só para a continuidade da espécie, como para a perpetuação
dos Silveiras; já plantei algumas árvores na vida, embora não saiba o fim
delas; falta o livro, que persigo desde os 12 anos de idade, quando comecei a
ler compulsivamente, por influência do meu irmão Rogério, um leitor assíduo,
que ao vê-lo com um livro nas mãos, associava a algo gostoso e prazeroso.
Antes de partir para o outro lado
da vida, espero finalizar ao menos um dos 3 livros que tenho em mente. E encontrar meu pai, meu tio e as pessoas que já se foram, com um exemplar para entregá-los e terem uns bons momentos de leitura.
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