Meses atrás estava na academia e
enquanto puxava uns ferros, no intervalo de uma série e outra comecei a
ler uma crônica do novelista Walcyr
Carrasco, na revista Época, sobre a nossa pressa do dia a dia. Escreveu ele que
no dia a dia estamos sempre apressados, deu exemplos de quando está na ponte
aérea e quando o voo é chamado todos levantam correndo para embarcar, muitas
vezes sem se preocupar com mulheres, idosos ou crianças. Realmente, quem não
esperou um tempo enorme o embarque e na primeira chamada não levantou apressado
para ser o primeiro a embarcar? Confesso que já fiz isso e que não é algo
corriqueiro. E no trânsito, quem nunca reclamou quando encontra pela frente
alguém que anda em uma velocidade menor do que a nossa? Que atire a primeira
pedra! Se a sinaleira abriu e deu alguns segundos de bobeira, já ouviu o carro
de trás buzinar ensandecidamente? E por que? Sabe Deus o motivo da pressa nossa
de cada dia.
Certa vez, assistindo a um
programa de televisão sobre acidentes de moto e as sequelas, um dos
entrevistados, que foi mutilado quando envolvido em um acidente, disse ao
repórter que as pessoas correm como loucas no trânsito e na própria vida apenas
para chegar em casa e não fazer nada.
Se no caminho de casa ou de
qualquer outro destino parássemos em todos os sinais, perderíamos quanto tempo.
Supomos que em cada sinal ficamos em torno de 1 minuto. Se o destino que nos
separa tem 10 semáforos pelo caminho, perderíamos 10 minutos. Isso se
parássemos em todos. Será que 10 minutos mudam a nossa vida?
Ano passado um amigo do Gui, de
14 anos, foi internado na UTI de um hospital aqui em Londrina, após sofrer um
acidente na madrugada deum sábado para domingo, quando sua mãe o carregava na
garupa de uma moto, avançou a sinaleira e outra moto bateu em cheio nela; a mãe
morreu, o guri foi hospitalizado em coma. O que será que esperava essa mãe que
não podia perder tempo e acabou perdendo a vida? Uma ou duas semanas depois o
guri também faleceu (que Deus o tenha! Ele não deveria levar as crianças
embora, é muito cruel!).
Já há algum tempo venho pensando
sobre essa nossa pressa. Vivemos um momento em que as coisas devem acontecer
imediatas, como se estivéssemos online, na velocidade de uma “enter” ou de um
clic do mouse; se o computador demora alguns segundos a mais para abrir uma
página na internet, é lerdo ou não presta (às vezes a conexão da internet); já
assistiu a algum vídeo clipe? A velocidade das imagens é tão grande que não
permite que nossa atenção seja desviada.
A velocidade da vida online é
transportada para o nosso dia a dia; a mesma velocidade que recebemos as
informações deve ser repassada. E assim seguimos a vida. Sem paciência,
ansiosos, estressados.
Em setembro de 2011 estive na
belíssima cidade de Gramado, na serra gaúcha; uma das cidades mais belas que
conheço (Florianópolis e Nova Petrópolis – uma cidadezinha também na serra
gaúcha, uns 70 km de Gramado, estão no meu top 5 de cidades mais bonitas que
conheço). Gramado tem pouco mais de 33 mil habitantes e um ritmo de vida
tranquilo. Seus moradores parecem não ter pressa. Me senti em outro mundo.
Todas as vezes que queria atravessar alguma rua os motoristas paravam para eu passar. Trouxe de lá isso como lição para minha
rotina. Quando me pego ansioso e apressado, me questiono e procuro me policiar,
evitar passar no sinal amarelo e ter um pouco mais de paciência e aproveitar a
paisagem ao meu redor. Isso tem me feito bem.
De qualquer forma, dizer que
temos mais pressa hoje porque seguimos o ritmo da vida online é simplório
demais. É necessário levantar hipóteses e confirma-las (ou não) através de uma
pesquisa adequadamente realizada, ir mais a fundo nessa questão. Enquanto isso,
que tal aproveitarmos mais o mundo que nos cerca e perceber o quão belo e
poético são nossas ruas e construções? A poesia em concreto e asfalto.
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