sexta-feira, 28 de setembro de 2012

QUARENTENÁRIO III

 
Ramones é uma dessas bandas de rock que não têm explicação. Atravessam as gerações e são unanimidade. São bons no que fizeram! Recentemente li uma matéria em algum site, se não me engano falando sobre carreira, dizendo que não entendiam o sucesso do Ramones. Afinal, como podem 4 carinhas esquisitos, com comportamentos esquisitos e que mal sabiam tocar, ter tal alcance mundial. Quem conhece e ouviu um pouquinho de Ramones, acha todas as músicas iguais. E são mesmo. Característica dos pouco mais de 3 acordes que eles combinavam para fazer suas músicas e a quantidade de wannas de suas letras dão essa equidade nas canções. Na verdade não tem explicação. Ramones é Ramones e pronto!  
 
Essa semana estava escutando Rocket To Russia, de 1977. É o melhor disco do Ramones. Diria que está em qualquer lista dos 10 melhores discos de todos os tempos. Na minha lista dos 10 mais certamente; sendo bem sincero, minha lista dos 10 mais deve ter mais de 100 discos.
 
Ramones faz parte da minha formação musical; e, obviamente, da minha vida.  No começo dos anos 80, meu irmão Beto, na época o cara mais roqueiro que eu conhecia, que trazia as novidades para nós (eram dele os discos do Led Zeppelin, do Sex Pistols, do Ted Negent, o Holy Diver do Dio  e tantos outros) chegou em casa com o Rocket to Russia em mãos. Pouco mais de 30 minutos de uma porrada sonora. Foi amor à primeira vista; ou melhor, à primeira ouvida.
 
Em um post meses passados escolhi dentre algumas canções aquela que seria a canção punk definitiva e I dont Care é uma delas; como não poderia ser diferente, I Dont Care faz parte do disco Rocket to Russia. Dentre outras tem uma versão acelerada de Do You Wanna Dance, a imortal Sheena Is a Punk Rocker, provavelmente inspirada nas groupies que seguiam as bandas naqueles malucos anos 70, dentre tantos outros clássicos da banda. O disco ainda reserva o romantismo dos punk rockers em Here Today, Gone Tomorrow.
 
Durante muitos anos Ramones fizeram (e fazem) parte da trilha sonora das caminhadas loucas pelas ruas de Santos, ora só, ora com algum doido que encontrava pelos caminhos, nos diversos outonos daqueles anos que eu trabalhava como office boy e escutava uma fita no walkman, um amarelinho que eu tinha.
 
Esse vinil se perdeu no tempo e nas mudanças que fiz. Talvez até esteja entre os meus vinis lá no meu espaço na dispensa. É o alimento da minha alma. Depois vieram o cd, o mp3, os arquivos de computador. Mas a qualidade musical de uma das bandas mais importantes que já existiram continua e perdura por muito tempo. Perdurará! enquanto houver um garotinho sedento por um som diferente da mesmice das fms que assolam os nossos ouvidos com lixo musical, enquanto houver uma cambada de maluco que insiste em lutar contra o controle dos nossos gostos, enfim, enquanto houver gente com bom gosto musical.
 
"Eu não me importo
com este mundo
com aquela garota
com estas palavras
Eu não me importo..."            

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

VMB 2012


Grande decepção o VMB 2012. Não que eu espere muito de alguma premiação de música, mas a decepção fica por conta da prostituição da mídia em relação à musica de péssimo gosto (poderia falar duvidoso, mas o adjetivo aqui utilizado é o mais adequado). A primeira constatação da vergonha qua assola a mídia musical em geral, voltada ao mais popularesco, no sentido mais pejorativo que a palavra possa ter, foram as chamadas no canal musical, mostrando que uma das indicações para artista do ano era uma tal de Gabi Amarantos. Depois fui saber que ela é conhecida como a rainha do techno brega, alguma coisa nesse sentido. Alguém dirá: como esse cara é preconceituoso; na verdade muitos alguéns dirão isso; se ser crítico é não querer ser massificado pela mídia, é querer escutar um som por vontade própria e não pela pressão popularesca, é ter gosto próprio, então sou preconceituoso. Sempre me recusei a gostar dos hits das rádios, mesmo nos anos 80, quando ainda existiam mais rádios rock's do que hoje (está virando raridade), sempre detestei rádio, porque eu não podia escolher a canção que tocaria. Pensava nos caras dizendo: "ouve essa porra e cala a boca! Nós que escolhemos teu gosto musical, otário!"

Então sempre acabava sendo o chato, o ET, que gostava de música que ninguem conhecia, ou ao menos a maioria; hoje, conversando com o Victor, ele tem a mesma sensação que tive na adolescência, pois a história se repete: ele anda curtindo Bob Dylan, Joy Division (de montão), Beatles, Mutantes, Jupitar Maçã, Doors, Jimy Hendrix, Led Zeppelin, Smiths e tantos outros monstros sagrados do bom e velho rock and roll, e como eu, ele é visto como um cara fora do seu tempo, porque a galera quer mesmo escutar sertanejo universitário e funk, música brega, enfim, o que estiver na moda.

E a moda é escutar música brega, é ser brega... vide a novela da globo, que só toca música brega, que é legal ser brega, é o que há. Quanto mais burrro e brega, mais legal. E como sempre, a novela das 8, hoje das 9, faz a cabeça da galera em todas as áreas, como se vestir, como se portar, como se portar.

"Essa massificação
Me diz o que devo fazer
O que devo comprar
O que devo vestir
O que devo falar
O que devo pensar"

Mas falava então, antes desse preâmbulo, sobre o VMB 2012. Além das chamadas demonstrando a tal rainha do techno brega (seja o que diabos isso signifique - e eu digo diabos, porque algo que tenha o mal gosto musical só pode ser coisa do demo, apesar de Raulzito ter dito certa vez que  "... o diabo é o pai do rock..."), ontem, zapeando antes de dormir, me deparei com a MTV e a premiação do VMB. Logo que parei no canal, veio uma dupla (não sei se sertaneja ou sabe Deus - ou melhor seria - sabe diabos do que se trata aquela merda) cantando tchu tcha. Me passou pela cabeça "vá à merda"! E mudei de canal. Virei de costas e dormi. Não sem antes de lembrar da Natália Klein no seu 'Adorável Psicose' que ao zapear, conta até 3 e se não aparecer nada de interessante na telinha, muda de canal, acreditando ser esse o tempo necessário para saber se o programa vale à pena ou não.

A única coisa que me interessava era saber se o Vanguart seria premiado ou não. Mas como achei o episódio ridículo, resolvi que não queria mais saber de nada. E assim o fiz, nem sei quem ganhou ou perdeu. Melhor nem saber, para não me decepcionar ainda mais. E já que hoje começou a 14ª Mostra de Cinema de Londrina, vou me atirar em um final de semana totalmente na 7ª arte; e claro, com muito rock and roll. Na veia! Basta dizer que o primeiro filme que vou assistir, amanhã às 13hs30min se chama "Hiroshima" e conta a história de um carinha que canta em uma banda de rock.

E que Deus salve o Rock!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

LAST NIGHT I DREAMT THAT SOMEBODY LOVED ME


A noite passada eu sonhei que alguém me amava... bem, não foi realmente a noite passada e sim algumas noites atras. E também não sonhei que alguém me amava. É que lembrei dessa canção para começar esse post, pois quando acordei do sonho, pensei em escrever algo começando por "a noite passada eu sonhei..." e logo me veio à lembrança a canção do Smiths Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me, uma canção que me acompanhou alguns anos, aqueles primeiros de faculdade, ainda em Assis, quando eu viajava para Santos, de volta para casa em algum feriado prolongado ou férias e ficava a madrugada acordado dentro do ônibus escutando o disco derradeiro da banda, Strangeways, Here We Come, de 1987, no walkman, uma fita que havia ganho anos antes do meu primo Pico. Até escrevi no mural da Unesp a frase que dá nome à canção, para a Juliana, no começo do nosso namoro.

Longo preâmbulo... enfim, ao acordar lembrei desse sonho, que ficou martelando, martelando... nele eu estava em Santos, na Washington Luiz com a Goiás, escritório da Gonçalves de Oliveira, meu primeiro emprego registrado, com a dona da empresa, a sra. Elza Gonçalves de Oliveira, ou simplesmente dona Elza, como a chamávamos. Mas no sonho ela estava velinha, andando com auxílio de bengala. 

A Gonçalves de Oliveira era uma administradora de condomínios. Um desmembramento da Consorte, quando os sócios brigaram e os clientes foram separados de acordo com suas identificações. Era um pequeno escritório, com 5 pessoas trabalhando, além d'eu, meu irmão Fábio, um secretária, que mudava com frequência, a Tereza e a própria dona Elza. Trabalhando lá, em uma manhã ensolarada de uma terça feira do verão santista de 1991 que, ao comprar o jornal O Estado de São Paulo, que vi meu nome entre os aprovados no vestibular da Unesp daquele ano e fiquei em êxtase. 

É engraçado eu ter sonhado com isso, porque desde que sai de lá, em fevereiro de 1991, antes de ir para Assis estudar, depois de quase 3 anos trabalhando como office boy, nunca mais voltei e jamais tive qualquer contato com a dona Elza. Entretanto, em algumas férias posteriores, aquele lugar cruzou os meus caminhos. Mas ver de de fora a casa branca sobre um boteco, com as janelas azuis e abertas, foi o mais perto que cheguei.

O meu primeiro dia de trabalho foi 2 de maio de 1988 e lá se vão longos 24 anos. Quem me arrumou esse emprego foi meu irmão Fábio, que trabalhava lá. Era estranho, porque nós não tínhamos um bom relacionamento e mal nos falávamos. Mas acabamos trabalhando juntos, ele era uma espécie de meu chefe, porque era mais velho na empresa do que eu. Então ele separava o trabalho e claro, pegava a parte mais legal para ele. 

Pensar que eu comecei a trabalhar praticamente no dia do trabalhador. E esse foi o meu primeiro ou mais importante conflito do final da minnha adolescência e início da vida adulta, ou pelo menos da minha vida profissional e das minhas responsabilidades: ao mesmo tempo que começava a ter a liberdade que o dinheiro pode comprar, me escravizava do trabalho, dos horários e das obrigações. Esse conflito me perseguiu por anos... para falar a verdade, até hoje ele me aflige. Penso em quando será que vou receber a alforria...

Sou um cara nostálgico. Certa vez, aos 14, 15 anos escrevi uma canção que se chamava Nostalgia. Era um cara que ficava por horas, madrugadas a fio, lendo o dicionário, quando não tinha nenhum livro para ler. E assim conhecia algumas palavras que me encantavam. Nostalgia foi uma delas. E nessa época eu era nacionalista, escutava Virus 27, uma banda de carecas, os skinheads, que pregavam o nacionalismo. E ficava encantado com a letra do hino nacional, toda a pomposidade dos versos do Joaquim Osório Duque Estrada. Versos de amor ao país, que fizeram muito sentido para eu naquela época e que hoje não me dizem nada. Fases da vida, vem e vão, algumas nem voltam.   

Pouco dormia na adolescência, sempre achei dormir um desperdício de tempo. Fazia cálculos malucos de que eu passaria 1/3 da vida dormindo e tinha amigos meus que passariam metade da vida hibernando. E nas minhas noites de insônia devorava o que caía nas minhas mãos, revistas, jornais, livros e dicionário; quando não, assistia a algum programa de tv, a algum filme. Percebo que a programação da madrugada dos anos 80 era bem melhor que a de hoje.

Foi um sonho gostoso que perdurou por alguns dias em minha mente e até me fez sentar em frente ao pc e escrever sobre ele. A próxima vez que for à Santos, vou entrar na casa branca de janelas azuis, sobre o boteco, no canal 3, tocar o interfone, subir as escadas e bater um papo com a dona Elza. Lembrar de algumas passagens e saber como se passaram esses 24 anos para ela e para a Gonçalves de Oliveira. Espero encontrá-la lá.

sábado, 30 de junho de 2012

THE SMITHS - SHOPLIFTERS OF THE WORLD UNITE

Não poderia passar o mês de Junho sem postar nada. E como essa canção não sai da minha cabeça há dias, puxei  no histórico para ver se não a tinha postado anteriormente, o que não fiz e que o faço agora, para a felicidade geral da nação smithiana. 

A primeira vez que escutei essa canção foi no The World Wont Listen, uma coletânea da melhor banda de todos os tempos em meados de 1987, quando, já citado aqui nesse blog, meu irmão Rogério chegou de viagem da Marinha do Brasil, com uma porrada de discos e eu comecei a escutar Smiths para valer. A banda hoje é cultuada pra caralho, mas isso é só para quem gosta de boa música. Tanto que o Tety tem escutado diversas versões atuais de canções da banda. Ele escuta Smiths e Morrissey desde pequeno, lembro que ainda nenê, assim como fiz com o Gui, colocava o disco para rolar e ficava cantando para eles. Isso fez com que eles tivessem desenvolvido o bom gosto para música... de tanto medo que eu tinha que eles se bandeassem para o mal caminho e gostassem de sertanojo ou qualquer outra bosta sonora que toca nessas merdas de rádios desse país aculturado.

Mas então aí vai uma bela canção dos Smiths, Morrissey, Marr e cia nos seus melhores dias. Aproveitem!



Ladrões de Loja do Mundo Unidos

Aprenda a me amar
Junte as maneiras
Agora, hoje, amanhã e sempre
Minha única fraqueza é uma lista de crimes
Minha única fraqueza é...
Bem, deixa prá lá, deixa prá lá

Ladrões de loja do mundo,
Unam-se e dominem
Ladrões de loja do mundo
Distribuam
Distribuam
Distribuam

Aprenda a me amar
Junte as maneiras
Agora, hoje, amanhã e sempre
Minha única fraqueza é um crime numa lista
Mas ontem à noite, os planos para uma guerra futura
Foi tudo o que eu vi no Canal Quatro

Ladrões de loja do mundo,
Unam-se e dominem
Ladrões de loja do mundo
Distribuam
Distribuam
Distribuam

Uma mão sem coração sobre meu ombro
Um empurrão - e tudo se acaba
O mármore se quebra
(seis meses é muito tempo)
Tentei viver no mundo real
Em vez de numa concha
Mas antes de começar...
Eu estava cheio antes mesmo de começar

Ladrões de loja do mundo,
Unam-se e dominem
Ladrões de loja do mundo
Unam-se e dominem
Ladrões de loja do mundo,
Unam-se e dominem
Ladrões de loja do mundo
Dominem

domingo, 27 de maio de 2012

ROMANCE IDEAL

"Menino e menina
se conheceram quase sem querer
não foi por obra do acaso, 
tinha mesmo que acontecer..."

Não se conheceram mesmo quase sem querer. Ele era amigo do irmão dela. Jogavam bola juntos, moravam na mesma rua; estudavam juntos os dois amigos. Ele era 'veterano' na escola, fez a acolhida do irmão dela que se transferiu para a mesma escola. Apresentou para a galera, ajudou na adaptação. Tinham 11, 12 anos, estavam na 5ª ou 6ª série. Mas já eram amigos da rua, antes de serem colegas na escola.

Certo dia o amigo comentou com ele:

- Minha irmã tá afim de ti - isso na frente dela. Ela, claro, 1 ano mais nova, enrubeceu timidamente. Ele se achou o máximo, sentiu o ego inflar e gostou demais da idéia. Senil e doce sentimento humano, pensou com seus botões.  

Já a havia notado na rua, nas brincadeiras, se mostrava com uma beleza angelical e claro, infantil, assim como ele próprio. Desde então, se apaixonou por ela. Enlouquecidamente, mas sem impulsividade, sem cometer loucuras e se expor ou expor aquele amor silencioso. 

Passou a fazer as tarefas da escola na casa do amigo e consequentemente dela; ficava quase sempre para o almoço, sentado sempre em frente à mesma, trocando alguns olhares, palavras tolas que somente a eles significava algo. Tímidos, aquele era um amor sem palavras, sem toques... não falavam sobre o assunto, amavam-se em silêncio; eram cúmplices de um amor não concretizado. 

Certa vez, em uma brincadeira de rua, tocaram as mãos um do outro. Ele sentiu uma tremedeira pelo corpo todo; ela se arrepiou da cabeça aos pés, numa transmissão química dos seus corpos tão forte e significante. Sonharam a noite um com o outro, mas sem um saber do outro ou o outro saber do um. O amor em comum não lhes permitia que trocassem qualquer palavra entre si; sabiam e sentiam que era algo recíproco... e só. Sem explicações, parecia que a concretização do amor poderia estragar sua pureza e beleza.

Os anos se passaram. Tornaram-se amigos, mas o amor dos dois não era assunto entre ambos. Nas festinhas adolescentes não ficavam. Eram de turmas diferentes; ele radical, roqueiro, tinha uma banda; marginalizado pelos demais, tinha fama de mal, mesmo sem ser, mas por preconceito dos outros; ela era um anjo, meiga, sensível, frágil, bela, cativante, princesinha; jamais andaria com um punk rocker. Não combinavam, ele largadão, rasgado, sujo... ela uma bonequinha, patricinha... mas continuavam se amando em silêncio; e continuavam amigos.

Ele mudou de rua anos depois; ela continuou morando no mesmo local. A vida os afastou; cada um seguia o seu rumo, seu destino.


"... se encontraram então no parque da cidade..."

Se encontravam raramente. Já adultos eram 2 desconhecidos e pouco se falavam, além da troca de olhares e um pequeno aceno de cumprimento. Mas sentiam quando se olhavam que aquele amor permanecia. Era nítido, no brilho dos olhos de ambos. Qualquer um que observasse de longe quando trocavam esses olhares, conseguiria perceber. Sorte de ambos que ninguém jamais desconfiara. Ou seria azar?

Não comentaram com ninguém, ela com sua melhor amiga escondeu de forma selecionada esse segredo, ele jamais abriu a boca para qualquer amigo. 

Nos seus encontros já adultos perceberam que não havia clima para um romance. Conseguiam perceber isso nos raros olhares que trocavam quando se encontravam. Não havia clima, coragem, vontade; só desejo, mas não o bastante para enfrentarem a situação, para concretizarem aquele amor infantil.

Se encontravam geralmente nas filas de cinema, nos teatros, nas baladas, nos shows... por todos os lugares que frequentassem. Sempre acompanhados, ora com os amigos e amigas, ora com namorada e namorado. 


"... o tempo passou, o sol se foi
as chuvas pararam de cair
Você partiu pra longe daqui
e me deixou assim, sozinho, pensando no meu jardim
eu tenho momentos tristes, eu tenho momentos de prazer
lembrando momentos agradáveis, quando estava junto de você..."

Ela então casou-se e o convidou para o casamento. Mesmo distantes, ela lembrou dele nesse momento tão importante. Para ambos. Ali selavam o final de tudo o que nunca aconteceu, tudo o que não viveram. Seu noivo era um amigo de infância de ambos. Teve 2 filhos; lindos como a mãe. 

Ele não casou. Partiu para aventuras da vida de solteiro, conheceu lugares, mulheres, pessoas; procurou viver um grande amor, mas sem muito sucesso. Fugiu da rotina e a vida os separou definitivamente; nunca mais se encontraram.

Anos depois a encontrou em uma rede social. Já trintões. Percebeu que quanto mais os anos passaram, mais bela a guria da sua infância havia ficado. Os anos e a vida de casado, os filhos, fizeram bem a ela. Pelas fotos conheceu sua família. Viu o amigo de infância. Percebeu como a família festejava as datas importantes, sempre juntos, viagens, natais, aniversários das crianças. Sentiu saudades do que não viveu.

Finalmente se reencontraram, desta feita virtualmente. Conversaram sobre tudo, a família, a vida profissional, as dificuldades, lembraram dos momentos juntos, dos amigos de infância, os caminhos que cada um seguiu, conversaram sobre tudo, sobre a vida em geral. Se conheceram novamente; eram outras pessoas, diferentes das que se conheceram na infância. A vida e as experiências os transformaram em pessoas diferentes. Porém, no fundo restava ainda alguma coisa que os tornavam cúmplices: aquele amor mútuo.

Mas o tempo os afastaram mais uma vez. A superficialidade de um relacionamento virtual, de duas pessoas que viviam quilômetros de distância e que mantinham relacionamentos completamente diferentes impediam qualquer tipo de aproximação maior. Essa amizade virtual nada promissora enfim enfraqueceu e esfriou. Dessa vez, para sempre.

Então ele sonhou com ela; sonhou com o amor que não viveu; sonhou a vida que não tiveram juntos, fantasiou coisas que não aconteceram; a noite inteira sonhou com seus beijos, que nunca existiram, sonhou com abraços, amor, sonhou com dias que não viveram, que não tiveram. Sonhou com os filhos que não tiveram, que poderiam ter, sonhou com os aniversários, festas, baladas, cinemas juntos, dia dos namorados e tantas outras datas importantes. Sonhou com uma vida de sonhos, aquela que não puderam viver, que não souberam viver, que a vida não permitiu que vivessem.

E quando acordou não queria mais a vida real. Por dias ficou sobre o efeito do sonho. Nada mais parecia valer à pena. Queria gritar ao mundo aquele amor que não foi possível dizer no momento oportuno. Mas o tempo passou e não permitiu novamente vivenciá-lo. A vida era outra. 

E pensava nela, na vida que teriam levado juntos. Casariam em uma pequena igreja de algum povoado distante, tendo como testemunha o padre, alguns poucos curiosos do lugarejo e Deus. Viajariam de lua de mel para um lugar qualquer, paradisíaco, celebrando o amor! Finalmente o amor!

Teriam filhos. Um só não, teriam 2, um casal. Uma guria linda como a mãe e um guri esperto e inteligente como o pai. Viveriam intensamente cada momento dos filhos, as alegrias, as agruras, tristezas; os primeiros passos, os primeiros dentes, as primeiras amizades; dariam boas risadas e chorariam com eles. Brigariam muito entre si e com os filhos; mas estariam sempre juntos, um dando força para o outro nos momentos mais difíceis.

Quis voltar a sonhar, viver aquele sonho, novamente, mais outra vez, novamente, eternamente. 




"... se eu queria enlouquecer, essa é a minha chance
é tudo o que eu quis
se eu queria enlouquecer, 
esse é o romance ideal."


sábado, 26 de maio de 2012

OS MENINOS DA RUA SÃO PAULO

 
Algumas coisas parecem acontecer quase sem querer; eu digo quase, porque eu não acredito em acaso e sei que tudo acontece por que tem que acontecer, não adianta fugir do destino. As pessoas me acham fatalista, me julgam por isso, sei lá, mas isso é mais do que religioso em mim, acho até que é o que há de mais religioso na minha pessoa. Do destino, da sina, não adianta fugir deles. Quando nascemos estamos programados a passar por tudo o que passamos e ponto final. E tenho dito!

Mas, dizia eu, esses dias um grande amigo retornou à minha vida. Quase sem querer. O cara 'tava sumido nesse mundão de Deus, perdido em um dos quatro cantos do mundo, sem termos notícias de onde e como estava, até mesmo se estava vivo ou sei lá o quê. Ele era o batera da Mayday, minha ex-banda dos anos 80. E como ele é negro e sempre fazíamos uma analogia ao Renato Rocha da Legião, comecei a achar que o destino dele teria sido o mesmo do ex-baixista da Legião Urbana. Ledo e doce engano. 

Alguns meses atrás, talvez 2, talvez mais, meu irmão Beto estava em algum cantão da maior cidade da América Latina, cantada de todas as formas, nos diversos estilos, em diversas canções, em versos e prosas, São Paulo, que amanhece trabalhando (cresci escutando isso, morava em Santos e meu tio Luiz morava em Sampa, cuja cidade visitei com muita frequência, principalmente quando comecei a namorar a Ana, que morava em São Paulo, no Morumbi) e foi cutucado por uma carinha negro que começou a tirar sarro dele, falar mal do GRÊMIO; vendo que a brincadeira descambaria para uma reação violenta do capitão caverna, do bicho do mato Beto, Ronaldo se apresentou:

- sou eu, o Ronaldo, não lembra de mim?

Somente então meu irmão mostrou um semblante mais tranquilo. Essa deve ser uma reação comum em São Paulo, pela desconfiança daqueles que os cercam na selva de pedra. Por aqui no interior, no norte do Paraná, as pessoas são mais amenas, talvez mais amigas ou mesmo menos desconfiadas, extressadas. Mas enfim, partiram para uma conversa tranquila e trocaram telefones e contatos.

O número do celular do Ronaldo veio parar dias depois do encontro relatado acima em minhas mãos por intermédio do Renato, outro dos meus 4 irmãos por parte de pai e mãe. O Renato há décadas joga futebol na praia do Gonzaga em Santos no mesmo local, com a mesma galera. Essa galera deve ter mais de 3 gerações nesse bate bola. Eu mesmo joguei com eles em meados dos anos 80, mas parei quando sai de Santos. Acho que nem sei mais jogar futebol de praia. Bem, o Ronaldo, que mora em Sampa, ligou para o Renato e combinou de passar no bate bola. O Renato chamou o Zé Renato, que era um dos guitarristas da Mayday e grande amigo de longa data, e mesmo tendo combinado acabou furando. O Renato me passou o telefone do Ronaldo, que foi ao encontro combinado e eu liguei para o fdp. 

Na primeira conversa, passamos horas a fio ao telefone. O papo fluiu com facilidade, muito e muito assunto para pôr em dia e não é que o fdp me instigou a escrever sobre a nossa adolescência lá na rua São Paulo, em Santos? Pois é, aquela galera maluca dos anos 80, que sentava em cima do muro da rua São Paulo esquina com a Joaquim Távora e ficava na 'nóia' por horas e horas e horas e finalmente mais algumas horas, ao longo dos dias da semana e dos sábados e domingos. Por anos...

Resolvi encarar o desafio. Na verdade só precisava de um assunto para voltar a escrever algo que prestasse... quer dizer, tentar... e o Ronaldo me deu o assunto. Acontece que coloquei minha cabeça e memória para funcionar e comecei a lembrar de algumas passagens muito engraçadas daquela época. O primeiro capitulo está em efervescência. Ja escrevi alguns bons pares de páginas. Comecei há alguns dias e vou enxertando informações. No final, o capitulo 1, que está por vir o seu fim, deve ficar extenso. Mais uma ou duas semanas, dezenas de mudanças, cortes, reflexões, releituras, acréscimos a cada passada a limpo e acho que termino.

E eu escrevi todo esse preâmbulo para dizer que o que aconteceu quase sem querer foi a MTV estar passando um especial da Legião Urbana, banda que todos amávamos naquela época. Eu deitei no quarto para tirar um cochilo e fui apagando ao som de Legião e acordei aos poucos ainda escutando Legião. E me senti em pleno anos 80, vivendo na memória aquelas histórias hilárias dos meninos da rua São Paulo. Devo ter retornado no tempo durante meu sono. Por algum tempo revivi adormecido a década de 80 do século passado. Bons sonhos, dos quais não lembro nenhum, mas acordei revigorado.

domingo, 13 de maio de 2012

JOHN LENNON - MOTHER

A triste e (por isso) profunda canção de Lennon para sua mãe.


Mãe, você me teve, mas eu nunca a tive
Eu te quis, você não me quis
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus,
Pai, você me deixou, mas eu nunca o deixei
Eu precisei de você, você não precisou de mim
Então eu, eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus

Crianças, não façam o que eu fiz
Eu não pude caminhar e eu tentei correr
Então eu, eu apenas tenho que lhes falar
Adeus, adeus,

Mamãe não vá
Papai vem para casa