sábado, 28 de abril de 2012

THE SMITHS - THERE IS A LIGHT THAT NEVER GOES OUT

Falando da dramaticidade poética morrisseyniana, o que dizer da canção There Is A Light That Never Goes Out, onde o autor se sai com essa estrofe:

"... E se um ônibus de dois andares
Colidisse contra nós
Morrer ao seu lado
Que jeito divino de morrer
E se um caminhão de dez toneladas
Matasse a nós dois
Morrer ao seu lado
Bem, o prazer e o privilégio seriam meus..."

Além de uma belíssima poesia escrita por Morrissey, onde demonstra nas entrelinhas que sua opção sexual o leva ao abandono da família, a bela canção de Johnny Marr, a dupla demonstrando mais uma vez a afinação perfeita e a cumplicidade de sua parceria, como demonstra a foto abaixo:

A mistura de amor e morte é comum nas letras de Morrissey.  E dá para se sair com inúmeras interpretações psicanalíticas dessa característica. Principalmente para alguém que tem um blog baseado em um texto de Freud que fala sobre o fato de procurarmos a ausência da tensão, para bom entendedor, a morte.


Há Uma Luz Que Nunca Se Apaga

Me leve para sair esta noite
Onde haja música e pessoas
Que sejam jovens e vivas
Sendo levado no seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque eu não tenho mais
Uma casa

Me leve para sair esta noite
Porque quero ver gente
E eu quero ver luzes
Passeando no seu carro
Oh por favor não me deixe em casa
Porque esta não é minha casa
Esta é a casa deles
E eu não sou mais bem-vindo

E se um ônibus de dois andares
Colidisse contra nós
Morrer ao seu lado
Que jeito divino de morrer
E se um caminhão de dez toneladas
Matasse a nós dois
Morrer ao seu lado
Bem, o prazer e o privilégio seriam meus

Me leve para sair esta noite
Oh me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, não me importo
E numa passagem subterrânea escurecida
Eu pensei "Oh Deus, minha chance finalmente chegou!"
Mas então um medo estranho me tomou
E eu simplesmente não pude pedir

Me leve para sair esta noite
Me leve para qualquer lugar
Eu não me importo, não me importo, não me importo
Simplesmente indo no seu carro
Eu nunca mais quero ir para casa
Porque não tenho mais uma casa
Oh, eu não tenho mais

Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga
Há uma luz que nunca se apaga...

THE SMITHS - I KNOW IT'S OVER

I Know It's Over foi a minha canção predileta dos Smiths por anos; os dedilhados na guitarra de Johnny Marr choramingando angustiadamente a cada acorde, a voz suave de Morrissey, arrepiante, verso após verso, desesperadamente, rasgando o coração, sussurrando socorro à mãe... perfurando corpos, corações, mentes, enfim, atingindo a alma, perpassando-a, tamanha a dramaticidade.

O que dizer dos dois primeiros versos cantados por Morrissey:

"Oh mãe, eu posso sentir 
o chão caindo sobre a minha cabeça..."

Para o chão cair em cima da própria cabeça é necessário que estejamos abaixo dele, no fundo do poço, no inferno... Morrissey sempre foi mestre em dramatizar a angústia das relações humanas, provavelmente aí a razão de sua genialidade.

Apesar de ser uma baladaça de perfurar cada centímetro da alma, é uma canção pesada, com guitarras distorcidas e bateria pesada. Nessa versão que escolhi para ilustrar esse post, do album ao vivo e póstumo Rank, um dos meus preferidos, tem a participação especial de Craig Gannon, o quinto Smith, que a princípio estrara no lugar de Andy Rourke, demitido pelo envolvimento com drogas, mas que logo voltou a banda e fez Gannon assumir a segunda guitarra.

Morrissey incorpora o clima da canção, dando mais dramaticidade, se contorcendo e quase rasgando a camisa que veste, como se tentasse apaziguar o mais profundo do seu ser. 

Essa noite sonhei com minha mãe. E ao mesmo tempo que não foi um sonho legal, se transformou em algo muito, muito legal. Mas foi angustiante, de qualquer forma, por isso acordei com essa música na cabeça. Também conversando ontem com meu grande amigo de longa data Ronaldo (Anarquista - baterista do Mayday) por quase 2 horas ao telefone, ele de Sampa eu da pequena Londres, relembrando um passado em comum, que foi maravilhoso. Lembrando de situações e principalmente dos amigos que deixamos para tras ao darmos prosseguimento à vida e seguirmos nossos rumos e destinos. Faziam uns bons anos que não falava com ele e trouxe à tona não só o passado, como o presente, vislumbrando o futuro; quando conheci o Ronaldo tinha menos idade que o Gui. Temos muita história para lembrar...

Enfim, à canção dos Smiths.


 
EU SEI QUE ACABOU
 
Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça
E enquanto deito em uma cama vazia
Oh bem... tudo está dito
Eu sei que acabou, ainda assim me agarro
Não sei mais onde eu possa ir
Oh...

Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça
Veja, o mar quer me levar
A faca quer me cortar
Você acha que pode me ajudar?
Triste noiva de véu, por favor seja feliz
Belo noivo, dê abrigo a ela
Bruto, grosseiro amante, trate-a gentilmente
(embora ela precise mais de você
Do que te ame)

Eu sei que acabou - ainda assim me agarro
Não sei mais onde eu possa ir
(Acabou, acabou, acabou, acabou
Acabou, acabou...)
Eu sei que acabou

E na verdade nunca começou
Mas no meu coração era tão real
E você até falou comigo e disse:
"Se você é tão engraçado
Por que então está sozinho esta noite?
Se você é tão inteligente
Por que então está sozinho esta noite?
Se você é tão divertido
Por que então está sozinho esta noite?
Se você é tão atraente assim
Por que dorme sozinho a noite?
Eu sei...
Por que esta noite é
Igualzinha a qualquer outra noite
É por isso que você está sozinho esta noite
Com seus triunfos e encantos
Enquanto eles estão nos braços um do outro..."

É tão fácil rir
É tão fácil odiar
É preciso fibra para ser gentil e carinhoso
(Acabou, acabou, acabou, acabou)
É tão fácil rir
É tão fácil odiar
É preciso ter culhões para ser gentil e carinhoso
(acabou, acabou)

O Amor é Natural e Real
Mas não para você, meu amor
Não esta noite, meu amor
O Amor é Natural e Real
Mas não para pessoas como você e eu,
Meu amor

Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça
Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça
Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça
Oh Mãe, posso sentir
O chão caindo sobre minha cabeça...

domingo, 22 de abril de 2012

THE SMITHS - STILL ILL

Sem mais palavras... The Smiths em sua essência, próximo à perfeição, à Divindade. 


Ainda Doente
 
Eu declaro hoje que a vida
É simplesmente tomar, e não doar
A Inglaterra é minha e me deve o sustento
Me pergunte porque, e eu cuspirei em seus olhos
Me pergunte porque, e eu cuspirei em seus olhos
Mas não podemos nos agarrar
Nos velhos sonhos nunca mais
Não, não podemos mais nos agarrar naqueles sonhos
O corpo governa a mente
Ou a mente governa o corpo?
Eu não sei...

Debaixo da ponte de aço nos beijamos
E embora eu tenha ficado com os lábios doloridos
Não foi como nos velhos tempos
Não, não foi como naqueles dias
Eu ainda estou doente?
Eu ainda estou doente?

O corpo governa a mente
Ou a mente governa o corpo?
Eu não sei...
Me pergunte porque, e eu morrerei
Oh, me pergunte porque, e eu morrerei
E se você tiver que trabalhar amanhã
Bem, se eu fosse você eu não me incomodaria
Por que existem lados mais brilhantes da vida
E eu deveria saber, pois os tenho visto
Mas não com muita freqüência

Debaixo da ponte de aço nos beijamos
E embora eu tenha ficado com os lábios doloridos
Não foi como nos velhos tempos
Não, não foi como naqueles dias
Eu ainda estou doente?
Oh, eu ainda estou doente?

sábado, 21 de abril de 2012

WANDER WILDNER - RODANDO EL MUNDO

Dia 12 de maio o punkbrega está de volta à Londrina, novamente no bar Valentino, rasgando sua guitarra em suas canções punks brega e seu espanhol selvagem. O ex-Replicante traz toda a selvageria de suas canções e seu estilo próprio que agrada a todos los Comancheros de plantão. 


Como demonstra a canção que coloco abaixo, não existe ex-Replicante, um Replicante é sempre Replicante e essa possível confusão que vem a ocorrer com os incautos e que desconhecem uma das melhores bandas de punk rock do Rio Grande e do Brasil, é dirimida ao escutar, On The Road, de seu  primeiro disco solo Baladas Sangrentas, aparece um Wander Wildner sob uma grande influência de sua antiga banda, principalmente no que diz respeito ao punch da canção, porém com a mesma idéia de seguir No Ritmo da Vida. On The Road é também a obra prima e considerada a bíblia dos hippies, escrita por Jack Kerouak, que conta a história em que os protagonistas poem o pé na estrada buscando a liberdade de rodar e rodar e rodar, sem compromisso nenhum, caracterísitca de Wildner, que vive com o pé na estrada, levando para todos os cantos suas canções viscerais. Essa aventura está nos versos de suas canções, como "Vou me entorpecer bebendo vinho, eu sigo só no meu caminho", como na canção No Ritmo da Vida:

"Eu vou no ritmo da vida
Eu vou no ritmo que a vida me levar
Eu vou no ritmo da vida
Eu vou no ritmo que a vida me levar
Eu vou andando
Eu sigo em frente a caminhar
Eu vou no tempo
Aonde a estrada me levar..."

e finalmente

"Estoy rodando el mundo con amor en mi corazon
Cruzando por las estradas en mi carron maverikon..."

Dentre tantas outras canções que possam exprimir o seu desprendimento com qualquer lugar que seja neste mundo, embora sempre volte à sua Porto Alegre, com na canção em que fala que Jesus Cristo voltará e que sua moradia será na sua (e minha) cidade natal.

Com esse preâmbulo, segue a canção punk citada acima.


On The Road
Não me importa onde quer que eu ande
Não me importa onde quer que eu more

Minha mochila está sempre à mão

E eu tô sempre pronto prá partir

Voce me viu quebrando a cara
Voce me viu tentando tudo
Me sacrifiquei o tempo inteiro
Decidi abrir mão de tudo

Mas nós sabemos que isso não vale nada
Nos sacamos a vida sabemos como domá-la
Sabemos que o negócio é continuar no caminho
Curtindo o que pintar da maneira tradicional
Afinal de que outra maneira poderiamos curtir

Não me importa onde quer que eu ande

Não me importa onde quer que eu more

Minha mochila está sempre à mão

E eu tô sempre pronto prá partir

Sempre à mão, pronto prá partir

Ou ser posto prá rua, ou ser posto prá rua 


domingo, 15 de abril de 2012

QUARENTENÁRIO

No dia 29 de março exatamente às 15 horas completei 4 décadas de vida. Na adolescência achava que estaria velho com 30 anos. Se passaram 10 anos desde os 30 e me sinto bem; nesses quarenta anos de vida escutei muita música, obviamente. E cada música, quando escuto, lembro de uma parte da minha vida, de um momento específico. Poderia contar minha vida através da música. Por exemplo quando ainda em Porto Alegre escutava muito Beatles, em um toca fitas que nem caixinha de som tinha. Lembro do início dos anos 1980, ainda criança, quando a Blitz estourou com Você Não Soube Amar e escutava em todo canto, como uma febre.

Engraçado como o mundo foi se cafonando, mudando os valores e a música brega foi ganhando espaço. Se os anos 1980 foram os anos de ouro do rock brazuka, não se pode falar o mesmo das décadas posteriores, principalmente depois que a rede globo lançou em uma novela das oito (hoje das nove) a moda sertaneja. E daí, como tudo que aparece em novela, virou febre e desde então nunca mais fomos os mesmos. Foi o começo do fim do mundo e não estou me referindo ao festival punk que aconteceu em São Paulo alguns anos antes. Me refiro a breganização da música, das pessoas. Antigamente era vergonhoso o cara roqueiro dizer que escutava Roberto Carlos, por exemplo, ou que gostava de Wando e outros que agora não me recordo. Pois hoje em dia tem bandinha que até grava música com dupla sertaneja, numa promiscuidade sem fim, vergonhosa.

Os valores mudaram, ou melhor, hoje não existem valores. Tudo se mistura. O mesmo cara que vai numa balada alternativa pode ser encontrado no meio de um bailão sertanejo. A minha leitura dos fatos é de que o que importa hoje é ter grana, andar de carro do ano, de preferência um carrão e não importa o que o cara faça, basta ter uma carteira recheada e ninguém se importará com quem tu és, qual a tua essência, quais os teus gostos...

Feito esse parênteses, volto ao tema, das canções da minha vida. Sempre escutei música de qualidade e uma certa tarde meu irmão Rogério, nosso mentor musical, chegou com seu saco da Marinha do Brasil, recheado de discos. Um disco me chamou a atenção e coloquei na vitrola aquela música que mudaria a minha vida. O disco era a coletânea dos Smiths The World Won't Listen, algo como O Mundo Não Ouvirá. Sarcasmo morrisseyniano, claro, porque é uma das coletâneas de singles mais lindas que já existiram. Todo cara que se intitula alternativo já ouviu/ tem esse disco. E a primeira canção por qual me apaixonei foi a bela e alegrinha Ask. E, como falei, depois disso, me encontrei como roqueiro. Foi a banda de rock alternativo mais importante da década, mas para eu, a banda mais importante da minha vida, da minha formação musical.

Dito isso, o que eu queria exprimir, resumidamente, no meu quarentenário, que como já disse, começou no dia 29 de março, às 15 horas, era que muitas músicas representam o que sou. Mas existe uma canção que talvez seja a mais importante da minha vida, por mais que isso possa soar exagerado, mas é uma canção que fala da minha alma... porque existem tantas bandas que são afudê, poderia listar Os Cascavelletes, TNT, Replicantes, Beatles, Stones, Doors, Led, Pink Floyd, Sex Pistols, Joy Division, porra, poderia listar tantas outras e ainda assim ser injusto com muitas, muitas bandas, o punk americano, o punk inglês, o pós punk... mas não quero ser prolixo, quero ser objetivo e muito, muito resumido. E escolher a canção da minha vida. E a canção é claro, é dos Smiths, The Boy With The Torn In His Side, uma canção que fala sobre os amores que não são compreendidos, mesmo que Morrissey tenha feito uma poesia sobre o amor homossexual, ela cabe em qualquer amor. Como o meu com a Juliana, que era proibido naquele início dos anos 1990.

Os acordes dedilhados na Rickenbacker de Johnny Marr, o baixo marcante de Andy Rouke em sintonia com a bateria de Mike Joyce e claro, a poesia sensível de Morrissey, assim com a sua voz, são um delírio, parece um casamento perfeito.

Já postei anteriormente essa canção, mas nesse quarentenário novamente coloco aqui para nosso deleite. E para quem ainda não ouviu Smiths ainda, podem começar por essa maravilhosa coletânea, que demonstra tudo o que Morrissy, Marr, Rourke e Joyce têm de melhor.

Boa semana!


domingo, 8 de abril de 2012

CAPITAL INICIAL - FÁTIMA

Lembrei de uma passagem legal sobre o Capital Inicial que preciso blogar agora, antes que a mensagem fique sem sentido e perca a temporalidade. Em um show na década de 80, no saudoso Caiçara Music Hall, na divisa entre Santos e São Vicente, antes de cantar Fátima, Dinho comenta que a próxima canção era uma música santa. E o povo: bota pra fuder! bota pra fuder! bota pra fuder! A lembrança vem bem a calhar no final do domingo religioso de páscoa.



Fátima

Vocês esperam uma intervenção divina
Mas não sabem que o tempo agora está contra vocês
Vocês se perdem no meio de tanto medo
De não conseguir dinheiro pra comprar sem se vender
E vocês armam seus esquemas ilusórios
Continuam só fingindo que o mundo ninguém fez
Mas acontece que tudo tem começo
Se começa um dia acaba, eu tenho pena de vocês

E as ameaças de ataque nuclear
Bombas de neutrons não foi Deus quem fez
Alguém, alguém um dia vai se vingar
Vocês são vermes, pensam que são reis
Não quero ser como vocês
Eu não preciso mais
Eu já sei o que eu tenho que saber
E agora tanto faz

Três crianças sem dinheiro e sem moral
Não ouviram a voz suave que era uma lágrima
E se esqueceram de avisar pra todo mundo
Ela talvez tivesse um nome e era: Fátima
E de repente o vinho virou água
E a ferida não cicatrizou
E o limpo se sujou
E no terceiro dia ninguém ressuscitou


CAPITAL INICIAL - TUDO MAL

Terminar o domingo escutando a canção mais bacana do Capital Inicial:




TUDO MAL

Não pense que eu me importei
Por isso mesmo eu deixei
Acabar com tudo de uma vez
Pois entre nós só havia indiferença

Momentos cada vez mais frios
E você acha tudo normal
E agora eu nem sei
Mais uma vez acaba tudo mal

Quem sabe algum dia
Vamos entender o que passou
Descobrir quem foi que errou