terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

THE SMITHS - PANIC

Panic, dos Smiths, que abre a coletânea The World Won't Listen, de 1986, o primeiro disco da banda que caiu nas minhas mãos e que fez apaixonar-me profundamente e para sempre por aquele som tocado pelos rapazes de Manchester, é uma canção atualíssima, nem de longe datada.

Isso porque o que Morrissey escreveu décadas atrás fala sobre as músicas que os dj's tocam, que não falam nada sobre a sua vida e que por isso devem ser enforcados. Se seguíssemos a risca o que os Smiths pedem nessa canção, 10 em cada 10 programadores das rádios FM do Brasil, teriam suas vidas ceifadas da mesma forma que Ian Curtis deu cabo a sua.

Embora não escute rádio, sei que a programação é cada vez pior, recheada de músicas bate estacas que são a febre das festas dançantes, sertanejos insossos, para não usar um adjetivo pejorativo e funks que dispensam qualquer palavra. Ou seja, programação medíocre e idiota, salvo raríssimas excessões. Não que devam ser enforcados, mas deveriam ser processados por mal gosto e falta de bom senso. E claro, bom lembrar que é apenas uma metáfora; não saíam por aí enforcando os dj's.


PÂNICO

Pânico nas ruas de Londres
Pânico nas ruas de Birmingham
Eu me pergunto
Poderia a vida ser sã novamente
Nas ruas de Leeds nas quais você passa
Eu me pergunto
Esperanças podem surgir em Grasmere
Mas, querida, você não está a salvo aqui
Então você corre
Para a segurança da cidade
Mas há pânico nas ruas de Carlisle
Dublin, Dundee, Humberside
Eu me pergunto

Incendeiem a discoteca
Enforquem o bendito DJ
Porque a música que eles tocam constantemente
Não me diz nada sobre a minha vida
Enforquem o bendito DJ
Porque a música que eles tocam constantemente

Nas ruas de Leeds nas quais você passa
Nas cidades provincianas em que você passeia
Enforquem o DJ, enforquem o DJ, enforquem o DJ
Enforquem o DJ, enforquem o DJ, enforquem o DJ

TODOS OS NOSSOS CARNAVAIS


Lendo sobre o acidente que ocorreu no desfile das escolas de samba em Santos, no litoral paulista, lembrei de algumas coisas e preciso confessar algo: sim, já fui folião de carnaval, eu admito! E, ao contrário do que possam pensar, eu gosto de carnaval, ou melhor, eu gosto do carnaval. Parece heresia para um roqueiro convicto e conservador? Nem tanto, meus caros, nem tanto. 

Não é pelo samba enredo ou pela beleza que os desfiles de escola de samba proporcionam. A beleza da mesmice, pois para um ignorante do assunto, não consigo distinguir a Vila Isabel da Caprichosos de Pilares ou de qualquer outra escola de samba (escrevi os primeiros nomes de escola que me vieram à cabeça). 

Gosto do carnaval porque tem o feriado mais longo do ano, o que nos faz descansar um pouco antes de o ano realmente começar. Dá para ir muito ao cinema, ler alguma coisa interessante, escutar muito rock, coçar o saco, refletir sobre qualquer porra ou sobre nada, enfim, exercer o que Domenico De Masi chamou de Ócio Criativo. Não que se deva esperar passar o carnaval passar para começar a viver o ano novo; mas há um clima no ar, uma espera psicológica de festa, uma sensação gostosa de que algo bom ainda está por vir, não só árduos dias de trabalho até as próximas férias. Todo brasileiro espera o carnaval com essa ansiedade gostosa.

Em segundo lugar, o carnaval é uma importante fonte de renda do turismo nacional, divulga o Brasil lá fora e nos traz muitos dólares. E sem a poluição das fabricas, ao menos teoricamente. Portanto traz dinheiro e emprego para muitas pessoas.

Mas como confessei, já fui folião. Percorri alguns clubes de Santos na pré adolescência; havia um motivo básico para esse comportamento inadequado: ir atrás das menininhas. Ía nas matinês do Atlético no canal 3, um dos mais concorridos e tradicionais, o do Portuários, mas também frequentei o Drops e outros menos tradicionais; também ia na avenida da praia (tentar) assistir ao desfile. 

Os dos clubes da Ana Costa (não lembro o nome do maior deles) e da AABB ou os da ponta da praia, nunca fui, era reservado à burguesia.

Num desses anos, com a galera da rua São Paulo (Ronaldo, que é chefe de cozinha no Vegetarian Tali em São Paulo, João, Teixeira, Tingido, Baiano, Kawosh), eu e o Ronaldo nos separamos do pessoal e estávamos indo embora, alta madrugada e já de saco cheio de tanto samba, fomos abordados por dois transeuntes suspeitos que ao mesmo tempo, no meio da multidão, nos ameaçavam e sorriam ao mesmo, apertando nossas mãos, como disfarce, armados com facas escondidas, que nos mostravam a toda hora. Quem passava e olhava a cena, acharia que éramos todos amigos. Levaram alguns míseros trocados que tinha nos bolsos e só.

Depois desse episódio, devia contar com 14, 15 anos, jamais voltei a participar de algum carnaval. Mesmo que o pessoal da Rua São Paulo queria criar um bloco para participar do carnaval da Portuguesa Santista, os 'Lobos da Vila'. Percebi que a estratégia do carnaval não dava certo para pegar alguma guria (nunca tive sucesso em qualquer baile de carnaval) e que só o rock salva. Esse sim me trouxe 'dividendos', se é que vocês me entendem. No primeiro show que fui, no saudoso Caiçara Music Hall, de uma banda em início de carreira, Engenheiros do Hawai, eu com 15 anos, fiquei com uma guria que era fã do Carlos Maltz. Poisé como o primeiro disco do Bidê ou Balde: Se Sexo É o Que Importa, Só o Rock É Sobre Amor.

É isso! Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

THE CURE - THE HANGING GARDEN

The Cure é uma boa pedida para esse carnaval. Consegui baixar um disco de 1984 ao vivo (Concert), que é um petardo. Quem me emprestou esse disco pela primeira vez foi o Zé Renato, que era super fã do Cure. Fiz uma cópia do disco em fita k7, como sempre fazíamos naquela época e gastava a mesma rolando sem parar no meu walkman amarelinho. Como ainda não tinha aquela tecnologia de mudar de lado automaticamente (comprei um desses em 1995 no Paraguai, que tenho até hoje, uma relíquia), tinha que fazer isso manualmente. 

Dias atrás consegui baixar o disco, depois de ter uma canseira da internet. Tinha a discografia completa do Cure, 17 cd's e notei que não tinha esse disco, que é uma compilação de alguns shows da banda e contem The Hanging Garden que é uma grande canção da banda, das mais famosas. 



O Jardim Suspenso

Criaturas se beijando na chuva
Sem forma na escuridão novamente
No jardim suspenso, por favor não fale
No jardim suspenso ninguém dorme

Vendo o contorno da lua
Ofereço minhas mãos à alguns anjos
No calor da noite como um animal em gritos
No calor da noite, andando dentro do sonho...

Cair, cair, cair, cair dentro das paredes
Pular, pular na hora
Cair, cair, cair, cair fora do céu
Cobrindo meu rosto como os animais choram
No jardim suspenso

Criaturas se beijando na chuva
Sem forma na escuridão novamente
No jardim suspenso, mude o passado
No jardim suspenso, usando peles e máscaras

Cair, cair, cair, cair dentro das paredes
Pular, pular na hora
Cair, cair, cair fora do céu
Cobrindo meu rosto como os animais morrem
No jardim suspenso

No jardim suspenso

QUARENTENÁRIO I - 2013


Em 1986, portanto anos 80 do século passado (que estranho escrever isso, cheiro de naftalina no ar, pura nostalgia) a Legião Urbana lançou o álbum Dois, que os alavancaram para o sucesso definitivo e como a melhor banda daquela década, cultuada por todos, quase uma unanimidade, apesar dos arroubos de insanidade de seu líder, o vocalista, letrista e para muitos, poeta, Renato Russo. 

Pois bem, lembro de no inverno de 1986, férias de julho da escola (talvez 1987), dias chuvosos e frios, estávamos quase que mofando em vida. Em uma dessas tardes chega o Wagner e começamos a jogar xadrez, botão (o que hoje se convencionou chamar de futebol de botão), carteado e sei lá mais o quê tínhamos a nosso alcance para nos divertirmos trancado em casa, fugir do tédio que a chuva torrencial nos proporcionava. Essas as diversões de uma época que não havia popularizado o video game (no caso o Atary) e sem internet. Meu irmão Renato também estava conosco. Vez por outra aparecia alguém para passar algumas horas conosco, naquela fuga incessante da monotonia e a busca de diversão. O 'Neguinho', da feira também aparecia logo após a feira. Não lembro do seu nome, mas começamos a chamá-lo de 'Bisquinho', como ele chamava o bispo, uma das peças do xadrez, em seu vocabulário cheio de erros gramaticais e de pronúncia.

Ficamos por três, quatro, talvez cinco dias nesse marasmo, trancados esperando a chuva passar, como se Noé fôssemos e presos à Arca estivéssemos. E durante esse período pouco dormimos, pouco comemos, apenas conversávamos, ríamos muito, filosofávamos sobre qualquer assunto impertinente para nossas idades e escutávamos o disco Dois, da Legião, citado acima, seguidas vezes, virando o disco na vitrola a todo momento, numa compulsão quase doentia, insana.

Até que o sol saiu, coroando aquela nossa felicidade juvenil, inocente e finalmente pudemos sentir o frescor daquele inverno chuvoso e rigoroso, o odor das folhas das árvores molhadas. Esse carnaval fez-me lembrar dessa passagem da minha vida. Só faltou o frio, porque a chuva e a boa música permaneceram nesse feriadão carnavalesco.

THE SMITHS - THE HAND THAT ROCKS THE CRADLE

No meu carnaval Smithiano uma das mais belas canções da parceria Morrissey/ Marr (todas as canções dos Smiths eu escrevo isso, porque todas são obras primas). Um dedilhado maravilhoso combinando a voz suave, gemida, chorada de Morrissey. Perfeito!


The Hand That Rocks The Cradle

Por favor, não chore
Pois o fantasma e a tempestade lá fora
Não invadirão este templo sagrado
Não se infiltrarão na sua mente
Minha vida hei de arriscar
Se o bicho-papão tentar
Pregar peças na sua mente santa
Te encher, atormentar e provocar
Sombras vacilantes se aproximam
Um piano toca em um quarto vazio
Haverá sangue no facão esta noite
E quando a escuridão se for
E o quarto estiver claro
Eu ainda estarei do seu lado
Pois você é tudo que importa
E vou te amar até o dia em que eu morrer
Nunca mais haverá lamento em seus olhos
Contando que a mão que balança o berço seja a minha

Sombras no teto se agitam
E quando o guarda-roupa chegar
Feito uma fera predadora
Haverá tristeza nos seus olhos lindos
Oh seus olhos puros, intocados, fantásticos
Minha vida hei de arriscar
Caso as almas penadas tentem
Pregar peças na sua mente santa
Uma vez eu tive um filho e ele salvou a minha vida
E eu nunca sequer perguntei seu nome
Apenas olhei em seus olhos fantásticos
E disse: "nunca, nunca, nunca outra vez"
E bem rápido eu realmente retornava
Tal qual uma mariposa à chama
Então jogue meus ossos sobre as pedras
Eu sou apenas um mendigo sem ninguém
Veja como as palavras são velhas como o pecado
Me servem com uma luva
Estou aqui e aqui ficarei
Juntos deitamos, juntos rezamos
Nunca mais haverá lamento nos seus olhos
Contando que a mão que balança o berço seja a minha
Contando que a mão que balança o berço seja a minha
Minha

Balance sobre meus joelhos, meu filhinho
Embora você tenha só três anos, meu filhinho
Você - você é meu
E sua mãe, ela nunca soube
Oh, sua mãe...
Enquanto... enquanto... enquanto...
Eu fiz o melhor por ela
Eu fiz o melhor por ela

sábado, 9 de fevereiro de 2013

THE SMITHS - I WON'T SHARE YOU

A canção que fecha o último disco de estúdio dos Smiths é um momento de possessão do Morrissey e uma bela inspiração de Johnny Marr. Uma canção que rasga a alma dos apaixonados.

Mais um capítulo da fase smithiana carnavalesca 2013. 


EU NÃO DIVIDO VOCÊ

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e a ambição
A determinação que eu sinto
Esta é a minha vez
O bilhete que escrevi enquanto ela lia, ela disse:
"Será que a Perrier subiu direto para a minha cabeça
Ou será que ao invés disso, a vida é doentia e cruel?"
"Sim!"
Não, não, não, não, não, não não, não

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e com os sonhos interiores
Esta é a minha vez
A vida tende a ir e vir
Tudo bem desde que você saiba
A vida tende a ir e vir
Desde que que você saiba
Saiba, saiba, saiba, saiba

Eu não divido você
Eu não divido você
Com a necessidade e os sonhos interiores
Esta é a minha vez
Eu quero a liberdade e eu quero a esperteza
Eu quero a liberdade e a esperteza
Ah, a vida tende a ir e vir
Desde que você saiba
Saiba, saiba, saiba, saiba
Oh, Eu não divido você
Eu não divido você
Eu te verei em algum lugar
Eu te verei em algum momento...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

EN PASSANT


Meu treino para a Maratona de Londrina tem tiros de 5 km e 20 km leve aos sábados. No sábado passado fiz o percurso da meia maratona; confesso que o Gradisson forçou a barra dessa vez. O treino está pesado demais... mas eu aguento! Os 20 km foram em 2hr14min. Os últimos 5 km praticamente me arrastei. Mas tudo bem, amanhã tem mais. Correr uma distância dessas sem estrutura de água e no final sem massagem e alongamento adequado, é uma loucura. Já corri distâncias maiores, mas em corrida é diferente, tem tudo isso e mais fruta no final, bebida isotônica, água e etc.

Mas o que queria dizer é que caminhando até chegar o lugar que escolhi para iniciar a corrida, no Ginásio do Moringão, passei pela rua Gomes Carneiro e observando as casas após a rua da Lapa, notei que tem diversas casas de madeira, bem antigas, arquitetura talvez dos anos 50, vai saber... pena que os construtores dessa época não tinham o hábito de colocar a data da construção no alto. Já vi isso em algumas cidades, como Santos, por exemplo.

Aquelas casas, que estão em sua maioria em mal estado, deveriam ser tornadas patrimônio cultural. Suas madeiras e sua arquitetura tem história. Fiquei pensando que logo chega uma construtora milionária e compra todas aquelas casas e lá se vai nossa história. É muito triste ver isso acontecer com o patrimônio histórico, como aconteceu com a casa dos gnomos, como ficou conhecia a construção que foi destruída há alguns anos e deu lugar a um banco hoje, ali na Tupi com a Higienópolis.

Infelizmente o brasileiro não tem o hábito de valorizar essas coisas. E quem defende essa idéia é tachado de pedante e anti-progresso...